ebook img

O jardim das aflições - De Epicuro à ressureição de César: ensaio sobre o materialismo e a religião civil PDF

2015·0.81 MB·portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview O jardim das aflições - De Epicuro à ressureição de César: ensaio sobre o materialismo e a religião civil

OLAVO DE CARVALHO O Jardim das Aflições De Epicuro à ressurreição de César: ensaio sobre o Materialismo e a Religião Civil 3ª edição – com posfácio inédito. AGRADECIMENTOS Muita gente me ajudou a realizar o projeto deste livro: Bruno Tolentino, a quem li os rascunhos da obra, me incentivou sem descanso a que a completasse, numa época em que tudo em minha vida me convidava a dispersar meus neurônios em trabalhos menores. Luciane Amato, Claudette Alves Ducati e Jô Brito ouviram a leitura de muitos capítulos, dando-me apoio moral e muitas sugestões valiosas. Dante Augusto Galeffi e seus alunos da Universidade Católica do Salvador devolveram-me a confiança nos jovens estudantes brasileiros de filosofia — leitores sem os quais este livro não faria sentido. José Enrique Barreiro, Kátia Medeiros, Luiz Afonso Filho, Maria Elisa Ortenbland e Paulo Vieira da Costa Lopes me ajudaram, de vários modos, a superar encrencas da vida prática que sem sua generosa interferência teriam me absorvido por completo e talvez inutilizado o meu pobre cérebro por alguns anos. Roxane Andrade de Souza, Meri Angélica Harakava e Sandra Teixeira resolveram mil e um pequenos e grandes problemas que teriam adiado sine die a publicação deste livro. Esta obra pertence, por afeição e gratidão, um pouco a cada uma dessas pessoas. OLAVO DE CARVALHO “...the War by Sea enormous & the War by Land astounding, erecting pillars in the deepest Hell to reach the heavenly arches”. WILLIAM BLAKE “...sangrenta futilidade, de um tipo tão fátuo que era impossível calcular-lhe a origem por qualquer processo racional, ou mesmo irracional, de pensamento. Pois a irracionalidade malévola tem os seus processos lógicos próprios”.[ 1 ] JOSEPH CONRAD “Car si désireux qu’on soit de trouver une cause naturelle à ces tragiques abérrations, comment justifier leur raffinement, ce je ne sais quoi d’inutile, de superflu, qui révèle un goût lucide, une lucide déléctation?”. GEORGES BERNANOS 1 Tradução de Lætitia Cruz de Moraes Vasconcellos (O Agente Secreto, Rio de Janeiro, Imago, 1995). S UMÁRIO Capa Folha de Rosto Agradecimentos Epígrafe Nota do editor à Terceira Edição Nota do autor à Segunda Edição Prefácio Livro I - Pessanha Capítulo 1 - A nova história da ética §1 Introdução – O que Epicuro veio fazer aqui, ou: Biografia deste livro. §2 As conferências no MASP §3 Pessanha e o pensamento ocidental Livro II - Epicuro Capítulo 2 - Cosmologia de Epicuro §4 Uma profissão-de-fé epicurista. A matéria segundo Epicuro §5 Um piedoso subterfúgio §6 A imaginação dos deuses. A eviternidade §7 Epicuro crítico de Demócrito Capítulo 3 - Ética de Epicuro §8 O remédio de todos os males §9 A abolição da consciência Capítulo 4 - Lógica de Epicuro §10 A fumaça e o fogo §11 O convite ao sono §12 A servidão voluntária §13 Dos cães de Pavlov ao lava-rápido cerebral Capítulo 5 - A índole do epicurismo §14 Porcarias epicúreas §15 A fuga para o jardim Livro III - Marx Capítulo 6 - A substituição do mundo §16 Epicuro e Marx §17 Comentários à 11ª “Tese sobre Feuerbach” §18 A tradição materialista Livro IV - Os braços e a cruz Capítulo 7 - O materialismo espiritual §19 A divinização do espaço (I): Pobres bantos §20 A divinização do espaço (II): O infinito de Nicolau de Cusa §21 A divinização do tempo (I): A força dos meios §22 A divinização do tempo (II): Beaux draps Capítulo 8 - A revolução gnóstica §23 Revisão do itinerário percorrido §24 O véu do templo §25 Leviatã e Beemot Livro V - CÆsar redivivus Capítulo 9 - A religião do império §26 De Hegel a Comte §27 Translatio imperii. Breve história da idéia imperial §28 O Império contra-ataca §29 Aristocracia e sacerdócio no Império americano (I) §30 Aristocracia e sacerdócio no Império americano (II) §31 De Wilhelm Meister a Raskolnikov §32 As novas Tábuas da Lei, ou: O Estado bedel Capítulo 10 - Na borda do mundo §33 Retorno ao MASP e ingresso no Jardim das Aflições Post-scriptum - Lápide: de te fabula narratur Posfácio: O que mudou no mundo duas décadas depois? Bibliografia Créditos Sobre o autor NOTA DO EDITOR À TERCEIRA EDIÇÃO A reedição deste livro no vigésimo aniversário de sua primeira publicação é na verdade um presente para o público: essa é talvez a obra mais comentada e menos encontrada do autor. A análise consistente, conduzida com vigor por uma escrita primorosa, eleva O Jardim das Aflições à estatura de obra-prima na opinião de muitos dos que acompanham o lúcido e incansável trabalho de Olavo de Carvalho. É possível que muitos outros só não confirmem o veredicto porque ainda não leram o livro, ou pelo menos não integralmente. Bem: aqui está a oportunidade. Questões literárias não poderiam ser, no entanto, o intuito principal dessa reedição. De fato, não o são: a atualidade da tese principal do livro – a de que a história do ocidente é marcada pela idéia de Império e de suas sucessivas tentativas de reestruturação, a cada momento com uma roupagem diferente, mas sempre com o mesmo objetivo: ampliar seus domínios até os limites do mundo visível – é o que nos leva a reeditá-lo hoje, quando mais uma vez, e talvez mais complexamente do que nunca, vivemos espremidos em meio ao combate global entre gigantes projetos imperialistas. Se é necessário rever essa tese, avaliar em que pontos ela se articula com o cenário político e social do mundo atual, se precisa ou não de reparos ou emendas e quais seriam eles, são questões que o próprio autor responde, em entrevista transcrita no posfácio inédito “O que mudou no mundo duas décadas depois?” – outro presente que ele nos dá. Agradecidos, resta-nos tomá-lo como guia nessa jornada dantesca para dentro do inevitável jardim das nossas aflições. NOTA DO AUTOR À SEGUNDA EDIÇÃO Apesar dos elogios de Antonio Fernando Borges, Vamireh Chacon, Roberto Campos, Josué Montello, Herberto Sales, Leopoldo Serran e muitos outros, este livro não mereceu do público a atenção que se concedeu generosamente a seu irmão menor, O Imbecil Coletivo. Vai para a segunda edição após cinco anos, quando o companheiro teve seis em oito meses. No entanto é dos dois o melhor e o único que constitui propriamente um livro, coisa unida e coesa, com começo, meio e fim, enquanto O Imbecil não passa de uma coletânea de notas de rodapé que não couberam no rodapé. Solicitando humildemente a parcela de audiência a que julga ter direito, O Jardim comparece limpo e correto, melhorado em detalhes de linguagem e sem as gralhas mais visíveis da primeira edição. Mas não aumentado: se há um livro em que o autor disse tudo o que nele queria dizer, é este. Não que a tese aqui apresentada se creia terminal e intocável. Há nela muito a acrescentar e a corrigir, mas isto pode ser feito em outros escritos e de fato já o venho fazendo. Só reitero o apelo a que o leitor não leia este livro de viés e saltado, mas que siga a ordem dos capítulos — e peço que entenda isto como receita médica, que, cumprida mal ou imprecisamente, trará mais dano que benefício. OLAVO DE CARVALHO PREFÁCIO DE BRUNO TOLENTINO De quando em quando na vida do espírito desanuvia-se aquele céu plúmbeo e baixo em que Baudelaire via a tampa da marmita na qual, segundo ele, ferve a humanidade. São raros esses momentos, mas de uma clareza própria a desnudar como nunca os pólos extremos de uma velha e enfumaçada questão: ver ou não ver. Quem quer que tenha lido de cabo a rabo este livro há de convir que vive um destes momentos privilegiados. Tanto mais se, como eu, tiver suado frio por semanas sob o peso das centenas de impenetráveis páginas que nosso mais reputado e menos aspeado filósofo atual, o anestesiador de gerações uspianas, Dr. Gianotti, dedicou recentemente às investigações do surrado materialismo lingüístico de Wittgenstein. Não estou desmerecendo do esforço de ninguém, estou celebrando meu alívio de que a tampa da marmita se tenha afastado de mim o bastante para deixar-me perceber, não tanto aonde leva o labirinto lingüístico do vienense em sua versão paulistana (c’est assez que Quintilien l’ait dit...), mas onde começam meus inadiáveis problemas de brasileiro acuado há décadas pela futilidade do ininteligível. Soube-o enfim graças à claridade que, paradoxalmente, fui encontrar na lição de trevas deste livro, O Jardim das Aflições. Com efeito, achei-me no pólo oposto à perplexidade em que vivia durante a leitura – que digo?! durante a suadíssima mineração que empreendi nas duras e obscuras galerias sublinguais daquele celebrado duo: o ascético autor do Tractatus (ou das Investigations?) e o ex-Papa Doc, atual Papa pálido da enrubescedora tropa-de-choque investigada neste jardim de aflições. Afortunadamente neste último, como a tampa que subitamente abandona a marmita, esperava-me um convite a bem outro tipo de investigações: as que se ocupam de verificar o real a partir da inteligência e dos fatos, nunca a partir dos fatos segundo a intelligentzia. Sedimentado através dos séculos pela perspicácia de uma nobre linhagem, esse método de investigar o como e o porque do ser-no-mundo, viga mestra de todo esforço de verificação filosófica, tem a vantagem de respeitar os dados do real, inclusive os pressupostos do saber acumulados pela tradição, em vez de buscar substitui-los, dados e fatos, pelo mundo-como-idéia, inevitavelmente sempre a idéia do mundo mais em voga a um certo momento. No momento esse lapso de um tempo mental que não acaba de acabar-se é ainda, e outra vez acabo de constatá-lo até à exaustão, de estirpe marxista, de marca universitária e de cunho dogmático- materialista, os três inseparáveis elementos da doutíssima Trindade que se propõe a recriar o mundo. Contra tudo isso, e em particular contra a espécie de Gabinete do Dr. Caligari em que se vai transformando entre nós a veneranda idéia de Universidade, insurge-se com toda a lucidez o vigor deste livro. Obra eletrizante, rica e complexa, mas de fácil leitura justamente por causa e não a despeito da formidável erudição em que se firma. A esse respeito, uma advertência apenas, única justificativa à intrusão de um prefácio em obra tão límpida, perfeitamente capaz de tudo dizer por si mesma. Que o leitor leve em conta o caráter, não tanto do autor, ou mesmo de suas idéias, mas da tarefa que se propôs. Refratário à leitura transversal ou salteada a que às vezes incita, o argumento central deste aflitivo jardim evolui à maneira de um crescendo para desafiadoramente elucidar-se apenas nas duas partes finais: “Os Braços da Cruz” e “Cæsar Redivivus” são a sístole e a diástole do coração vivo desta obra alarmante. Assim, dos dados de um problema aparentemente sem maior importância no plano das idéias (que importa, a quem de fato pense o mundo, o sufocante mundinho dos cortesãos e doutores de mais uma trópica Bizâncio?), o autor extrai uma estonteante exposição de significações, numa visão inquietante do sentido universal da aventura da inteligência moderna. Inclusive, ou sobretudo, de seu sentido cuidadosamente oculto. Só que, à diferença de compêndios bem mais ao gosto do dia, este livro não é resíduo de tese de doutoramento nem se propõe a enfeitar a carreira de mais um philosophe local cevado na massuda monotonia dos gabinetes à la page. Ao contrário, tudo o que aqui vai tem a ver – e urgentemente – comigo, com você, leitor, com os que somos e continuamos a ser submetidos a uma contínua barragem de slogans e esoterismos a transpirar intenções nem lá tão ocultas assim. Claro, o olhar que põe tudo isto a nu vem do olho agudo de um filósofo nato, ou seja, de um sujeito que não pode não pensar, por menos que assim fazendo consiga caber nos moldes, invariavelmente alienígenas, de um conhecido e bem mancomunado establishment. Passamos a ver claramente o que por estas bandas nos vem tapando a mente e sufocando o espírito, graças à coragem intelectual de um erudito que não se esconde atrás do que sabe, antes nos convida a examinar com ele o que investiga, expõe, explica. O que certa gente quer e persegue com uma obstinação de cachorro magro, o que andou e anda fazendo em nome da inteligência como desdentados leões de circo, ficará perfeitamente claro ao longo do passeio em que nos guia a agudeza da leitura que Olavo de Carvalho faz da história das idéias no Ocidente. Graças a sua inexaurível erudição e incontornável honestidade intelectual, torna- se enfim possível dar esse passeio para fora das brumas do obscurantismo idealista doublé de pedantismo acadêmico. E dá-lo com toda a clareza através de um assustador pomar de aflições, ou seja, de imposturas orquestradas como filosofia e penduradas ao nada como amoras de mentirinha. O leitor, ao acompanhar um filósofo de verdade em sua minuciosa e exaustiva investigação de um embuste, só tem a perder suas ilusões a respeito da seriedade dos donos da hora, por detrás de suas cátedras como abutres encapuzados em togas e títulos. Mas que o leitor não se apresse, não há como tomar esta obra apenas como a hábil ampliação de um panfleto. Há que lê-lo até seu eletrizante gran finale para perceber todo o escopo deste livro singular. Seu método de composição, à primeira vista paralelo aos procedimentos sinfônicos de um Sibelius, por exemplo, calca-se no entanto em modelos bem mais antigos e prováveis. É talvez o primeiro esforço de Olavo de Carvalho para pensar em público segundo sua Teoria dos Quatro Discursos, proposição de seu ensaio pioneiro, Uma Filosofia Aristotélica da Cultura (IAL & Stella Caymmi Editora, Rio de Janeiro, 1994). Segundo o Aristóteles de Olavo de Carvalho, da esquematização objetiva que atribui a um conjunto de dados sensíveis uma figura dotada de sentido (Poética), emanariam interpretações discordantes fortalecidas no confronto das vontades que as apoiam (Retórica). Sobre essa massa crítica do acúmulo dos esforços retóricos seria então possível o exame dialético que, confrontando e hierarquizando, indicaria o sentido de uma solução racional (Dialética). Só então tornar-se-ia factível estabelecer métodos e critérios propriamente científicos, capazes de levar a questão a uma resolução maximamente exata (Lógica). A tarefa específica do filósofo seria, portanto, a de colher as questões ao nível retórico e elaborá-las em hipóteses formais para as entregar à busca de uma solução lógico-científica. Nada de estranhar, assim, que trabalho tão ímpar, e em última análise tão aterrador quanto o estrilo de um despertador à meia-noite, parta de impressões subjetivas para, através do combate retórico, montar as oposições que só na conclusão (naquelas duas últimas partes, ou Livros, no sentido agostiniano) vai-se definitivamente elaborar, um tanto paradoxalmente à maneira de um tutti orchestrale, num conjunto de investigações dialéticas. Longe de constituírem um empecilho ao

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.