UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA (versão corrigida) Katia Cilene da Silva Santos O problema da liberdade na filosofia de Arthur Schopenhauer São Paulo 2010 Katia Cilene da Silva Santos O problema da liberdade na filosofia de Arthur Schopenhauer Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Filosofia do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Filosofia sob a orientação do Prof. Dr. Eduardo Brandão. São Paulo 2010 Catalogação na Publicação Serviço de Biblioteca e Documentação Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Santos, Katia Cilene da Silva. O problema da liberdade na filosofia de Arthur Schopenhauer / Katia Cilene da Silva Santos ; orientador Eduardo Brandão. -- São Paulo, 2010. 145 f. Dissertação (Mestrado) --Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Univ ersidade de São Paulo. Departamento de Filosofia. 1. Filosofia. 2. Liberdad e. 3. Causalidade. 4. Motivação. 5. Vontade. I. Título. II. Brandão, Eduardo. CDD 193 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha família, pelo apoio e encorajamento. Entre todos os membros, dedico sobretudo ao meu pai, Artur, que sentiu orgulho de sua filha. Dedico também a Toni Alcazar, grande interlocutor com o qual tenho debatido os mais diversos assuntos, durante muitos anos. AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, ao meu orientador, Prof. Dr. Eduardo Brandão, que anuiu à minha proposta de pesquisa e guiou-me com muito desvelo na trajetória de sua realização. A postura de Schopenhauer em relação à liberdade é entendida, de modo geral, como um ponto pacífico em relação ao qual não haveria muito que dizer. Apesar disso, o Prof. Dr. Eduardo Brandão deu crédito ao tema que me propus investigar e interessou-se em orientar-me. Agradeço também à Prof. Dra. Maria Lúcia Cacciola e ao Dr. Flamarion Caldeira Ramos pelas observações ao texto, quando da minha prova de qualificação. Certamente, o resultado final do trabalho deve muito às contribuições que deram. 10 RESUMO SANTOS, Katia Cilene da Silva. O problema da liberdade na filosofia de Arthur Schopenhauer. 2010. 146 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Nesta dissertação, buscamos lançar luz sobre a contradição, declarada por Schopenhauer como sendo aparente, entre a necessidade que rege a conduta humana por meio dos motivos e do caráter, e a liberdade no fenômeno, implicada na possibilidade de negação da Vontade por indivíduos singulares. Percorremos algumas obras de Schopenhauer, investigando as condições que desvendam essa contradição aparente. Assim, examinamos, por um lado, a recusa ao livre-arbítrio, e por outro, o modo como Schopenhauer explica como o indivíduo pode, através do conhecimento, subtrair-se à lei da motivação e, pela supressão da sua vontade individual, restabelecer o livre-arbítrio. Palavras-chave: Vontade, Causalidade, Liberdade, Schopenhauer, Motivação. 11 ABSTRACT SANTOS, Katia Cilene da Silva. The problem of freedom in the philosophy of Arthur Schopenhauer. 2010. 146 p. Thesis (Master’s degree) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. In this dissertation, we seek to shed light on the contradiction stated by Schopenhauer as apparent between the need that rules the human conduct through the motives and character, and freedom in the phenomenon, implied the possibility of denial of the will in single individuals. We have gone through some of the Schopenhauer’s work, investigating the conditions that reveal this apparent contradiction. Thus, we examine on the one hand, the denial of free will, and on the other hand, the way Schopenhauer explains how individuals can, through knowledge, escape the law of motivation and, through the suppression of their choice, restore free will. Key Words: Will, Causality, Freedom, Schopenhauer, Motivation. 12 ÍNDICE Agradecimentos V Resumo VI Abreviações IX Apresentação 10 Introdução 12 Capítulo I – A recusa do livre-arbítrio 15 1. As duas definições de liberdade 15 2. A vontade humana na experiência e a necessidade das ações 22 3. Recusa do livre-arbítrio a non posse ad non esse 41 4. Liberdade transcendental e responsabilidade 47 Capítulo II – Graus de negação da Vontade e tipos especiais de determinação 58 1. Os graus de negação da Vontade 58 2. Justiça eterna e destino 68 3. A história e a determinação das ações 81 4. A razão prática e a ação por máximas 88 Capítulo III – A liberdade na negação da Vontade 111 1. O conhecimento como quietivo da Vontade 111 2. A liberdade como negação da Vontade 123 3. Visão retrospectiva e conclusão 133 Bibliografia 142 13 ABREVIATURAS CFK. = Crítica da filosofia kantiana [Edição utilizada nas citações: O mundo como vontade e representação, parte III; Crítica da filosofia kantiana; Parerga e paralipomena, cap. V, VIII, XII, XVI. Trad. de Wolfgang Leo Maar e Maria Lúcia M. O. Cacciola, São Paulo: Victor Civita, 1985 (Os pensadores)]. CM. = Complementos ao mundo como Vontade e representação [Edição utilizada nas citações: El Mundo como Voluntad y Representación: Volumen segundo, que contiene los complementos a los quatro livros del primeiro volumen Trad. de Rafael-José Fernández y M.ª Montserrat Armas Concepción, Madrid: Akal Editores, 2005.] FM. = Sobre o fundamento da moral [Edição utilizada nas citações: Sobre o fundamento da moral. Trad. de Maria Lúcia M. O. Cacciola 1ª ed., Martins Fontes, São Paulo, 1995.] LV. = Sobre a liberdade da Vontade [Edição utilizada nas citações: Los dos problemas fundamentales de la ética. Trad. de Pilar López de Santa Maria,1ª ed., Madrid: Siglo XXI, 1993.] M. = O mundo como Vontade e representação [Edição utilizada nas citações: El Mundo como Voluntad y Representación. Trad. de Rafael-José Fernández y M.ª Montserrat Armas Concepción, Madrid: Akal Editores, 2005.] P. = Parerga e Paralipomena [Edições utilizada nas citações: O mundo como vontade e representação, parte III; Crítica da filosofia kantiana; Parerga e paralipomena, cap. V, VIII, XII, XVI. Trad. de Wolfgang Leo Maar e Maria Lúcia M. O. Cacciola, São Paulo: Victor Civita, 1985 (Os pensadores); Parerga y paralipomena I, II e III. Trad. Antonio Zozaya. Málaga: Agora, 1997.] QR. = Da quádrupla raiz do princípio de razão suficiente [Edição utilizada nas citações: De la cuadruple raiz del principio de razon suficiente. Trad. de Leopoldo-Eulogio Palácios, Madrid: Editorial Gredos,1981.] VN. = Sobre a Vontade na natureza [Edição utilizada nas citações: De la volonté dans la nature. Trad. de E. Sans, Paris: PUF, 1996.] 14 Apresentação O texto que segue é resultado de uma pesquisa sobre o problema da liberdade na filosofia de Schopenhauer. O que nos impulsionou a realizá-la foi a constatação de uma contradição, declarada aparente pelo filósofo, entre a necessidade que rege a conduta humana por meio dos motivos e do caráter, e a liberdade no fenômeno, representada pela possibilidade de negação da Vontade por indivíduos singulares. Diante disso, propusemo-nos a compreender a argumentação em que Schopenhauer esclarece como o indivíduo pode subtrair-se à lei de motivação e, através da supressão da sua vontade individual, restabelecer a liberdade empírica. Para tanto, nossa investigação percorre algumas obras do filósofo procurando as condições que harmonizam a impossibilidade da liberdade, por um lado, e sua existência, por outro. A primeira parte deste estudo trata da recusa ao livre-arbítrio, fundamentada por Schopenhauer no princípio de razão suficiente, entendido como sede da necessidade natural e base da construção dos objetos pelo sujeito. O caminho por nós trilhado parte das definições de liberdade presentes na filosofia de Schopenhauer, com o intuito de delimitar a liberdade moral, que é a que propriamente nos concerne nesta investigação. Em seguida, nos debruçamos sobre a necessidade das ações humanas, que se dão no âmbito fenomênico, e apontamos os dois pilares que sustentam a recusa ao livre-arbítrio. Por fim, trazemos à consideração o que Schopenhauer chama de liberdade transcendental, concernente à vontade humana enquanto coisa-em-si, e suas relações com a responsabilidade. A segunda parte versa sobre certos aspectos da vida humana, investigando, em alguns casos, se representariam tipos especiais de determinação e, em outros, se poderiam ser considerados possíveis “liberdades” ou pseudoliberdades. Esses aspectos são as virtudes morais, a História, a justiça eterna, o destino e a razão prática. Assim, partimos dos graus de negação da Vontade, cuja existência seria atestada pelas virtudes morais, tentando verificar se eles poderiam ser considerados um tipo de liberdade. Em seguida, debruçamo-nos sobre as concepções de História, de justiça eterna e de destino, tentando apreender as relações de determinação entre o indivíduo e o todo em que está 15
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