UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA “O PARAÍSO TERMINA QUANDO O TRABALHO COMEÇA”: COTIDIANO OPERÁRIO E PODER DISCIPLINAR NA FÁBRICA TÊXTIL CONFIANÇA (SERGIPE, 1943-1957) Wagner Emmanoel Menezes Santos São Cristóvão Sergipe - Brasil 2014 1 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Santos, Wagner Emmanoel Menezes. S237p “O paraíso termina quando o trabalho começa”: cotidiano operário e poder disciplinar na Fábrica Têxtil Confiança (Sergipe, 1943-1957) / Wagner Emmanoel Menezes Santos ; orientadora Célia Costa Cardoso. – São Cristóvão, 2014. 175 f.: il. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Sergipe, 2014. 1. Sergipe - História. 2. Fábricas – Sergipe. 3. Relações trabalhistas. 4. Mão-de-obra. I. Cardoso, Célia Costa, orient. III. Título. CDU 94(813.7) 2 Wagner Emmanoel Menezes Santos “O PARAÍSO TERMINA QUANDO O TRABALHO COMEÇA”: COTIDIANO OPERÁRIO E PODER DISCIPLINAR NA FÁBRICA TÊXTIL CONFIANÇA (SERGIPE, 1943-1957) Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em História da Universidade Federal de Sergipe, como requisito obrigatório para obtenção de título de Mestre em História, na Área de Concentração Cultura e Sociedade. Orientador: Prof.ª Dr. Célia Costa Cardoso. SÃO CRISTÓVÃO SERGIPE - BRASIL 2014 3 Wagner Emmanoel Menezes Santos “O PARAÍSO TERMINA QUANDO O TRABALHO COMEÇA”: COTIDIANO OPERÁRIO E PODER DISCIPLINAR NA FÁBRICA TÊXTIL CONFIANÇA (SERGIPE, 1943-1957) Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em História da Universidade Federal de Sergipe, como requisito obrigatório para obtenção de título de Mestre em História, na Área de Concentração Cultura e Sociedade. Orientador: Prof.ª Dr. Célia Costa Cardoso. Prof.ª Dr. Célia Costa Cardoso (UFS) Prof.º Dr. Antônio Lindvaldo Sousa (UFS) Prof.º Dr. Wilson Roberto de Mattos (UNEB) 4 AGRADECIMENTOS A escrita de uma dissertação de mestrado não é apenas um trabalho solitário, mas conta com o apoio de inúmeras pessoas, que fizeram críticas, indicaram livros ou mesmo auxiliaram na escolha do título da pesquisa. É preciso agradecer aos meus colaboradores que tiveram sugestões valiosas e tornaram esse trabalho cada vez melhor. Agradeço aos professores das disciplinas ofertadas no mestrado e cursadas por mim, pois contribuíram bastante para o aprimoramento da minha pesquisa. Lembro também dos professores da Universidade Federal de Pernambuco que estavam associados ao PROHIS (Programa de Pós-Graduação em História / Universidade Federal de Sergipe) e assim colaboraram com diferentes e importantes sugestões. A coordenação do PROHIS foi fundamental, principalmente no tocante ao auxílio a minha viagem ao Rio Grande do Norte para apresentação de artigo no evento nacional da ANPUH/2013. Agradeço o professor Augusto da Silva, que tive a honra de conhecer durante o mestrado, pela análise criteriosa do meu texto na Qualificação. Sou grato ao professor Antônio Lindvaldo que conheço desde o meu primeiro período da graduação em História e tive a sorte de cursar três disciplinas com ele; além disso, durante a Qualificação, orientou como eu deveria pensar o cotidiano operário em Sergipe. Por fim, agradeço por indicar a documentação valiosa dos processos trabalhistas dos operários que se encontrava no arquivo do TRT e que forneceu meios para maior crescimento dessa pesquisa. Devo também ser grato ao professor Wilson Roberto de Mattos que gentilmente veio de outro Estado e fez contribuições e críticas para o aperfeiçoamento do meu texto. Nunca poderei esquecer os meus valiosos amigos do mestrado e guardarei todos em meu coração, pois marcaram a minha vida acadêmica. Com a mesma medida, sou grato aos colegas da minha graduação que mantive contatos e que me incentivaram. Não citarei os nomes, pois corro o risco de esquecer algum, e então eu jamais me perdoaria. Agradeço a inúmeras outras pessoas que cruzaram o meu caminho e contribuíram com alguma coisa. Agradeço aos funcionários dos arquivos que visitei. Dentre tantos, destaco o pessoal do arquivo do TRT que sempre me acolheu com boa animação e disponibilizou os processos trabalhistas movidos pelos operários da fábrica Confiança. Mil abraços principalmente para Lourdes, que disse que eu era amigo do arquivo (fiquei contente nesse dia!), seu Zé e outros tantos. 5 Agradeço infinitamente por poder contar com a orientação da professora Célia Costa Cardoso que constantemente se mostrou atenta e perspicaz nas correções. Conheço-a desde a graduação e a partir daí foi a responsável pelo meu crescimento acadêmico. Corrigiu meus artigos, indicou livros, fez críticas, falou como deveria ser a escrita acadêmica, pensou comigo o projeto de pesquisa, escolheu os melhores títulos da dissertação, enfim contribuiu para o meu aprimoramento científico. Por fim, quero dedicar essa pesquisa a minha mãe Telma Cristina, pessoa que sempre acreditou nos meus estudos e foi responsável pelo suprimento financeiro, além de que eu passaria mil páginas tecendo elogios para ela, e ao pai Murilio Barbosa, que foi outro personagem incentivador e colaborador. Os meus irmãos, Bruno e Daniel, comemoraram comigo a minha aprovação no mestrado e todos os desafios conquistados. Agradeço também a minha vó Ruth pelo seu carinho e pela força dada. 6 Sina de Operario Nair, levante-se! Olhe, está ouvindo o apito?! É a primeira chamada! Luzia já vem! E as outras já estão passando! Ó mamãe, estou tão cansada de ontem! Bom dia, Nair, Oh! Luzia, vai hoje? Como não? e o domingo remunerado? Tossindo assim? Que é que eu hei de fazer? Requeira ao Instituto um descanso. Não: se isto eu fizer, o patrão não me recebe de volta! Ele está despedindo todos depois da licença; o Braga, o Egídio e mais de cinquenta foram despedidos, perdendo todo o tempo? E a Justiça do Trabalho? Justiça, Ministério, tudo isto aqui, é o dinheiro do patrão! Luzia tossiu outra vez; e a tosse renitente, continuou; ela voltou para casa e nunca mais foi trabalhar. Agora, quando a fábrica apita, ela, chorando, olha as amigas passando e num esfôrço sem par, cambaleando vai à janela e ao longe vê a fábrica, ouve a zoada dos teares e diz, balbuciando: “foram eles que tomaram minha fôrça Minha fôrça está rodando a fábrica!” Poesia de Dermeval Mangueira, Gazeta Socialista, 21-07-1956, p. 05. (Nota do jornal: “Dermeval Mangueira é um poeta sergipano de marcada vocação para a poesia de caráter Social”). 7 RESUMO O surgimento das fábricas marcou a sociedade, transformando os hábitos e as relações entre os indivíduos, novas tecnologias surgiram, e até a noção de tempo ganhou outro sentido. O homem teve que vender a sua mão de obra ao capitalista industrial fazendo parte do processo de assalariamento, e assim ele se sujeitou a vida diária dentro da fábrica através de longas jornadas de trabalho, horários rígidos, etc. Muitos operários enfrentaram essas condições de trabalho no Brasil, principalmente nos anos iniciais do período republicano. Em Sergipe, as fábricas têxteis contribuíram para o desenvolvimento do estado trazendo mudanças sociais, políticas e culturais. Para entender o crescimento do setor têxtil e o cotidiano operário, essa pesquisa analisou a vida dos trabalhadores (alimentação, moradia, vestuário, lazer, conflitos internos, etc.) dentro e fora da fábrica Confiança, fundada em 1907, em Aracaju, e que tinha Joaquim Sabino Ribeiro como principal diretor. O recorte temporal compreende de 1943, ano do surgimento da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) que visou ainda mais regulamentar as leis trabalhistas e a relação conflituosa entre empregador e empregado, até 1957, quando acontece a crise no setor têxtil nacional que contou com a demissão de vários operários, inclusive afetando os trabalhadores sergipanos. As fontes utilizadas foram a revista Poliantéa, os periódicos Fôlha Popular e Gazeta Socialista, obras dos memorialistas Mário Cabral e Murillo Melins, a literatura de Amando Fontes e principalmente, os processos trabalhistas movidos pelos operários contra a fábrica Confiança. O aporte teórico desta pesquisa baseia-se no conceito de disciplinarização, proposto por Michel Foucault, com o objetivo de compreender como se dava o processo de disciplinarização no cotidiano dos trabalhadores da fábrica Confiança. Palavras-chaves: Sergipe, Fábrica, Disciplinarização, Cotidiano, Operário. 8 ABSTRACT The emergence of factories marked the society, transforming the habits and relations between individuals, new technologies emerged, and even the notion of time gained another sense. The man had to sell their labor to the industrial capitalist part of the wage process, and so he was subjected to daily life within the industry through long working hours, strict schedules, etc. Many workers faced these working conditions in Brazil, especially in the early years of the republican period. In Sergipe, textile industries contributed to the development of the state bringing social, political and cultural changes. To understand the growth of the textile industry and the workers’ daily lives, this research examined the lives of workers (food, housing, clothing, leisure, internal conflicts, etc.) within and outside the Confiança factory, founded in 1907, in Aracaju, and that had Joaquim Sabino Ribeiro as chief director. The time frame includes 1943, year of the emergence of CLT (Consolidation of Labor Laws) which aimed to further regulate the labor laws and the conflicting relationship between employer and employee, until 1957, when the crisis happens in the national textile industry which had the dismissal of several workers, including affecting sergipanos workers. The sources used were Poliantéa magazine, periodicals Fôlha Popular and Gazeta Socialista, works of memoir Mário Cabral and Melins Murillo, the literature Amando Fontes and especially, labor claims brought by workers against Confiança factory. The theoretical contribution of this research is based on the concept of discipline, proposed by Michel Foucault, in order to understand how was the process of disciplining the daily lives of workers of Confiança factory. Keywords: Sergipe, Factory, Disciplinarization, Everyday, Workman. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 10 1 - FÁBRICA CONFIANÇA EM SERGIPE: HISTÓRIA, PRODUÇÃO TÊXTIL E “DISCIPLINA HIERÁRQUICA” ............................................................................................ 24 2 – “NÃO VÊS O QUE TE DOU EU?”: RELAÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE ............ 65 3- A VIDA FORA DA FÁBRICA E O CONTROLE PATRONAL NO COTIDIANO OPERÁRIO ............................................................................................................................ 101 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 148 FONTES E BIBLIOGRAFIA................................................................................................ 162
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