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O Debate sobre Habitação nos Congressos Pan-Americanos de Arqui... PDF

23 Pages·2005·0.26 MB·Portuguese
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O Debate sobre Habitação nos Congressos Pan-Americanos de Arquitetos: 1920-1940 Fernando Atique1 Costumeiramente, os estudos internacionais sobre a habitação se voltam à análise de transposições, vinculações ideológicas e, até mesmo, cópias de modelos entre países. Tratam, também, da análise da tecnologia empregue na construção, bem como da documentação e crítica de obras paradigmáticas de arquitetos envolvidos com esse campo da arquitetura e do urbanismo. No caso brasileiro a situação não é diferente. Muito embora tenhamos uma produção editorial, e mesmo acadêmica, tímida no que tange a trabalhos sobre a habitação, - perto do que se esperaria para um país de proporções continentais -, possuímos trabalhos que fornecem subsídios mínimos à sua compreensão. Dentre essa produção mínima, contudo, ressente-se a falta de trabalhos que tratem, também, das repercussões de eventos que discutiram essa questão do alojamento, sobretudo daqueles que reuniram profissionais da área do projeto e da construção. Por esse breve panorama percebe-se que a história e a crítica ligada à habitação enfrenta, ainda, uma série de lacunas. Dentre essas lacunas, destaca-se a necessidade de uma análise do debate que foi processado sobre o tema nas cinco primeiras edições dos Congressos Pan-Americanos de Arquitetos, e que tem merecido da historiografia poucas linhas em trabalhos dos mais diversos interesses.2 É, pois, visando contribuir no entendimento dos Congressos Pan-Americanos de Arquitetos e dos debates e proposições acerca da habitação, processados em suas edições, que se estrutura esse paper. 1 Professor Universidade São Francisco – USF, Doutorando FAU-USP. E-mail: [email protected] 2 Serão analisadas apenas as cinco primeiras edições dos Congressos Pan-Americanos de Arquitetos, pelo fato das reuniões posteriores a 1940, já possuírem certa homogeneidade de pensamento, em função do apogeu do Movimento Moderno de Arquitetura. As cinco edições inaugurais desses Congressos, entretanto, atestam uma pluralidade de pensamento e opções ideológicas, políticas, estéticas e construtivas, entre os arquitetos, tornando sua análise mais interessante para o entendimento das opções processadas após 1940. UM EVENTO A SER DECIFRADO A literatura acerca da política habitacional brasileira tem sido muito criteriosa ao apontar que foram tíbias as medidas de amparo e de resolução ao problema da habitação, entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Muitos autores mostram uma completa ineficácia de posturas do poder público nessa área, nos primeiros anos do século XX (BONDUKI, 1999, p.39; VAZ, 2002, p.54). Outros mostram que a questão do alojamento das classes menos favorecidas estava, prioritariamente, nas mãos da iniciativa privada, que promovia a construção de vilas operárias e núcleos fabris pelo Brasil todo (CORREIA, 1998, p. 76; BLAY, 1985, p. 77). No que diz respeito à análise da política habitacional promovida pelo Estado, temos obras que promovem uma reflexão aprofundada do assunto, como o já citado livro de Nabil Bonduki, e a dissertação de mestrado de Marta Farah, “Estado, Previdência Social e Habitação”, de 1983, dentre alguns outros. É estranho, todavia, que inexistam trabalhos que apontem para a importância dos Congressos Pan-Americanos de Arquitetos na divulgação de modelos, conceitos e posturas políticas, desde 1920, ano em que foram criados. Tal investigação é necessária, uma vez que ao analisar os Anais de tais eventos, bem como as reportagens publicadas no Brasil e nos países latinos sobre essas reuniões de arquitetos, consegue-se perceber um elenco de discussões, recomendações e iniciativas que, mesmo que muitas vezes, só no campo conceitual, surtiram efeito no país. O que esse artigo procura fazer é exatamente isso. Ou seja, sondar as origens de certas iniciativas, mesmo que esparsas, que demarcam um início do enfrentamento do problema da habitação voltada à classe laboriosa a partir de referências presentes no debate de arquitetura pan-americanista. Antes, contudo, faz-se necessário apresentar os Congressos Pan-Americanos, bem como, circunscrever o alcance de suas idéias no país. AS NOÇÕES DE PAN-AMERICANISMO Os Congressos Pan-Americanos de Arquitetos foram idealizados por um grupo de arquitetos uruguaios que tinham por interesse, inicialmente, a defesa e a regulamentação da profissão de arquiteto naquele país. A gênese de tais eventos remonta a 1914, ano em que é organizada a Sociedade de Arquitetos do Uruguai por iniciativa de alguns profissionais, atuantes na primeira metade do século XX, como Alfredo R. Campos, Alfredo Baldomir, Horacio Acosta y Lara, dentre outros. A iniciativa de regulamentação e defesa dos profissionais da arquitetura naquele país surtiu efeito e foi colocada por tal comissão fundadora, como cabível e necessária aos outros países do continente americano. Nesse sentido, organizou-se, em 1916, o Comitê Permanente dos Congressos Pan-Americanos, que ficou locado, durante vários anos, em Montevidéu, sob a direção de Horacio Acosta y Lara, tendo, por função existencial, estruturar a participação dos países das Américas nos congressos a serem realizados. Essa vontade de lutar pelo reconhecimento da profissão e pela delimitação das atribuições profissionais dos arquitetos em toda a América, como expressaram os uruguaios, deve ser entendida tendo em vista a política pan-americanista, em debate desde o século XIX. O tema do pan-americanismo foi constante durante os oitocentos, envolvendo os países da América do Sul e os Estados Unidos, país considerado pela história, genericamente, como o formulador do “congraçamento das Américas”, já que foi o criador da doutrina Monroe, em 1823. No momento em que o Uruguai lança a idéia dos Congressos Pan-Americanos de Arquitetos (1914), tal discussão já estava amalgamada no continente. Autores das mais variadas tendências políticas já haviam escrito sobre o tema, expondo concepções curiosas, como a do brasileiro Heitor Lyra que, em um texto publicado na Revista Americana, em 1917, dizia que “se Monroe, em 1823, estabelecera publica e officialmente as bases do panamericanismo, a América do Sul alguns antes já pensara em adoptar essa política liberal. (...) Era o sonho de Bolívar” – dizia ele. “Somente unida a América poderia se apresentar ‘al mundo com aspecto de majestad y grandeza sin ejemplos en las naciones antiguas’” (REVISTA AMERICANA, 2001, p.201). Entretanto, independentemente de tentar encontrar a genealogia do pan-americanismo, uma grande parcela dos autores ligados à intelectualidade das Américas do Sul e Central via com ceticismo os objetivos dos Estados Unidos mediante a doutrina Monroe, como a declaração do diplomata brasileiro Oliveira Lima, em 1906, deixa claro: “A doutrina Monroe sempre foi, desde o seu primitivo estágio, uma doutrina egoísta que visava reservar a América, econômica e diplomaticamente, para um apanágio da sua porção preponderante, em vez de continuar a depender das suas velhas metrópoles, não mais exclusivistas do que a nova. E tanto nunca foi uma doutrina altruísta ou mesmo cujas responsabilidades fossem comuns, e também as vantagens, a todas as repúblicas americanas, representando uma garantia recíproca de defesa, de preservação e de soberania (...) que os Estados Unidos se guardaram ciosamente o direito de escolher a ocasião ou o pretexto da sua aplicação de acordo com seus próprios interesses” (LIMA, 1980, p.37). Se a doutrina Monroe, em seus primeiros anos, propalava-se como uma resposta negativa da América, sobretudo de seu país liberto mais antigo – os EUA - à Europa, em função de um suposto interesse de reintegração de suas ex-colônias, ela foi, de fato, uma política de pretensão dominadora por parte dos norte-americanos, sobretudo durante o governo de Roosevelt. Essa tentativa de “dominação imperialista” por parte dos EUA produziu discursos acalorados em prol da necessidade de manifestações nacionalistas de repúdio a essa tendência. A realidade brasileira3 permite com que se perceba o grau de importância desse debate nas primeiras épocas do século XX. Especificamente, o caso mais contundente, no Brasil, envolve o livro de Eduardo Prado, “A Ilusão Americana”, de 1893, documento, ao mesmo tempo, monarquista e antiestadunidense. Eduardo Prado, poucos anos depois da Proclamação da República, ainda defendia que apenas um governo centralizador, vitalício, calcado em títulos de nobreza, seria capaz de encaminhar o Brasil rumo às resoluções de seus problemas políticos. Mas, de fato, seu suposto “anti-republicanismo” ecoou fortemente durante o governo do Marechal Floriano Peixoto, quando atacou, pautado em análises apaixonadas, incidentes políticos deflagrados ou encabeçados pelos Estados Unidos: o modelo de país livre e republicano da Primeira República (REBELO, 2001, p. XI).4 Seu livro acabou sendo confiscado pelas tropas do governo federal, no mesmo dia do lançamento, e só veio a público em 1896, na França. Contudo, a obra pode ser considerada um 3 Obviamente, não se pretende analisar a América toda tendo por base apenas a realidade brasileira, mas, o debate pan-americanista no Brasil pode ser tomado como parte de um sistema que englobava posições semelhantes em toda a América. 4 Citando situações em que a política externa norte-americana feriu os interesses nacionalistas do México, do Peru, da Colômbia, do Haiti, da Argentina e de outras nações da América, Eduardo Prado queria mostrar que já era “tempo de reagir contra a insanidade da absoluta confraternização que se pretende impor entre o Brasil e a grande república anglo-saxônica, de que nos achamos separados, não só pela grande distância, como pela raça, pela religião, pela índole, pela língua, pela história e pelas tradições de nosso povo. (...) O fato de o Brasil e de os Estados Unidos se acharem no mesmo continente é um acidente geográfico ao qual seria pueril atribuir uma exagerada importância. (...) Pretender identificar o Brasil com os Estados Unidos, pela razão de serem do mesmo continente, é o mesmo que querer dar a Portugal as instituições da Suíça, por que ambos os países estão na Europa” (PRADO, 2001, p.31). dos ensaios inaugurais da linha de crítica à política externa dos Estados Unidos. Eduardo Prado pode ser citado como um dos primeiros autores a se indispor à noção de “fraternidade americana”, preconizada pela doutrina Monroe. Expondo opiniões pessoais na obra em questão, Prado anunciava que “a fraternidade americana [era] uma mentira”, já que existiam “mais ódios, mais inimizades” entre as “nações ibéricas da América”, do que entre as nações da Europa (REBELO, idem). Pelo que se nota, Eduardo Prado não via a possibilidade de uma postura pan- americanista, devido a suas concepções políticas (era monarquista, e como tal, era zeloso das expressões nacionais bem demarcadas como fator de existência de uma nação) e sociais (já que era defensor das questões de raça, credo e história como identificadoras dos países). Mas, o teor contestador de Eduardo Prado pode ser encontrado, em certo sentido, também nos escritos do já citado diplomata Oliveira Lima. Como expõe Washington Luís Pereira de Souza Neto (1980), na introdução da obra Pan-americanismo: Monroe, Bolívar, Roosevelt, de 1907, “clara estava a intenção política de Oliveira Lima sobre o pan-americanismo e sobre o sistema de governo norte-americano. Opunha-se ao ‘rooseveltismo’ de Nabuco, procurava demonstrar os perigos que adviriam da extensão da doutrina de Monroe com o corolário de Roosevelt e esboçava uma nova orientação da política externa brasileira, a qual deveria, em sua opinião, basear-se em uma maior aproximação com a Argentina e demais repúblicas latino-americanas, na manutenção das tradicionais relações com o mundo europeu, e não na busca açodada de relações privilegiadas com os Estados Unidos da América” (SOUZA NETO, 1980, p.10). Oliveira Lima, ao contrário de Prado, não era propriamente um oponente da noção de pan-americanismo, mas repudiava a política do “Big Stick”, de Roosevelt. A postura de Oliveira Lima foi definida por Gilberto Freyre como “pan-americanista crítica” (Idem, p.11). Mas esse “pan-americanismo crítico” encontrava oposição em outro diplomata brasileiro, Joaquim Nabuco. Joaquim Nabuco foi o intelectual brasileiro da Primeira República que mais se empenhou em divulgar supostas benesses de uma aliança dos países da América Latina com os norte-americanos. Em suas conferências em algumas universidades dos Estados Unidos,5 5 Como Wisconsin, Chicago, Columbia, entre algumas outras. Nabuco exprimiu opiniões laudatórias não só apenas dessa aliança, como de celebração do que chamava de “civilização norte-americana”: “Vós, com toda a vossa alta civilização, não podeis fazer mal a nenhuma outra nação. O contacto intimo comvosco, seja em que condição for, só poderá, portanto, trazer beneficio e progresso á outra parte” (NABUCO, 2001, p.40). Joaquim Nabuco, num sábio jogo de palavras, transmitiu sua noção de pan- americanismo, tentando demonstrar que, para ele, tal atitude de congraçamento traria muitos benefícios aos latinos, mas, também aos norte-americanos: “O único effeito que posso enxergar no trato intimo da America Latina comvosco é que ella viria a ser lentamente americanizada; isto é, ela se impregnaria, em medida diversa, do vosso optimismo, intrepidez e energia. (...) Não quero dizer que algum dia emparelhemos com o vosso passo. Nem o desejamos. Excedestes toda a actividade humana de que ha memoria , sem perturbar o rhythmo da vida. Fizestes novo rhythymo só para vós. Nós nunca o poderíamos conseguir. Para as raças latinas festina lente é a regra da saude e da estabilidade. E seja-me licito dizer que é um bem para a humanidade que todas as raças não marchem a passo igual, que todas não corram” (Idem). Para Nabuco, era importante deixar claro que os demais países da América não tinham por intenção tentar se igualar aos Estados Unidos, talvez temendo uma interrupção na transmissão dos efeitos da ‘americanização’ acima referida. Para ele, era natural que a república estadunidense fosse a líder da fraternidade das Américas por considerá-la ‘predestinada’ a isso por questões de raça, credo e geografia. Em linhas bem gerais, podemos vislumbrar, então, a existência de três grupos políticos no trato com a questão pan-americanista: o de repúdio completo aos modelos e proposições de aliança com os Estados Unidos, no Brasil, encabeçada por Eduardo Prado; o de crítica árdua à política pan-americanista como era comandada pelos Estados Unidos durante o governo de Theodor Roosevelt - muito embora visse a necessidade de uma aliança entre os países da América Latina -, tendência capitaneada, por aqui, por Oliveira Lima; e a de “Fraternidade Americana”, entre nós, vinculada à atividade diplomática de Joaquim Nabuco, e seguida, também, pelo Barão do Rio Branco. O que se depreende da análise dos documentos que tratam especificamente dos Congressos Pan-Americanos de Arquitetos é que havia uma interpretação de pan- americanismo, entre seus participantes e idealizadores, aparentemente próxima dos conceitos pelos quais Joaquim Nabuco o entendia, e, nesse sentido, o editorial da revista Architectura no Brasil, de setembro de 1923, é singular, ao referir-se aos objetivos ideológicos do II Congresso Pan-Americano de Arquitetos, então, em curso, em Santiago do Chile: “Reune-se pela segunda vez em nosso continente o Congresso Pan-Americano de Architectos, cujo promissor inicio realizou-se ha tres annos passados na linda cidade de Montevidéo, capital do nosso vizinho amigo o Uruguay. (...) O Brasil, como um dos grandes membros da grande família americana, congratula-se com os demais paizes amigos pela realização desse congraçamento de obreiros do bello, no qual se reúnem debaixo do mesmo palio fraternal da paz e trabalho, os principaes architectos americanos, portadores de idéas e principios, cuja utilidade para o engrandecimento da architectura em nosso continente excuzamo-nos de enaltecer. (... )Para governo de uma profissão, as resoluções dos congressos internacionaes não eram o sufficiente. Além das sabias lições adquiridas no convivio com o meio selecto de architectos da velha Europa, nesses magnos torneios de arte, algo de mais especializado e absolutamente restricto ao meio ambiente da America necessitavam os nossos architectos, porque ha sempre uma mesma lei moral de harmonia que nos irmana e engrandece, baseada em um novo ideal altamente de solidariedade humana (...)” (ARCHITECTURA NO BRASIL, 1923,p.141). O que corrobora a afirmação anterior à citação é o fato de que os Congressos tinham como línguas oficiais o espanhol, o português, mas também, o inglês e o francês, possivelmente em decorrência dos países da América do Norte – Estados Unidos e Canadá – falarem tais idiomas. Essa simples detecção permite perceber um ideal de reunião que pretendia facilitar o intercâmbio do conhecimento entre as Américas. Contudo, ao analisarmos os Anais de tais encontros, percebemos um certo predomínio na participação de profissionais da América do Sul, como Argentina, Brasil, Uruguai e Chile, e, num menor número, da Colômbia, da Venezuela, do Peru, como ainda de países da América Central e Caribe, como Cuba, e até os Estados Unidos. Com relação aos arquitetos norte-americanos, convém frisar que eles participaram de quase todas as cinco primeiras edições, exceto do II Congresso, realizado em Santiago do Chile, em 1923, por proibição do governo local, mas sempre com um número muito pequeno de delegados, não chegando a se constituírem em um grupo hegemônico em nenhuma dessas ocasiões. Já o Canadá participou, pela primeira vez, do IV Congresso, no Rio, mesmo assim, por representação do arquiteto britânico Robert Prentice, atuante na antiga capital federal do Brasil, mas membro de uma sociedade de classe daquele país (REVISTA DE ARQUITECTURA, 1930). É possível, também, que a noção pan-americanista uruguaia, ao formular essa espécie de evento, em 1914, tenha sido vinculada à noção do “congraçamento das Américas”, ainda mais se notarmos que a sugestão dessas reuniões partiu de Alfredo R. Campos, arquiteto que também era militar, e que chegou a ser Ministro da Guerra de seu país, atividade que lhe garantia certa simpatia pelas atitudes “ordenadoras” vistas na doutrina Monroe.6 Pela análise de suas conclusões, publicadas em diversas revistas do Brasil e da Argentina,7 percebe-se, claramente, que os Congressos Pan-Americanos de Arquitetos serviram mais de instrumento e fórum de debate dos problemas dos países latinos, do que de espaço de divulgação de elementos ideológicos ou políticos norte-americanos, muito embora, vez ou outra, os Estados Unidos fossem celebrados como modelo para o esclarecimento de dúvidas surgidas nas sessões de trabalho, como no caso da relevância dos arranha-céus como modelo também cabível aos países da América do Sul (REVISTA DE ARQUITETCTURA, 1930, p.494). Talvez sem muita clareza no momento de suas realizações, esses congressos estavam seguindo concepções pan-americanistas parecidas com as de Oliveira Lima em sua prática, ou seja, minorando a ascendência norte-americana sobre a América, ao mesmo tempo em que não as impediam de existirem; reiterando a necessidade de diálogo com a Europa e conclamando a uma aliança entre os demais países da América. Na análise da temática desses congressos, salta aos olhos uma certa antecipação às resoluções presentes em eventos internacionais, como no campo do urbanismo; um início de teorização sobre os problemas decorrentes da metropolização das cidades, como, por exemplo, a questão da habitação, e, também o arranjo de teorias que se mostravam um tanto quanto idealistas para a realidade dos países latino-americanos das décadas de 1920, 1930 e 1940. Antes de entramos, contudo, na análise específica sobre a questão habitacional presente nesses Congressos, convém explicitar os temas de cada uma de suas cinco primeiras edições. ASPECTOS TEMÁTICOS DOS CONGRESSOS PAN-AMERICANOS DE ARQUITETOS 6 Contudo, pela escassez de bibliografia sobre o tema, ainda não foi possível comprovar se tal hipótese está correta. 7 As principais são Arquitetura e Urbanismo, publicação do IAB; Arquitetura e Construções, Architectura no Brasil, Revista de Engenharia do Mackenzie College, Revista de Arquitectura, da Sociedade Central de Arquitectos de Buenos Aires. A primeira edição dos Congressos Pan-americanos ocorreu em Montevidéu, em 1920, sob a presidência do arquiteto Horacio Acosta y Lara. Da leitura das conclusões desse evento, transparece sua idéia central que era a de lutar e estimular a promulgação e sanção de leis que regulamentassem a profissão de arquiteto em cada país participante. Nesse sentido, fica claro que o primeiro congresso procurava dialogar com os poderes centrais de cada país, entendidos como os responsáveis diretos por oficializar as conclusões obtidas no evento. O Segundo Congresso foi realizado em Santiago do Chile, em 1923, tendo sido presidido pelo arquiteto Ricardo Gonzáles Cortés. O que se depreende, de imediato, de suas conclusões, é a necessidade de estudo e entendimento sobre o urbanismo em todas as escolas da América. Aparece, também, o debate acerca da conservação dos monumentos históricos dos países latino-americanos, atitude que antecipou a discussão e a criação de vários serviços com essa finalidade nos países participantes, como por exemplo, no Brasil.8 O terceiro encontro, o primeiro que, de fato, contou com a presença de um grande número de participantes, ocorreu em Buenos Aires, tendo sido presidido pelo arquiteto Raul E. Fitte. Nessa edição dos Congressos Pan-americanos a questão do ensino nas Escolas de Arquitetura foi uma das pautas centrais, deslocando o debate persistente sobre a questão da proteção aos profissionais para a que incidia sobre “qual profissional se queria ver formado” na América. Contudo, é nesse Congresso que aparecem, pela primeira vez, teses específicas sobre qual seria o destino da arquitetura com a proliferação da vertente moderna. O Congresso seguinte foi organizado pelo Brasil, e ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, em 1930, sob a presidência do arquiteto Nestor Egydeo de Figueiredo. Das reportagens sobre esse encontro depreendem-se as noções de nacionalismo que vigoravam em cada país participante, sobretudo no país anfitrião, mas, podem ser sentidas, também, as repercussões positivas e negativas acerca da arquitetura e do urbanismo modernos, bem como da metropolização das cidades da América do Sul. Nessa edição dos Congressos Pan- americanos decide-se que Havana, em Cuba, seria a organizadora do próximo encontro, agendado para 1933. Contudo, problemas políticos e econômicos levaram a uma interrupção de dez anos nos encontros, que, por fim, acabaram sendo realizados novamente em Montevidéu. O Quinto Congresso Pan-Americano de Arquitetos ocorrido no Uruguai, em 1940, fecha um ciclo de vinte anos, e mostra uma discussão muito interessante sobre temas sociais, quer seja sobre a resolução dos crescimentos desordenados das cidades, quer seja sobre o problema habitacional da população de baixa renda, e, ainda, sobre a necessidade de se lutar por fundos de aposentadoria para os arquitetos. A discussão que começou em Montevidéu, em 1920, tendo como base a regulamentação da profissão dos arquitetos, retorna à mesma cidade, com temas que parecem indicar não uma mudança nas atividades profissionais dos arquitetos, mas, sim, uma ampliação do entendimento da própria profissão, mediante a possibilidade de discussão e amadurecimento proporcionados pelos congressos. Essa edição dos Congressos Pan-Americanos foi presidida pelo arquiteto Daniel Rocco. POSIÇÕES, PROPOSIÇÕES E PROJETOS HABITACIONAIS Uma das sessões de trabalho do I Congresso Pan-Americano de Arquitetos versava sobre as “Casas Baratas Urbanas e Rurais na América”. Dentre os seis artigos que compuseram suas conclusões oficiais, estava a que defendia a difusão da “edificação familiar nos arredores dos bairros fabris e industriais dotando-os de fácil acesso aos centros urbanos e recomendando a edificação de casas coletivas nos centros densamente povoados” (ARQUITETURA E URBANISMO, 1940, p.68). Essa conclusão se coadunava com a da sessão denominada “Transformação, Desenvolvimento e Embelezamento da Cidade de Tipo Predominante na América”, que requeria das “autoridades nacionais e municipais de todos os paízes da America” ações de forma a determinar “a localisação, disposição e extensão dos parques, jardins, praças e espécie de suas plantações, assim como outros espaços livres que tenham por objétivo a higienização interior das moradias” (Idem, p.67). Em artigo publicado no Boletim do Instituto de Engenharia de São Paulo, em 1941, o engenheiro Francisco Baptista de Oliveira, explicita que na Argentina, em 1915, foi criada uma lei (9677) que instituiu a “Comissão Nacional de Casas Baratas” órgão oficial, subordinado ao Ministério do Interior, que orientava e executava as construções populares daquele país (OLIVEIRA, 1941, p.83). Dentre as atividades dessa Comissão, apontadas por 8 O Brasil teria seu Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN - constituído apenas em 1937, muito embora, outras iniciativas locais já fossem existentes desde a década de 1920 (RODRIGUES, 2000, p. 13).

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edições dos Congressos Pan-Americanos de Arquitetos, e que tem não aparecem imediatamente e que são na opinião de alguns, méro pretexto
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