ROGER ANDRADE DUTRA O Desencantamento das Ciências Estereótipos e Ambigüidades das Ciências e Tecnociências no Cinema e na Literatura Científica Doutorado – História Social PUC-SP São Paulo 2005 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM HISTÓRIA - DOUTORADO O Desencantamento das Ciências Estereótipos e Ambigüidades das Ciências e Tecnociências no Cinema e na Literatura Científica Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em História Social, sob a orientação da Profa. Dra. Denise Bernuzzi de Sant’Anna Roger Andrade Dutra PUC-SP 2005 Banca Examinadora Resumo Nesta Tese trabalhamos como seu deu a institucionalização da produção científica no Brasil. Empreendemos análises sobre as ações da SBPC e dos cientistas que falavam em seu nome de modo a salientar a existência, já desde a sua fundação, de comportamento de caráter transnacional, consubstanciado na primazia da externalidade absoluta da ciência em relação às nacionalidades. Também exploramos diversas relações de afinidade entre o sistema de produção de conhecimento científico e tecnocientífico, o cinema e o comportamento do modo de produção capitalista. O momento no qual se começa a consolidar o sistema de produção de conhecimento no Brasil segundo as restrições e demandas impostas pelo recurso à justificativa da colaboração para a construção do Estado-nação é o mesmo no qual a produção tecnocientífica começa a revelar suas preferências por um sistema transnacionalizado de troca e elaboração de conhecimento. Abordamos o papel do cinema como veículo de temas simbólicos e imateriais imprescindíveis ao desenvolvimento da tecnociência globalizada. Escolhemos o cinema em razão de seu caráter transversal e potencial transdisciplinar, implícitos ao trânsito contínuo dos bens simbólicos. Abordamos os estereótipos dos cientistas quanto à sua maleabilidade e facilidade de apropriação por parte do complexo tecnocientífico, sem que eles pareçam ser de fato manipulados pelos cientistas e tecnocientistas. Por último, discutimos como a eugenia renova-se em um ambiente político asséptico, no qual o nazismo ou parece ser “apenas história” ou revive nos comportamentos estereotípicos de jovens neonazistas expressando um racismo chão e ultrapassado; discutimos também sobre a necessidade e a possibilidade de instituírem-se democraticamente limites impositivos aos desenvolvimentos tecnocientíficos. Abstract In this Thesis we work as it’s gave the institutionalization of the scientific production in Brazil. We undertake analyses on the actions of the SBPC and the scientists who spoke in its name in order to point out the existence, already since its foundation, of behavior of transnational character, consolidated in the priority of the absolute externalidade of science in relation to the nationalities. In addition, we explore diverse relations of affinity between the system of production of scientific and technoscientific knowledge, the cinema and the behavior in the way of capitalist production. The moment in which if starts according to consolidate the system of production of knowledge in Brazil restrictions and demands, imposed for the resource to the justification of the contribution for the construction of the State-nation, is the same which the technoscientific production does not start to disclose to its preferences for a transnational system of exchange and elaboration of knowledge. We approach the paper of the cinema as vehicle of essential symbolic and incorporeal subjects to the development of the global technoscience. We choose the cinema in reason of its transversal and potential character to transdisciplinar, implicit to the continuous transit of the symbolic goods. We approach the stereotypes of the scientists how much to the malleability and easiness of it appropriation on the part of the technoscientific complex, without that they seem to be of fact manipulated by the scientists and technoscientists. Finally, we argue as the eugenics renews if in an environment aseptic politician, which Nazism or seems to be "only history" or revive in the stereotypes behaviors of young neo-Nazis expressing racism exceeded and soil; we also argue on the necessity and the possibility democratically to institute if imposing limits to the technoscientifics developments. Agradecimentos Uma pesquisadora, que conquistou meu profundo respeito por sua inteligência, perspicácia e sensibilidade, costuma dizer que o momento no qual finalizamos um trabalho de pesquisa é exatamente aquele em que finalmente estamos preparados para começar a fazê-lo. A todas as pessoas às quais ofereço meus sinceros agradecimentos pelo apoio e cooperação, diretos ou indiretos, que permitiram a realização desta Tese, sinto-me na obrigação de dizer que se tivesse de começar novamente, e encarando a hipótese de que talvez o resultado fosse substancialmente distinto, faria questão de tê-los todos mais uma vez ao meu lado. Como de hábito, tentarei não esquecer ninguém, o que é difícil em um trabalho que se desenvolveu ao longo dos últimos cinco anos. Se isso acontecer, quem quer que seja perdoe-me a omissão, que certamente não terá sido intencional. Primeiramente, agradeço ao CNPq, pela concessão das duas bolsas de estudos, no Brasil e em Portugal. Faço questão de ressaltar o apoio e a compreensão recebidos daquela instituição quando, em um momento particularmente difícil, me foram proporcionadas condições financeiras para uma prorrogação extraordinária da permanência em Lisboa. Ao Programa de Estudos Pós-graduados em História da PUC-SP, todos seus Professores e Professoras, Funcionárias e Funcionários – à Betinha principalmente – e que mantêm continuamente o nível de excelência de um dos principais cursos brasileiros de Pós-graduaçãoStricto Sensu em História Social. Pelo prazer da convivência nos primeiros anos do curso, agradeço às minhas colegas da turma de Doutorado: Celeste Pinto, Ely Estrela, Regina Ilka, Marta e Ana Yara. Agradeço ao Professor José Antônio Dabdab Trabulsi, do Departamento de História da UFMG, pela leitura atenta de um dos capítulos deste trabalho, bem como pelas sugestões oferecidas. Agradeço imenso (como se diz por lá) ao Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, que me recebeu como Investigador Visitante durante 10 meses, oferecendo-me condições inigualáveis para o desenvolvimento de minha pesquisa. Agradeço especialmente aos Professores José Manuel Rolo, João de Pina Cabral e José Luis Garcia pelo apoio e acolhida, bem como às funcionárias Margarida Bernardo e Ilda Alves. Também aos funcionários do setor de Informática e às bibliotecárias Paula e Elvira. E a César Leiro e Falcão, meus primeiros companheiros de gabinete, além de Diego Palacios Cerezales e Roseane. Sem deixar as terras portuguesas, é preciso agradecer aos “amigos que lá deixei”, Fernando Terra e Marcus Abílio. Sem seu apoio nossos dias em Lisboa teriam sido ainda mais solitários. Aos amigos que fiz por lá, mas que pra cá voltaram, Salloma Salomão e Marco Aurélio, o mesmo agradecimento. Aos quatro, agradeço especialmente em nome de meu filho, que recebeu deles enorme solidariedade em momento extremamente difícil e angustiante que ambos vivemos. Ainda em Portugal, é quase impossível conseguir agradecer por todo o apoio recebido de parte de meu orientador, o Professor Hermínio Martins, que me honrou com a leitura atenta de meus textos e seus conselhos, oferecidos em inúmeros almoços de trabalho. Sua paixão pelos livros e pelo conhecimento faz com que, sem dúvida alguma e sem exageros, seja um dos poucos intelectuais do mundo contemporâneo que realmente merece ser chamado desse modo. De volta ao Brasil, agradeço ao meu grande amigo Alexandre Ventura, pelo apoio constante e, como sempre, pelas longas conversas. Agradeço também a outra grande amiga, a Lena. De certa maneira, a etapa que aqui se encerra começou por suas mãos. Teria muita coisa para lhe agradecer, mas prefiro fazê-lo dizendo que não há nada mais admirável do que fazer aquilo no que se acredita com honestidade, paixão e, acima de tudo, com companheirismo e confiança. Agradeço aos meus pais, Alzira e Veraldino, e à minha irmã Nirley; com eles sempre pudemos contar para dividir os momentos mais alegres e também para nos apoiar naqueles mais difíceis. Agradeço a meu filho, Lucas, a quem arrastei comigo em desvairada mudança para um país estranho em que falam uma língua esquisita (o português) e comem uma comida indigesta (chocos com purê de pacotinho e couve de bruxelas…argh!). Desde os seis anos agüenta o pai “escrevendo tese”. Por enquanto acabou, Lucas. À Jussara: nos últimos cinco anos fomos companheiros em tudo; sofremos com os mesmos problemas e as mesmas angústias, estivemos juntos na “última vez em que entramos em sala de aula como alunos”; estudamos, escrevemos (e terminamos) nosso trabalho ao mesmo tempo; sorrimos um para o outro. Não sei se para tanta coisa (as que disse e aquelas que não pude dizer) há agradecimento bastante. Finalmente, agradeço à minha orientadora, Denise Bernuzzi de Sant’Anna. Desde o início deste longo percurso, que começou no Mestrado, já se passaram quase nove anos. Desde a primeira vez em que nos falamos não foi difícil começar a admirar suas qualidades, como intelectual, como orientadora, como professora e até, acho que posso dizer, como amiga. A ela também estendo o agradecimento em nome de meu filho, pelo apoio oferecido quando de sua cirurgia em Lisboa. De inúmeras maneiras e por vários motivos, este trabalho só chegou a termo por sua responsabilidade. Poderia dizer, como já disse uma outra vez, que se há qualquer mérito nele, ele se deve a ela. Mas seria ainda muito, muito pouco. Sentirei muitas saudades de nossa convivência. Para Lucas, a quem vejo com satisfação descobrir pouco a pouco o valor do conhecimento Sumário Sumário 10 Introdução 12 1 - A SBPC e a Sistematização da Produção Científica 27 1.1 Ciência, guerra e energia atômica 43 1.2 A SBPC e o ensino: a colonização da educação 50 1.3 A burocracia 62 1.4 A busca pelo “patrocínio particular” 72 1.5 Externalidades: o caso da ciência pura 76 1.5.1 A externalidade histórica 77 1.5.2 Recuperar a externalidade absoluta 81 2 - Tecnociências e Capitalismo: o Cinema e os Estereótipos Persistentes 85 2.1 Cinema: arte e técnica 90 2.2 O “mito” do estereótipo persistente 116 2.3 Tecnociências e Capitalismo 131 2.4 Estereótipos dos cientistas: o cientista comooutro 146 3 - A eugenia da Eugenia 155 3.1 Sujeição e inferioridade 156 3.1.1 Escravidão e Sujeição na Antiguidade 156 3.1.2 O caminho em direção à eugenia 160 3.1.3 As eugenias: Alemanha e Estados Unidos 167
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