CLÁUDIA DIAS PRIOSTE O adolescente e a internet: laços e embaraços no mundo virtual Tese apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutora em Educação. Área de Concentração: Psicologia e Educação Orientadora: Profª. Dr ª. Mônica Guimarães Teixeira do Amaral. (Versão revisada. Uma versão original encontra-se na Biblioteca da FE-USP, bem como no banco de teses da USP). São Paulo 2013 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Catalogação na Publicação Serviço de Biblioteca e Documentação Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo 371.369 Prioste, Cláudia Dias A239j O adolescente e a internet : laços e embaraços no mundo virtual / Cláudia Dias Prioste ; orientação Mônica Guimarães Teixeira do Amaral. São Paulo: s.n., 2013. 361 p. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Educação. Área de Concentração: Psicologia e Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo) . 1. Tecnologia da informação - Educação 2. Tecnologia da comunicação – Educação 3. Internet 4. Jovens - Cultura 5. Psicanálise 6. Cibercultura 7. Inclusão digital I. Amaral, Mônica Guimarães Teixeira do, orient. E bem podemos dar um suspiro, ao perceber que a algun s indivíduos é dado retirar sem esforço, do torvelinho dos próprios sentimentos, os conhecimentos mais profundos, aos quais temos de chegar em meio a torturante incerteza e incansável tatear. Freud A educação seria impotente e ideológica se ignorasse o objetivo da adaptação e não preparasse os homens para se orientarem no mundo. Porém, ela seria questionável se ficasse só nisso. Adorno FOLHA DE APROVAÇÃO Prioste, Cláudia. O adolescente e a internet: laços e embaraços no mundo virtual. Tese apresentada à Faculdade de Educação da USP para obtenção do título de Doutora em Educação. APROVADO EM_______/______/_______ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. ____________________________________________________________ Instituição_________________________Assinatura__________________________ Prof. Dr. ____________________________________________________________ Instituição_________________________Assinatura__________________________ Prof. Dr. ____________________________________________________________ Instituição_________________________Assinatura__________________________ Prof. Dr. ____________________________________________________________ Instituição_________________________Assinatura__________________________ Prof. Dr. ____________________________________________________________ Instituição_________________________Assinatura__________________________ À minha avó Conceição, por ter deixado como herança a coragem em cruzar fronteiras. AGRADECIMENTOS Certamente estas breves linhas serão insuficientes para traduzir o sentimento de gratidão que tenho por aqueles que, direta ou indiretamente, fizeram parte da longa jornada de pesquisa, reflexão e escrita. Gostaria de começar agradecendo imensamente a Mônica Amaral, primeiramente, por ela ter aceitado o desafio de orientar-me em um tema novo, trabalhoso e com poucos estudos prévios. Também sou bastante grata por ela ter me impulsionado e lutado ao meu lado viabilizando a realização do estágio na França; por fim, gostaria de enfatizar o quanto sua competência e experiência, além das zelosas leituras e orientações, me auxiliaram na realização de uma análise teórica aprofundada, expandindo minha visão de pesquisa em educação. Agradeço ao filósofo Dany-Robert Dufour, que me recebeu na Universitdade Paris VIII de forma acolhedora e solícita, estando sempre disponível para ler meus ensaios, indicar bibliografias e seminários, discutir as hipóteses da pesquisa ou, simplesmente, “filosofar” sobre psicanálise, cultura e educação. Ainda na França, contei com o apoio sempre gentil de outros professores da Universidade, especialmente da Marília Amorim, a quem agradeço pelo olhar crítico e significativas sugestões. Agradeço de maneira especial à professora Darcy Raiça pelo grande incentivo e pelas importantes dicas na fase de elaboração do projeto desta pesquisa. Sou bastante grata aos professores que aceitaram compor a banca de examinadores, tanto na fase da qualificação, quanto da defesa, e trouxeram-me valiosas contribuições: Claudemir Belintane, Luiz Nabuco Lastória, Maria Cecília Cortez C. de Souza, Rodrigo Duarte e Iray Carone. Agradeço a todos os adolescentes, pais, docentes, coordenadores e diretores que aceitaram fazer parte desta pesquisa, em especial aos professores Nivaldo, Jefferson, e Rogério. Gostaria de agradecer a Roland Chemama e Mônica Bueno, auxiliando-me a desvendar os enigmas e fantasias de um inconsciente que vibra, claudica, impulsiona e avança. Agradeço carinhosamente às minhas filhas, Éloni e Tainá, primeiramente, por terem me apoiado em todos os momentos, suportando minhas ausências; em segundo lugar, por estarem ao meu lado nas descobertas virtuais, bem como, auxiliando-me, dedicadamente, com as TICs e arranjos finais na formatação da tese. Agradeço a todos os amigos que me impulsionaram a alçar voos maiores, outrora inimagináveis, ou que suportaram minhas longas elocubrações, em especial Lucia Pissolati, Tales Garcia, Gabriela Hizume, Magale Machado e Maria Luiza Gomes Machado. Sou imensamente grata ao meu pai, Valdir, que, com sua sabedoria singela e seu jeito mineirinho de ser, também se dedica à causa dos adolescentes desfavorecidos, procurando inspirar neles o desejo de superação das condições adversas. Ao meu irmão, Ricardo, com quem eu sempre posso contar. E, por fim à minha mãe, Olívia, por ter me transmitido o desejo de aprender sempre e de superar obstáculos. AGRADECIMENTOS INSTITUCIONAIS À CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa de estudos concedidas no Brasil e na França Ao CEU e à escola particular que acolheram esta pesquisa. À Université Paris VIII – Vincennes Saint Denis que me acolheu como pesquisadora. À equipe do Hospital Montsouris de Paris, onde realizei um estágio, especialmente, ao diretor Maurice Corcos, pela atenção e orientação. Ao Centro Marmottan, onde participei de reuniões clínicas. RESUMO Prioste, C. D. (2013). O adolescente e a internet: laços e embaraços no mundo virtual. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo. 361 f. Tendo em vista o amplo acesso às tecnologias de informação e comunicação (TICs) na sociedade contemporânea, com a promessa de um mundo virtual sem limites exercendo intenso poder de atração sobre os jovens, faz-se necessária a análise dos mecanismos ideológicos de manipulação psicológica postos em ação pela indústria cultural global no seio da subjetividade juvenil. Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar os hábitos e os interesses dos adolescentes no ciberespaço, buscando apreender os possíveis efeitos em sua constituição subjetiva. A pesquisa empírica foi dividida em duas etapas desenvolvidas simultaneamente: a primeira constou de um percurso etnográfico na cibercultura com o intuito de desvendar os interesses econômicos subjacentes aos sites frequentados pelos jovens; a segunda etapa foi realizada em uma escola pública e em uma escola privada, localizadas em um mesmo bairro de São Paulo, onde foram aplicados 108 questionários aos estudantes do último ano do Ensino Fundamental, com idade entre 13 e 16 anos, de ambos os sexos. Na escola pública, foram realizadas observações participativas nas aulas de Informática Educativa. Em ambas efetuaram-se entrevistas com alunos considerados por seus colegas como os “mais conectados à internet”, bem como entrevistas complementares com professores, coordenadores e diretores. A interpretação e a análise dos dados fundamentaram- se na filosofia da educação, teoria crítica e psicanálise. Constatou-se que as atividades preferidas dos adolescentes consistiam em frequentar as redes sociais, jogar, assistir a vídeos, visitar home pages de celebridades e de pornografia. Concluiu-se que os jovens são atraídos pelo ciberespaço principalmente pela possibilidade de exercitar fantasias virtuais e se sentirem aceitos pelo grupo. Entre os meninos, prevaleciam as fantasias onipotentes e sádicas, com as seguintes temáticas: o terrorista/policial, o herói/sobrenatural, o hacker/expert. Entre as meninas, eram frequentes as fantasias românticas, cujos temas principais envolviam: a amada/escolhida, a mãe/bebê, a celebridade. Observou-se que as fantasias virtuais são produzidas pela indústria audiovisual, geralmente, a partir de componentes perverso- polimórficos reeditados, identificados pelo que T. W. Adorno denominou de “psicanálise às avessas”. Ao se fixarem nas fantasias virtuais por meio das “próteses digitais imagéticas”, a capacidade dos jovens de apreensão das experiências de suas vidas sofrem alterações significativas, dificultando a reflexão sobre estas. O investimento libidinal nos dispositivos televisuais, reduzido às satisfações escopofílicas e à excitação constante dos sentidos, não contribui para a assunção epistemofílica, resultando no empobrecimento do imaginário e do simbólico. No ciberespaço os adolescentes têm seus direitos de proteção violados, uma vez que seus psiquismos ainda se encontram em desenvolvimento. Os interesses no lucro parecem prevalecer em relação a qualquer dimensão ética envolvida. Nesse contexto, a internet, ao invés de ser um importante instrumento de ampliação do conhecimento e de participação social, da maneira como tem sido utilizada, tem contribuído para a alienação e fixação em satisfações narcísicas. Assim, conclui-se ser importante não somente a inclusão digital, no sentido de apropriação das TICs nos ambientes escolares, mas também uma efetiva formação crítica dos jovens em relação às mídias, fornecendo-lhes condições para que possam refletir sobre as ficções nas quais estão inseridos. Palavras-chave: O adolescente e a internet. Cultura juvenil. Tecnologia da informação e comunicação na educação. Psicanálise, teoria crítica e educação. Cibercultura. Inclusão digital. ABSTRACT Prioste, C. D. (2013). Adolescents and the Internet: connections and entanglements in the virtual world. Doctoral Thesis, College of Education, University of Sao Paulo, Sao Paulo. 361 f. In light of the wide access to the information and communication technologies (ICT) in the contemporary society, which by promising limitless virtual world exert strong power of attraction on the young people, we consider it is necessary to analyze the ideological mechanisms of psychological manipulation in action by the global culture industry in young subjectivity. Thus, the present study aimed to identify the adolescent habits and interests in cyberspace in order to understand the possible consequences in their subjective constitution. This empirical research was divided into two phases performed simultaneously: the first one was composed by an ethnographic journey through cyberculture, aiming to find out the economic interests behind the sites most visited by the adolescents; the second phase was carried out in one public and one private school placed in the same neighborhood in São Paulo, where 108 questionnaires were applied to the 13 to 16-year-old boys and girls students in the last year of Secondary School. In the public school, participant observation was the approach used in the Educational Computing classes. Interviews were done in both schools with the students known as “the most connected to the internet” as well as additional interviews with the teachers, coordinators, and principals. Data interpretation and analysis were based on philosophy of education, critical theory and psychoanalysis. We have found that the adolescent favorite activities consisted of frequently going to social networks, playing games, watching videos, visiting celebrities’ home pages and pornography. We concluded that the adolescents are mainly attracted to cyberspace for their possibility to exercise virtual fantasies and feel accepted by their group. Among the boys prevailed omnipotent and sadistic fantasies with the following thematic features: the terrorist/policeman, the hero/supernatural, the hacker/expert. Among the girls, romantic fantasies were usual and involved mainly these themes: the beloved/chosen, the mother/baby, the celebrity. We noticed that the virtual fantasies are produced by the audiovisual industry generally out of perverse-polymorphic components reedited, identified by T.W. Adorno as “psychoanalysis in reverse”. When the adolescents get fixed to virtual fantasies by means of “imagetic digital prostheses”, their capacity of apprehending their own experiences in life suffers significant changes, hindering
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