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O ensino superior privado como setor econômico PDF

32 Pages·2002·2.4 MB·Portuguese
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ISSN ot 04-4036 • n s a l O Avaliação e Políticas Públicas 37 em Educação , VoltO OutubrolDezembro 2002 o ensino superio,:' privado como setor económico Recuperando a História do Acesso ao Ensino Superior " (1911 - 1925) · Questionários para Avaliação Institucional Baseados na Lógica Fuzzy · Os Primeiros Passos da Pós-Graduação no Brasil: a Questão da Dependência , Avaliaçào das Relações Cognitivas e Motoras na " Aquisição Il1strucional das Habilidades para a . Aprendizagem da Linguagem Escrita · Educação Especial: Capitulo à Parte na Wll História do Direito à Educaçào no Brasil Página Aberta: 'Inovações Educacionais no Ambito do Poder Local: Os Impactos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PET!) na Política Educacional do Município de Vicencia - Pernambuco Pesquisa em Síntese: Estudo Avaliativo sobre os Egressos do Programa Estadual de Qualificação Profissional no Ceará, no Período de 1996 a 1998 ~ FUNDAÇÃO ~ CESGRANRIO Rio de JaneirolBrasil • n s a l o 37 Avaliação e Políticas Públicas em Educação \01 JI OutubrolDezembro 2()(L SUMÁRIO Editorial ":'(1 o ensino superior privado como setor econômico Jacques Schwarfzman e Simon Schwarfzman 41 - Recuperando a História do Acesso 00 Ensino Superior (1911 - 1925) Helena Ibiapina uma, Beatriz Rodrigues Gomes da Silva e Patricia Rosa da Silva 441 Questionários paro Avaliação Institucional Baseados no Lógico Fuzzy Leonardo Chwif 457 Os Primeiros Passos do Pós-Graduação no Brasil: o Questão do Dependência Cássio Miranda dos Santos 479 Avaliação das Relações Cognitivos e Motoras no Aquisição Instrucional das Habilidades para o Aprendizagem do Linguagem Escrito Heron Beresford, Magda Queiroz e Ano Beatriz Nogueira 493 Educação Especial: um Capítulo à Parte no História do Direito à Educação no Brasil Rej':Jne de Souza Fontes 503 PÁGINA ABERTA Inovações Educacionais no Âmbito do Poder Local: Os Impactos do Progra mo de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) na Política Educacional do Município de Vicência - Pernambuco Rosildo Arre 00 Ferreira 527 PESQUISA EM Síl\lTESE Es-udo Âvol;o ivo sobre os Egressos do Programa Estadual de Qualificação Profissio,al ;ia Ceorá, no Período de 1996 o 1998 Verónica Soores Fernandes e Raimundo Benedito do Nascimento 545 ISSN 01t}4·4036 1 1 1 1 371 405-5601 ENSAIO: aval. pol. públ. Educ. Rio de Janeiro v. 10 n. p. out./dez. 2002 o ensino superior privado éomo setor econômico J~çques Schwartzman siihon Schwartzman Resumo Este trabalho apresenta uma visão discute algumas das estratégias empre abrangente do ensino superior privado sariais adotadas pelo setor privado, os no Brasil, a partir dos dados do Censo esforços do governo federal para regu 2000 do Ensino Superior e outras lamentar o seta r e identifica questões que fontes.O ensino privado atende a cerca requerem pesquisa de campo adicional de 2/3 dos estudantes de nível superior para serem elucidadas. do país em 946 instituições, mobilizando diretamente Palavras-chave: Ensino su cerca de 10 bilhões de re Jacques Schwal'tztnan perior privado - Setor eco Mestré em Economia Regional ais anualmente e empre nómico - Regulamentação - pela Universidade Federal de gando 200 mil pessoas en Estratégias de crescimento. . Minas Gerais e M.A. pela tre professores e funcioná L'niversity of Pittsburgh, EUA. rios. A análise mostra que ·'v/embro CÚJ Conselho Nacional Os grandes as instituições privadas são de Ed~cação. números um grupo muito diferenci ado, com algumas insti Simon Schwartzman O seta r privado é res tuições de gra nde porte e ··Ph.D em Ciência Política pela ponsável pela maior parte da muitas de pequeno porte. University of Berkeley, EUA. educação superior brasilei Metade de seus alunos está Diretor Presidente do American ra, cerca de 1.800 mil estu nas chamadas "profissões lnstitutesfor Research para o dantes matriculados em qua sociais" , que incluem Di- Brasil (AlRBrasil). se mil instituições (IESP) es reito, Administração, Eco- palhadas por todo o país. O nomia e Ciências Sociais. A segunda preço dos estudos varia entre quatro e área em importância é a educação e a nove mil reais anuais, dependendo da terceira são as profissões associadas à área. O preço médio da área das ciênci saúde. O sistema privado tem crescido as sociais aplicadas, que cobre a metade muito e deveria crescer ainda mais, dado dos alunos do setor privado, é de 5.300 o tamanho restrito do ensino superior bra reais anuais (Quadro 1) Usando este va sileiro e a pouca expansão do setor pú Iar como referência, podemos estimar que blico. No entanto, existem problemas de o ensino superior privado brasileiro re financiamento, eficiência e eqüidade que presenta uma indústria de aproximada podem afetar esta expansão. O trabalho mente dez bilhões de reais anuais, ocu- Ensaio: aval. pol. públ. Educ. . Rio de Janeiro. dO. n. 37, p.411-440, oUI./dez. 2002 412 Jacques Schwartzman e Simon SchIUartzman panda cerca de 200 mil pessoas, dos rísticas mais gerais do ensino superior quais 115 mil professores (ou, mais pre privado no Brasil, em comparação com o cisamente, "funções docentes") e 85 mil sistema como um todo, podem ser vistas funcionários administrativos. As caracte- no Quadro 2. Quadro 1 - Preço mensal do ensino privado, por área de conhecimenlo e região Valor Médio da anuidade, por área de conhecimento e região 10,000.00 .----------------------~. 9,000.00 t--- --- - - ------- ----------i 8,000.00 +---=""'::loo::::---....-----------"------~---------l 7,000.00 +----"''----'--___' --'\\-_ _ _ ____ _ ~ _ ___ --------l 6,000.00 5,000.00 4,000.00 3,000.00 .«'cCc.<o. :u"fii , 'U""c..:<OO.::J"l"J>i 2~.,u'ocÕ~". ) "~JI'<cQO":!uf:)li .a<"'a'(<<O~"i{ff.iii. i]Ur<oIfli 'i JcE:'<'c.:""::Jfi i <--W<<<Q~.elffJ>{)ii .s'c:":: .'l"l 'oõ Cc<l> l c.:i Uc.:Ji w 1-- Sudeste - Nordeste C-Oeste -- .-Norte - Sul -Brasil 1 Ensaio: aval. pai. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.lO, n. 37, p.411-440, out./dez. 2002 o Ensino Superior Privado como Selar Econômico 413 Quadro 2 - Grandes números do ensino superior - Graduação - 2000 Grandes Números do Ensino SuperiOfGraduação-2000 Categoria Administrativa Total I I I Federal Estadual Municipal Privada ~s:tà~~~li~v~~Básicas .". ,~~{ ~[,f ," Instituições 1,180 61 61 54 1,004 Cursos 10,585 1,996 1,755 270 6,564 Matrículas 2,694,245 482,750 332,104 72,172 1,807,219 Concluintes 324,734 59,098 43,757 9,596 212,283 Docentes em Exercício 183,194 43,739 30,836 4,137 104,482 Servidores em Exercício 198,074 67,001 43,879 2,693 84,501 Vestibular Vagas Oferecidas 1,100,224 115,272 94,441 28,269 862,242 Inscrições 3,826,293 1,129,749 951,594 59,044 1,685,906 Ingressos 829,706 113,388 90,341 23,428 602,549 Indicadores '~lfl~'" \\t'?~' ,~" ,>" Matrículas (percentual) Turno Noturno 56.1 23.1 44.6 75.6 66.2 Sexo Feminino 56.2 50.6 57.9 56.9 57.4 Educação 21.7 20.6 43.3 30.7 17.7 Humanidades e Artes 3.4 7.4 4.6 1.8 2.0 C. Sociais, Negócios, Direito 41.6 24.4 19.9 43.7 50.1 Ciências, Matemática e Computação 8.7 12.2 8.1 7.5 7.9 Engenharia, Produção e Construção 8.7 14.4 10.7 6.6 6.9 Agricultura e Veterinária 2.3 5.9 3.6 1.6 1.2 Saúde e Bem Estar Social 12.0 14.5 9.4 7.5 12.0 Serviços 1.6 0.6 0.4 0.6 2.2 Docentes Total (percentual) Com Mestrado 31.4 34.5 25.4 24.6 32.1 Com Doutorado 20.6 33.4 33.1 9.6 11.3 Relação Alunos/Docente em Exerclcio 14.7 11.0 10.8 17.4 17.3 Relação InscriçõesNaga 3.5 9.8 10.1 2.1 2.0 Fonte: MECIINEP Nota: Sete instituições privadas e uma instituição estadual de ensino superigraduação não responderam ao Censo de 2000 Ensaio: aval. pai. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.IO, n. 37, p.411-440, out./dez. 2002 414 Jacques Sch'/larlzman e Sinwn Schwartnnan Este sistema vem se expandindo nos dado o tamanho ainda reduzido do ensi últimos anos, e a expectativa é de que ele no superior brasileiro, e as limitações de se expanda ainda mais nos próximos anos, recursos do setor público. Quadro 3 - Evolução da matrícula do ensino superior público e privado, 1990-2000 - -.. - ---------------~.-_._.- ~_. Evolução da matrícula, pública e privada 2,000,000 ... 1,800,000 / 1,600,000 /' 1,400,000 . / 1,200,000 ~ 1,000,000 - - ...... '9" - 800,000 .- - - ..... 600,000 - l1lil1li 400,000 200,000 o 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 I ........ Privada ......... Pública 1 Só recentemente, no entanto, o ensino forte componente de pesquisa, que quase superior privado vem recebendo dos analis não existe no setor privado; as universidades tas a atenção correspondente a sua impor dão ênfase às áreas técnicas e científicas e tância. Uma explicação para isto é o fato de às profissões clássicas, enquanto que o setor que, em diversos aspectos, o ensino privado privado se concentra nas profissões sociais; discrepa do que normalmente se considera nas universidades, os professores participam como o modelo ideal das instituições de en das decisões acadêmicas em um complexo sino. Neste modelo ideal, o ensino superior sistema de colegiados, enquanto que o po se organizaria em universidades, enquanto der nas instituições privadas é centralizado. que no ensino privado predominam as insti Mais amplamente, a atividade cultural e in tuições isoladas e outras instituições não-uni telectual costuma ser percebida como de na versitárias; as universidades deveriam ter um tureza altruística, oposta à busca do lucro, Ensaio: aval. pai. públ. Educ., Rio de Janeiro. v.10. n. 37. p.41l-440. out./dez. 2002 o Ensino Superior Privado conw Setor Econômica 415 enquanto que o ensino privado, ainda que gadas com grande freqüência, visando re muitas vezes organizado em instituições não gulamentar e implementar as normas cons lucrativas, tem quase sempre um claro com titucionais e da LDB. A Associação Brasileira ponente comercial. de Mantenedoras de Ensino Superior, AB MES, mantém uma publicação anual que re Estudos mais recentes sobre o setor pri úne estas normas. O volume relativo a 2001 vado têm tratado de entender melhor as fun tem 359 páginas, com o texto de 234 atos ções pedagógicas e educacionais que este de todo tipo, conforme o Quadro 4. setor desempenha, como parte de um siste ma de educação superior de massas que Quadro 4 - Atos normativos sobre o está se formando, dentro do qual o modelo ensino superior brasileiro, 2001 universitário tradicional não pode ser senão uma parte de um todo mais amplo. I Poucos Atos normativos sobre o Ensino são os estudos, no entanto, sobre o ensino Superior Brasileiro, 2001 superior privado como um setor econômico, uma área de serviços de cuja viabilidade e desempenho depende, no entanto, a forma Emenda Constitucional 1 ção de dois terços dos profissionais de alto Leis 10 nível do país. A análise financeira da educa Medidas Provisórias 22 ção superior privada não substitui outras aná Decretos 17 lises e considerações sobre a natureza e o Resoluções 32 conteúdo das atividades educacionais deste Portarias 94 setor, mas é indispensável para que estas Pareceres do Conselho outras considerações sejam desenvolvidas em Nacional de Educação 58 bases sólidas e realistas. Total 234 o Fonte: ABMES, 2001 marco normativo do ensino superior privado Esta enorme quantidade de normas que As normas gerais que regem o ensino se sucedem permanentemente torna impos superior brasileiro, tanto público como pri sível qualquer tentativa de sistematizar o vado, constam de dois instrumentos legais marco normativo relativo ao ensino superi principais, a Constituição Federal de 1988 or privado, exceto em suas linhas mais ge (artigos 207, 208, 213 e 218) e a Lei de rais, ou em relação a questões muito espe Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei cíficas. Em um dos estudos mais completos 9394/1996). Além destes instrumentos prin sobre o tema2 a autora chama a atenção cipais, existe um grande número de Medi para um paradoxo curioso desta legislação: das Provisórias, Decretos, Resoluções e Pa a ampla flexibilidade das normas que re receres do Conselho Nacional de Educação, gem o ensino público, em contraste com as de Conselhos Profissionais e de outros ór limitações à autonomia do setor privado, gãos e Portarias Ministeriais que são promul- ambas explicadas pelo predomínio das pre- 1 Veja a bibliografia sobre o ensino privado apresentada em anexo. 2 Ranieri, N. B. Educação superior, direito e Estado: na Lei de Diretrizes e Bases (Lei no. 9.394/96). São Paulo: EDUSP: FAPESp, 2000. Ensaio: aval. palo públ. Educ .. Rio de Jaaeiro. v.10. n. 37. p.41J-440, out./dez. 2002 416 Jacques Schwarlzman e Simon Schwarlzman ocupações finalísticas em relação aos as vada por normas administrativas sem fun pectos mais formais da atividade educativa. damentação legal ou doutrinária bem esta Assim, segundo ela: belecidas. Em relação a isto, a autora cita a) Na esfera pública, a especificidade José Eduardo Faria, para o qual, dos princípios constitucionais que in ... com o tempo, o sistema jurídico formam o desenvolvimento das ati se torna cada vez mais indepen vidades educacionais permite trata dente de suas condições iniciais, mento jurídico menos rígido de for uma vez que as regras de calibra mas e processos (exemplo marcan ção - portarias, instruções norma te é o da autonomia universitária) tivas, resoluções ou simples decre b) Da mesma forma, no plano indivi tos, por exemplo - é que dão o duai, o regime legal pode ser flexi sentido e o alcance da própria or bilizado, na medida em que o per dem constitucional.4 mitam os valores educacionais: a letra da lei cede ao interesse públi É esta situação que explica o alto nível co, em situações nas quais o pro de controvérsia que circunda a educação cesso de aprendizagem se comple superior privada brasileira. Em um extre te, em benefício do aluno, ainda mo, estão os que entendem existir uma que ao arrepio da forma legal contradição insanável entre os fins públi c) Diversamente, na esfera privada, a cos da educação e os interesses privados natureza pública da atividade edu dos proprietários das instituições privadas. cacional determina a derrogação Nesta perspectiva, seria inadmissível a exis parcial de prerrogativas inerentes ao tência de instituições privadas de fins lu regime privatístico das normas de crativos, e a própria existência de um se Direito Público, dada a prevalência tor privado é vista como questionável. A da finalidade pública sobre o inte expansão do setor privado e sua natureza resse particular (como ocorre em freqüentemente empresarial são percebi relação às instituições privadas de das como uma aberração que caberia li ensino superior, submetidas que es mitar ou coibir, sendo no máximo tolerada tão às normas gerais da educação.)"3 como mal inevitável, mas nunca apoiada ou subvencionada. No outro extremo es o poder do Estado de interferir e regu tão os que defendem que as instituições lar a atividade do setor privado deveria estar privadas, sobretudo as de natureza con limitado, segundo a autora, por uma noção fessional, religiosa e comunitária, desem clara do que seja o interesse público, dado penham função social relevante e deveri "o fato de não haver interesse público a car am ser subvencionadas com recursos pú go do Poder Público a não ser os que a lei blicos, que não deveriam estar limitados defina, explícita ou implicitamente" (ibid, ao financiamento das instituições estatais. p.254). Como, na prática, a definição do Finalmente, no setor mais claramente em que seja o interesse público no ensino supe presarial, predomina a busca de uma li rior é difusa, o que ocorre freqüentemente berdade empresarial absoluta do setor pri é uma invasão da esfera de autonomia pri- vado, em que se considera como abusivos ~ Ibid, 2000, p. 252. Faria, J. E. C. O. Eficácia jurídico e violência simbólico: o direito como instrumento de transformação social. São Paulo: EDUSP, 1988. p. 98. (Pensamento iurídico. Teses). Ensaio: aval. pol. públ. Educ .• Rio de Janeiro, v.lO. n. 37, p.411-440, out./dez. 2002 o Ensino Superior Privado corrw Selar Econôrnico 417 quaisquer atos do poder público que bus concentra-se mais em questões de natureza quem garantir a qualidade e regular a pro material (instalações, número de livros, com visão de serviços do setor. putadores) e outras, como corpo docente e projeto pedagógico, que são analisados com É possível argumentar que, em seu con base em promessas e intenções. Está em junto, a legislação vigente, as normas ema andamento também uma extensa legislação nadas do Conselho Nacional de Educação acerca de modalidades não-convencionais e os atos do Poder Executivo têm buscado de oferta, tais como cursos seqüenciais, à estabelecer uma posição de equilíbrio en distância, de tecnólogos e de pós-gradua tre estas posições extremas. A educação ção lato sensu. Em relação aos cursos con superior continua sendo considerada uma vencionais de graduação, vem se abrindo função pública, mas não como monopólio, uma ampla possibilidade de diversificação, e o setor privado não é mais percebido como com a eliminação da rigidez dos antigos cur mal necessário, e sim como participante rículos mínimos e a implantação das novas legítimo e importante para o cumprimento diretrizes curriculares (muito mais flexíveis) desta missão. A busca de lucro nos empre e a redução do tempo mínimo de integrali endimentos educacionais não é mais per zação dos cursos para três anos. Ao lado cebida como antagônica, em princípio, aos deste movimento, está havendo uma preo fins da educação, ainda que possa vir a sê cupação inédita no Brasil com relação a pro lo na prática - e daí a necessidade de siste cessos avaliativos, que até então estavam mas públicos de acompanhamento e avali restritos à pós-graduação. A partir de 1996 ação de qualidade e resultados. A vedação implantou-se o "Provão," o Exame das Con que antes existia do subsídio público à ativi dições de Oferta e criaram-se procedimen da de educacional privada vem sendo, na tos mais adequados para reconhecimento de prática, superada em alguns setores, como cursos de graduação já autorizados, para por exemplo na área da pós-graduação e transformação de faculdades integradas em da pesquisa, onde os critérios de qualidade Centros Universitários ou Universidades e e relevância predominam sobre conside para recredenciamento periódico de univer rações relativas ao status legal das entida sidades e centros universitários. Ainda que des; e na área do crédito educativo, em este conjunto de processos avaliativos venha que o apoio a estudantes carentes é uma a se mostrar um pouco exagerado, a sua forma, ainda que indireta, de subsídio pú prática poderá compensar a relativa facili blico à educação superior privada. Por ou dade de entrada no setor ao criar sinaliza tra parte, ainda que de forma mais tímida, ções importantes visando à melhoria da qua busca-se dar às universidades públicas con lidade do ensino. dições para o pleno exercício de sua auto nomia constitucional, que deveria incluir A questão da classificação das institui também a capacidade de gerar recursos ções de ensino superior como universida próprios e geri-los com independência, no des, centros universitários ou instituições iso cumprimento de sua missão social. ladas é de grande interesse para o setor, porque afeta sua autonomia para criar no Uma outra importante característica da vos cursos e decidir quanto à oferta de va legislação pós LOB em relação às instituições gas nos seus diversos cursos. O Ministério privadas é a relativa facilidade de entrada. da Educação dá informações detalhadas O exame das condições iniciais de oferta sobre as características de cada um destes Emaio: aval. paI. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.10, n. 37, fJ.411-440. out./dez. 2002 418 Jacques Schwartzman e Simon Schwartzman tipos de instituição, e suas prerrogativas. docente e pelas condições de trabalho aca Assim, as universidades são definidas como dêmico oferecidas à comunidade escolar. instituições de ensino superior que desen § 1 ° Fica estendida aos centros uni volvem suas atividades acadêmicas com versitários credenciados autonomia para base em três pilares fundamentais: o ensi criar, organizar e extinguir, em sua sede, no, a pesquisa e a extensão. A principal cursos e programas de educação superi característica da universidade reside na in or, assim como remanejar ou ampliar dissociabilidade destas dimensões. vagas nos cursos existentes. As Universidades e Centros Universi As demais instituições - Faculdades In tários estão dispensados de solicitar ao po tegradas, Faculdades Isoladas, Escolas Su der público autorização para abrir novos periores, Institutos Superiores - não gozam cursos superiores, em virtude das prerro de autonomia, devem ter seus cursos au gativas de autonomia de que gozam (Lei torizados um a um pelo Ministério. 9394 art.53 inciso I) . Entretanto, esta au tonomia não se estende aos cursos e com É neste marco legal ainda controverso, pus fora de sede das universidades (Art.1 O de fronteiras pouco definidas, e grande com § 2° Decreto N° 3.860 de 9 de julho de plexidade normativa, que o ensino superior 2001). A autonomia também não se es brasileiro procura encontrar o seu lugar. tende aos cursos de Medicina, Odontolo gia, Psicologia e de Direito. Nestas áreas, A demanda pela educação as corporações profissionais (Conselho superior no Brasil Nacional de Saúde e Ordem dos Advo gados do Brasil) têm que opinar, e a au Em termos comparativos, o Brasil tem torização é dada pelo Ministro da Educa um sistema de ensino superior bastante ção em cada caso. reduzido e, por isto, com um grande po tenciai de crescimento. O Quadro 5 dá Os Centros Universitários se diferenciam as informações disponíveis para a Améri das universidades pela dispensa da obriga ca Latina. As "taxas brutas" comparam o ção de realizar atividades de pesquisa; sua número de estudantes inscritos no ensino autonomia, no entanto, é semelhante: pelo superior com o total da população em ida Decreto No. 3.860 de 9 de julho de 2001 de escolar, de 18 a 24 anos de idade. Por este quadro, o Brasil teria que dupli Art. 11. Os centros universitários são car o número de estudantes de nível su instituições de ensino superior pluri-curri perior para chegar ao nível da Argenti culares, que se caracterizam pela exce na, Peru ou Chile. Além disto, 43% dos lência do ensino oferecido, comprovada estudantes de nível superior têm mais do pelo desempenho de seus cursos nas ava que 24 anos de idade, segundo a PNAD/ liações coordenadas pelo Ministério da IBGE de 1999, o que dá, para esse ano, Educação, pela qualificação do seu corpo uma taxa líquida de matrícula de 7.4%. Ensaio: aval. pol. púbL. Educ., Rio de Janeiro, v.lO, n. 37, p.4JJ-440, out./dez. 2002

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