O P I ROBLEMA DA NDUÇÃO EDIÇÃO DE 2014 do C L OMPÊNDIO EM INHA P F A DE ROBLEMAS DE ILOSOFIA NALÍTICA 2012-2015 FCT Project PTDC/FIL-FIL/121209/2010 Editado por João Branquinho e Ricardo Santos ISBN: 978-989-8553-22-5 Compêndio em Linha de Problemas de Filosofia Analítica Copyright © 2014 do editor Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa Alameda da Universidade, Campo Grande, 1600-214 Lisboa O Problema da Indução Copyright © 2014 dos autores Eduardo Castro e Diogo Fernandes Todos os direitos reservados Resumo Artigo sobre o estado da arte do problema da indução: como justificar a conclusão de que ‘todos os Fs são Gs’ a partir da premissa de que ‘todos os Fs observados são Gs’. Análise e discussão das teorias mais salientes na literatura filosófica contemporânea, tais como: indutivismo, fiabi- lismo, perspectiva das leis da natureza, racionalismo, falsificacionis- mo, teoria material da indução e abordagens probabilísticas, segundo Carnap, Reichenbach e o bayesianismo. No final, discute-se o novo problema da indução de Goodman, levantado pelo predicado verdul. Palavras-chave Hume, indução, probabilidade, bayesianismo, verdul Abstract State of the art paper on the problem of induction: how to justify the conclusion that ‘all Fs are Gs’ from the premise that ‘all observed Fs are Gs’. The most prominent theories of contemporary philosophical literature are discussed and analysed, such as: inductivism, reliabilism, perspective of laws of nature, rationalism, falsificationism, the ma- terial theory of induction and probabilistic approaches, according to Carnap, Reichenbach and Bayesianism. In the end, we discuss the new problem of induction of Goodman, raised by the grue predicate. Keywords Bayesianism, grue, Hume, induction, probability O Problema da Indução Em termos muito gerais, no uso argumentativo da linguagem salien- tam-se dois tipos de argumentos: argumentos dedutivos e argumen- tos indutivos. À primeira vista, a principal diferença entre estes dois tipos de argumentos é de que um argumento dedutivo é um argu- mento aduzido com o propósito de estabelecer uma conclusão como seguindo-se necessariamente das premissas; enquanto um argumen- to indutivo é um argumento aduzido com o propósito de estabelecer uma conclusão como não se seguindo necessariamente das premissas mas seguindo-se delas com algum grau de probabilidade.1 Os argumentos dedutivos dividem-se em válidos e inválidos. Um argumento dedutivo válido é um argumento cuja conclusão se se- gue das premissas: se as premissas do argumento são verdadeiras, necessariamente, a conclusão é verdadeira, em virtude das regras ló- gicas aplicadas na dedução. Um argumento dedutivo inválido é um argumento cuja conclusão não se segue das premissas: é possível as premissas do argumento serem verdadeiras e a conclusão ser falsa. A classificação de um argumento particular como sendo válido ou in- válido é um procedimento meramente algorítmico. Um argumento é válido se tiver uma forma lógica conforme às regras da lógica clássi- ca; um argumento é inválido se tiver uma forma lógica não conforme às regras da lógica clássica. Os argumentos indutivos podem ser divididos em fortes e fracos. Um argumento indutivo forte é um argumento cujas premissas, assu- midas como verdadeiras, tornam razoável que aceitemos a conclusão; enquanto um argumento indutivo fraco é um argumento cujas pre- missas, assumidas como verdadeiras, não tornam razoável que acei- temos a conclusão. Por exemplo, do dado observacional de que todos os corvos observados têm sido negros, parece ser razoável inferir que o próximo corvo observado seja negro; enquanto, não parece ser ra- zoável inferir que o próximo corvo observado seja, digamos, branco. Os argumentos indutivos são correntes no dia-a-dia e na ciência. Embora a distinção forte/fraco seja relativamente consensual na literatura, para propósitos justificativos rigorosos da conclusão, essa 1 Para uma discussão da distinção entre argumentos dedutivos e indutivos ver Machina 1985 e Wilbanks 2010. Publicado pela primeira vez em 2014 2 Eduardo Castro e Diogo Fernandes distinção é virtualmente irrelevante. Contrariamente ao que ocorre na dedução a respeito da validade, a classificação de um argumento indutivo particular como sendo forte ou fraco é disputável. A disputa não se centra sobre o valor de verdade actual das premissas do argu- mento. A disputa centra-se na própria inferência inerente aos argu- mentos deste tipo. Não há de todo uma caracterização consensual dos argumentos indutivos que consiga distinguir com objectividade e rigor os fortes dos fracos. Um céptico – o chamado céptico indu- tivo – pode questionar as conclusões inferidas nos exemplos acima considerando que, pelo contrário, não parece ser razoável inferir o que quer que seja relativamente à cor do próximo corvo observa- do. Por outras palavras, é disputável quando é que as premissas de um argumento indutivo tornam razoável a aceitação da conclusão. O conceito razoabilidade é um conceito psicológico e subjectivo. Utilizar o conceito probabilidade em vez do conceito razoabilidade, na definição dos argumentos indutivos fortes/fracos, como é corrente nalguma literatura, também não resolve o problema. Como veremos neste artigo, o problema simplesmente reaparece como um problema no âmbito da teoria das probabilidades. Estas dificuldades em torno da caracterização dos argumentos indutivos estão na base do chamado problema da indução. Mais conspi- cuamente este problema apresenta-se como sendo o problema de jus- (cid:87)(cid:76)(cid:192)(cid:70)(cid:68)(cid:111)(cid:109)(cid:82) dos métodos indutivos que usamos, quer no dia-a-dia, quer na ciência. Este é um problema antigo mas que continua central na filosofia contemporânea.2 A literatura sobre a indução é vastíssima e, neste artigo, é-nos impossível abordar muitas das respostas dadas ao problema. A nossa escolha recaiu sobre aquelas que nos parecem mais centrais na litera- tura existente. Invariavelmente, o problema da indução começa em 2 Em matemática, também existe a chamada indução matemática. Em geral, esta expressão é uma forma abreviada daquilo que se designa por (cid:83)(cid:85)(cid:76)(cid:81)(cid:70)(cid:116)(cid:83)(cid:76)(cid:82)(cid:3)(cid:71)(cid:72)(cid:3) indução matemática. Este princípio é um método dedutivo de demonstração de proposições matemáticas. Embora também seja disputável a justificação deste princípio (e.g. Poincaré 1968 e Russell 1905), esta disputa cai completamente fora deste artigo. Todavia, recentemente, especula-se sobre a existência de um problema da indução para a matemática: o problema de justificação de métodos de demonstração indutivos de proposições matemáticas, baseados na indução enumerativa matemática. Ver Baker 2007. (cid:38)(cid:82)(cid:80)(cid:83)(cid:114)(cid:81)(cid:71)(cid:76)(cid:82)(cid:3)(cid:72)(cid:80)(cid:3)(cid:47)(cid:76)(cid:81)(cid:75)(cid:68)(cid:3)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:51)(cid:85)(cid:82)(cid:69)(cid:79)(cid:72)(cid:80)(cid:68)(cid:86)(cid:3)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:41)(cid:76)(cid:79)(cid:82)(cid:86)(cid:82)(cid:192)(cid:68)(cid:3)(cid:36)(cid:81)(cid:68)(cid:79)(cid:116)(cid:87)(cid:76)(cid:70)(cid:68) O Problema da Indução 3 David Hume (2002; 2012: livro 1, secção VI) e é justamente por essa referência que vamos começar. Na segunda secção, apresentam-se algumas soluções e dissoluções ao problema: indutivismo, fiabilismo, perspectiva das leis da natureza, racionalismo e teoria material da indução. Na terceira secção, verificamos como a teoria das probabi- lidades tem servido para alicerçar soluções para o problema. A teoria de Carnap (1952, 1962) da lógica indutiva, a teoria de Reichenbach (1971) das frequências relativas e a abordagem bayesiana são o objec- to da nossa discussão. Na quarta secção, discute-se o novo problema da indução de Goodman (1983). Há vários tipos de argumentos indutivos e, antes de prosseguir- mos, importa registar que neste artigo teremos em consideração os argumentos indutivos seguintes: Argumento indutivo enumerativo: (1) Todos os Fs observados são Gs; ∴ Todos os Fs são Gs. Argumento indutivo preditivo: Todos os Fs observados são Gs; a é F; ∴ a (ainda não observado) é G. Os argumentos anteriores podem ser transformados em argumentos (cid:76)(cid:81)(cid:71)(cid:88)(cid:87)(cid:76)(cid:89)(cid:82)(cid:86)(cid:3)(cid:83)(cid:85)(cid:82)(cid:69)(cid:68)(cid:69)(cid:76)(cid:79)(cid:116)(cid:86)(cid:87)(cid:76)(cid:70)(cid:82)(cid:86)(cid:3)(cid:72)(cid:81)(cid:88)(cid:80)(cid:72)(cid:85)(cid:68)(cid:87)(cid:76)(cid:89)(cid:82)(cid:86) e (cid:68)(cid:85)(cid:74)(cid:88)(cid:80)(cid:72)(cid:81)(cid:87)(cid:82)(cid:86)(cid:3)(cid:76)(cid:81)(cid:71)(cid:88)(cid:87)(cid:76)(cid:89)(cid:82)(cid:86)(cid:3)(cid:83)(cid:85)(cid:82)(cid:69)(cid:68)(cid:69)(cid:76)(cid:79)(cid:116)(cid:86)(cid:87)(cid:76)(cid:70)(cid:82)(cid:86)(cid:3) preditivos, respectivamente. Para tal, em termos formais, basta acres- centar o termo provavelmente às conclusões, passando as conclusões a ser apenas conclusões prováveis (ver secção 3).3 3 Há quem considere que também são argumentos indutivos aqueles em que a premissa (1) do argumento indutivo preditivo não é uma quantificação universal sobre o domínio de observação e, grosso modo, isso pode ser visto como acrescentando o termo quase à premissa (1) (ver Swinburne 1974: 4). Edição de 2014 4 Eduardo Castro e Diogo Fernandes 1 Hume Hume (2002, 2012: livro 1, secção VI) é a primeira referência mais saliente que articula de forma informal o problema da indução.4 Hume subdivide o problema da indução em dois problemas. O pri- meiro problema é o problema da justificação dos argumentos indu- tivos enumerativos: “provar que os casos de que não tivemos experiência se assemelham àqueles que experimentámos” (Hume 2012: 125, itálico do autor). O segundo é o problema da explicação das inferências indu- tivas na vida prática dos seres humanos: “por que razão extraímos de mil casos uma inferência que não somos capazes de extrair de um único caso que deles não difere em aspecto algum” (Hume 2002: 58). O primeiro problema, conhecido como problema de Hume, é o mais importante dos dois e aquele que tem merecido mais discus- são na literatura. Com vista a compreender a resposta de Hume a este problema é necessário introduzir os dois tipos de argumentos – demonstrativos e prováveis – que foram por ele evocados. Os argu- mentos demonstrativos são acerca das relações de ideias. Por exem- plo, o teorema de Pitágoras, segundo o qual o quadrado da hipotenu- sa é igual à soma do quadrado dos catetos, ilustra uma relação entre as ideias de quadrado, hipotenusa e cateto. Os argumentos prováveis são acerca das questões de facto e de existência. Por exemplo, Lisboa é a capital de Portugal é uma proposição acerca de uma questão de facto e de existência. Os argumentos prováveis fundamentam-se na relação de causa e efeito que deriva da experiência. Nenhum destes argumentos serve para justificar as inferências indutivas (i.e., as conclusões dos argumentos indutivos). Nas infe- rências indutivas assume-se a uniformidade da natureza, isto é, o princípio de que o futuro é conforme ao passado. Por um lado, a uni- formidade da natureza não se consegue justificar por um argumento demonstrativo, uma vez que os argumentos demonstrativos apenas conseguem demonstrar proposições cuja sua negação é contraditó- ria. Ora, não há qualquer contradição em assumir que a natureza 4 Note-se que o termo indução nunca é referido nestes escritos de Hume. A sua análise faz-se em torno de termos como causa e efeito, leis da natureza, conexões necessárias ou poderes. (cid:38)(cid:82)(cid:80)(cid:83)(cid:114)(cid:81)(cid:71)(cid:76)(cid:82)(cid:3)(cid:72)(cid:80)(cid:3)(cid:47)(cid:76)(cid:81)(cid:75)(cid:68)(cid:3)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:51)(cid:85)(cid:82)(cid:69)(cid:79)(cid:72)(cid:80)(cid:68)(cid:86)(cid:3)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:41)(cid:76)(cid:79)(cid:82)(cid:86)(cid:82)(cid:192)(cid:68)(cid:3)(cid:36)(cid:81)(cid:68)(cid:79)(cid:116)(cid:87)(cid:76)(cid:70)(cid:68) O Problema da Indução 5 pode não ser uniforme. Por outro lado, a uniformidade da natureza não se consegue justificar por um argumento provável, sob pena de estarmos a cair numa circularidade. Os argumentos prováveis assu- mem a uniformidade da natureza. Ora, esta alegada uniformidade é justamente aquilo que se pretende justificar. Portanto, para Hume o primeiro problema é insolúvel. Esta insolubilidade não é apenas a favor do falibilismo indutivo, segundo o qual as proposições acerca do futuro são incertas. É uma insolubilidade a favor de uma posição mais forte – o cepticismo indutivo –, segundo o qual proposições sobre o futuro são sem justificação, isto é, não temos qualquer razão para justificar uma conclusão indutiva (Salmon 1978; Okasha 2001).5 Embora Hume considere que o primeiro problema é insolúvel, ele avança uma solução para o segundo problema da explicação das nossas práticas indutivas. De uma forma geral, as dúvidas cépticas humianas em torno da justificação da indução não invadem a vida do dia-a-dia dos seres humanos. A conjunção constante dos fenó- menos empíricos conduz as mentes humanas para o estabelecimento de inferências indutivas que são fundamentais para toda e qualquer acção. Para Hume, o princípio da natureza humana que guia as nossas inferências indutivas é o hábito ou o costume. Este princípio não pro- vém da razão e é tomado como um instinto animal de sobrevivência para a acção e comportamentos humanos. Temos o hábito de formar expectativas e, naturalmente, o homem evita o lume e reproduz-se. É largamente consensual que a solução de Hume para o segundo problema é inadequada (e.g. Okasha 2001, Goodman 1983 e Sober 1988). No dia-a-dia nem sempre assumimos que a natureza é uni- forme. Uma regularidade observada não é uma condição suficiente para que se estabeleça uma inferência indutiva. Sempre que fomos a Londres, nevava. Porém, se no Verão formos a Londres, não temos 5 A resposta de Hume ao problema da indução, cunhado com o seu próprio nome, tem sido objecto de controvérsia exegética. Grosso modo, há duas interpretações correntes: a dedutivista e a não-dedutivista. O dedutivismo é a tese segundo a qual os argumentos válidos são os únicos argumentos racionais. Stove (1973) e Mackie (1980), por exemplo, defendem a interpretação dedutivista. Por seu lado, Stroud (1977), Salmon (1978, 1968), Sober (1988), Okasha (2001, 2005), Ayer (1958), Strawson (1952) e Armstrong (1983, 1991), entre outros, defendem a interpretação não-dedutivista. Neste artigo não estamos preocupados com estes aspectos exegéticos. Ver Okasha 2001, 2005. Edição de 2014 6 Eduardo Castro e Diogo Fernandes a expectativa que neve. Parece que no estabelecimento das nossas inferências indutivas usamos um conhecimento mais alargado do que apenas o conhecimento que resulta directamente da regularidade ob- servada em questão.6 2 Soluções e Dissoluções Destacam-se duas estratégias em volta do problema da indução. Ora se tenta enfrentar o problema e avançar uma solução para o mes- mo, ora se tenta dissolver o problema. Começamos pelas soluções – indutivismo, fiabilismo e perspectiva das leis da natureza. Termi- namos com as dissoluções – racionalismo, falsificacionismo e teoria material da indução. 2.1 Indutivismo Uma solução para o problema da indução consiste em propor jus- tificações indutivas das regras indutivas que fundamentam os argu- mentos indutivos preditivos (e.g., Black 1949, 1954, 1958, Edwards 1949, Barker 1965, Moore 1952 e Braithwaite 1974, aqui seguimos Black). Seja R a regra indutiva onde se argumenta a partir da premissa, a (cid:80)(cid:68)(cid:76)(cid:82)(cid:85)(cid:76)(cid:68)(cid:3)(cid:71)(cid:82)(cid:86)(cid:3)(cid:72)(cid:91)(cid:72)(cid:80)(cid:83)(cid:79)(cid:68)(cid:85)(cid:72)(cid:86)(cid:3)(cid:36)(cid:183)(cid:86)(cid:3)(cid:72)(cid:91)(cid:68)(cid:80)(cid:76)(cid:81)(cid:68)(cid:71)(cid:82)(cid:86)(cid:15)(cid:3)(cid:81)(cid:88)(cid:80)(cid:68)(cid:3)(cid:68)(cid:80)(cid:83)(cid:79)(cid:68)(cid:3)(cid:89)(cid:68)(cid:85)(cid:76)(cid:72)(cid:71)(cid:68)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:70)(cid:82)(cid:81)(cid:71)(cid:76)(cid:111)(cid:125)(cid:72)(cid:86)(cid:15)(cid:3) têm sido B, para a conclusão provável, (cid:82)(cid:3)(cid:83)(cid:85)(cid:121)(cid:91)(cid:76)(cid:80)(cid:82)(cid:3)(cid:36)(cid:3)(cid:68)(cid:3)(cid:86)(cid:72)(cid:85)(cid:3)(cid:72)(cid:81)(cid:70)(cid:82)(cid:81)(cid:87)(cid:85)(cid:68)(cid:71)(cid:82)(cid:3)(cid:86)(cid:72)(cid:85)(cid:105)(cid:3)(cid:37) (Black 1958: 721). Black considera que a regra R pode ser justificada através do argumento seguinte, sendo este argumento conforme à própria regra R: (1) Na maior parte dos casos de utilização de R em argumentos com premissas verdadeiras, numa ampla variedade de condições, R tem sido bem sucedida. ∴ (Provavelmente) No próximo exemplo encontrado do uso de R num argumento com uma premissa verdadeira, R será bem sucedida. (Black 1958: 720) As objecções ao indutivismo centram-se na alegada circularidade do 6 Ver Glymour 1980 para uma tentativa de solução do segundo problema. (cid:38)(cid:82)(cid:80)(cid:83)(cid:114)(cid:81)(cid:71)(cid:76)(cid:82)(cid:3)(cid:72)(cid:80)(cid:3)(cid:47)(cid:76)(cid:81)(cid:75)(cid:68)(cid:3)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:51)(cid:85)(cid:82)(cid:69)(cid:79)(cid:72)(cid:80)(cid:68)(cid:86)(cid:3)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:41)(cid:76)(cid:79)(cid:82)(cid:86)(cid:82)(cid:192)(cid:68)(cid:3)(cid:36)(cid:81)(cid:68)(cid:79)(cid:116)(cid:87)(cid:76)(cid:70)(cid:68) O Problema da Indução 7 argumento. O indutivismo tenta justificar a regra indutiva R invocan- do uma regra ela própria indutiva, caindo, como tal, numa petição de princípio (e.g. Salmon 1957, Achinstein 1962, 1963, Johnsen 1972, Kasher 1972 e Okasha 2001). Black (1962) replica que, embora pos- sa haver alguma circularidade neste argumento, a circularidade em causa não é a circularidade viciosa da petitio principii, segundo a qual a conclusão é ela própria uma das premissas do argumento. Tal circu- laridade não se aplica a este argumento por duas razões: petições de princípio apenas se verificam em argumentos dedutivos válidos e o argumento acima não é um argumento dedutivo; a conclusão não é uma das premissas do argumento. Salmon (1957) formula uma outra objecção engenhosa à proposta de Black, conhecida como contra-indução. Seja R’ a regra contra-indu- tiva onde se argumenta a partir da premissa, a maioria dos exemplares (cid:36)(cid:183)(cid:86)(cid:3)(cid:72)(cid:91)(cid:68)(cid:80)(cid:76)(cid:81)(cid:68)(cid:71)(cid:82)(cid:86)(cid:15)(cid:3)(cid:81)(cid:88)(cid:80)(cid:68)(cid:3)(cid:68)(cid:80)(cid:83)(cid:79)(cid:68)(cid:3)(cid:89)(cid:68)(cid:85)(cid:76)(cid:72)(cid:71)(cid:68)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:70)(cid:82)(cid:81)(cid:71)(cid:76)(cid:111)(cid:125)(cid:72)(cid:86)(cid:15)(cid:3)não têm sido B, para a conclusão provável, (cid:82)(cid:3)(cid:83)(cid:85)(cid:121)(cid:91)(cid:76)(cid:80)(cid:82)(cid:3)(cid:36)(cid:3)(cid:68)(cid:3)(cid:86)(cid:72)(cid:85)(cid:3)(cid:72)(cid:81)(cid:70)(cid:82)(cid:81)(cid:87)(cid:85)(cid:68)(cid:71)(cid:82)(cid:3)(cid:86)(cid:72)(cid:85)(cid:105)(cid:3)(cid:37). Analogamente, a regra R’ será justificada através do argumento seguinte, sendo este argumento conforme à própria regra R’: (1) Na maior parte dos casos de utilização de R’ em argumentos com premissas verdadeiras, numa ampla variedade de condições, R’ não tem sido bem sucedida. ∴ (Provavelmente) No próximo exemplo encontrado do uso de R’ num argumento com uma premissa verdadeira, R’ será bem sucedida. Formalmente, a justificação da regra indutiva R é equivalente à justi- ficação da regra contra-indutiva R’. Salmon argumenta assim que ne- nhuma das justificações apresentadas é correcta. Se as regras R e R’ forem aplicadas numa mesma situação, as premissas (1) dos argumen- tos justificativos serão verdadeiras mas as conclusões contraditórias. Todavia, os dados observacionais de suporte a R e R’ são os mesmos e, portanto, não parece que nenhuma destas regras sirva para fazer previsões.7 Black (1958: 725) replica, que R’ não é uma regra fiável, 7 Por exemplo, consideremos que é verdade que sempre que apostei na lotaria, perdi. Uma aplicação da regra R sustenta a conclusão provável de que, na próxima vez, perderei; enquanto uma aplicação da regra R’ sustenta a conclusão provável de que, na próxima vez, ganharei. Ou seja, R tem sido bem sucedida, i.e. tenho Edição de 2014 8 Eduardo Castro e Diogo Fernandes no sentido de ser uma regra que pode gerar conclusões falsas a partir de premissas verdadeiras. Todavia, admite que podem ser formuladas outras regras semelhantes a R’, mas regras fiáveis, onde a regra a uti- lizar em cada situação terá de ser analisada caso a caso, à luz do seu sucesso experimental passado. 2.2 Fiabilismo A tese epistémica fiabilista, segundo a qual temos conhecimento de p se p é uma crença verdadeira resultante de um processo fidedigno de obtenção de crenças, também tem servido para tentar alicerçar so- luções para o problema da indução (e.g. Cleve 1984, Papineau 1992, Levin 1993, Dauer 1980, Mellor 1991 e Nozick 1981, aqui seguimos Papineau). Para um fiabilista, os argumentos indutivos, apesar de se- rem argumentos inválidos, são um método fidedigno para obtenção de conhecimento. Portanto, um fiabilista não considera que a indu- ção seja problemática. O problema, na verdade, consiste em argu- mentar a favor da ideia de que o método indutivo é um processo fiável de obtenção de crenças, evitando-se cair na indesejável circularidade inerente à indução. O argumento é o seguinte: (1) Para i = 1 até n. Quando a pessoa, de ‘todos os Fs observados i i são Gs’, inferiu por indução a conclusão de que ‘todos os Fs são i i i Gs’ verificou-se que a conclusão era verdadeira. i i ∴ Quando alguém infere uma conclusão por indução, a conclusão inferida é verdadeira (i.e., a indução é fiável). Papineau defende-se da alegada circularidade do argumento come- çando por distinguir dois tipos de circularidade: circularidade de premissa e circularidade de regra. Um argumento sofre da circu- laridade de premissa quando a sua conclusão está contida numa das premissas do argumento; um argumento sofre da circularidade de perdido a lotaria, e R’ não tem sido bem sucedida, i.e. não tenho ganho a lotaria. As premissas (1) de ambos os argumentos justificativos acima são verdadeiras mas as conclusões contraditórias. A partir das premissas (1) ora se concluiu que, no próximo exemplo encontrado do uso de R, perderei a lotaria (R será bem sucedida), ora se concluiu que, no próximo exemplo encontrado do uso de R’, ganharei a lotaria (R’ será bem sucedida), respectivamente. (cid:38)(cid:82)(cid:80)(cid:83)(cid:114)(cid:81)(cid:71)(cid:76)(cid:82)(cid:3)(cid:72)(cid:80)(cid:3)(cid:47)(cid:76)(cid:81)(cid:75)(cid:68)(cid:3)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:51)(cid:85)(cid:82)(cid:69)(cid:79)(cid:72)(cid:80)(cid:68)(cid:86)(cid:3)(cid:71)(cid:72)(cid:3)(cid:41)(cid:76)(cid:79)(cid:82)(cid:86)(cid:82)(cid:192)(cid:68)(cid:3)(cid:36)(cid:81)(cid:68)(cid:79)(cid:116)(cid:87)(cid:76)(cid:70)(cid:68)
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