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O Esquecimento de Si na Arte Contemporânea PDF

671 Pages·2017·13.83 MB·Portuguese
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a b COLÉGIO DAS ARTES O ESQUECIMENTO DE SI NA ARTE CONTEMPORÂNEA Leonor Nazaré TÍTULO O ESQUECIMENTO DE SI NA ARTE CONTEMPORÂNEA AUTORA MARIA LEONOR LEAL DA NAZARÉ ORIENTADORA RITA MARNOTO ORIENTADOR TOMÁS MAIA ÁREA CIENTÍFICA ARTE CONTEMPORÂNEA ANO JANEIRO DE 2017        I II Seul l’esprit, s’il souffle sur la glaise, peut créer l’homme.1 La mémoire guérit l’imaginaire.2 Le profète n’est pas tant un qui annonce mais un qui se souvient.3 La nature est un texte dont il faut se résigner à ne déchiffrer que le mot à mot. Le reste est philosophie, c’est à dire la recherche de ce qu’on a déjà trouvé.4 En los minutos de la arena creo Sentir el tiempo cósmico: la historia Que encierra en sus espejos la memoria O que há disuelto el mágico Leteo.5 De los libros le queda lo que deja La memoria, esa forma del olvido Que retiene el formato, no el sentido, Y que los meros títulos refleja El desnível acecha. Cada paso Puede ser la caída. Soy el lento Prisioneiro de un tiempo soñoliento Qui no marca su aurora ni su ocaso.6                                                              1 Saint-Exupéry, Terre des hommes, [1939], Paris: Gallimard, 1980, p. 185. 2 Paul Ricoeur, Vivant jusqu’à la mort, suivi de Fragments, Paris: Seuil, 2007, p. 63. 3 Novarina, Devant la parole, Paris: P.O.L., 2010, p. 81. 4 Paul Valéry, Mauvaises pensées, em Œuvres I et II, Bibliothèque de la Pléiade, Paris: Éditions Gallimard, 1988, vol. II, p. 868. 5 Borges, “El Reloj de Arena”, em El Hacedor, Obras Completas, I y II, Barcelona: RBA Coleccionables, S.A., 2005, p. 812. 6 Borges, “El Ciego”, em El Oro de los Tigres, Obras Completas, I y II, Barcelona: RBA Coleccionables, S.A., 2005, p. 1096. III IV RESUMO   O ESQUECIMENTO de si como perda de um saber e o conhecimento como memória e “cuidado” de si, anamnese e transformação individual (Platão em Fédon, Fedro, ou A República, por exemplo) surgiram-nos como constelação semântica susceptível de análise e interrogação profícuas numa parte da produção artística visual e literária do século XX.  Porque esquecemos quase tudo o que nos permite esboçar respostas às perguntas acerca de quem somos e do que antecede e sucede à nossa vida sobre a Terra? O âmbito do problema é civilizacional, e a amplitude do sujeito que coloca a pergunta é necessariamente extensiva ao seu mais vasto e profundo Inconsciente. Antropologia e filosofia, biologia e psicanálise, filogénese e ontogénese, história da escrita e entendimento dos sonhos, narrativa mítica e realidade arquetípica perante a vida e a morte auxiliam a nossa reflexão sobre esse desconhecimento amplo de si que alguma arte dá a ver, como emergência insuspeitada e fragmentária e, mais excepcionalmente, como busca inquieta de reparação.   O cuidado e o conhecimento de si egóicos terão conduzido ao apagamento progressivo do cuidado e do conhecimento de si essenciais e, portanto, a um amplo esquecimento: do núcleo do ser de que fala Valéry, das perguntas-chave de que falam Michaux, Lispector e Valéry, das anomalias que feriram o percurso e o ser que o empreendeu (dos falsos labirintos de que fala Borges), do sentido da animalidade no Homem, desta e doutras leis da Natureza e do Universo, dos modos da transmissão de saber, do surgimento dos alfabetos, da substância linguística e representativa, das facetas do espírito. Esquecimento ainda da continuidade do ser entre sono e vigília e entre morte e vida e do continente perdido e atemporal do mito. Os mitos que se referem à escrita e à memória afiguram-se, por isso, particularmente significativos nesta investigação. Por outro lado, os que melhor estudaram o momento grego de passagem do mito ao logos fornecem pistas importantes para a leitura dos modos, momentos e causas colectivas do esquecimento de si. Articuladas e definidas como horizonte de aferição metodológica, essas grandes áreas constituem um território em que o (in)consciente da obra pode ser interrogado, a nosso ver, com superior intensidade e autenticidade.  A memória de si é frequentemente indecifrável, infecunda, desagregada ou, mesmo, trágica na expressão artística que dela ecoa a arte no século XX. Mas nessa expressão encontrámos também indícios de procura e retoma. A rememoração implica o esforço da continuidade entre estados e planos diferentes, a abertura a um tempo que fica fora da História e o acesso V difícil a tudo o que o espírito humano foi enterrando, apagando e afastando da consciência e, portanto, da memória, ao longo de um percurso milenar.  Auxiliados por autores teóricos de áreas diversas, cuja reflexão foi conduzida, em algum momento, nessa mesma direcção, privilegiámos, no universo artístico, um corpus restrito de quatro autores visuais e quatro autores literários que julgamos representativos de uma época (aquela em que vivemos, em sentido lato e generalizável aos séculos XX e XXI), nos aspectos que nos importa relevar, para tornar evidente a presença dessa memória ferida e da consciência de que a retoma é, por vezes, desejada e possível. Em Lispector, a escrita é uma procura de si desenhada entre extremos de lucidez e vazio que, de outra forma, também ocorre em Michaux; este, porém, arrisca a identidade no limite da experiência da alteridade. Se em Borges a memória é labirinto infecundo e o sujeito uma ilusão, Valéry torna as leis do espírito o seu principal objecto e projecto de estudo, abrindo o espaço da escrita ao reencontro de uma memória profusa e vivida dessas leis. O tempo do esquecimento e os seus modos e causas são prolixamente indiciados por Michaux, Borges e Lispector. As propostas visuais de Boyd Webb, Michaux, Gil Heitor Cortesão e Shirin Neshat enquadram matizes específicos do trabalho do esquecimento na obra: respectivamente, uma versão restrita do Inconsciente, as passagens entre a escrita e o desenho, a ideia de dissolução ou perda irreversível de si e a dimensão trágica do esquecimento.   O trabalho de rememoração através da obra encontra substância na construção do sujeito mnésico que os textos de Lispector deixam entrever e nos momentos privilegiados da memória de si identificados por nós em textos de Valéry. Foi com ele – a nossa primeira fonte inspiradora para esta investigação – que revisitámos todas as declinações do esquecimento e da descoberta de si, de Léthê e de Alétheia a que fomos conduzidos pelos outros autores.  VI ABSTRACT THE IDEAS of forgetting oneself as the loss of a knowledge, of knowledge as the memory and “care” for oneself, and of anamnesis and individual transformation (Plato in Phaedo, Phaedrus, or in The Republic, for example) emerged as a semantic constellation open to analysis and investigation in 20th century literary and visual artistic production. Why do we forget the things that allow us to start sketching the answers to the questions of who we are, and of what – of us – comes before and after our life on Earth? The scope of this problem is civilizational. When formulating this question, we have to engage it with the broadest and deepest parts of our Unconscious. Anthropology and philosophy, biology and psychoanalysis, phylogeny and ontogeny, history of writing and the interpretation of dreams, mythical narrative and archetypal reality in the presence of life and death, all help us reflecting upon this profuse unknowing of ourselves that art renders visible as a fragmentary and unsuspected emergence and, exceptionally, as a restless pursuit of reparation. Egoic care for oneself and egoic knowledge of oneself have been the causes underlying the gradual elimination of the essential care for oneself and knowledge of oneself, a vast disremembrance: of the core of being Paul Valéry tells us about; of the essential questions Michaux, Lispector, and Valéry refer to; of the anomalies in the path and of the being that walks it (of Borges’s fake labyrinths); of the meaning of our animality; of this and other laws of Nature and of the Universe; of ways to transmit knowledge; of the emergence of the alphabets; of the matter of linguistics and representation; of the facets of spirit. A disremembrance of the continuity of one’s being between sleep and wakefulness, between life and death, a disremembrance of the lost and timeless continent of myth. The myths that refer to writing and to memory are, therefore, particularly significant in this investigation. Conversely, those who have studied the Greek moment of transition between myth and logos offer us clues vital to our search for the circumstances, moments, and collective causes of this forgetting of oneself. Articulated and defined as a horizon of methodologic verification, these great fields are, in our perspective, the territory where the (un)conscious of the work can be probed with superior intensity and authenticity. In what 20th century art has made of it, the memory of oneself is often unintelligible, barren, incohesive, or even tragic. Nonetheless, we have also found evidence of a pursuit, of an attempt at restoration. Remembering implies the effort of establishing a continuity between VII different states and planes, it asks for an openness to a time out of History, and the arduous task of accessing all that, throughout the ages, has been buried and erased from our consciousness, and from our memory, by the human spirit. Guided by theoretical authors from different fields who have had, at some point, conducted their researches along these same lines, we chose to focus on four visual artists and four writers, who we believe to be representative of an epoch (the time in which we live, encompassing the 20th and 21st centuries) – at least in the aspects we consider to be relevant to our research – in order to shed light on the presence of this wounded memory and on the awareness that its reclamation is, at least sometimes, both possible and desirable. In Lispector, writing is a search for oneself that comes about between extremes of clarity and emptiness. Even if in different lines, the same happens in Michaux, but he risks his own identity in his experience of alterity. If Borges treats memory as a barren labyrinth and the individual as an illusion, Valery’s project and main object of study are the laws of the spirit, transforming the space of writing into the possibility of a reunion with the profuse and vivid memory of those laws. The time of forgetfulness, its modes and causes, are lengthily detailed by Michaux, Borges, and Lispector. The visual works of Boyd Webb, Michaux, Gil Heitor Cortesão, and Shirin Neshat bring about specific nuances and expressions of the idea of forgetfulness in the work of art: respectively, a limited version of the Unconscious, the transitions between drawing and writing, the idea of the dissolution or irreversible loss of oneself, and the tragic dimension of forgetfulness. The labor of remembering through a work of art is materialized in Lispector’s construction of a mnesic subject, and in Valery’s texts in which we have identified the strongest examples of a memory of oneself. The first source of inspiration for this research, it was with this last author that we have revisited all the declinations of forgetfulness and rediscovery of oneself, of the Léthê and of the Alétheia the other writers have led us into. VIII

Description:
perceptions d'où il tire sa nourriture, et les lui rend sous forme de mouvement, où il a imprimé sa liberté”216. Borges volta a interpelar-nos, face a cromossomas vivos funcionam como um computador holográfico que usa radiação laser endógena do ADN”384. A decodificação do ADN pode, a
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