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O problema da colocação de pronomes PDF

407 Pages·1928·31.669 MB·Portuguese
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CÂNDIDO DE FIGUEIREDO Da Academia das Sciências do Lisboa 0 Problema DA Colocação” de Pronomes (SUPLEMENTO ÁS GRAMÁTICAS PORTUGUESAS 5.º Edição com UM «Juízo crítico» DE GONÇALVES VIANA LISBOA LIVRARIA CLÁSSICA EDITORA DE A. M. TEIXEIRA & Ca (PILHOS) Proça dos Restauradores, 17 192 8 OBRAS DO MESMO AUTOR A Cólera-Morbo, 1 vol. Combates sem sangue, 1 vol. Estrangeirismos, 2 vol. Falar e Escrever, 3 vol. Gramática Sintética da Língua Portuguesa, 3.2 ed., 1 vol. Lições Práticas da Língua, 3 vol, Linguagem de Camões, 1 vol. Notícia histórica, 1 vol. Novas reílexões, 1 vol. O que se não deve dizer, 3 vol. Ortografia no Brasil, 1 vol. Problema da Colocação de Pronomes, 1 vol. Problemas da Linguagem, 3 vol. «Vade-Mecum», 1 vol. Vícios da Linguagem Médica, 1 vol. POR— TImpOren sa Portuguesa Rua Formosa, 116 JUÍZO CRÍTICO '! O problema da colocação de pronome— sÉ êsto o título de mais um livro do sr. Cândido de Figueiredo, 4 cêrca da língua portuguesa. Nels se versa com muita proficiência o copio- síssimos exemplos, antigos, modernos e contem- porâneos, um dos factos de maior interêsso do idioma pátrio. Excelente a todos os respeitos, de sã doutrina, "cuidadosa redacção, argumentação sincera e rigo- rosa, exomplificação constante e porfeitamonto adequada, merece o livro ser lido o meditado por todos quantos so empenham em quo so ilustro o estudo da nossa língua. O autor preparou-so conveniontomente, o não há no seu novo trabalho nada quo razoâvelmonteo se possa enjeitar. - 1 Extraído do Diario de Noticias, do Lisboa, do 11 do Abril de 1909, O editor. 1 6 O PROBLEMA DA COLOCAÇÃO DE PRONOMES Dito isto, que não é lisonja, mas inteira e merecida justiça, acrescentarei alguns pequenos reparos, que não chegam a ser crítica. Um livro dêstes lê-se, medita-se e recomenda-se, não se joeira nem se extrata. . Principio por dizer que o título é deminuto: falta-lho o adjectivo pessoais, porque é sôbre a colocação desta espécie de pronomes, quer como sujeitos, quer como complemento de verbos, que se baseia quase tôda a discussão, a qual se estabe- leceu entre o autor e um escritor brasileiro, pois evidentemente ela seria ociosa em Portugal, e nem haveria aqui ninguém que a suscitasse. Disse eu que a argumentação é sempre sin- cera, e na minha opinião é ôste um dos principais merecimentos da obra. Fez bem em responder assim o seu autor ás insidiosas e sofísticas argúcias do seu contendor. Trocar subtilezas por subtilezas poderá ser um jôgo muito hábil para entretenimento dos litigantes, mas enfada quem lê, porque em tal contenda artificial nada útil so póde aprender. Trata-se de saber no Brasil se é legítima e portuguesa a colocação que lá dão aos pronomos pessoais com relação ao verbo a que pertencem, o é litígio que dura há já meio século. Três são os casos que mais avultam, com relação a esta espó- cio, no falar brasileiro. 1.º Deslocação do pronome sujeito de orações interrogat— i3v Qauasn:do ele veio? em vez de 3 Quando veio ele? 2.º Anteposi- ção do pronome regime om orações enunciativas: Juízo crítico 7 Me diga, me diz, em lugar de — Diga-me, diz-me. 3.º Posposição do pronome regimo em oração de relativo: O homem que viu-me, por O homem que me viu. Quase todos os muitos casos de que o livro trata podem facilmente subordinar-se a estas três categorias. , No português dê reino, essas construções são piores que defeituosas, são inauditas, incomproon- síveis: tôda a discussão a tal respeito seria fútil, 6 esperdiçado o papel que se gastasse com ela, por- que não há pessôa alguma em Portugal o nas suas actuais dependências, que construa de somelhanto modo aquelas frases, soja êle o mais boçal analfabeto, ou o mais primoroso escritor. Essas construções sintácticas nem são nem foram nunca portuguesas, são crioulas, como crioulas são também as mais das particularidades do pronúncia brasileira, que das de Portugal so afastam, o á cêrca da provável influência africana que determinou aquela sintaxo é digno do atenta leitura o capítulo xxxu da obra, o acertada e probanto a documentação quo ali, so cita, principalmento a quo so refore É antoposição dos pronomes nas línguas cafriais. É assunto quo meroco dotido estudo, mas om que não posso ontrar, nosto lugar o nosta ocusiito. eSubsistem êssos crioulismos no- Brasil o tivoram origem no convívio do poucos brancos, nas roças, . com. inúmera população do procedência africana, especialmento cafro? é Oferecom probabilidados êssos crioulismos do no Brasil so ostabolocorom dofiniti- 8 O PROBLEMA DA 'COLOCAÇÃO DE PRONOMES vamente, qualquér que seja a reacção artificial que contra êles se organize? Não é tempo ainda por em-quanto de responder decisivamente a estas interrogações. O fenómeno seria de bastante interêsse, pois equivaleria à produção de um dialecto especial da língua portuguesa; mas a dar*se essa evolução, em nada afectaria ela, nem poderia jamais afectar, O idioma pátrio no seu berço glorioso. “Algumas dessas particularidades de sintaxe en- contram-se em outras línguas, longe de influência - crioula. Assim, a posposição dos pronomes regimes em orações de relativ— oO homem que viu-me— é a sintaxe italiana; a anteposição do pronome ou nome em orações iniciadas por pronome ou advér- bio, interrogativ— o; Quando o homem veio?—é construção esclavónica. Uma das feições da sintaxe portuguesa, e tam- bém da castelhana, que mais realça, consiste em que a construção das orações interrogativas, á parto a intonação especial ascendente, om nada se dife- rença da que é usual nas orações onunciativas. Dêste modo, O homem veio e ;0 homem veio? sómente na entoação se distinguem, entanto que em outras lín- guas a construção difere, ou porque o sujeito se coloca depois do- verbo, como acontece nas ger- mênicas e em francês, por exemplo, ou porque se intercalam partículas especiais interrogativas, como em russo e em búlgaro (li), em polaco (czi=txi), em malaico (apa), ete. Se porém em português a Juizo crtrtICO 9 oração interrogativa começa por pronome ou advér- bio interrogativo, todo o português de Portugal pospõe o sujeito ao verbo; ex.: ; Como está seu pai? — Que livros tem ele?—, e jamais so dirá ; Como seu pai estã? ; Que livros ele tem? Idiomas existem, o sueco, por exemplo, em que a intonação é vocabulãr, e não frásica, de sorte que é a sintaxe que diferença das enunciativas as ora- ções interrogativas. . . Em Han talar svenska e ; Talar han svenska? o verbo talar pronuncia-se sempre em intonação ascendente, como se ambas as frases fôssem inter- rogativas, sendo que a primeira delas é enuncia- tiva— Ele fala sueco—, o a segunda interroga- tiva—g Lle fala sueco? Ainda algumas palavras a respeito da próclise e da énclise. Como se sabe, próclise é o encôsto do uma palavra átona á soguinte; ónclise êsso mesmo encôsto á precedente: em O homem deu-lhe o livro, o artigo o está em próclise, é proclítico com rela- ção a homem e a livro; o pronome lhe em éncliso, é enclítico para com o verbo deu. Mas om frases tais como O homem não lhe deu o livro, o mesmo pronomo é proclítico, como preceituam quaso todos os ortoepistas o gramáticos; ou polo contrário, é também enclítico, como já doutrinou, não me ocorre quem. Para falar com maiór clareza, g diro- mos O homem não lhe-deu o livro, ou— O homem não-lhe deu o livro, encostando-se portanto o pro- nomo lhe ao vocábulo não quo o procedo? 10 O PROBLEMA DA COLOCAÇÃO DE PRONOMES Seria êsto um ponto importante para se ave- riguar. O contendor brasileiro, que, conquanto profes- sor, se patenteia um tanto alheio a questões filo- lógicas e até meramente gramaticais, entre outros preceitos que formulou para uso próprio, pres- «creve que as línguas novilâtinas manifestam ten- dência para evitarem dições mais que esdrúxulas, e condena as dêste aspecto: dávam-no-lo, confiá- vamo-vo-lo. Triunfantemente lhe responde o autor do livro com exemplos frequentes de tais construções, per- feitamente lícitas. O preceito e a apregoada ten- dência são completa ilusão do articulista, se não são antes sofisma ou paradoxo. Em italiano, para não ir buscar outra língua do mesmo ramo neo-la- tino, são frequentíssimas as dições desta natureza, agravadas pela circunstância de que neste idioma as línguagens verbais são amiudadas vezes esdrú- xalas no singular do presente do indicativo. O subs- tantivo fábrica tanto é português como italiano; mas ao passo que esta palavra como verbo a acen- tuamos fabrica, em italino conserva ela a acen- tuação fabrica. Resulta disto que a 3.º pessoa do plural é fábricano, «fabrícam»>. Se lho juntarmos pronomes regimes, teremos dições como as seguin- tes: fúbricanosi, fúbricanosene, fúbricanovesene (1), uma dição de sete sílabas com o acento tónico sôbre a primeira, e que analisada equivale a esta frase— se ne fábricano per voi, «fabricam-se dessas (coisas)

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