PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE LETRAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS O acento do latim ao português arcaico Laura Rosane Quednau Profa. Dr. Leda Bisol Orientadora Data de Defesa: 21/01/2000 Instituição depositária: Biblioteca Central Irmão José Otão Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Porto Alegre, novembro de 1999. À professora Leda Bisol, que me orientou não só durante a realização da tese de Doutorado, mas desde o meu ingresso na Universidade, em 1984. Agradeço à minha incansável orientadora pelo incentivo, pela atenção e pelo carinho nesses quinze anos de convivência. AGRADECIMENTOS Agradeço em especial, à professora Leda Bisol, minha orientadora, pela análise cuidadosa desta tese em cada uma das etapas de seu desenvolvimento, revelando a dedicação e o entusiasmo que lhe são peculiares; à professora e amiga Míriam Barcellos Goettems, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pelas longas e produtivas discussões sobre questões referentes ao capítulo 4, que trata do latim; à amiga Nilza Pansera, por ter acreditado em mim e por ter me feito acreditar que a realização deste trabalho era possível; ao Prof. Dr. Leo Wetzels, da Universidade Livre de Amsterdam, pelo estímulo dado quando do início deste trabalho e pela indicação de referências bibliográficas; aos professores do Setor de Latim da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por todo o apoio dado durante a realização do Curso; a todos os meus colegas professores que, de uma forma ou de outra, colaboraram na elaboração desta tese; à Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior – CAPES, pelo auxílio financeiro concedido; à minha família, que, sempre me amparando e me incentivando, soube compreender os motivos pelos quais estive ausente em certos momentos; e a todos aqueles amigos que estiveram ao meu lado durante a realização deste trabalho. SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO 9 1 ACENTO E SÍLABA EM LATIM E EM PORTUGUÊS ARCAICO: ESTUDOS TRADICIONAIS 11 1.1 Latim ..................................................................................................................... 11 1.1.1 Incidência de acento ................................................................................................ 14 1.1.2 Estrutura da sílaba ................................................................................................... 21 1.1.3 Sobre a métrica latina .............................................................................................. 23 1.1.3.1 Liberdades de métrica ......................................................................................... 24 1.1.3.2 Cesura ................................................................................................................. 25 1.1.3.3 Quantidade da sílaba ............................................................................................. 25 1.1.3.4 O hexâmetro ........................................................................................................ 27 1.2 Português arcaico ....................................................................................................... 28 1.2.1 Incidência de acento ................................................................................................ 32 1.2.2 Estrutura da sílaba ................................................................................................... 40 2 METODOLOGIA ....................................................................................................... 50 2.1 Poética trovadoresca .................................................................................................. 51 2.1.1 Caracterização das cantigas ...................................................................................... 52 2.1.1.1 Cantigas de amor .................................................................................................. 54 2.1.1.2 Cantigas de amigo ................................................................................................ 55 2.1.1.3 Cantigas de escárnio e maldizer ........................................................................... 57 2.1.1.4 Outros gêneros ................................................................................................... 58 2.1.2 Versificação galego-portuguesa ................................................................................ 60 2.1.2.1 Arte de Trovar .................................................................................................... 61 2.1.2.2 Tipos de versos utilizados pelos trovadores .......................................................... 62 2.1.2.3 Rimas ................................................................................................................. 69 2.1.2.4 Estrofes ............................................................................................................ 69 2.1.2.5 Recursos poéticos ................................................................................................ 70 2.1.2.6 O e paragógico nas cantigas .................................................................................. 73 2.1.2.7 Contagem das sílabas nos versos ........................................................................... 75 2.1.2.8 Hiato, sinalefa e elisão ......................................................................................... 76 2.2 O corpus .................................................................................................................. 79 2.2.1 Critérios de seleção das fontes .................................................................................. 79 2.2.2 Procedimentos metodológicos utilizados na obtenção do corpus ................................ 83 2.2.3 Levantamento de dados ........................................................................................... 89 2.2.4 O corpus propriamente dito .................................................................................... 95 2.2.5 Observações sobre a grafia das cantigas ................................................................. 100 3 O ACENTO À LUZ DA FONOLOGIA MÉTRICA ...................................................... 104 3.1 Fonologia Métrica ................................................................................................... 104 3.1.1 Representação do acento através da árvore e da grade métricas ................................. 111 3.1.2 Modelo da grade perfeita ....................................................................................... 114 3.1.3 Modelo da grade parentetizada .............................................................................. 116 3.1.4 Inventário dos pés métricos binários ....................................................................... 119 3.2 Uma avaliação do troqueu mórico ............................................................................. 124 3.2.1 O acento em latim pelo troqueu mórico .................................................................. 124 3.2.2 O acento em português arcaico pelo troqueu mórico ............................................... 125 3.2.3 A avaliação .......................................................................................................... 127 3.3 Uma possibilidade alternativa: o troqueu irregular ...................................................... 128 3.3.1 O acento em latim pelo troqueu irregular ............................................................... 132 3.3.2 O acento em português arcaico pelo troqueu irregular .............................................. 133 4 ACENTO EM LATIM CLÁSSICO: TROQUEU MÓRICO OU TROQUEU IRREGULAR? 135 4.1 Estrutura silábica em latim ....................................................................................... 135 4.2 Atribuição de acento em latim clássico .................................................................... 142 4.2.1 Acento em palavras de três sílabas ou mais ............................................................ 143 4.2.2 Acento em palavras de duas sílabas ........................................................................ 144 4.2.3 Acento em palavras monossílabas .......................................................................... 153 4.2.4 Acento em combinações com partículas enclíticas ................................................... 154 4.3 Em defesa do troqueu irregular ................................................................................ 167 5 O TROQUEU IRREGULAR EM PORTUGUÊS ARCAICO ....................................... 179 5.1 Estrutura silábica em português arcaico .................................................................... 179 5.2 Por que troqueu irregular? ....................................................................................... 182 5.3 Atribuição de acento em português arcaico ............................................................... 185 5.3.1 Palavras com sílaba final leve ................................................................................ 187 5.3.2 Palavras com sílaba final pesada ........................................................................... 199 5.3.3 Palavras monossílabas ......................................................................................... 202 5.3.4 Acento em palavras com e paragógico .................................................................... 205 CONCLUSÕES ............................................................................................................. 209 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 214 RESUMO Este estudo diz respeito ao acento do latim e do português arcaico. Interpretado o acento à luz da Fonologia Métrica, admitimos, seguindo Jacobs (1990, 1997), que o troqueu irregular caracteriza melhor o latim clássico do que o troqueu mórico. Depois de discutir o acento do latim clássico e dar especial atenção às enclíticas, que ampliam o domínio do acento e sobre as quais, com respeito a seu papel no acento, defendemos uma posição contrária à de análises mais recentes, citadas neste trabalho, passamos ao acento em latim vulgar e, após, ao acento em português arcaico. Nessa trajetória, observa-se a perda das proparoxítonas por síncope em latim vulgar e, subseqüentemente, a perda da vogal final por apócope em algumas palavras em português arcaico, resultando palavras terminadas em sílaba pesada. A simplicidade conduz a evolução do latim clássico ao vulgar, passando o sistema acentual do troqueu irregular ao troqueu silábico, mas, do latim vulgar ao português arcaico, há uma volta ao troqueu irregular, em virtude da ocorrência de palavras terminadas em sílaba pesada. Essas últimas linhas encerram a tese que esta análise sustenta. ABSTRACT This study is about stress in Latin and Old Portuguese. Once stress is interpreted in the light of Metrical Phonology, we admit, according to Jacobs (1990, 1997), that the uneven trochee rather than the moraic trochee characterizes the stress system of Classical Latin. After discussing stress of Classical Latin – where we give special attention to enclitics, which extend the domain of stress and about which, with respect to the role they play in stress, we defend a position contrary to recent analyses, cited in the thesis – we proceed to stress in Vulgar Latin and, afterwards, to stress in Old Portuguese. In this course, we notice the loss of proparoxytones by syncope in Vulgar Latin and, next, the loss of final vowel by apocope in some words in Old Portuguese, resulting in words ending in a heavy syllable. Simplicity guides the evolution from Classical to Vulgar Latin, going the stress system from uneven trochee to syllabic trochee; however, from Vulgar Latin to Old Portuguese, there is a return to uneven trochee, resulting from the occurrence of words ending in a heavy syllable. These last lines offer the thesis that is supported by the analysis. INTRODUÇÃO Na tentativa de apresentar as evidências que sustentam a hipótese de que a simplicidade conduz a mudança de acento do latim clássico ao latim vulgar e que em português há um retorno a certa complexidade, vamos dar início à nossa análise. Embora o latim clássico e o latim vulgar tenham coexistido em certo momento histórico, vamos, para fins de análise, considerá-los etapas sucessivas. Por outro lado, chamamos atenção para o fato de que nossa análise fixa-se no português arcaico, embora estejamos admitindo que a complexidade aí acrescida venha se mantendo até hoje. Com o objetivo de desenvolver as idéias norteadoras deste trabalho, o texto se divide em cinco capítulos, que serão descritos a seguir. No capítulo 1, apresentamos estudos tradicionais que mostram como se comportam o acento e a sílaba em latim e em português arcaico. No capítulo 2, tratamos da metodologia utilizada no que se refere aos dados que serão trabalhados. O corpus analisado é constituído pelas cantigas desenvolvidas pelos trovadores galego-portugueses, que pertencem a uma primeira fase do português arcaico. Este capítulo é dividido em duas partes, a poética trovadoresca e o corpus. No capítulo 3, são expostos os pressupostos básicos da Fonologia Métrica, teoria que orientará nossa investigação a respeito da sílaba e do acento. No capítulo 4, discutimos duas propostas de análise para o acento em latim, pelo troqueu mórico e pelo troqueu irregular, argumentando em favor da segunda e desenvolvendo a idéia de que, na mudança acentual do latim clássico ao latim vulgar, o troqueu irregular é substituído pelo troqueu silábico. 10 No capítulo 5, analisamos o acento do português arcaico a partir do troqueu irregular. Seguem-se, a este último capítulo, as conclusões e as referências bibliográficas.
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