CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros do, RJ. Menezes, Ângela Dutra de, 1946- M51p O português que nos pariu [recurso eletrônico] / Ângela Dutra de Menezes. – Rio de Janeiro : Record, 2011. Recurso Digital Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-01-09709-5 [recurso eletrônico] 1. Portugal – História. 2. Portugal – Civilização. 3. Livros eletrônicos. I. Título. 11-5129 CDD: 946.9 CDU: 94(469) Copyright © Angela Dutra de Menezes, 2009 Capa: Carolina Vaz Editoração eletrônica da versão impressa: Abreu's System Texto revisado segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Direitos exclusivos desta edição reservados pela EDITORA RECORD LTDA. Rua Argentina, 171, Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: 2585-2000 Produzido no Brasil ISBN 978-85-01-09709-5 Seja um leitor preferencial Record. Cadastre-se e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções. Atendimento e venda direta ao leitor: [email protected] ou (21) 2585-2002. Em memória de João Jorge Gaio Junior, o bisavô que, sem saber, me trouxe para o Brasil. Sumário Prefácio Receita de português Afonso Henriques, o pai da pátria (Coimbra, 1109 — Coimbra, 1185) Reconquista ou onde nasceu o cordial temperamento brasileiro Nossos mestres desconhecidos Flor do Lácio Gente fina é outra coisa Navegar foi preciso O enigma Cabral A cruz que abençoou as navegações Aljubarrota, a batalha que fundou duas dinastias Auriverde, pendão da minha terra Manuel, o Venturoso Alcácer-Quibir, a batalha que aumentou o Brasil A Inquisição portuguesa Restauração. Enfim, um Bragança Bê-á-bá dos tratados econômicos O pombal dos jesuítas Carlota Joaquina, infanta de Espanha Dom João VI, o Injustiçado Nossos bisavós portugueses Prefácio A primeira edição de O português que nos pariu é do ano 2000, minha contribuição à comemoração dos 500 anos do descobrimento. “Achamento”, preferem hoje classificar os lusos. Concordo com a definição e vou além: “oficialização da posse”. Desde o último quarto do século XV, Lisboa tinha certeza da existência de terras além do mar-oceânico. O português que nos pariu é também uma homenagem aos meus bisavós maternos de Viana do Castelo e à minha avó carioca, mas educada na cidade do Porto. Amei demais esta avó, cresci na casa dela. Nas minhas lembranças, vovó Maria, capaz de resolver qualquer encrenca, sempre aparece sorrindo. Ternura e força, suas lições mais concretas. Minha prima/irmã Maria Aparecida aprendeu mais do que eu a conciliar características tão díspares. Tudo bem. Com alguns anos extras de análise, alcançarei a sabedoria de ambas e, sem perder a delicadeza, igualmente conseguirei vencer as quedas de braço existenciais. Por enquanto, apenas não perco a pose. Vovó Maria não viveu em vão. Sou brasileira, orgulhosamente brasileira. Mas, desde que nasci, convivo com portugueses. Imigrantes, não imigrantes e de todas as classes sociais: pobres e ricos, simples ou intelectualmente sofisticados. Curiosamente, jamais ouvi alguém pavonear os feitos do país que nos séculos XIV, XV e XVI ensinou novos e definitivos caminhos ao mundo. Nunca entendi os motivos de eles esquecerem, e deixarem esquecer, uma nobilíssima caminhada de conquistas e de sucessos. Graças ao Português que nos pariu, comecei a decifrar algumas razões do aparente descaso com o passado: o uso político da História durante parte do século XX, o discreto temperamento português, desconforto com a lembrança da opulência perdida. O fato de nós, os lusófonos, não pertencermos à elite tecnológica e econômica do mundo ajuda a jogar para escanteio as extraordinárias aventuras portuguesas. Se pertencêssemos, a História não seria ensinada como o é às criancinhas do Primeiro Mundo: navegando sob bandeira espanhola, o genovês Cristóvão Colombo descobriu a América; o espanhol Vasco Balboa foi o primeiro a enxergar as águas do oceano Pacífico. Fim do capítulo Grandes Navegações. Para os cidadãos do andar de cima já não interessa a bravura exposta em carne viva nos “mares nunca dantes navegados”. Como sabemos, dá as cartas quem tem dinheiro. Como não temos, alguma sumidade pedagógica internacional decidiu, um dia, que a epopeia lusa não passava de “coisa de pobre”. Sendo assim, as louras e lindas criancinhas tops não precisavam aprender um dos mais belos capítulos do desenvolvimento humano: o que discorre sobre a “Nasa medieval” localizada em Portugal, o laboratório da filosofia, das técnicas e das ciências que deram o pontapé inicial na nossa contemporânea globalização. Coitadas, elas não sabem o que estão perdendo. Não há livro de aventuras que se iguale às aventuras que os portugueses realmente viveram. Se Colombo chegou à América — tal assunto renderia novo livro; pessoalmente, não creio que ele fosse genovês e, muito menos, que descobriu a América por obra e graça dos reis talibãs, quero dizer, católicos — e Balboa extasiou-se diante do que chamou de Mar del Sur, foi porque Portugal lhes entregou o quadrante, o astrolábio e os mapas. Desde os anos 1200, os portugueses desenvolviam a ciência náutica. Foram eles os responsáveis pelo conhecimento dos mares, correntes, marés e regimes de ventos. Pela evolução da astronomia e da cosmografia. Pelo desenvolvimento dos instrumentos essenciais à arte de marear. Pela sofisticação da cartografia. Aqui cabe uma informação interessante: em 1507, seis anos antes de Balboa descobrir o oceano Pacífico, o padre alemão Martin Waldseemuller, orientado por informações de navegadores anônimos e de Américo Vespúcio, desenhou um mapa que, popularmente, é conhecido por Mapa de Waldseemuller. Este mapa localiza, com erros mínimos de latitude e longitude, acidentes geográficos da costa ocidental das Américas. Aponta o cabo Horn (ao lado, o brasão português de cinco quinas indica quem chegou ali primeiro), revela a existência dos Andes e mostra a região onde, em 1513, Balboa se deslumbraria com la Mar del Sur. O mapa, repito, foi elaborado em 1507, com informações recolhidas em viagens realizadas ao menos dez anos antes. Afinal é preciso ver, rever, explorar, observar e registrar. Ninguém tropeça numa variação de relevo discutindo futebol e, em dois minutos, pode jurar que ele está plantado exatamente num determinado local. Cartografia não é atividade de amadores e Martin Waldseemuller é considerado um dos melhores profissionais de sua época. Historiadores com mestrado e doutorado ainda se mostram atônitos ante as revelações da carta topográfica encontrada em 1901, entre os badulaques da família do príncipe alemão Johannes Waldurg-Wolfegg. Em 2003, confirmada a sua autenticidade, a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos comprou-a por 10 milhões de dólares, o mais alto preço já alcançado por um documento. Entende-se o interesse norte-americano. No início do século XXI, o Waldseemuller foi rebatizado como Certidão de Nascimento da América porque nele, pela primeira vez, vê-se grafado sobre o território do Novo Mundo o seu nome definitivo: América. Espertíssimo, o Vespúcio. Crônicas da época descrevem-no como falastrão e sedutor. Devia ser mesmo, convenceu Waldseemuller a homenageá-lo nas terras recém-descobertas Enquanto se discute como ocorreu tal milagre cartográfico — a quase exata
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