Artigo Tentaremos neste artigo utilizar a"redoma de vidro" como um elemento ilustrativo da relação entre os elementos subjetivos (trabalho humano) eobjetivos (elementos mate- ríals)doprocesso detrabalho sob domrniodo capital. A organização A idéia da "redoma de vidro" nos veio a partir de uma visita de trabalho a uma empresa média do ramo mecâni- co. Acompanhados do proprietário/gerente, fomos conhe- do trabalho sob cer as oficinas, quando, em um canto, visualizamos uma bancada com algumas ferramentas eobjetos de trabalho; o capitalismo e a o trabalhador não estava ali no momento. O relato feito pelo empresário acerca do trabalho ali desenvolvido foi, "redoma de vidro" mais ou menos, o seguinte: "Aqui o trabalhador monta, sozinho, essa parte do produto final. Q~ando nossa pro- dução era de três unidades/dia, ele ficava o dia todo ocu- pado fazendo seu.trabalho - montar, engraxar, etc.; pos- teriormente, aumentamos a produção para cinco unida- Benedito Rodrigues deMoraes Neto des/dia, e ele continuou ocupado o dia todo, da mesma Professordeeconomiaeorganizaçlo naEscola forma; aumentamos depois para oito unidades/dia, e ele deEconomiadeSSoCarlos,daUniversidade continuou ocupado o dia todo, sem alteração visrvel em deSSoPaulo seu ritmo de trabàlho." Observamos, claramente, desse relato que a produtividade possível de ser obtida daquele trabalhador era umaincógnita para oempresârio. Seantes produzia para três unidades, eagora produz paraoito, se- rá que não pode produzir para 10, 12 ou mais unida- des/dia? Como o controle dos tempos e movimentos era, no caso, inteiramente do trabalhador, o empresârio "olha- va, mas não via", ou melhor, nãoconseguia entrar nop-ro- cesso de trabalho do operário e desvendar seu mistério. Dara idéia de uma "redoma de vidro" que se interpunha entreooperário esuas tarefas eoempresário. Iniciemos com a cooperação simples, quando, em seus primeiros passos, o capitalismo inaugura uma nova forma social de organizar a produção, sem realizar qual- quer intervenção na forma técnica de produzir: "com res- peito ao próprio modo de produção, a manufatura, por exemplo, mal se distingue, nos seus começos, da indús- tria artesanal das corporações, a não ser pelo maior nú- mero de trabalhadores ocupados simultaneamente pelo mesmo capital. A oficina do mestre-artesão éapenas am- pliada",' Tem-se, nesse caso, oque Marx chamou de"su- bordinação formal" do trabalho ao capital, quandOas mo- dificações na forma social ainda nãopermitiram uma"mo- dificação essencial na forma e maneira real do processo de trabalho, do processo real de produção". 2 Observa-se que "a subsunção do processo de trabalho no capital se opera com base em um processo de trabalho preexisten- te, anterior a essa sua subsunção no capital e com uma configuração baseada em diversos processos de produ- ção anteriores e outras condições de produção; o capital subsume em si determinado processo de trabalho exis- tente, como, porexemplo, otrabalho artesanal ouotipode agricultura que correspondeà pequena economia campo- nesa autônoma". S Para efeito de nosso objetivo, é fundamental colocar algumas idéias sobre otrabalho artesanal. "Aqui, opróprio trabalho é, em parte, a expressão da criação artrstica e,. em parte, sua própria recompensa (...)aespecial habilida- de artesanal garante a propriedade do instrumento (...) o Rev.Adm.Empr. RiodeJaneiro, 27(4)19-30 outJdez. 1987 trabalho ainda pertence ao homem; um certo desenvolvi- tesão não são mesmo para serem entendidos, esim para mento auto-suficiente de capacidades especializadas." serem feitos. O trabalho artesanal éeminentemente empí- O trabalho artesanal éaquele que consegue unir uma figu- rico, só é possível ser aprendido na prática, fazendo-o, e ra do homem trabalhador (artesão) os dois momentos ca- sem garantia de alta qualidade se não houver, por parte do racterísticos do trabalho humano: aconcepção eaexecu- aprendiz, o toque necessário de criatividade. Daí o longo ção. Trata-se de uma manifestação, a um só tempo, da período de aprendizagem nas guildas artesanais para se criatividade ("criação artística") e habilidade ("especial chegar a "mestre artesão." Isto nos leva ao segundo as- habilidade artesanal") do homem. Essa união entre con- pecto que queremos frisar quanto ao artesanato: a sua cepção e execução em uma mesma pessoa permite ao natureza de "paraíso perdido". artesanato ganhar freqüentemente um status de trabalho Como já dissemos, ébastante comum entre os críticos "perfeitamente humano", ou seja, de processo detrabalho 'do capitalismo a utilização do trabalho artesanal como um perfeitamente ajustado à criatividade e habilidade huma- paradigma. Assumindo o artesanato como o trabalho per- nas. Em outras palavras, não é incomum encontrarmos, feitamente humano, passa-se acompará-lo (às vezes não na literatura sobre organização do trabalho, um certo sau- explicitamente) com as formas posteriores de organização dosismo do "paraíso perdido" do artesanato. Quanto a is- do trabalho, obviamente capitalistas, e conclui-se pela so, vale mencionar duas coisas: a primeira éque o"orgu- maldade intrínseca dessas formas que procuram, sempre, lho e dignidade da guilda", ou melhor, a supervalorização a separação concepção/execução. Como desdobramen- do trabalho artesanal, é, como não poderia deixar de ser, to, poder-se-ia propor uma volta aos "bons tempos do ar- um fato histórico, e não algo atribuído apriori, a-historica- tesanato". Ocorre que essa visão é apologética, a-históri- mente. ca. O "paraíso perdido" não era tão paradisíaco: "a fuga de servos para as cidades continuou, sem interrupção, Na antigüidade clássica, o trabalho artesanal era um através de toda a Idade Média. Estes servos, perseguidos opróbio, próprio de escravos libertos, e não de homens li- por seus amos na área rural, chegavam isoladamente às vres: "Os antigos, unanimemente, consideravam o traba- cidades, onde encontravam uma comunidade organizada lho da terra como atividade própria de homens livres, uma contra a qual eram impotentes, na qual eles tinham de escola de soldados. Com ela se preserva aantiga estirpe submeter-se à posição que lhes fosse designada pela nacional, que se transforma nas cidades, onde se esta- demanda de seu trabalho e pelos interesses de seus belecem mercadores e artesãos estrangeiros à medida competidores urbanos desorganizados. Estes trabalhado- que os nativos emigram atraídos pela esperança de maio- res, chegando separadamente, jamais eram capazes de res riquezas. De qualquer modo, onde há escravidão, os conseguir qualquer poder, pois sendo seu trabalho do tipo libertos buscam sua subsistência em tais atividades, corporativo que devia ser aprendido, os mestres das guil- muitas vezes acumulando riqueza: por isto, na antigüida- das dobravam-nos a seu talante e os organizavam con- de, estas atividades estavam, geralmente, nas mãos de- forme seus interesses (...). Nas cidades, a divisão detra- les e, portanto, eram consideradas impróprias para os ci- balho entre as corporações era, até então, muito natural e, dadãos; daí a opinião de que aadmissão dos artesãos à nas próprias guildas, não estava absolutamente desen- cidadania plena seria procedimento arriscado (os gregos, volvida entre os diversos trabalhadores. Cada trabalhador em regra, os excluíam dela). 'A nenhum romano era per- tinha de ser versando em toda gama de tarefas, tinha de mitido levar a vida de um pequeno comerciante ou arte- ser capaz de fazer tudo que pudesse ser feito com seus são.' Os antigos não tinham uma concepção de orgulho instrumentos. O limitado comércio e as difíceis comunica- oudignidade deguilda, como na história urbanamadtavaí"! ções entre as cidades, aescassez de população eas ne- Os antigos não valorizavam - muito pelo contrário - a cessidades reduzidas não favoreciam uma maior divisão união concepção/execução típica do artesanato, mas sim do trabalho e, portanto, todo homem que quisesse tornar- a separação entre trabalho intelectual e trabalho manual se um mestre tinha de ser proficiente em todo seu ofício. que, naquele estágio de desenvolvimento das forças pro- Assim, havia entre os artesãos medievais especial inte- dutivas, só a escravidão poderia proporcionar. "De modo resse pelo trabalho e pela excelência nele, ao ponto de que, constituídas todas as (ciências) deste gênero, outras despertar um certo senso artístico. Por esta mesma ra- se descobriram que não visam nem ao prazer nem à ne- zão, entretanto, cada artesão medieval estava completa- cessidade, e primeiramente naquelas regiões onde (os mente absorvido por seu trabalho, com oqual desenvolvia homens) viviam noócio. É assim que, em várias partes do um relacionamento gratificador e escravizador e ao qual Egito, se organizaram pela primeira vez as artes matemá- se submetia muito mais do que o trabalhador moderno, ticas, porque aí se consentiu que a casta sacerdotal vi- cujo trabalho éassunto que odeixa indiferente".· vesse no ócio.e O que explica isto éque, em nenhum mo- mento, a sociedade se preocupava em compreender os Não é diffcil, depois de compreender a natureza do ar- determinantes materiais do processo de produção, ou tesanato, entender por que ajunção de diversos trabalha- melhor, em desvendar as transformações operadas na dores assalariados trabalhando como artesãos sob o do- matéria quando da produção (transformação dos elemen- mínio capitalista caracteriza uma subordinação apenas tos naturais em coisas úteis à vida humana); daí o pen- formal dotrabalho ao capital. Por um lado, aforma social é samento humano manifestar-se necessariamente como capitalista, pois já ocorreu a necessária fratura entre tra- metafísica. Mas otrabalho escravo e o trabalho de um ar- balho e propriedade dos instrumentos. Por outro, a forma 20 Revista deAdministração deEmpresas técnica é pré-capitaJista, eentra em evidente conflito com lão, inclinado longas horas sobre seu tear, tende cada vez aforma social; esta pressupõe uma reiação dedominação mais anão ser outra coisa que tecelão.?" do trabalho pelo capital, enquanto aquela garante aos tra- A tecelagem enquanto manufatura possui, portanto, balhadores o domrnio do processo de trabalho. fi:.despeito uma forma particular, que não se ajusta plenamente aos do caráter naturalmente coercitivo da relação capitalista, a prindpios clássicos estabelecidos por Adam Smith apartir cooperação simples limita de forma radical o controle do do exemplo do alfinete. Neste caso, a caracterlstlca bási- capital sobre o processo detrabalho e, por conseqüência, ca é o parcelamento das tarefas entre trabalhadores ma- sobre o processo de valorização ao qual se subordina. nuais, a geração do trabalho parcelar. No caso datecela- Estando o ritmo de trabalho eaqualidade do produto intei- gem, aexistência dessa manufatura já representa opasso ramente sob o controle dos trabalhadores, o poder do ca- final do processo de divisão do trabalho têxtil; todavia, ao pital sobre o trabalho encontra um evidente obstáculo no nfvel do processo de trabalho, oque se tem éuma coope- "saber operário". Ademais das 6bvias limitações do ho- ração simples de tecelões especializados operando os .mem enquanto instrumento de trabalho, quando se trata teares manuais. Para as preocupações deste artigo, esta de incrementar deforma incessante aprodutividade, oque diferença não tem importância fundamental; nossa ques- a cooperação simples ilustra bastante bem é a existência tão básica équeocapital, nafase manufatureira, depende da "redoma de vidro" que está no tftulo deste artigo. Os da habilidade dotrabalho manual. Essa dependência ocor- trabalhadores em ação estão dentro de uma redoma de re nas duas formas, pois a divisão manufatureira do tra- vidro, protegidos por ela, e esta redoma constitui-se em balho mantém, no conjunto, as mesmas operações antes uma barreira inexpugnável enquanto não se modifica a desempenhadas pelo artesão, criando a divisão entre tra- natureza do processo de trabalho pois, sendo trabalho balhadores especializados (os artrtices da manufatura) e artesanal inteiramente empfrico, s6 podendo ser assimila- peões. É evidente que nesse caso ocorre um passo muito do ao ser feito, como pode o capitalista entender os de- mais consistente de desqualificação do trabalho do que no terminantes dos tempos emovimentos dos trabalhadores? caso datecelagem. Vale frisar que, mesmo sendo o capitalista um antigo Prossigamos com a tecelagem, eleita para ilustrar nos- mestre artesão, como a forma social foi revolucionada, so racioclolo, e eleita por seus méritos como se pode ex- sua função possui agora uma natureza radicalmente dife- trair desse trecho entusiasmado de Andrew Ure: "(•.•) a rente (por ser capitalista passa aser dirigente de um cole- perfeição da indústria automática é vista na tecelagem de tivo detrabalhadores) esua dificuldade para intensificação algodão. Éali que as forças da natureza movimentam mi- dos tempos e movimentos dos trabalhadores é a mesma lhões de peças complexas, imprimindo uma ação inteli- de outro capitalista qualquer, talvez até maior, pelo viés gente a peças de madeira, de ferro e de latão. Como a fi- artesanal que possa conter sua avaliação dotrabalho. losofia das belas-artes, poesia, pintura e música pode ser Pode parecer que estamos dando à cooperação sim- melhor estudada em suas obras-primas, assim a filosofia ples sob o capitalismo uma importância maior que adevi- das manufaturas deve ser estudada nessa sua mais bela da, pois, "em sua forma simples, que é a que até aqui te- criaçâo"." mos estudado, acooperação coincide com aprodução em Se a manufatura constitufa-se em uma cooperação grande escala, porém não constitui nenhuma forma fixa simples amplificada, em um conjunto de teares manuais, caracterísnca de uma época especial na hist6ria do regi- vejamos a caracteristica do processo de trabalho nesse me capitalista de produção. No máximo aparece com es- caso. Como afirma Mantoux, este tear manual "(...) havia se caráter, aproximadamente, nas origens da manufatura, mudado pouco desde a antigüidade. Os fios que forma- quando esta não havia ainda superado oartesanato (.•.)"8 vam o urdume dotecido se apoiavam paralelamente sobre Todavia, ela é extremamente útil para fixarmos a idéia um bastão duplo, que se elevavam e baixavam alternati- da "redoma de vidro", especialmente porque enfatizare- vamente por meio de dois pedais, e cada vez o tecelão, mos em nossas colocações posteriores o caso da indús- para fazer a trama, passava a lançadeira de uma mão à tria têxtil, mais espeCificamente atecelagem, earacoope- outra"." ração simples e a manufatura apresentam apenas uma Não éditrcil perceber que o antigo mestre artesão não diferença de grau: "(n.)sem embargo, vai-se delineando já se ajustaria plenamente ao seu novo papel social de tra- um esboço de manufatura. O negociante de tecidos reúne balhador assalariado. Temos nesse caso amelhor ilustra- os teares em sua casa e, em lugar de três ou quatro na ção da "redoma de vidro": o capitalista é proprietário do mesma oãcina, como fazia o mestre artesão, junta dez ou capital, mas o processo de trabalho mantém-se como do- doze."'o mfnio do trabalhador. "O saber operário" é um legado do Depois que a divisão do trabalho, que inicialmente se antigo regime, e o trabalhador sapiente é, caracteristica- dava no interior das famnias,l1 passa se constituir em divi- mente, um incompetente enquanto trabalhador assalaria- são do trabalho entre produtores de mercadorias, a tece- do. Esse fato é retratado de maneira antol6gica por An- lagem surge como atividade capitalista especializada em- drew Ure: "dada a fraqueza humana, quanto mais habili- pregadora de tecelões especializados. Como lemos em doso o trabalhador, mais egocêntrico e intratãvel ele está Mantoux, "à medida que se passa das operações ele- propenso a se tornar (.•.).'5 Em um momento da Hist6ria mentares da indústria às mais complicadas, às mais deli- em que a corporação de offcio está tão presente, éfacil- cadas, às que exigem assiduidade e aptidões requeridi.3, mente compreensfvel que o trabalhador sapiente, além de a especialização vai-se acentuando ainda mais. O tece- incompetente enquanto trabalhador assalariado para oca- "Redomadevidro" 21 pital (epor isso mesmo), fosse também incompetente en- transmitida pela máquina às matérias-primas e a prote- quanto observador e agente do processo histórico; olhan- gê-Ias das avanas.'?' do a História com olhos do passado, defendia-se do capi- "Na manufatura e na indústria manual, o trabalhador tal a partir de seu "saber operário", a partir das famosas serve-se da ferramenta. Ali, os movimentos do instru- prerrogativas do ofício. O caráter conservador dessa for- mento de trabalho partem dele; aqui éele que tem que se- ma de insubordinação é bem esclarecido por Armando guir seus movimentos. Na manufatura, os trabalhadores Palma, quando afirma que, na manufatura "(...) a insubor- são outros tantos membros de um mecanismo vivo. Na dinação trabalhadora, apelando a valores de uma fase fábrica, existe por cima deles um mecanismo morto, ao histórica superada, freia o desenvolvimento das forças qual se incorporam como apêndices vívos.?" produtivas para aquelas situações que instauram as con- "O conjunto do processo de produção já não está, en- dições para a revolução. Se se tem em conta que a ma- tão, subordinado à habilidade do operário; tornou-se uma nufatura 'representa um progresso histórico e uma etapa aplicação tecnológica da ciência."" necessária no processo econômico de formação da so- "A ciência manifesta-se, portanto.. nas máquinas, e ciedade', pode-se compreender ocaráter não-revolucioná- aparece como estranha e exterior ao operário. O trabalho rioeconservador da ínsubordinaçâo"." vivo encontra-se subordinado ao trabalho materializado, A estreiteza da base técnica manufatureira e a poten- que age de modo autônomo. Nessa altura, o operário é cialidade que aprópria manufatura trouxe para aprodução supérfluo (..•)."24 material tornaram inexorável sua superação. Como afirma O início do parágrafo imediatamente acima ("A ciência Marx, "a manufatura não podia abarcar a produção social manifesta-se, portanto, nas máquinas, e aparece como em toda a sua extensão, nem revolucioná-Ia em suas en- estranha e exterior ao operário") é particularmente escla- tranhas. Sua obra de artifício econômico viu-se coroada recedor quanto à radical mudança de posição de nossa pela vasta rede do artesanato urbano e da indústria rural. "redoma de vidro". Quem está dentro da redoma agora éa Ao alcançar certo grau de desenvolvimento, sua base máquina, e quem está fora é o trabalhador. Muito claro a técnica, estreita, tornou-se incompatível com as necessi- esse respeito é também um trecho do artigo "meia" deA dades de produção que ela mesma havia críado.?" Enciclopédia, escrito por Diderot. Nesse artigo, Diderot A superação da base técnica manufatureira dá-se de refere-se às observações de um tal Sr. Perrault, para forma radical, através do revolucionamento do instrumento quem o tear, para tecer meias de 1598 (stocking-frame), de trabalho: introdução da máquina. Em nossa ilustração, opera "sem que o operário que movimenta a máquina ocorre simplesmente que a "redoma de vidro" é retirada compreenda nada, saiba nada, ou sequer sonhe com o do trabalhador, colocada sobre a máquina, e quem fica que se passa". 25 agora defora éo próprio trabalhador. A máquina, em sua acepção clássica e correta, trans- No caso que tomamos como ilustração, trata-se do forma o trabalhador em seu apêndice, e realiza de forma tear automático de Cartwright (fim do século XVIII) contra radical a separação entre trabalho intelectual e trabalho- o qual se levantou a hostilidade violenta dos tecelões. A manual, entre concepção eexecução. A máquina têxtil éa nova posição da "redoma" pode ser esclarecida a partir ilustração clássica desse movimento de objetivação do das citações que se seguem. processo de trabalho, que implica a eliminação radical do "E isto é a característica da máquina: em lugar de ser "saber operário", não há nenhum saber operário em vigiar um instrumento nas mãos do trabalhador, a máquina é um tear mecânico e amarrar o fio rompido. Como diz Ure, uma mão artificial. Distingue-se da ferramenta menos pela esse trabalho é tão desprovido de conteúdo que pode ser força automática que a move pelos movimentos de que é realizado por uma criança, como efetivamente foi feito pelo capaz, esses movimentos inscritos em sua estrutura pela capital noséculo XIX. arte do engenheiro eque substituem os procedimentos, os Para Marx, trabalho desprovido de conteúdo, apendici- hábitos.a destreza da rnão.''" zado à máquina, etrabalho operário são rigorosamente si- "Regozijo-me ao ver que a ciência promete agora res- nônimos, e isso capta perfeitamente opapel reservado ao gatar este ramo da indústria dos caprichos do trabalho trabalho vivo quando o capital encontra a sua base tééni- manual e colocá-lo, como os demais, sob o domínio do ca adequada, ou seja, a máquina. Éa partir dessa forma mecanismo autométíco.?" mais desenvolvida do trabalho que surge acontradição do "(...) sempre que um processo requer destreza e fir- capital consigo mesmo, que se abre para ahumanidade a meza de mãos peculiares, ele é retirado o mais rapida- possibilidade (e a necessidade) de uma forma superior de mente possível das mãos do trabalhador habilidoso, que organização social. Ressaltamos que a contradição por tem tendência acometer irregularidades de muitos tipos, e excelência é fruto da completa ausência de saber operá- é posto sob o comando de um mecanismo específico, tão rio, ou seja, a negação do saber operário pelo capital leva auto-suficiente que até uma criança pode controlar oseu a uma forma de luta superior, na qual não se discute o funcionamento,'?" processo de trabalho, coisa já assentada, mas sim autili- "A máquina já não tem nada de comum com o instru- zação social da máquina. mento dotrabalhador individual. Distingue-se por completo A natureza da contradição em que se move o capital é da ferramenta que transmite a atividade do trabalhador ao explicitada de forma muito feliz por Donald Weiss: "Para objeto. De fato, a atividade manifesta-se muito mais como Marx (.•.) o mesmo processo - produção automatizada - pertence da máquina, ficando o operário a vigiar a ação que desumaniza o trabalhador de fábrica sob relações so- 22 Revista deAdministração deEmpresas ciars capitalistas pode, dadas novas relações SOCiaiS, combinada para tudo que saísse daoficina. Limitávamos a emancipá-lo. A escravidão do trabalho defábrica édevida produção a cerca de um terço, acho eu, do que podería- à sua extrema simplicidade; e a extrema simplicidade mos ter feito. SenUamo-nos justificados fazendo isso em desse trabalho está radicada, em contrapartida, nofato de .virtude do sistema de tarefa - isto é, da necessidade de que o trabalho trsico humano se tornou um componente marcar passo no sistema de tarefa (••.)."'" Sobre omarca- muito menos significativo na produção. Em outras pala- passo, seu grande inimigo, afirma Taylor: "A maior parte vras, justamente porque o capitalismo industrial reduz o do marca-passo sistemático éfeita pelos homens com de- trabalho qualificado a trabalho não-qualificado, deve ser liberado propósito de manter seus empregadores igno- considerada uma tendência para tornar o trabalho indus- rantes de como otrabalho pode ser feito rápido."29 trial cada vez mais supérfluo. Em outras palavras, a so- ciedade como um todo necessita despender cada vez Como já colocamos em trabalho anterior, "o problema menos de seu tempo na produção fabril. Por fim, Marx localizado por Taylor éque 'os trabalhadores estão atados pensou, isto só pode ter um único resultado: a noção de aos reais processos de trabalho', como afirma Braverman. que uma classe inteira de pessoas deve gastar suas vi- Ora, esta não é outra senão aproblemática da dependên- das confinadas àescravidão parece cada vez menos de- cia do capital frente ao trabalho vivo. Recoloca-se essa fensável (.•.). Em resumo, para Marx, a divisão entre tra- questão, portanto, em uma fase mais avançada do desen- balho mental e trabalho material pode agora, finalmente, volvimento do capitalismo". 30 Nossa "redoma de vidro" ser abolida; e por uma razão muito simples: o trabalho voltou à sua posição original! O "saber operário" ressurge material está-se tornando crescentemente obsoleto. Para das cinzas, e não como ficção, mas como coisa real. Es- Marx, isto significa que abase funcional das distinções de tamos diante de algo que vai moldar uma importante parte classe está sendo erodida pelo desenvolvimento capita- da indústria do nosso século, eque deve ser compreendi- lista. A distinção essencial entre uma classe dominante e do nasua especificidade: oatraso tecnológico da indústria uma classe dominada é, para Marx, aquela entre uma metal-mecânica. classe que monopoliza as funções, mentais/direcionais e uma classe que está confinada à esfera do trabalho ma- Vejamos mais de perto o reaparecimento da "redoma nual. de vidro" em sua posição original. Taylor está-se referindo Na medida em que o desenvolvimento capitalista torna. ao comportamento dos torneiros mecânicos, operadores o trabalho manual cada vez menos necessário, as clas- de tornos manuais, ou tornos universais; ora, o torno ma- ses perdem sua peculiaridade histórica e seu propósito. nual é o exemplo mais rico da chamada máquina-ferra- Chegamos, portanto, à conclusão de que a crescente ob- menta universal, a qual "leva inexoravelmente à necessi- solescência da divisão industrial do trabalho, determinada dade de um trabalhador qualificado, cuja formação guarda pelo crescimento da produção automatizada sob ocapita- analogias com oartesanato medieval". Vejamos, através 31 lismo, é, ao mesmo tempo, a chave para o estabeleci- de textos de José Ricardo Tauile, o conjunto das opera- mento de uma sociedade sem classes". 28 ções quedevem ser efetuadas pelo torneiro mecânico: O capitalismo, com a introdução da maquinaria, trouxe para a História da humanidade aquilo que o gênio de "Devido às freqüentes mudanças do produto de seu Aristóteles apontava como a forma (para ele impossrvel) trabalho (pequenas séries, lotes e peças sob encomen- de negação da escravidão: "Com efeito, se cada instru- da), os oficiais mecânicos operadores de máquinas-fer- mento pudesse, a uma ordem dada ou apenas prevista, ramenta universais precisam ter muita destreza manual e executar sua tarefa (conforme se diz das estátuas de Dé- experiência prática que se acumulam através do tempo, dalo ou das tripeças de Vulcano, que iam sozinhas, como tornando-os profissionais melhores e mais valorizados. disse opoeta, às reuniões dos deuses), se as lançadeiras Junto à máquina-ferramenta, recebem de seus superviso- tecessem as toalhas por si, se o plectro tirasse esponta- res diretos os desenhos e instruções e dos serviços de neamente sons da crtara, então os arquitetos não teriam apoio, as peças em bruto e as respectivas ferramentas, necessidade cJetrabalhadores, nem os senhores, de es- cames e dispositivos. Interpretam os desenhos, estudam cravos"." as instruções e revêem oferramental afim de verificar se, Não foi por outra razão que o socialismo se colocou de acordo com seu conhecimento prático e sua própria como a questão fundamental da humanidade a partir da conveniência, devem ser alterados ou corrigidos. Se for o segunda metade do século XIX. caso, dependendo da extensão das modificações, ins- Mas se já assentamos o fato de que a base técnica truem a ferramentaria, requisitam a presença do profissio- adequada ao capital toma o trabalho humano imediata- nal responsável pelo projeto (ou pelo programa de produ- mente aplicado àprodução uma coisa supérflua, eliminan- ção) para executá-Ias, ou prosseguem executando o tra- do de vez o saber operário, como entender a conhecida balho à sua maneira. Sua importância na produção étão contenda entre o famoso Frederick Winslow Taylor e os grande que são freqüentes as consultas que lhes são fei- torneiros mecânicos da Midvale Stell Works, no final do tas por parte dos departamentos de projeto e planeja- século XIX? Tendo sido torneiro, Taylor conhecia em de- mento da produção, a fim de confirmar sobre aviabilidade talhe aprática das oficinas: "A oficina da Midvale Steel era da execução de sua peça, desta ou daquela maneira. '0 de trabalho por tarefa (.•.). Nós que éramos os operários mecânico constitui-se em uma ligação vital natransforma- daquela oficina Unhamos a· produção cuidadosamente ção dos conceitos do projetista em uma peça efetiva.' "Redomadevidro" 23 Após exercer suas habilidades quanto à capacidade de exato permitido para isso (...). A gerência cientffica con- conceoção do próprio trabalho, eles passam efetivamente siste amplamente em preparar as tarefas e sua execu- a executá-lo. Quando então fixam a peça e as ferramen- ção".· Como já dissemos, o taylorismo representa uma tas na máquina, acionam alavancas, manivelas e demais forma diferente de reação do capital à questão historica- comandos que estabelecem as posições relativas entre a mente recolocada de sua dependência frente à habilidade peça ea ferramenta, introduzem as velocidades deavan- do trabalho vivo; "ao invés de subordinar o trabalho vivo, ço e de corte, ligam o fluido refrigerante, etc., e,durante a através do trabalho morto, pelo lado dos elementos objeti- usinagem, novamente anos de experiência são necessá- vos do processo de trabalho, o capital lança-se para do- rios para visualizar potenciais problemas eresponder cor- minar o elemento subjetivo em si mesmo. Esta 'façanha' retamente quando surgem. Uma pequena mudança nacor do capital significa, em uma palavra, a busca da transfor- do cavaco pode significar que uma peça inteira irá depe- mação do homem em máquina"." nar; uma breve diferença no som da mâquina-ferramenta Interessante éobservar que, se bem que as origens do pode resultar em uma peça refugada."· taylorismo estejam na tornearia mecânica, é justamente Com tanto espaço reservado ao trabalho imediato, o nessa atividade que as limitações inerentes aotaylorismo tomo universal é uma máquina-ferramenta com caracte- aparecem de forma mais contundente. Ora, como épossf- rlsticas radicalmente distintas da máquina-ferramenta no vel, a um só tempo, manter um trabalho exigente de quali- sentido dado por Marx: "a máquina-íeramenta é um me- ficação profissional e transformar o trabalhador em máqui- canismo que, uma vez que se lhe transmite o movimento na? É evidente que não é possfvel, como nos esclarece adequado, executa com suas ferramentas as mesmas J.R. Tauile, ao comentar sobre o trabalho junto às máqui- operações que antes executava o trabalhador com outras nas-ferramenta universais em nossos dias: "As caracte- ferramentas semeíhantes":" "A máquina já não tem nada rlsticas de flexibiUdade e versatilidade de seu uso na pro- de comum com o instrumento do trabalhador individual. dução de unidades individuais (por vezes complexas pe- Distingue-se por completo da ferramenta que transmite a ças sob encomenda), lotes e pequenas séries exigem do atividade do trabalhador ao objeto. De fato, a atividade oficial mecânico, seu operador, um adestramento longo, manifesta-se muito mais como pertence da máquina, fi- que se aperfeiçoa continuamente em consonância com cando o operário a vigiar aação transmitida pela máquina sua prática profissional, mesmo muito após haver concluf- às matérias-primas, e a protegê-Ias das avarías,'?' Como do seu treinamento formal. Por isto mesmo, ocupam um já afirmamos em outro trabalho, o torno manual deve ser lugar estratégico na produção manufatureira, sendo muito considerado "uma ferramenta, e não uma máquina slrieto valorizados no mercado de trabalho e, freqüentemente, sensu. Isto porque a função da máquina, desde seu apa- encontram-se entre os mais militantes do movimento poll- recimento e grande difusão nos séculos XVIII eXIX, sem- tico/sindical. COnscios e orgulhosos de sua formação pre foi a de substituir aação humana noprocesso produti- profissional, capazes de planejar e ditar o ritmo de suas vo; ora, o torno manual não substitui a ação humana, e próprias atividades, estes trabalhadores não se subme- sim faz a necessária mediação entre o homem e a maté- tem, por exemplo, aos princípios de racionalização econ- ria, como, por exemplo, ocinzel doescultor'." trole da produção, propostos pelotaylorismo,"· Se conseguimos caracteriZar avolta do saber operário, Quando o trabalho se mantém como trabalho prenhe e de seu corolário, a"redoma de vidro", em seu lugar de conteúdo, o taylorismo mostra-se pouco eficiente (ou original, a proposta de Taylor para resolver oproblema do muito ineficiente). Écomo se o buraco aberto na"redoma marca-passo sistemático foi bastante diferente da resolu- de vidro", para o caso dos oficiais mecânicos, fosse reite- ção clássica. Na forma clássica (e mais desenvolvida), a radamente tapado pelos operários qualificados, os quais solução foi mudar a redoma de lugar: tirá-Ia de cima do "detêm os conhecimentos em formações necessários à trabalhador e colocá-Ia sobre a máquina, deixando o tra- execução das peças, e, conseqüentemente, controlam balhador de fora. Como Taylor trabalhou como torneiro seu processo detrabalho"." mecânico, tendo todavia uma origem e um destino não Podemos concluir que a eficiência dos métodos taylo- proletários, o que ele fez foi entrar dentro da redoma, ob- ristas é maior quanto menos conteúdo tiver otrabalho ma- servar as atitudes dos operários sapientes, contrários ao nual. Ainda que a transformação do homem em máquina interesse do capital, e, ao sair, passar as informações ao apresente um limite óbvio na simples constatação de que capital e propor uma solução pela via da organização eda o homem não é máquina, é evidente que, quanto mais es- disciplina do trabalho. Continuando com nossa ilustração, vaziado de conteúdo o trabalho (mantido como unidade é como se, ao invés de mudar a redoma de lugar, o que dominante do processo de trabalho), maior a eficiência implicaria uma substituição radical dos trabalhadores pe- potencial dos despóticos métodos tayloristas de "controle las máquinas, tivesse sido aberto um buraco na redoma de de todos os tempos emovimentos dotrabalhador, ou seja, vidro, através do qual ocapital pudesse olhar emanipular. de controle detodos os passos do trabalho vivo". «l Como dizia Taylor, "é preciso que atarefa detorneiro seja Um outro aspecto importante que podemos extrair das planejada inteiramente com um diade antecedência, eca- considerações de Tauile éo seguinte: ao mesmo tempo da homem deve receber instruções completas, pormeno- em que os novos trabalhadores sapientes são "cônscios rizando atarefa que deve executar, assim como os meios e orgulhosos de sua formação profissional", "encontram- aserem utilizados aofazer otrabalho. Deve-se especificar se entre os mais militantes do movimento polftico/sindi- não apenas o que deve ser feito, mas também o tempo cai". Se, como vimos anteriormente, o trabalhador dotado 24 Revista deAdministração deEmpresas de saber operário no início do capitalismo realizava uma (,••) Ocargo de reunir todo o conhecimento tradicional que luta conservadora contra o capital, e se, para Marx, ''tra- no,passado ·foi possufclo pelos trabalhadores e ainda de .balho desprovido de conteúdo, apendicizado àmáquina, e classificar, tabular e reduzir esse conhecimento a regras, trabalho operário são rigorosamente sinOnimos", qual o leis efórmulas (•.•)••••• caráter da luta poI/tico-sindical dos trabalhadores sapien- 1es de nossos dias? Não poderia ocorrer uma repetição, 2. Separação de concepção e execução. "Todo possível fora do tempo, da luta dos trabalhadores dos primeiros trabalho cerebral deve ser banido daoficina ecentrado no tempos do capitalismo, lastreada nas prerrogativas doofí- departamento de planejamento ouprojeto."" cio? Esse caráter da luta não poderia se materializar em lutas simplesmente econOmicas enaabsoluta falta decla- 3. Utilização domonopólio doconhecimento para controlar reza a respeito da forma social pelaqual propugnar, oque cada fase do processo de trabalho e seu modo de exe- poderia dar àlutapolftico-sindical umcaráter conservador, cução: "Talvez o mais proeminente elemento isolado na às vezes dificilmente perceptrvel? gerência científica moderna seja a noção da tarefa. Otra- Em nossos dias, em função do desenvolvimento da balho de todo operário é inteiramente planejadO pela microeletrOnica e de sua aplicação nos bens de capital, gerência pelo menos com umdiade antecedência. ecada observa-se um revolucionamento nos processos mecâni- homem recebe, na maioria dos casos. instruções escritas cos de fabricação. As flexíveis máquinas-ferramentas uni- completas, pormenorizando a tarefa que deve executar. versais éstão sendo substituídas pelas máquinas-ferra- assim corno os meios a serem utilizados aofazer otraba- menta de controle numérico (MFCN). Através das MFCN, lho (...). Esta tarefa especifica nãoapenas oquedeve ser a "redoma de vidro" que o taylorismo não conseguiu des- feito e o tempo exato permitido para isso (...). A gerência truir, que protegia os mecânicos qualificados, é mudada científica consiste muito amplamente em preparar as tare- radicalmente de lugar, de forma idêntica àquela que vimos fas esua execução. "48 para o caso do tear. A redoma é agora colocada sobre a máquina (MFCN), e quem fica de fora, apendicizado, éo Quando cotejamos esses princípios com afirmações operador. Corno afirma Tauile, "o trabalho deste operador corretas como esta, de Lundgren, que "controle numérico. fica agora reduzido a 'alimentar' o equipamento com ape- pela sua própria natureza, impõe o planejamento (...) [e]a ça em bruto e com as devidas ferramentas, 'zerar' a má- transferência. tanto quanto possível. do planejamento e quina antes do início da operação. apertar obotão de par- controle da oficina para o escritório", ÇT parece que a co- tida e vigiar o processo demodo aparalisá-lo naeventua- locação de Tauile é correta. A nosso juízo. ainda que não lidadededesgate excessivo daferramenta edequebra do retire daítodas as conseqüências relevantes, arazão está equipamento:'" Exatamente como ocorreu com o tear com Braverman, quando afirma que "a maquinaria é utili- mecânico na virada do século XVIII para o século XIX. a zada para enfrentar os próprios problemas daoficina com MFCN transfere as habilidades do trabalhador para amá- os quais Taylor se debateu por tantos anos.":" Ora, se a quina: "(...) ocorrerá (com a introdução das MFCN) um cientificização do processo de trabalho, que leva à radical declínio da necessidade de mecãnícos qualificados para separação entre concepção e execução, fosse sinônimo um dado nível do produto. Isto será facilitado pela trans- de taylorismo, como afirma Tauile, então teríamos que ver. ferência de habilidades e conhecimentos da mente do por exemplo. o stocking-frame de 1598 como manifes- mecânico para a 'inteligência' armazenada nocomputador tação acabada dotaylorismo! Como otaylorismo busca "a ounafitadecontrole.":" transformação do homem em máquina. enão utilização da máquina", então a MFCN significa. isto sim. a superação Observe-se como essa parcela significativa da indús- radical do taylorismo ao nível das máquinas-ferramenta tria moderna, os processos mecânicos de fabricação. universais. Se. nesse caso, otaylorismo era, como vimos. apresentava um conjunto de processos de trabalho de bastante ineficiente, oque aMFCN naverdade supera (e- caráter extremamente atrasado, e começa apenas em limina).é o "saber operário" próprio dos operadores das nossos dias a ajustar-se ao princípio da maquinaria expli- MFU. Corno já mencionamos, no caso das máquinas-fer- citado por Marx. ramenta utilizadas nos processos mecânicos da fabri- Vejamos agora corno uma compreensão equivocada, cação. somente em nossos dias a "redoma de vidro" é do taylorismo pode originar opiniões discutíveis acerca da colocada sobre as máquinas, coisa quea indústria têxtil já introdução das MFCN. J. R. Tauile afirma que "o uso de havia realizado noséculo XVIII. MFCN pressupõe a adoção de praticamente todos os Se é verdade o que afirmamos acima, que, "quanto princípios tayloristas na automação de atividades produti- mais esvaziado de conteúdo o trabalho (mantido como vas que anteriormente eram em grande parte executadas unidade dominante do processo de trabalho), maior a efi- por trabalhadores aHamente qualificados com auxRio de ciência potencial dos despóticos métodos tayloristas .;.", máquinas-ferramenta universais."" Aprofundemos um então foi na linha de montagem fordista que esses méto- pouco essa questão, explicitando os princípios estabele- dos encontraram um Iocus privilegiado. Como afirma Co- cidos porTaylor (seguindo Braverman): riat, "Ford, mediante aintrodução da cadeia demontagem, leva a cabo um desenvolvimento criador do taylorismo 1.Dissociação do processo de trabalho das especiali- que o leva - do ponto de vista docapital- auma espécie dades dos trabalhadores: "O administrador assume de perfeição."" Com referência ao conteúdo do trabalho "Redoma devidro" 25 na linha de montagem, ésempre bom lembrar as palavras "'Vá, agora, você' me diz Mulud. 'Você viu como se deve a de Henry Ford: "Quanto ao tempo necessário para fazer.' E ele me entrega o maçarico e o bastão de esta- aprendizagem técnica, a proporção éaseguinte: 43% não nho.'.(...) Não! Assim não! Ebote as luvas, senão você se requerem mais que um dia; 36% requerem de umdia aoi- queima. Ei! Atenção com o maçarico! Me dê (...).' Éodé- to; 6%, de uma a duas semanas; 14%, de um mês a um cimo carro com oqual eu me esgrimo em vão. Mulud faz o ano; 1%, de um a seis anos. Esta última categoria de tra- possível, adverte-me, guia minha mão, passa-me o esta- balhos requer grande perícia como a fabricação de ins- nho, segura omaçarico, não consigo. De uma vez, inundo trumentos e a calibragem."5o Observe-se que os traba- o metal de estanho porque pus o maçarico perto demais lhos que requerem "grande perícia" nãoestão incluídos na do bastão e durante muito tempo. Mulud tem que raspar montagem, e sim nos processos mecânicos de fabri- tudo e refazer aoperação precipitadamente quando ocar- cação, os quais já comentamos. rojá está quase saindo de nossa zona. De outra vez, não ponho estanho bastante e o primeiro movimento da espá- Considerando, como temos feito reiteradamente, que a tÚla faz reaparecer a fenda que devia çobrir. E quando, linha demontagem éum "desenvolvimento da manufatura, por milagre, ponho uma quantidade mais ou menos con- e não da máquina", levando, "ao limite as possibilidades veniente de estanho, espalho-a tão desajeitadamente - de aumento da produtividade pela via da manufatura, do ah, essa maldita espátula que meus dedos recusam-se trabalho parcelar,"51 então o trabalho humano continua obstinadamente a dominar! - que a solda toma jeito de como unidade dominante do processo de trabalho. Ainda uma montanha russa, exibindo um infame caroço no lugar que o trabalho seja desqualificado, os movimentos huma- em que Mulud conseguia realizar uma curva perfeitamente nos constituem a base de todo o processo. E esses mo- lisa. Confundo a ordem deoperações: 'é preciso pôr as lu- vimentos são "extremamente simples tendo em conta o vas para usar o maçarico, tirá-Ias para usar a espátula, potencial de ação. do ser humano", mas são suficiente- não tocar o estanho em brasa com a mão nua, segurar o mente complexos para serem feitos por máquinas. Em bastão com a mão esquerda, o maçarico com a direita, a nossos dias, o aparecimento do robô tem permitido subs- espátula com a direita, as luvas que se acaba de tirar, na tituir alguns desses movimentos, ejá se pode vislumbrar esquerda, juntamente com o estanho. Tudo parecia sim- uma linha de montagem inteiramente automatizada. ples quando Mulud o fazia, com gestos exatos, coordena- dos, sucessivos. Eu...eu não, não consigo, entro em pâ- Como fica a nossa ilustração da "redoma de vidro" pa- nico; 10vezes, estou aponto de me queimar eéum gesto ra o caso das linhas de montagem? Antes da introdução rápido de Mulud que afasta achama."53 da esteira de Ford, a produção do automóvel estava for- temente impregnada de saber operário, como nosescla- Realmente, qualquer tentativa de valorizar o skill dos rece Francesca Maltese: "(...) [na indústria automobilísti- trabalhadores das linhas de montagem representa um ca] todos os componentes eram contratados fora. Apenas desserviço à classe trabalhadora; a iniqüidade imanente a montagem e o projeto (design) de algumas partes eram ao trabalho nos moldes fordistas deve ser sempre de- feitos na fábrica. Na fábrica os trabalhadores operavam nunciada. O sindicalismo, estreito por definição, que leva como uma equipe. Eles planejavam aprodução, resolviam a valorizar o trabalho desprovido de conteúdo com objeti- problemas de(design) econstruíam os carros inteiros jun- vos salariais, ademais de inócuo, é politicamente conser- tos como uma unidade. Esta era a maneira pela qual eles vador, pois magnifica otrabalho degradado pelo capital. aprenderam afazer bicicletas, e foram essas as relações Vejamos agora como fica a nossa "redoma de vi- de trabalho que eles trouxeram para os carros.'?" A intro- dro" no caso da linha de montagem fordista. Por um lado, dução da linha de montagem significou uma mudança re- ao tornar o trabalho desprovido de conteúdo, ocapital reti- volucionária na organização do trabalho (enão instrumen- rou a "redoma de vidro" que protegia os trabalhadores sa- tos de trabalho), varrendo o trabalho complexo da monta- pientes da fase pré-fordista da montagem; todavia, não gem do automóvel. Todavia, como a linha de montagem é colocou a mesma "redoma" sobre uma máquina, posto "uma [grande] máquina cujas peças são homens" (usando que a linha de montagem não passa de "uma máquina cu- a definição de Ferguson para a manufatura), o trabalho jas peças são homens." Como afirmamos em trabalho an- humano não se tornou apendicizado à máquina (não exis- terior: te máquina no caso), mas sim continuou a unidade domi- "(...) a colocação de Marx de que, a partir da introdução nante do processo. Isto trouxe um renascimento daquali- da maquinaria, o trabalho vivo se submete ao trabalho ficação (que desapareceu) na forma de habilidade (s- morto, ou seja, que aquestão da qualidade e do ritmo do kill). Não é qualquer pessoa que consegue realizar com processo se desloca do trabalho para amáquina,.aparen- proficiência os movimentos exigidos em uma linha de temente se aplica tamoém à linha de montagem (fordis- montagem! É necessária alguma habilidade, e, ademais mo). Mas, só naaparência, sendo todavia esta aforma de disso, como o processo produtivo é empírico, não passí- sua manifestação ao nível da consciência do trabalhador vel de análise científica, os trabalhadores podem ter, ato- individual. Para esse trabalhador individual, colocado em do instante, sugestões nosentido de aumentar aeficiência um determinado posto de trabalho de uma indústria de de seu trabalho. A necessária habilidade do trabalhador da grande porte, o caminho da esteira, e, portanto, a intensi- linha émagnificamente ilustrada por Robert Unhart quando dade do seu trabalho, parece algo imanente à própria es- relata sua experiência na linha de montagem da Citroen: teira, como se brotasse mesmo da materialidade daestei- 26 Revista deAdministração deEmpresas ra. Isto acontece com o sistema de máquinas, na medida extraiu o saber, elaborou edevolveu-o em uma forma par- em que, através da ciência, se lhe confere um movimento celada. Na forma parcelada, o trabalhador deixa de ter o próprio de transformação do objeto de trabalho (daI a su- domlnio. Deixa, porém, relativamente, porque de fato ele perfluidade do trabalhador). Já no caso da esteira, se pen- precisa ter certo domfnio, e essa é a contradição básica sarmos no conjunto da linhá em analogia com a máquina, da produção cepitaüsta.?" as ferramentas dessa máquina são os trabalhadores com A clareza da citação do Prof. Saviani ilustra muito bem as ferramentas de trabalho. O ritmo do processo de traba- o grave equIvoco desta abordagem crftica do capitalismo, lho não é uma propriedade técnica da esteira, mas sim al- infelizmente bastante disseminada. A não-compreensão go a ser posto em discussão a cada momento pelo traba- da natureza da máquina e a generalização para toda in- lhador coletivo (posto que se supere anível dotrabalhador dústria capitalista da forma atrasada que é a linha de individual)."54 montagem fordista levaram aidentificar uma caracterfstica imanente a essa forma como sendo "a contradição básica Das considerações acima, pode-se concluir sem difi- da produção capitalista". Trata-se de lamentável desvir- culdade que na linha de montagem fordista não há "redo- tuamento da natureza da contrariedade em que se move o ma de vidro". Trata-se de uma permanente "queda de capital, já comentada neste artigo eposta com clareza por braços" entre capital e trabalho, sendo que o capital não Marx nos seguintes trechos dos Grundrisse: tem a segurança de qualidade e ritmo dado por uma má- "O intercâmbio de trabalho vivo por trabalho objetivado, quina, tendo que administrar os tempos e movimentos de quer dizer, a colocação do trabalho social sob aforma da um imenso coletivo de trabalhadores, e os trabalhadores antrtese entre o capital e o trabalho, é o último desenvol- não têm o conhecimento como elemento protetor, neces- vimento da relação de valor e da produção fundada no sitando de uma ação coletiva para contrarrestar atendên- valor. O pressuposto desta produção é,econtinua sendo, cia do capital pela intensificação do trabalho. Os interes- a magnitude de tempo imediato de trabalho, oquantum de santes e importantes desdobramentos da organização do trabalho empregado como ofator decisivo naprodução da trabalho em linha de montagem, fundamentalmente sua riqueza. Na medida, sem embargo, em que a grande in- caracterlstica de "espaço privilegiado para a psicologia". dústria se desenvolve, a criação da riqueza efetiva se tor- têm sido estudados pelo colega Felipe Luiz Gomes e SiI- na menos dependente do tempo detrabalho edoquantum va.1II5 de trabalho empregados, que do poder dos agentes pos- A "redoma de vidro" ressurgirá na linha de montagem tos em movimento durante o tempo de trabalho, poder quando esta perder sua característica fordista, através da que, por sua vez - seu powerful effective ness - não automação (necessariamente microeletrônica). Como guarda relação alguma com o tempo de trabalho imediato afirmamos em trabalho anterior, escrito em conjunto com o que custa sua 'produção', senão que depende, isto sim, Prof. Felipe, "através da introdução da microeletrônica, do estado geral da ciência e do progresso da tecnologia, basicamente via robotização, a linha de montagem trans- ou da aplicação desta ciência à prooução.?= forma-se em um sistema de máquinas (...) através dela (da automação de base microeletrõnica), a montagem "O capital mesmo é a contradição em processo, pelo ajusta-se, de forma abrupta, ao princfpio da maquinaria fato de que tende a reduzir a um mínimo o tempo de tra- estabelecido por Marx". 511 balho, enquanto que, por outro lado, põe o tempo de tra- Finalizamos este artigo apresentando uma citação que balho como única medida efonte de riqueza. Diminui, pois, ilustra muito bem a importância de ter claros .aspectos o tempo de trabalho na forma de tempo de trabalho ne- aqui discutidos: cessário, para aumentá-lo naforma de trabalho excedente; põe, portanto, em medida crescente, otrabalho excedente "(...) o taylorismo é justamente o mecanismo através como condição - question de vie et de mort - do neces- do qual a classe dos capitalistas se apropria do saber dos sário. Por um lado, desperta para avida todos os poderes trabalhadores, desapropria estes trabalhadores do saber, e da ciência eda natureza, assim como da cooperação edo se torna dona desse, devolvendo-lhes na forma parcela- intercâmbio sociais, para fazer com que a criação da ri- da, o que quer dizer que só os capitalistas, só aqueles queza seja (relativamente) independente do tempo de tra- que têm controle da empresa, passam adominar o saber balho empregado nela. Por outro lado, propõe-se a medir, em seu conjunto. O trabalhador conhece só determinada com o tempo de trabalho, essas gigantescas forças so- parte. Isto impede que os trabalhadores sejam os pro- ciais criadas dessa forma, e reduzi-Ias aos limites reque- prietários do saber, saber este que éforça produtiva, éum ridos para que o valor já criado se conserve como valor. meio de produção. É esta a essência do modo de produ- As forças produtivas e as relações sociais - umas e ou- ção capitalista, a propriedade privada dos meios de pro- tras aspectos diversos do desenvolvimento do mesmo in- dução (...). Quem trabalha (no sentido de transformar a divIduo social - se lhe aparecem para o capital apenas matéria) é o trabalhador, então se é o trabalhador que' como meios, não são para ele mais que meios para pro- transforma, éele que sabe transformar; logo, oproprietário duzir fundando-se em sua mesquinha base. Infact, porém, do saber éele,então ele éoproprietário da força produtiva. constituem as condições materiais para fazer saltar essa Sendo proprietário da força produtiva, ele não vai deixar base pelos ares."!!8 queocapitalista se aproprie da mais-valia, do lucro do seu A consideração equivocada do taylorismo e do fordis- trabalho. Então, o taylorismo fez exatamente o seguinte: mo como a forma por excelência da produção capitalista, "Redomadevidro" 27 denunciada em nossa tese de Doutorado, éexemplarmen- 15Ure,A.op.cit.p.17. te explicitada por Robert Linhart quando afirma que "numa ,'Palma, A. la organización capitalista dei trabajo en Eicapital de análise do modo de produção capitalista 'puro', a 'organi- Marx. In: Palma, A.etalii. La divisi6n capitalista dei trabajo. CórdO'- zação científica dotrabalho' de Taylor éaque se encontra ba, 1972. p.20. (Cuadernos dePasadoyPresente, 32.) I melhor colocada para encarnar o processo de trabalho ,7Marx, K. EIcapital. 8. ed. México, Fondo de Cultura Económica, capitalista, reconduzido à sua essência.'?" Uma das con- 1973. p.300. seqüências fundamentais desse equívoco é enxergar co- "Mantoux, P.op.citop. 174. mo progressista a recomposição do saber operário nas li- "Ure, A.op.citop.7. nhas de montagem, através dos "grupos semi-autôno- 2°ld.ibid. p.16-7. mos". Esta proposta esquece que a essência do proces- so de trabalho capitalista é, isto sim, a negação do traba- 2'Marx, K. Elementos fundamentales para lacttuce de laeconomia polltica (Grundrisse) 1857-1858. 7. ed. México, Siglo Veintiuno, lho vivo; e que esta essência abre aperspectiva dese al- 1978. p.218. cançar um estágio mais desenvolvido na sociedade hu- 22Marx,K.EIcapital. op.cit.p.349. mana, pois desescraviza o homem da produção material. Nesse sentido, aautomação de base microeletrônica, tan- 23Marx,K.Elementos fundamentales... op.citop.221. to nos processos mecânicos de fabricação como nas li- uld. ibid. nhas de montagem, que coloca aimportante indústria me- 25Vários autores. A enciclopédia - textos escolhidos. Lisboa, Es- tal-mecânica no "leito da automação, noqualjá caminham tampa, 1974. p.123-4. há muito tempo ramos industriais tecnologicamente mais avançados"." significa um passo histórico importante, pe- 2'Weiss, D. Marxversus Smithonthedivision of labor. Monthly Re- view, NewYOrk,28(3):109-10, July/Aug. 1976. lo fato de eliminar definitivamente, e de uma forma pro- 27Aristóteles.Apolllica. gressista, essa aberração do século XX, otaylorisrno/for- dismo. 2"Apud, Braverman, H. Trabalho e capital monopolista. RiodeJa- neiro,Zahar, 1977. p.88. 2"Apud, Braverman, H.Op. citop.92. 30Moraes Neto, B.A. Marx, Taylor, ForrJ- umadiscussão sobre as forças produtivas capitalistas. Tese de doutoramento. Campinas, Universidade Estadual deCampinas, Institutolde Economia, 1984. p. 18. 3'Moraes Neto, B. A.Automação de base microeletrOnica eorgani- zação dotrabalho na indústria metal-mecânica. Revista deAdminis- traçáo de Empresas, Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 26(4):35-40, out./dez. 1986. 32Tauile, J.A. MdquinaS-ferramenta com controle numérico (MFCN) e seus efeitos sobre a organização da produção: ocaso brasilei- ro.Universidade Federal do RiodeJaneiro, InstitutodeEconomia In- 'Marx, K. O capital. São Paulo, Abril, cultural, 1983. p. dustrial, out. 1983. p.23-4. 257. 3'Marx, K.EIcapital. op.citop.304. 2Marx, K. Cepãuk: inédito d'O capital. Porto, Escorpião, 1975. p. 75. 34Marx,K.Elementos fundamentales... op.cit.p.21.8. "Id. Ibid. p. 75. '5Moraes Neto,B.A. Automação debasemicroeletr6nica ...cit. 4Marx, K. Formaç6es económicas pré-capitalistas. Rio de 3"Apud, Braverman, H.op.cit.p.108. Janeiro, Paz e Terra, 1975. p. 92. 37MoraesNeto,B.A.Marx, Taylor,ForrJ... op.cit.p.23. "Id. Ibid.p.73. '"Tauile, J.A. op.cit.p. 1. "Aristóteles. Metafísica. São Paulo, AbrilCultural, livroI,p. 13. (Os .Pensadores.) "Id. ibid. p.2. 7Quando de sua critica à rigidez do regime dascorporações, Adam 4°Moraes Neto,B.A. Marx, Taylor,ForrJ... cit.p.23. Smithfornece importantes indicações sobreaextensão doperfodode aprendizado. CF. Smith, A. Riqueza das naç6es. São Paulo, Abril 4'Tauile, J.A. Microelectronics, automation and economic develop- Cultural. p.105-6. (OsPensadores.) ment. Tese (Ph.D.) New York, New School for Social Research. Transcrita emProfessor vê compensações comfunções novas.Data- "Marx, K. Daideologia alemã. In:Formaç6es... op.cit.p.120-1. news, p.25, 1983. "Marx, K.Ocapital. op.citop.266. 42Tauile, J.A. Máquinas-ferramenta comcontrole numérico... op.cit. p.2. ,°Mantoux, P.Larevolución industrial enelsigloXVIII.Madrid, Agui- lar,1962. p.44. uTauile, J.A. Datanews, citop.25 "Cf. Mantoux, P.op.cil p.36-7. UBraverman, H.op.cit.p.103. uld. ibid. p.49. 451d.ibid. 13Ure,A. Thephilosophyofmanufactures. london, 1835. Trad. WiI- liamAsbury (cap. 1).São Paulo, Universidade Federal deSão Cer- 4'ld. ibid. p. 108 los,p,2. 47ApudTaulle, J.A. M~quinas-le"ainenla com controle numériCO I4Mantoux, P.op.cit.p.36. op.cit.p.3. 28
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