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O Mundo Inteiro Como Lugar Estranho PDF

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O Mundo Inteiro como Lugar Estranho N E S T OR ESP UNIVERSIDADE DE SAO PAULO Reitor Marco Antonio Zago G A R C ÍA Vice-reitor Vahan Agopyan |ed"^P EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO C A N C L I NI Diretor-presidente Plínio Martins Filho COMISSÃO EDITORIAL Presidente Rubens Ricupero Vice-presidente Carlos Alberto Barbosa Dantas Chester Luiz Galvão Cesar Maria Angela Faggin Pereira Leite Tradução de Larissa Fostinone Locoselli Mayana Zatz Tânia Tomé Martins de Castro Valeria De Marco Editora-assistente Carla Fernanda Fontana Chefe Téc. Div. Editorial Cristiane Silvestrin 1. LUGAR PARA A DÚVIDA 11 2. MANEIRAS DE CITAR 21 3. QUANTO OU COMO SE LÊ 27 4. O QUE NÃO PODEMOS RESPONDER 37 5. O MUNDO INTEIRO COMO LUGAR ESTRANHO 55 6. PÓS-XEROX 73 7. SUPERMERCADO DE PAPERS 77 POR QUE EXISTE A LITERATURA E NÃO O NADA 83 9. DEMOCRACIA CANALHA 99 10. ESCOLHER O QUADRO TEÓRICO 119 11. O MÉTODO 127 12. POR QUE os CIENTISTAS ESCREVEM ENSAIOS I33 13. DEIXAM A GENTE SIMULAR MENOS: DA TELEVISÃO A SNOWDEN 145 14. INTEMPÉRIE 159 15. FONTES E VERSÕES 167 1. LUGAR PARA A DÚVIDA - o que mudou desde que você começou a trabalhar nas ciências sociais? - As perguntas. - As respostas não? - O que acontece ê que agora o que principalmente procura mos não são as respostas. - Então por que você aceitou dar esta entrevista? Quem per gunta sou eu e sua tarefa ê responder - disse a jornalista, sorrindo, como se estivesse invocando amizade. - Mais do que uma entrevista, propus a você uma conver sa quando vi que você se incomodou porque me neguei a dar a conferência que me pediu para o congresso sobre a cultura em tempos de decomposição social. Como pensar, com base naquilo que sabemos sobre indústrias culturais e cultura popular, as ex clusões crescentes, a grave exploração económica e a descrença nos politicos? O que vinhamos descobrindo nos estudos sobre cultura, apesar de eles terem crescido nas últimas décadas, pare ce equivocado ou insuficiente diante do avanço da informalida de e destruição empresarial de direitos com a colaboração dos governos, cumplicidade dos partidos e impotência da chamada sociedade civil. Os estudos sobre a precariedade entre os jovens - mais educados e mais desempregados que as gerações mais ve lhas - esboçam um futuro sombrio que não sabemos como evi tar. Quem pode dar uma conferência com certezas magistrais? Alguns cientistas sociais se voltam a textos curtos de opinião. Eu odeio as compilações de artigos de jornais e entrevistas. - Vamos dialogar, então, pensar sobre as perguntas. O que pode nos servir ainda das teorias que no fim do século xx for neciam melhores explicações: Marx, Weber ou os pensamentos autónomos regionais? - Os economistas e sociólogos que tinham mais ressonância eram os que combinavam com destreza e imaginação essas teo- LUGAR PARA A DÚVIDA 15 14 o MUNDO INTEIRO COMO LUGAR ESTRANHO páginas das setecentas de A Distinção, livro publicado em 1979. rias ou posições. Pierre Bourdieu era reconhecido porque soube Mesmo em suas conferências de 1996 sobre a televisão, sua visão ler a sociedade tomando por base as classes, como os marxistas, apocaliptica, suas prescrições sobre o que os meios de comuni e, ao mesmo tempo, considerando-as grupos de status, no estilo cação deviam fazer, desconheciam descobertas dos estudos da weberiano. Mas sua tentativa mais sofisticada de construir um comunicação sobre mutações da cultura audiovisual e sua tensão sistema e um método, A Distinção, recebeu criticas: dizia-se que com a escrita. Fra um sociólogo perspicaz para descobrir como servia somente para entender como as classes subiam ou aspira os grupos de elite ou populares simulavam quando usavam gestos vam a ascender combinando bens materiais e simbólicos na so e simbolos "legitimos" a fim de parecerem aquilo que não eram: ciedade francesa. E seus discipulos, como Jean-Claude Grignon, a cultura como estratégia para se diferenciar e as ciências sociais explicavam que até mesmo dentro da França os atores populares como um conjunto de táticas de desconfiança. O problema era não apenas pretendiam ser de classe média ou adotar seus sig que as pessoas já estavam mentindo de outras maneiras e em lu nos de distinção como também tinham seus próprios modos de gares diferentes. comer, beber e viajar. Não viviam uma vida sem estilo; usavam - Como acontecia essa discordância? outras vestimentas, outras piadas, comiam pratos cuja variedade - Fiquei impressionado lendo uma entrevista de 2012 com comprovava que seus gostos não eram apenas apropriações dissi Olivier Donnat, um especialista em consumo cultural do Mi dentes dos costumes "legitimos". nistério da Cultura e da Comunicação da França. Fie conta que - No entanto, na América Latina se observava com mais cui começaram a mudar as perguntas das pesquisas há vinte anos dado a vida cotidiana dos indigenas e dos pobres que acabavam quando observaram que os públicos não dedicavam mais tan de chegar ãs cidades. tas horas a ler como quando se entediavam porque a televisão - É verdade. Mas onde a antropologia tinha mais bem se ainda não tinha sido inventada. Voltaram agora a refazer os ques desenvolvido, como no México e no Peru, estudavam as formas tionários porque se deram conta de que os jovens e as crianças próprias de viver e pensar dos subalternos com o afã de decidir veem menos televisão desde que começaram a se divertir mais como integrá-los a um capitalismo com rosto menos desumano navegando de site em site em outras telas, enviando e recebendo ou ã revolução. Os antropólogos eram mais receptivos do que ou mensagens. Tanta coisa mudou que descobriram que as pessoas tros cientistas sociais a experiências que escapavam dos modelos mentem menos se perguntam quantos livros leram no último ano preconcebidos de desenvolvimento. Alguns quiseram ajudar os porque existe uma "ampliação do campo das legitimidades cultu subalternos a serem eles mesmos; a maioria os descrevia com mi rais". Nestes tempos em que os modelos e as marcas de aparelhos núcia, mas baseando-se em perguntas sociológicas ou económi colados sempre ao corpo nos distinguem, os livros não ocupam cas: acreditava-se que se sabia o que era a sociedade, até mesmo o lugar cultural que tinham antes. As leituras se diversificam, a que existia sociedade ou nação; portanto, a indagação dos ques televisão ê combinada com os videos comprados ou baixados, tionários e da observação antropológica vinha traçada com base informamo-nos pela imprensa (mais na tela do que no papel) e nesses pressupostos. também pelo Facebook e pelo YouTube. - Não existiam apenas a sociologia, a antropologia e a econo Sabemos que a migração dos hábitos culturais dos livros para mia. Cresceram desde os anos 1960 disciplinas, como os estudos os meios audiovisuais ocorreu a partir dos anos 1960, quando a te da comunicação e a semiótica, que mudaram a visão do social. levisão se expandiu massivamente, e depois com o video nos anos - Mas demoraram para serem incorporadas pelas teorias que 1980. Mas as pesquisas sobre leitura continuaram averiguando só se ocupavam da sociedade em seu conjunto. Bourdieu dedicou o que se lê em papel e alimentando o alarme de editores, donos de aos meios de comunicação e ãs indústrias culturais apenas seis l6 o MUNDO INTEIRO COMO LUGAR ESTRANHO LUGAR PARA A DIJVIDA 17 livrarias, professores e promotores de leitura (em papel). Mesmo ticas de apoio ao cinema nacional, ou quando as promessas de com a vasta difusão da leitura e escrita digital insistem em medir bem-estar dos politicos e empresários para uma nação são insis apenas quantos livros, revistas, jornais e gibis cada pessoa leu por tentemente desmentidas por seus resultados, a primeira coisa a se semana, por mês ou por ano. Assim se chega ã conclusão de que fazer ê questionar se esses programas e promessas são respostas em média os mexicanos leriam 2,9 livros por ano, que 40% da a perguntas que não se formulam mais. Quando medimos o que população não lê jornais e 48% não lê revistas. O que significam se lê ou de que paises são os filmes que os cinéfilos ou videófilos esses 2,9? Leu o livro completo? De que maneira usou os conteú veem, sabemos o que significa ler hoje, o que representa a nação e dos? Além disso, como evidenciam muitas pesquisas, quando se ter acesso ã cultura para os cidadãos-consumidores? Onde existe pergunta pelos livros favoritos, respondem a Biblia ou outros di mais simulação: nas respostas ou nas perguntas? fundidos pela educação escolar (Dow Quixote, O Pequeno Prínci - Até que a gente não esclareça filosoficamente os conceitos pe) ou pelo cinema (Harry Potter, O Exorcista): os pesquisadores de cultura, nação e estrutura social, ê preciso deixar de fazer en- mais desconfiados concluem então que ê possivel duvidar de que quetes? efetivamente leram esses livros. - Estamos em uma transição incerta que torna insegura Várias pesquisas, como as do México em 2006 e 2012, regis qualquer descrição da estrutura social. É posto um ponto de tram que nesse período o uso da internet subiu de 24% a 43% da interrogação no senso comum sobre o que ê o social, não ape população. Entre as sete principais razões pelas quais os mexica nas das pessoas comuns como também dos cientistas. Não nos usam a rede estão o e-mail, procurar informação e estudar, basta tentar entender o "contexto social" quando os cidadãos todas elas formas de ler. No entanto, os analistas mantêm a hi decidem em quem votar ou os consumidores escolhem se di pótese que atribui a queda da leitura (de livros) ãs tecnologias ferenciar lendo livros ou exibindo dispositivos eletrònicos. Nós da informação e comunicação. Reincide-se no erro de pensar a tomamos essas decisões participando de interações sociais que história da cultura como substituição de uma tecnologia por ou não são exteriores aos individuos, como são imaginados os "con tra, em vez de se perguntar por sua coexistência. Assim como o textos". Operamos como atores em rede que colocam em dú cinema não acabou com o teatro, nem a televisão e o video com vida constantemente como se associar, e para quê, com outros o cinema, nem os telefones móveis aboliram os computadores, atores, com instituições e com os movimentos que as questio não existe evidência empirica para imaginar que a digitalização nam. Naturalmente, examinar a cada momento os pressupostos vai pôr fim ã cultura escrita. do senso comum não ê tarefa exclusiva dos filósofos e cientistas Não seria mais astuto, diante da expansão de telas digitais nas sociais, ou seja, nós que suspeitamos da simples acumulação de quais se lê e se escreve diariamente, transferir a indagação sobre dados - dos que leem ou não, dos que votam ou preferem se como e quanto se lê para os cruzamentos entre suportes, forma manifestar nas ruas. Também cumprem essa tarefa critica os mo tos e linguagens? Mais do que o dilema entre livros em papel e vimentos sociais, e por isso os pesquisadores estamos prestando textos digitais ou o divórcio entre o escrito e o audiovisual, ê pre tanta atenção neles e nas estruturas, que cada vez duram menos. ciso averiguar se está mudando a conversa que supõe ler: seja em Em um mundo que se transforma com mais velocidade do que objetos encadernados, seja em legendas de filmes, seja em telas quando apareceu a imprensa, o cinema ou a televisão, ê inapro eletrònicas. / veitável a ideia do cientista como um taquigrafo que anota se Não ê que as respostas sobre como funciona a sociedade não 3s leis imaginadas "do social" são cumpridas ou transgredidas. nos interessem. Mas, se nas últimas décadas falham um após ou Quando as maiorias não atuam conforme as leis, mas adaptan- tro os programas para estimular a leitura ou quase todas as poli- do-se a relações informais que prevalecem na politica, na econo- l8 o MUNDO INTEIRO COMO LUGAR ESTRANHO LUGAR PARA A DÚVIDA 19 acesso à informação, quando o sobrenome que melhor qualifica _ É preciso uma tormenta de géneros. O ensaio ê mais acolhe a democracia é canalha, quando não muda fisicamente o mapa dor do que o tratado. Mas ganha sentido ao ser aberto ã incerteza dos poderosos, mas as interações próximas e distantes de mul da entrevista, ã aspereza do debate, quando se deixa instruir pelos tidões, e todos nos sentimos mais ou menos estrangeiros, a ta poetas. "Nem sempre está claro quem fala", disse-me alguém que refa do pensamento social - em vez de descobrir regularidades leu o rascunho deste livro. "Às vezes falta o sujeito." Eu acho que o de longa duração - é "orquestrar contrastes" (Clifford Geertz). que pode ficar da ideia de autor ê aquele que escuta vozes e tenta Captar a ordem das pessoas e das coisas requer, mais do que entender como se cruzam, brinca com autores "reais" e imagina nunca, estar atento ã sua arbitrariedade. A sociedade é um labi dos e suas disputas por autoridade. Por que essa incerteza sobre rinto de estratégias. quem fala vai se limitar aos meios deliberadamente interativos? É incómodo aceitar que aquilo que acreditávamos saber já Falar sob o ponto de vista da academia ou da erudição de uma não tem capacidade explicativa. Se quase tudo se tornou versátil, disciplina não deveria nos poupar dessas dúvidas. flexivel, é preciso se incumbir da incerteza. E nos aferramos a no - Uma última pergunta. O que você está dizendo soa razoável ções de sociedade, etnia, nação ou classe, que em outras tempo em um académico. Mas você se dedicou em outro tempo a estu radas serviram para encontrar ordem nos comportamentos. Ou dar politicas culturais. Fazer propostas de politicas não implica para impô-los. deixar em suspenso perguntas tão radicais e dar respostas ãs de A essa ansiedade por localizar os dados em uma estrutura - e mandas das pessoas? rejeitar os que a tornam duvidosa - junta-se outra velha limita - Poderia ser, mesmo que não seja o que costumam fazer os ção do trabalho cientifico: a dispersão de estratégias de conhe politicos quando tentam mostrar que respondem a necessidades cimento e a tendência a sacralizar saberes compartimentados sociais. O que digo agora surge tanto de debates sobre a maneira na economia, sociologia, antropologia e semiologia. Cada uma de fazer ciência e escrevê-la como de uma experiência de anos por sua conta se dedica a mobiliar melhor sua casa. Mas o que atrás com um subsecretário de Cultura de um pais latino-ame- descobrimos em uma disciplina não fica completamente prova ricano. Ele me pediu que ajudasse a fazer o diagnóstico para o do até que confrontamos isso com o que afirmam outros campos programa nacional da cultura. Quando cheguei a seu escritório, de pesquisa sobre como fazemos sociedade e nos comunicamos. ele me deu uma pasta e me disse: aqui está o programa com as Precisamos de livros que trabalhem entre as ciências sociais, para estratégias e ações para os próximos anos. O que nós pedimos refazer as perguntas mais do que para juntar os saberes. Por isso que você escreva ê o diagnóstico. falarei dos congressos de pesquisadores ou escritores como ritu ais para consagrar em cenários separados estilos convencionais de indagação. Estamos duvidando de tudo isto: o que diferencia o real do virtual, como se interseccionam as pessoas, as máquinas e os objetos. Conhecer ê atravessar abismos: quando uma disci plina se aproxima de outra, quando os habitantes de uma nação se deslocam, quando a escrita em papel ê vista sob a perspectiva da digital. Eu gosto dos que olham e escrevem como estrangeiros, desinstalando-se do habitual. - Existe um género mais propicio do que outros para des- compartimentar os saberes? Quem sabe o ensaio? 2. MANEIRAS DE CITAR Estava há quatro anos ensaiando temas para seu doutorado e ne nhum o instigava. Seria mais fácil antes quando se escolhia um es critor, se lia sua obra, o que tinha sido publicado sobre ele, e o de I safio consistia em dizer algo que não tivesse ocorrido a ninguém ou refutar interpretações consagradas? Em alguns dias, culpava sua timidez ou sua exigência; outras vezes, lamentava a confusão em que as universidades tinham se metido quando subestima I ram as carreiras de literatura, filosofia, sociologia para fazer essas combinações que chamavam de saberes interdisciplinares. Ele ti nha escolhido um doutorado em "tuiteratura" e antropologia de emergência, e tinha expirado o tempo regular para apresentar a tese sem que ele tivesse definido ainda o que exploraria. O professor que ele ajudava na organização de congressos ti nha conseguido dois anos de prorrogação, mas estava a ponto de perder a bolsa se não entregasse pelo menos um avanço. Era bom com todas as tarefas que faziam funcionar esses eventos: escrever convites que convenciam especialistas de outros paises, buscá-los no aeroporto, elaborar os programas, conseguir mais projetores de PowerPoint do que os que existiam em sua universidade, conse guir descontos nos hotéis e notas publicitárias na imprensa. Circu lava com desenvoltura entre veterinários, linguistas, arquitetos que construiam pouco, mas se apaixonavam com o discurso sobre a ur- banoterapia, e, ê claro, os pós-filósofos e pretero-historiadores. Mas supunha que ter se familiarizado com tantos cruzamentos, no fim das contas, havia extirpado sua curiosidade pelo incompreensivel. Em uma manhã algo se iluminou para ele quando o erudito alemão e o professor argentino se reencontraram na porta do ho tel de La Plata, abraçaram-se e o visitante europeu recordou, nem bem tinha terminado o cumprimento, que agora ocorreria o con trário daquela vez em que se conheceram em uma universidade da Califórnia: o alemão deu a conferência inaugural e o argentino a de encerramento. t 24 o MUNDO INTEIRO COMO LUGAR ESTRANHO MANEIRAS DE CITAR 25 Esteve a ponto de perguntar sobre a diferença de uma e de Em seu entusiasmo, passaram rapidamente pela cabeça do outra, mas sua veia antropológica se impôs e decidiu esperar as jovem doutorando as associações interdisciplinares que essas respectivas falas, sobretudo espiar seus preparativos, a maneira imagens proporcionavam. Tomar partido e mediar fez que ele como aludiriam a diferentes assuntos do congresso nos gestos pensasse nos estudos sobre o etnocentrismo e o ecletismo epis retóricos, no trato com os palestrantes ilustres que teriam apenas temológico no futebol da era pós-Guardiola: as polémicas entre vinte minutos e, quem sabe, com alguns dos 404 participantes o Barça, o Real Madrid e o Bayern tinham se tornado tão sofisti obrigados pelos moderadores das mesas a não excederem os dez cadas que, cada vez que as escutava, evocavam sua faculdade. As minutos. Um conferencista de abertura ou de encerramento se maneiras de citar que escutaria na conferência de encerramento comportava de maneira diferente quando escolhia a mesa para o levariam, talvez, ã teoria da tradução e do plágio nas compe comer com outros congressistas? tências interculturais indefinidas, ou seja, todas. O campo de sua Ouvindo a conferência de abertura do congresso se espan pesquisa se abriria ilimitadamente, e isso de novo o angustiava. tou de não ter descoberto antes algo que presenciara tantas Nem bem acabou a conferência inicial teve de conter sua ansieda vezes. No discurso inaugural não havia a necessidade de se de porque devia confirmar se os canapés chegariam a tempo para referir ãquilo que aconteceria. O conferencista podia expor o brinde dessa noite, atender aos pedidos de recêm-chegados que as ideias que lhe tivessem ocorrido sobre o tema do evento, precisavam do certificado de participação no congresso porque com alusões ã sua obra anterior ou resumindo-a sem pudor, iriam embora assim que terminasse sua mesa, nessa mesma tarde, ou lançar provocadoras hipóteses para que fossem discutidas e seu professor já estava pedindo que fosse resgatar o conferen nos dias seguintes. Ninguém discutiria isso nesse momento cista dos Blackberries, iPhones e dedicatórias, porque era preciso porque as conferências magistrais não deixam tempo para o levá-lo para almoçar com o prefeito da cidade. diálogo, e dificilmente alguém faria referência ã sua interven ção nas mesas posteriores porque todos já tinham escrito suas apresentações. Em compensação, aquele que desse a conferência de encer ramento se sentiria comprometido a assistir ãs mesas mais im portantes e, quem sabe, demonstraria isso retomando algumas discussões. Como escolheria quem citar: por afinidades, alianças de grupos, velhos rancores? Dar o nome dos autores ou atacá-los sem dizer quem seriam, mas com insinuações que todos enten dessem, transformava as conferências em uma cena para admi nistrar a notoriedade académica. Mesmo os conferencistas com partilhando agora esse papel de determinadores de prestigio com fãs de diferentes professores que, ao tuitar frases soltas, teciam outros circuitos de celebridade. De qualquer maneira, esperava- -se que o conferencista tomasse partido ou mediasse entre os que debatiam sobre mudanças na relação da academia com as tarefas politicas, entre a excelência e a abertura da universidade ã difusão midiática do conhecimento.

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