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o mito de penélope e sua retomada na literatura brasileira: clarice lispector e nélida piñon PDF

298 Pages·2012·2.49 MB·Portuguese
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DENISE DE CARVALHO DUMITH O MITO DE PENÉLOPE E SUA RETOMADA NA LITERATURA BRASILEIRA: CLARICE LISPECTOR E NÉLIDA PIÑON PORTO ALEGRE 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ÁREA: ESTUDOS DE LITERATURA ESPECIALIDADE: LITERATURAS BRASILEIRA, PORTUGUESA E LUSO-AFRICANA LINHA DE PESQUISA: LITERATURA, IMAGINÁRIO E HISTÓRIA O MITO DE PENÉLOPE E SUA RETOMADA NA LITERATURA BRASILEIRA: CLARICE LISPECTOR E NÉLIDA PIÑON DENISE DE CARVALHO DUMITH ORIENTADORA: PROFª. DR. ANA MARIA LISBOA DE MELLO Tese de Doutorado em Literatura Brasileira, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul PORTO ALEGRE 2012 Para DEVENEZA, com gratidão e saudade; DANIEL, SAMUEL, RAQUEL e JOSÉ, com amor. Agradecimentos A todos os parentes e amigos que nos incentivaram a percorrer este trajeto, cujos nomes preferimos omitir para não incorrer na falha do esquecimento; à professora Ana Maria Lisboa de Mello, pela orientação pertinente e esclarecedora, pelo exemplo profissional e posicionamento ético, sem jamais desconsiderar o fator humano; às professoras Cláudia Mentz Martins e Maria Zaira Turchi, pelos caminhos apontados na qualificação; aos professores Carina Alvarez, Kelley Duarte, Márcia Helena Saldanha Barbosa, Maria de Lourdes Soares, Patricia Rosenmayer e Severino Albuquerque, que me auxiliaram com a remessa de textos, ou encaminhamento a quem pudesse fornecê-los; aos funcionários Myrela Leitão Barros e José Canísio Scher, pela atenção prestimosa. RESUMO Através desta tese, objetivamos identificar a presença e demonstrar a relevância do mito de Penélope na Literatura Brasileira por meio da obra de duas autoras que, metonimicamente, representam o imaginário penelopiano da sociedade nacional do século XX, analisando-o comparativamente com o mito homônimo existente na Odisséia, de Homero. Outra meta é desnudar o modus operandi pelo qual se efetua a reatualização mítica por parte das autoras na criação de seus universos textuais. Assim sendo, selecionamos o romance Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres e o conto “Os obedientes”, de Clarice Lispector, além de A doce canção de Caetana e “Colheita”, de Nélida Piñon, para realizar o confronto. Na primeira parte desta análise, contemplamos o mito de Penélope no seu nascedouro literário e, no intento de melhor situar o leitor, fragmentamos sua ação a partir dos principais mitemas compositivos, quais sejam: a espera, a tecedura e o engodo, seguidos da devida contextualização espaçotemporal. Na segunda parte, os mesmos mitemas são enfocados nas obras de Lispector, no primeiro capítulo, e de Piñon, no segundo, com o intuito de revelar a manutenção e/ou subversão do desempenho mítico, situando-os na contemporaneidade. Consideramos várias contribuições teóricas relacionadas ao estudo do mito de Penélope, além das relações sociais e interculturais que envolve a respeito do sujeito feminino na história, permeado de significações (re)veladas pela estética. Entre esses subsídios, constam, em especial, os traçados teóricos de Gilbert Durand e de Gérard Genette, auxiliados pelos de Hannah Arendt, Aristóteles, Mikhail Bakhtin, Alfredo Bosi, Junito Brandão, Peter Burke, Antonio Candido, Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Mircea Eliade, Felix Guattari, Carl Gustav Jung, Platão, Raymond Trousson, Jean-Pierre Vernant e Nízia Villaça, bem como as dos demais pesquisadores constantes da bibliografia. Palavras-chave: imaginário, mito, mito de Penélope, Clarice Lispector, Nélida Piñon. RÉSUMÉ Cette thèse tente de démontrer l’importance du mythe de Pénélope et sa présence notable dans na Littérature Brésilienne. Tout cela à travers l’analyse comparative du mythe homonyme de l’Odyssée d’Homère et sa réactualization mythique à partir des auteurs Clarice Lispector dans le roman Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres et le conte “Os obedientes”, et Nélida Piñon dans A doce canção de Caetana (roman) et “Colheita” (conte). Elle vise également à présenter comment s’effectue la création d’un univers textuel qui lui est propre. Afin de mieux situer notre lecteur, la première partie de notre thèse présente une analyse des principaux mythèmes composant le mythe de Pénélope, a savoir : l’attente, la tissage et la ruse situés dans l’espace et le temps de sa création littéraire. Finalement, dans la seconde partie, nous abordons cette figure sous la même division mythemique dans les œuvres-corpus contemporaines avec l’intention de révéler sa manutention ou subversion. Nous avons consideré des contribuitions théoriques concernant à l’étude du mythe de Pénélope, au-delà des relations sociales et interculturelles qui concernent le sujet féminin dans l’histoire, imbriqué des significations décelés par l’estéthique. Comme cadre théorique, cette étude s’est inspirée principalement des concepts proposés d’abord par les théoriciens Gilbert Durand et Gérard Genette, et aussi des considérations de Hannah Arendt, Aristóteles, Mikhail Bakhtin, Alfredo Bosi, Junito Brandão, Peter Burke, Antonio Candido, Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Mircea Eliade, Felix Guattari, Carl Gustav Jung, Platão, Raymond Trousson, Jean-Pierre Vernant et Nízia Villaça. Mots-clés: imaginaire, mythe, mythe de Pénélope, Clarice Lispector, Nélida Piñon. SUMÁRIO INTRODUÇÃO - Fios mitêmicos sob tapeçarias múltiplas ............................................ 8 I O MITO DE PENÉLOPE: ORIGENS E ELEMENTOS CONSTITUINTES ........... 20 1 MITO, A FIAÇÃO ........................................................................................................... 2 1 1.1 Mito literário, o urdume .............................................................................................. 2 3 2 PENÉLOPE: DESDOBRAMENTO MITÊMICO DA PERSONAGEM ÉPICA ........... 27 2.1 Mitema da espera: presença de uma ausência ............................................................ 34 2.2 Mitema da tecedura: processo de entrecruzamento de fios literais e metafóricos .... 50 2.3 Mitema do engodo: Penélope, senhora do tempo ....................................................... 5 7 3 PAIDEIA FEMININA NA POLIS GREGA .................................................................... 68 3.1 Manifestações na literatura ocidental: breve amostragem .......................................... 73 II REATUALIZAÇÕES DO MITO DE PENÉLOPE NA LITERATURA BRASILEIRA DO SÉCULO XX: ENTRE CONSERVAR E TRANSGREDIR ......... 77 1 VISADAS DE (E SOBRE) CLARICE LISPECTOR ..................................................... 86 1.1 Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres: a odisséia de Lóri ............................... 89 1.1.1 Loreley, ou a sedução funesta ............................................................................ 93 1.1.2 Urdindo a passagem ........................................................................................... 100 1.1.3 Entre encontrar-se ou perder-se ......................................................................... 119 1.1.4 Liberdade de escolha: o destecer da falácia ....................................................... 140 1.2 “Os obedientes”: Penélope pelo avesso ..................................................................... 152 1.2.1 Anatomia do desencontro .................................................................................. 155 1.2.2 Esboço de personalização .................................................................................. 160 1.2.3 Destecer silente, retecer incogitado ................................................................... 168 2 VARIAÇÕES ANTITÉTICAS EM NÉLIDA PIÑON .................................................... 181 2.1 A doce canção de Caetana: reatualização carnavalizada ........................................... 186 2.1.1 Outra ausência presentificada ............................................................................ 196 2.1.2 Fios desfeitos, nós (re)criados ............................................................................ 200 2.1.3 Tessitura frustrada .............................................................................................. 215 2.2 “Colheita”: penelopíada epifânica .............................................................................. 228 2.2.1 Reafirmação da fidelidade ................................................................................. 231 2.2.2 Engano, mecanismo de autopreservação ........................................................... 234 2.2.3 Inversão de paradigma ....................................................................................... 237 CONCLUSÕES – Recortes sincrônicos, cômputo diacrônico: ressemantização mítica 2 51 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 266 ANEXOS .............................................................................................................................. 287 Anexo I ................................................................................................................................. 288 Anexo II ................................................................................................................................ 291 Anexo III ............................................................................................................................... 294 Anexo IV ............................................................................................................................... 297 Anexo V ................................................................................................................................ 298 INTRODUÇÃO FIOS MITÊMICOS SOB TAPEÇARIAS MÚLTIPLAS 9 So, since suitors squat on my doorstep, why so squeamish? In the first place because it’s the property they’re out to get, with me as an afterthought perhaps. Then they’re so callow. But mostly, having nursed forebearance for twenty years, I’m not about to have him forgiving me my only lapse.1 Previamente à execução deste trabalho, verificamos a existência de uma multiplicidade de opções metodológicas para o fornecimento do devido suporte teórico, cuja diversidade tem um efeito impactante. A questão maior, portanto, tornou-se heurística: qual metodologia deveria ser adotada para, com a ajuda dos mitos, ler em profundidade uma obra literária e realizar uma hermenêutica mais competente? Inferimos que a validade dos métodos mede-se pela sua aplicabilidade hermenêutica, independentemente da escolha do campo de investigação. Em decorrência, elegemos a metodologia de Gilbert Durand, que situa o imaginário por locus de origem do mito, para empreender a análise do mito de Penélope. Em As estruturas antropológicas do imaginário, Durand (2002, p.18) define o item lexical “imaginário” como sendo “o conjunto das imagens e relações de imagens que constitui o capital pensado do homo sapiens; [...] encruzilhada antropológica que permite esclarecer um aspecto de uma determinada ciência humana por um outro aspecto de uma outra”. Contesta, desta forma, a compartimentalização universitária das ciências humanas, cujo primeiro resultado é conferir um valor menor àquilo que não for comprovável empiricamente. Reitera essa atitude em O imaginário, onde conceitua mais amplamente como “‘museu’ – o que denominamos imaginário – de todas as imagens passadas, possíveis, produzidas e a serem produzidas” (2001, p.6). “Louca da casa”, “férias da razão” (DURAND, 2002, p.21), “amante do erro e da falsidade” (DURAND, 2002, p.10) são alguns dos epítetos que a imaginação recebe desde o socratismo, criador de um método da verdade binário, segundo o qual existem apenas dois valores, um falso e um verdadeiro – a dialética –, que excluem a possibilidade de um terceiro elemento. Para Durand (2002, p.39), entretanto, a imaginação é a “origem de uma libertação (défoulement)” no trajeto antropológico, onde se conjugam as pulsões subjetivas internas e as intimações objetivas externas (DURAND, 2002, p.41). Ao estudar o mundo imaginário, 1 HARRISON, James. Penelope: For Ken. Norton introduction to poetry. New York: Norton, 1991, p.360. 10 Durand (2001, p.81) percebe que a conotação negativa atribuída ao “terceiro excluído” atenua-se no decorrer do tempo, até chegar à divisão tripartite da personalidade (id, ego e superego) em Freud. O próprio Durand (2002, p.41) substitui a oposição binária “diurna” e “noturna” herdada, segundo revela, de Gaston Bachelard2 por uma estrutura tripartida, ao verificar que o conjunto normativo das representações imaginárias, definidas e estáveis até certo ponto, agrupam-se em torno das estruturas, ou esquemas originais, portadoras de um dinamismo transformador. A estrutura – forma transformável – pode agrupar suas imagens dentro de outra estrutura, a que o autor chama Regime. Divide, a seguir, as imagens dos esquemas originais em regime diurno e regime noturno. Os dois regimes da imagem, um diurno, da antítese, o outro noturno, do eufemismo, correspondem aos símbolos da libido, Eros e Cronos-Tanatos (DURAND, 2002, p.194). Essas duas faces do desejo visam a esquivar o homem do cumprimento de seu destino mortal. Com tal intento, “a imaginação organiza e mede o tempo, mobilia o tempo em mitos e as lendas históricas, e vem, pela periodicidade, consolar da fuga do tempo” (DURAND, 2002, p.197), proporcionando aos seres humanos um triunfo relativo sobre a morte. O regime diurno encerra a polarização axiomática da imagem contida na antítese (DURAND, 2002, p.179-180) e nele estão compreendidas as estruturas esquizomórficas, chamadas ainda de heróicas. Seus princípios lógicos abrangem a exclusão e a contradição entre imagens, a partir do que brota a identidade de quem por ela se orienta, devido ao princípio heterogeneizante da antítese no plano objetivo, e homogeneizante no subjetivo. Nesse regime, as características verticalizantes e ascencionais (a luz, o sol, o herói, entre outros) apresentam um caráter positivo, enquanto, no polo oposto, seus correspondentes antitéticos catabáticos (as trevas, a lua, o monstro, entre outros) adquirem conotação negativa. Por essa razão, “o Regime Diurno tem a ver com a dominante postural, a tecnologia das armas, a sociologia do soberano mago e guerreiro, os rituais da elevação e da purificação” (DURAND, 2002, p.58). Não é possível estabelecer-se uma relativização, nem eufemizar a imagem mítica sob tal enfoque. Por outro lado, o regime noturno da imagem, conforme o quadro de classificação concebido por Durand (2002, p.443), é regido pela conversão e pelo eufemismo e compreende as estruturas sintéticas (ou dramáticas) e místicas (ou antifrásicas). As estruturas sintéticas 2 Durand (2002, p.41), em As estruturas antropológicas do imaginário, atribui a Bachelard, de quem cita O ar e os sonhos, a fonte da teoria do trajeto antropológico, bem como a Bastide, com as reflexões acerca das relações entre a Sociologia e a Psicanálise, embora, em O imaginário, atribua essa influência a Guy Michaud (DURAND, 2001, p.81).

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As deusas escolhidas para adoração na Odisseia fornecem indícios substanciosos de uma leitura adicional quanto à personagem Penélope, pois, segundo Paul Ricoeur (s.d., p.89),. “o sentido de um texto não está por detrás do texto, mas à sua frente. Não é algo de oculto, mas algo de desco
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