Copyright © 1998, Tony Judt. Todos os direitos reservados. Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA OBJETIVA LTDA. Rua Cosme Velho, 103 Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22241-090 Tel.: (21) 2199-7824 – Fax: (21) 2199-7825 www.objetiva.com.br Título original The Burden of Responsibility Capa Marcos Davi Revisão Ana Kronemberger Cristiane Pacanowski Rogério Amorim Coordenação de e-book Marcelo Xavier Conversão para e-book Abreu’s System Ltda. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ J85p Judt, Tony O peso da responsabilidade [recurso eletrônico] : Blum, Camus, Aron e o século XX francês / Tony Judt ; tradução Otacílio Nunes. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Objetiva, 2014. recurso digital Tradução de: The burden of responsibility Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web 206 p. ISBN 978-85-390-0618-2 (recurso eletrônico) 1. Blum, Leon, 1872-1950 - Ética. 2. Camus, Albert, 1913-1960 - Ética. 3. Aron, Raymond, 1905-1983 - Ética. 4. Intelectuais - atividade política - França - Historia - Século XX. 5. França - Vida intelectual - Século XX. 6. Livros eletrônicos. I. Título. 14-13654 CDD: 944.08 CDU: 94(44)’19’ SUMÁRIO Capa Folha de Rosto Créditos Prefácio Epígrafe INTRODUÇÃO O julgamento errôneo de Paris UM O profeta desdenhado DOIS O moralista relutante TRÊS O insider periférico NOTAS LEITURA ADICIONAL Prefácio E stes ensaios foram concebidos originalmente para as Bradley Lectures, na Universidade de Chicago, e sou grato à Bradley Foundation e ao professor Robert Pippin, presidente do Comitê sobre Pensamento Social daquela instituição, pela oportunidade que eles me proporcionaram de desenvolver algumas de minhas ideias sobre a França e os intelectuais franceses. A Universidade de Nova York me concedeu generosamente uma licença para trabalhar neste e em outros projetos, e usei uma parte dessa licença em 1995 como convidado do Institut für die Wissenschaften vom Menschen (IWM), em Viena, onde minha estada foi propiciada em parte por uma subvenção da Fundação Volkswagen. Sou grato a essas instituições por seu apoio, e ao diretor do IWM, professor Kryzstof Michalski, por sua hospitalidade inesgotável. Meu editor na University of Chicago Press, T. David Brent, foi tolerante e incentivador, apesar de ter tido de esperar por este livro muito mais tempo do que o previsto originalmente. Versões dos ensaios sobre Albert Camus e Raymond Aron foram apresentadas na Northwestern University, na Michigan State University, na McGill University e na Universidade de Viena, bem como na própria Universidade de Chicago, em aulas abertas e seminários. O público e os participantes nesses eventos, e meus alunos no Institute of French Studies da Universidade de Nova York, ofereceram muitas críticas e sugestões, e este livro é melhor graças à contribuição deles. As idiossincrasias e os erros evidentemente são meus. Ao citar da obra de meus três temas, tomei a liberdade de traduzi-los de novo em quase todos os casos, em vez de usar as versões em língua inglesa existentes. Quando esse não é o caso, indiquei nas notas. A referência completa à fonte original e algumas sugestões de leitura adicional podem ser encontradas nas notas e em uma pequena nota bibliográfica, “Leitura adicional”, no fim do livro. Este livro é dedicado à memória de François Furet. Foi a convite dele que concordei inicialmente em preparar estas palestras, e com seu encorajamento entusiástico que as dediquei a Blum, Camus e Aron. Furet era um admirador deles três, embora suas ligações, intelectuais e pessoais, fossem certamente mais próximas com Raymond Aron. Ele dirigiu o instituto em Paris batizado com o nome de Aron. E quando morreu estava trabalhando em um estudo de Alex de Tocqueville, talvez o pensador francês favorito de Aron. Mas Furet era em certa medida, tanto quanto Aron, herdeiro natural de Blum e Camus. Sua obra acadêmica sobre a história da Revolução Francesa, rejeitando primeiro a interpretação marxista e depois a recentemente convencional “história cultural”, assegurou-lhe uma oposição acadêmica dos dois lados do Atlântico. Sua corajosa condenação do jargão político de sua época, fosse “antianticomunista” ou “multicultural”, lhe granjeou inimigos políticos na França e no exterior. E sua crescente influência no entendimento público do passado francês incitou seus oponentes a paroxismos de ressentimento, de forma notável na ocasião do bicentenário da Revolução, quando ataques a Furet e sua “escola” assumiram um caráter marcadamente pessoal e ad hominem. Tudo isso teria sido muito familiar aos homens a quem estes ensaios são dedicados. Como eles, François Furet era um intelectual conhecido cujas qualidades como “insider” não impediram que ele fosse tratado em vários momentos e em vários círculos como um outsider e mesmo um renegado. Como eles, ele ia contra a corrente dominante, no caso de Furet duas vezes: primeiro ao solapar e remodelar a história da Revolução, o “mito de fundação” nacional francês, e depois ao publicar, no fim da vida, um ensaio imensamente influente sobre o comunismo, o mito (ou ilusão, nas palavras de Furet) do século XX. Como eles, ele era às vezes mais valorizado no exterior do que em seu país. E, como eles, sua influência e suas ideias triunfaram sobre seus críticos e certamente sobreviverão a eles. Observou-se amplamente que não houve e não há uma escola Furet de história francesa. Mas também não há nenhuma escola Aron de pensamento social francês, nenhuma escola Camus de moralistas franceses, nenhuma escola Blum de social-democracia francesa. Esses homens não representavam uma versão concorrente do engajamento intelectual ou político francês; representavam, no fim, só eles próprios e aquilo em que acreditavam. E é por isso que, com o tempo, eles passaram a representar muito do que é melhor na França. “Le romantisme français”, dit Goethe, “est né de la Revolution et de l’Empire: Gloire et Liberté! Du mouvement socialiste nous verrons naître un nouveau lyrisme: Justice et Bonheur!” “O romantismo francês”, diz Goethe, “nasceu da Revolução e do Império: Glória e Liberdade! Do movimento socialista veremos nascer um novo lirismo: Justiça e Felicidade!” LÉON BLUM S’il existait um parti de ceux qui ne sont pas sûrs d’avoir raison, j’en serais. Se existisse um partido para aqueles que não têm certeza de estarem certos, eu seria dele. ALBERT CAMUS Ce n’est jamais la lutte entre le bien et le mal, c’est le préférable contre le détestable. Não é jamais a luta entre o bem e o mal, é o preferível contra o detestável. RAYMOND ARON INTRODUÇÃO O julgamento errôneo de Paris A história não é escrita como foi vivenciada, nem deve ser. Os habitantes do passado sabem melhor que nós como era viver então, mas não estavam bem situados, a maioria deles, para entender o que lhes acontecia nem por quê. Seja qual for a explicação imperfeita que possamos oferecer para o que ocorreu antes de nosso tempo, ela conta com as vantagens da visão retrospectiva, embora essa mesma visão retrospectiva seja um impedimento insuperável à completa empatia com a história que tentamos entender. A configuração de acontecimentos passados depende de uma perspectiva assumida no lugar e no tempo; todas as configurações desse tipo são verdades parciais, embora algumas adquiram uma credibilidade mais duradoura. Sabemos disso intuitivamente porque descreve melhor o perfil multifacetado de nossas próprias vidas. Mas, no momento em que reconhecemos que isso é também verdade para outros, e que a versão deles de nossa vida também é parcialmente plausível, somos obrigados a admitir que pode haver uma infinidade de explicações possíveis de passados individuais multiplamente interseccionais e sobrepostos. Por conveniência social e psicológica vivemos com uma versão comum reconhecida da trajetória de vidas individuais — a nossa e a de nossos amigos, colegas e conhecidos. Mas esse mínimo denominador comum de identidade funciona em grande medida porque, na maior parte do tempo, não temos boa razão para interrogar a narrativa que atribuímos a nós ou a outros. Exceto em momentos de crise incomum, não nos engajamos em questionamento experimental intrusivo de nossa relação presente com a pessoa que fomos antes; e para a maioria de nós esses esforços de desnudar a natureza e o significado de nosso passado ocupa uma parcela muito pequena de nossas horas de vigília. É mais fácil, e mais seguro, agir como se essas questões estivessem resolvidas. E mesmo que escolhêssemos indagar, de forma incessante e de forma doentia, quem fomos e somos e como viemos a ser assim e o que devemos fazer à luz das conclusões a que chegamos a partir dessa autoinvestigação, nada
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