Das oito pessoas que viveram escondidas com Anne Frank no anexo de um armazém em Amsterdam, durante dois
anos da Segunda Guerra, apenas uma resistiu à barbárie dos campos de extermínio: o pai de Anne Frank, que se encarregou de publicar os diários da filha sobre o período em que viveram reclusos. Em O anexo, a escritora inglesa Sharon Dogar faz com o personagem Peter van Pels, de quinze anos, o que Otto fez com Anne: dar a oportunidade para que “fale” sobre a vida naquele ambiente claustrofóbico. Dogar inverte a perspectiva do diário da menina judia, fornecendo uma nova visão sobre os dois anos em que os Frank e os Van Pels (que Anne chamava de Van Daan em seus escritos) se esconderam perdas é a perda do amor. Para a autora, o fim do amor abre uma fissura na realidade
por onde se introduzem as forças às vezes terríveis que nos habitam e que não conhecemos plenamente. Elas desencadeiam fatos que roçam o extraordinário, o inexplicável, fatos que introduzem novos estágios na vida de seus atores e que por isso podem ser vistos como ocasiões de amadurecimento: diante da dor e da perda, é preciso reorganizar-se para prosseguir. Lygia Fagundes Telles nasceu e vive em São Paulo. Considerada pela crítica uma das mais importantes escritoras brasileiras, recebeu em 2005 o Prêmio Camões. Dela, a Companhia das Letras já publicou, entre outros, Ciranda de pedra, As meninas e Antes do baile verde. dos nazistas. No período em que Peter ansiava pela liberdade das ruas e Anne se dedicava com afinco ao diário, ela imagina que os dois teriam se envolvido num
romance furtivo. Para além do diário, a ficção de Sharon Dogar narra de forma comovente a chegada dos nazistas ao esconderijo, a viagem de trem até o campo de concentração — quando homens e mulheres são separados — e a luta de Peter, seu pai e Otto Frank para sobreviver ao horror dos campos. A autora recria assim uma história imperdível
para os fãs do famoso diário.