O Enigma da Graça ▄_________________________________________▄ Um Comentário Bíblico Existencial sobre o Livro de Jó ▄_________________________________________▄ Caio Fábio O Enigma da Graça Caio Fábio D'Araujo Filho Primeira Edição Outubro de 2002 Projeto Gráfico, Criação e Produção Sz Press – São Paulo Revisão Josi Batista Digitalização Zemic Fotolito Digital Ilustrações William Blake (1757-1827) editora PRÓLOGOS a irresistível força da graça (11) 4054 1288 www.editoraprologos.com.br Digitalizado para internet em 06/09 pelo site www.caiofabio.com As imagens poderão apresentar distorções, devido a digitalização e compressão; para uma melhor apreciação, pesquisar os originais. Para citações científicas e/ou bibliográficas de “O Enigma da Graça”, consultar a versão material do livro, da Editora Prólogos, visto que nesta versão digital, a paginação apresenta alterações em relação ao original. Para que se mantivesse o conteúdo artístico, os textos das ilustrações contidas neste livro estão conforme o original em inglês. Todos os direitos reservados. B IOGRAFIA DO AUTOR ▄_________________________▄ Caio Fábio D' Araujo Filho nasceu em Manaus, Amazonas. Cresceu próximo às grandes florestas e aprendeu a amá-las e respeitá-las. Na adolescência, mudou-se para o Rio de Janeiro com a família, onde seu pai experimentou uma extraordiná- ria conversão à fé evangélica. Voltou a Manaus na companhia dos pais e irmãos. Aos 18 anos, viveu um período de grandes aflições existencias, e no dia em que procurava uma forma de dar cabo à sua vida, teve um encontro com Jesus, numa Igreja Assembléia de Deus. Esse fato mudou radicalmente sua vida. Pouco tempo depois estava pregando o Evangelho de forma inteligente e apaixonada. Sua casa virou um abrigo seguro para os hippies da cidade, que se convertiam com a mensagem que ele pregava. Aos 21 anos foi ordenado pastor pela Igreja Presbiteriana do Brasil e no ano seguinte escreveu seu primeiro livro. Ganhou notoriedade em razão das multidões que se reuniam para ouví-lo em teatros, estádios, ginásios, praças e templos. Caio Fábio tornou-se conhecido em todo o Brasil. Respeitado no meio evangélico por sua mensagem criativa, lúcida e provocativa, passou a organizar Congressos para centenas de pastores e líderes, que vinham de todo o País. De fato é o profeta de uma geração! Fundou organizações filantrópicas com a finalidade de diminuir o drama dos menos favorecidos. Encravada numa das maiores favelas do Brasil, a Fábrica da Esperança chegou a atender, mensalmente, por vários anos consecutivos, a mais de vinte mil jovens e adolescentes. Por isso, foi considerada a maior ONG – Organização Não Governamental – da América Latina. Ao lado do sociólogo Hebert de Souza, o Betinho, Caio Fabio militou em campanhas e movimentos sociais, como a “Ação pela Cidadania Contra a Fome e a Miséria”, “Movimento Viva Rio”, e outros que se iniciavam no Rio de Janeiro e depois se espalhavam por todo o país; foi um dos mais marcantes líderes de movimentos civis na década de 1990 em todo o Brasil. Na área de comunicação, fundou a Vinde TV, a Vinde Editora e a Revista Vinde (hoje Revista Eclésia), além de apresentar, por mais de vinte anos, o Programa “Pare e Pense”. Ganhou títulos honorários de doutor e mestre em Teologia e foi considerado, por uma revista cristã inglesa e por uma pesquisa internacional, um dos cem líderes cristãos mais criativos e respeitados do mundo no século XX. Atualmente, é membro da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro. Caio Fábio é um autor consagrado. Somados, seus mais de cem livros já venderam perto de 3 milhões de exemplares. Recentemente escreveu duas obras de ficção: Nephilim e As Tábuas de Eva. Sobre este comentário do livro de Jó, O Enigma da Graça, escreveu: “Sempre li o livro de Jó com carinho e reverência. Sabia que se tratava do chão sagrado onde as razões acabam e a alma encontra o Mistério, o Inexplicável, o Indisponível e o absolutamente Soberano. Minha esperança é que ler Jó comigo faça tão bem a você como fez ao meu espírito ler Jó por mim mesmo.” A Adriana, minha mulher, esposa e amiga melhor –que chegou no meio de um redemoinho, trazendo consigo amor, Graça e palavras de Deus para minha alma ferida - , dedico este livro pois ela conheceu minha alma e não me deprezou. E também: À voz silente, que alimenta minha alma e todo o meu ser, que me fala, que me ama, e me faz confiar no amor incondicional ainda nesta Terra! Essa voz me afirmou sempre e continua presente em mim, mesmo quando não há redemoinhos, mas, especialmente, no marasmo e em tudo mais que for vida e morte. A essa voz, quase indiscernível, essencialmente discreta e poderosamente insilenciável, parceira e consorte na vida e na morte, dedico a minha alma e a minha consciência como homem na Terra dos viventes. A PRESENTAÇÃO ▄_________________________▄ Enquanto meus olhos percorriam as linhas deste texto minha mente se ocupava mais das entrelinhas. Várias vezes me percebi reagindo com pensamentos do tipo: “ele está dizendo isso só por causa do que aconteceu com ele”; “ele está mandando recados para os caras que ferraram com ele”; ele está justificando o pecado dele”; “ele está se escondendo atrás de Jó, mas um não tem nada a ver com o outro”; “ele está sendo injusto com muitos amigos que nada tem a ver com estes amigos de Jó”; “ele está fazendo uma mea-culpa, mas em nenhum momento admite seu pecado ou pede perdão”; “esse cara não está arrependido coisa nenhuma”; “ele quer seguir em frente como se nada tivesse acontecido”; “até parece que os grandes vilões da história dele são os pseudo- amigos”. E, pior do que isso, em várias ocasiões, me perguntei: “será que isso é um recado para mim?” Demorou para que eu conseguisse entender que este não é um texto a respeito de Caio Fábio, mas sim a respeito da Teologia Moral de Causa e Efeito e suas implicações para todos aqueles que foram chamados a viver celebrando a Graça de Deus revelada na Cruz de Cristo. Quando entendi, comecei a ler o texto tentando dissociá-lo da experiência do Caio Fábio. Mas logo percebí que esta era outra tolice. Impossível dissociar a fala de um homem de sua história de vida. Não apenas imposível, como também, indesejável. Um texto tem que ter carne e sangue, senão, é puro diletantismo e não vale a pena ler! O que tenho nas mãos e me alegro em recomendar para você, é um texto a respeito da angústia de quem deseja viver sob a Graça, mas está sempre sendo julgado - seja pelos homens, pelo diabo ou pela própria consciência - pela Teologia Moral de Causa e Efeito. Mas também, um texto escrito por um homem em seu caminho com Deus. Um texto escrito por alguém, cujos pés estão sujos da poeira da peregrinação espiritual honesta e intensa. Um texto com perguntas e respostas, inquietações e apaziguamentos, não poucas vezes sombrio, mas também claro e lúcido. Um texto que revela corações: de Jó, do Caio, e de tantos quantos se atreverem a ler. Recomendo não o Rev. Caio Fábio, pois este prescinde de qualquer recomendação, recomendo sim, o homem Caio, um irmão, um amigo; alguém em cuja história compreendo um pouco mais do caminho de um homem com Deus, e em cuja amizade colho frutos explicados somente pela Graça. Ed René Kivitz Junho de 2002 P REFÁCIO ▄_________________________▄ Logo no início de 2002, no meio da Foresta Amazônica, o Livro de Jó se me impôs como reflexão inafastável! Sou Amazonense, cada vez mais amazonense, e, por essa razão, mesmo não podendo residir na floresta, a cada dois meses tenho me recolhido 10 dias naquele paraíso de vida, memórias e certezas ali gestadas em meu ser. Além disso, para mim é também tempo de prazer, convívio com os pais, irmãos, tios, primos, amigos, seres pouco contagiados e, sobretudo, com a natureza. E mais: é um tempo para buscar o recobramento de meus sentidos originais-amazônicos e tempo para perceber “parábolas da natureza”, que neste livro me foram muito úteis. Sempre lí o Livro de Jó com carinho e reverência. Sabia que se tratava do chão sagrado onde as “razões” acabam e alma encontra o Mistério, o Inexplicável, o Indisponível e o absolutamente Soberano. Nesses quase trinta anos de estudo da Bíblia li vários comentários exegéticos sobre o texto de Jó e meditei bastante sobre o tema do sofrimento, conforme ali o percebia. Agora, no entanto, Jó me alcançou de outra forma. Já não gritavam dele ao meu coração as vozes do sofrimento, como antes. Sutilmente ele se desvestiu a mim como o Livro da Graça! Aliás, em Jó, a Graça aparece de modo mais dramaticamente explícito do que em qualquer outro lugar do Velho Testamento, embora o que salte aos olhos, em geral, seja o tema do sofrimento. Isto porque é bom e fácil ver a mão da misericórdia de Deus nos livramentos desta vida. Entretanto, vê-la em ação no esmagamento do ser humano bom é chocante! Não fomos ensinados a enxergar amor e cuidado no sofrimento e na dor. Para nós “somente todas as coisas boas” são as que “cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”. Mas, quando temos que nos confrontar, especialmente na vida do próximo, com o efeito-sofrimento, aparentemente sem causa - ou mesmo quando há “causas”, mas as tragédias se mostram maiores que suas “causas aparentes” - , então, facilmente, assumimos a Teologia Moral de Causa e Efeito dos “amigos de Jó”, como explicação para o mal-absurdo e, assim, satanizamos ao nosso próximo. Para o sofredor Jó, pior que a tragédia, foram os “consoladores molestos” nos quais seus amigos se tornaram; os quais, à semelhança dos inquisidores, tentaram arrancar dele a confissão que ele não podia fazer: a de que seu sofrimento era fruto de seu pecado moral oculto. E foi na “resistência ao arrependimento” - e que desagradou profundamente aos “seus amigos”- que a maior integridade humana de Jó se manifestou aos olhos de muitos na Antiguidade e ainda salta aos nossos olhos nos dias de hoje. Estou convencido de que estamos entrando numa Era Jó, onde quem desejar viver de acordo com a Graça e com as verdades de seu coração, conforme sua radicalidade revelada na Palavra de Deus, será perseguido pelas confrarias dos amigos de Jó e eles, sem dúvida, são uma esmagadora maioria. Encontrar a Graça na Palavra acontece apenas quando um livro grosso de capa dura chamado Bíblia Sagrada é sentido e lido