O Absoluto do Bem no pensamento antigo: filosofia e teologia. O mal perante o Absoluto do Bem na obra de Tolkien JOSÉ CACHAÇO Lisboa Julho de 2017 Índice 1. Introdução...............................................................................................................................2 2. Ainulindalë: o mal no mito cosmogónico..............................................................................3 3. De Sméagol a Gollum: degradação, misericórdia e providência.........................................11 4. O Anel e o Hobbit: tentação e humildade............................................................................16 5. Conclusão.............................................................................................................................22 6. Bibliografia...........................................................................................................................23 6.1. Obras de Tolkien..............................................................................................................23 6.2. Outras fontes....................................................................................................................23 6.3. Estudos.............................................................................................................................23 1 1. Introdução O Absoluto do Bem é a intuição fundamental da bondade daquilo que é ontologicamente positivo, isto é, daquilo que se opõe absolutamente ao nada. O pensamento antigo move-se na busca do princípio ontológico de tudo quanto existe, de isso que é Ser por si mesmo e não por outro, e que é fonte do ser de tudo o resto. Tais intuições profundas têm a sua máxima expressão no Bem platónico, fonte ôntica da qual os demais seres participam, e que se identifica com o divino. Desta matriz nasce todo o pensamento ocidental posterior, particularmente a filosofia cristã medieval, que a aplicará à tradição bíblica. Encontramos, na obra de J. R. R. Tolkien, estas mesmas intuições, de tal forma que, mesmo num âmbito de uma mitopoiese, não lhe seria possível criar um mundo coerente que não assentasse nestes princípios metafísicos. Não é surpreendente: Tolkien, católico, é, pois, herdeiro da tradição intelectual e espiritual de dezanove séculos de Cristianismo, profundamente assente na reflexão sobre o Bem1. Neste trabalho faremos um brevíssimo estudo sobre a forma como esta intuição do Bem está presente na obra de Tolkien, através do modo como o mal é apresentado. Escolhemos fazer esta leitura em três momentos: uma análise da natureza e origem do mal no mito cosmogónico Ainulindalë; o mal ético e a degradação ontológica, no percurso de Gollum; e a vitória dos Hobbits, por virtude da sua humildade, sobre o Anel, que seduz à tirania. Procuraremos promover o diálogo de Tolkien com o pensamento antigo e medieval, mormente Platão e Santo Agostinho, assim como com o texto bíblico. 1 Convém recordar as palavras do próprio: “The Lord of the Rings is of course a fundamentally religious and Catholic work; unconsciously so at first, but consciously in the revision. That is why I have not put in, or have cut out, practically all references to anything like 'religion', to cults or practices, in the imaginary world. For the religious element is absorbed into the story and the symbolism.” in Cristopher TOLKIEN; Humphrey CARPENTER (org.), The Letters of J. R. R. Tolkien, Houghton Mifflin Company, Boston – New York, 2000, n. 142. 2 2. Ainulindalë: o mal no mito cosmogónico As origens míticas do universo de O Senhor dos Anéis2 vêm detalhadas na obra póstuma Silmarillion. O mito cosmogónico, Ainulindalë3, nas primeiras páginas, apresenta a origem e o lugar ontológico do mal, de matriz manifestamente agostiniana, que acompanhará todas as narrativas deste universo. No princípio, o Uno, Eru Ilúvatar4, criou os Ainur, fruto dos seus pensamentos. Falava- lhes em temas musicais, e cada um respondia cantando sozinho, enquanto os restantes escutavam reverentemente. Então, Ilúvatar deu-lhes um grandioso tema, e chamou-os a fazerem uma Grande Música, em harmonia, cada um adornando-a com os seus dons particulares, frutos do Fogo Imperecível que lhes havia sido dado. As vozes dos Ainur uniram-se, assim, sinfonicamente, numa Grande Música a partir do tema de Ilúvatar. Ora, em Melkor, o mais poderoso dos Ainur, surgiu o desejo de introduzir sons da sua própria imaginação, separadamente do tema dado por Ilúvatar. Tinha o desejo de criar seres seus. Tais pensamentos passaram para a sua música; e alguns dos outros Ainur passaram a cantar com ele, perturbando a harmonia original. Após a criação de novos temas, Ilúvatar reprova Melkor diante dos Ainur: And thou, Melkor, shalt see that no theme may be played that hath not its uttermost source in me, nor can any alter the music in my despite. For he that attempteth this shall prove but mine instrument in the devising of things more wonderful, which he himself hath not imagined.5 2 Citamos com a abreviatura LOTR seguida do número de página, conforme a edição utilizada: J. R. R. TOLKIEN, The Lord of the Rings, Houghton Mifflin Company, New York, 2004. 3 A música dos sagrados (Ainur), em Quenya. 4 O Uno Pai de Todos, em Quenya 5 “E tu, Melkor, verás que nenhum tema pode ser tocado que não tenha a sua última origem em mim, nem pode alguém alterar a música contra a minha vontade. Pois aquele que o tentar provar-se-á meu instrumento na criação de coisas mais maravilhosas, que ele próprio não tinha imaginado” (tradução 3 Ilúvatar encaminha então os Ainur até ao Vazio e, dizendo “eis a vossa música”, um mundo novo surgiu a seus olhos, como que a sua música posta em ser. Os Ainur “perceberam que eles mesmos, na construção da música, tinham estado ocupados na preparação deste mundo, mas não sabiam que [a música] tinha outro propósito para lá da própria beleza”6. Ilúvatar avisa Melkor que mesmo ele descobrirá, no mundo, os seus pensamentos secretos, como parte da sua glória7. Melkor dirige-se então ao novo mundo, para subjugar os filhos de Ilúvatar, os Homens e os Elfos por ele criados imediatamente, invejando as suas promessas. A criação no mito cosmogónico de Tolkien é paradigma do conceito de sub-criação, transversal à obra do autor. Sub-criação denota o processo pelo qual as criaturas colaboram com o Criador na criação, de tal forma que, não deixando o Criador de ser, em absoluto, única fonte ontológica, o ato de criação é feito em cooperação com a liberdade das criaturas8. No mito, Ilúvatar cria imediatamente os Ainur, seres análogos a anjos; mas o mundo e suas gentes, com a notável exceção dos elfos e dos homens, são criados mediante a liberdade dos Ainur, consoante a sua maior ou menor harmonia com a vontade divina, o Grande Tema que Ilúvatar lhes comunica, ainda que não tivessem pleno conhecimento de que a sua música tinha esse papel. Estamos já aqui perante a questão da autonomia relativa das causas segundas, mediante as quais é realizada a Providência de Deus, tema maior de O Senhor dos Anéis. Longe de ser uma obra do âmbito da magia, como é, por vezes, injustamente acusada, a obra de Tolkien é, pelo contrário, uma obra das mediações. nossa). As citações do mito são das primeiras páginas de: J. R. R. TOLKIEN, The Silmarillion, Harper Collins Publishers, London, 2014. 6 “And they perceived that they themselves, in the labour, of their music, had been busy with the preparation of this dwelling, and yet knew not it had any purpose beyond its own beauty.” 7 “And thou, Melkor, wilt discover all the secret thoughts of thy mind, and wilt perceive that they are but a part of the whole and tributary to its glory.” 8 Tolkien considerava a arte, em especial a mitopoiese, como um processo de sub-criação. Sobre o Homem como sub-criador ver: Tânia REIS, Re-Criar o Futuro: A rescrita do Mito Cristão na obra de J. R. R. Tolkien, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Lisboa, 2009, pp. 22-24. 4 O estado original, querido por Ilúvatar, é um estado de harmonia, em que os Ainur cantam em conjunto o grande tema que lhes é dado. Tolkien apresenta-nos, pois, uma original e verdadeira comunidade angélica do Bem Comum, assente na diferenciação e no livre-arbítrio. Platão já havia intuído a diferenciação como condição para a formação da cidade9. Esta nasce fundamentalmente da necessidade, isto é, da auto-insuficiência de cada homem, que o leva a juntar-se ao outro que tem capacidades que colmatam essa insuficiência. Não é possível a cidade se todos tiverem as mesmas necessidades e as mesmas capacidades. É, pois, a diferenciação das capacidades que permite a criação de uma comunidade. A comunidade angélica original, reunida em torno de Ilúvatar, existe precisamente devido a uma diferenciação: “mostrareis os vossos poderes adornando este tema, cada um com os seus próprios pensamentos e meios”10. Tal diferenciação existe porque cada Ainur conhece “apenas a parte da mente de Ilúvatar de onde veio”, e porque em cada um está acesa a Chama Imperecível11. A harmonia, em que cada um cumpre o papel adequado aos seus dons, ocupando o seu lugar ontológico próprio e não outro, é a verdadeira chave do Bem Comum. É esta harmonia, condição para a plenitude ontológica, em suma, o Bem, que está plenamente presente na original música dos Ainur, de tal forma que: O resultado é mais rico, mais belo e mais fácil, quando cada pessoa fizer uma só coisa, de acordo com a sua natureza e na ocasião própria, deixando em paz as outras.12 O mal é, precisamente, o desfazer desta harmonia. Melkor, não se conformando com o seu lugar ontológico próprio de criatura, decide ocupar o lugar do Criador. Não se 9 Principalmente em A República, 368b-370d. 10 “[…] ye shall show forth your powers in adorning this theme, each with his own thoughts and devices, if he will”. 11 A qual foi admitida pelo autor como alegoria do Espírito Santo (cf. Clyde KILBY, Tolkien and the Silmarillion, Harold Shaw Publishers, Wheaton, 1976, p. 59.), remetendo esta partilha de dons diferenciados para uma dimensão eclesiológica (cf. 1 Coríntios 12), depois espelhada na diversidade racial da Irmandade do Anel. 12 PLATÃO, A República, 370c. 5 contentando em ser sub-criador, em harmonia com o divino tema, quer ter uma criação independente, isto é, quer ser ele fonte ontológica em absoluto. Tal como na queda dos anjos na tradição cristã13, a desobediência de Melkor à vontade divina consiste no pecado da soberba e da inveja: a soberba de recusar o seu lugar próprio na ordem ontológica das coisas; e a inveja do poder criador de Ilúvatar. Tais são os vícios que desvirtuam qualquer harmonia, que, como vimos, só existe quando cada um conhece e aceita o seu lugar próprio na ordem das coisas. A descompostura que lhe é feita por Ilúvatar é o momento mais importante do Silmarillion para se compreender a natureza do mal perante o Absoluto do Bem: mesmo os temas dissonantes têm a sua última origem no Bem. Só Ilúvatar é criador. Melkor, precisamente porque dotado de livre-arbítrio, pode escolher agir contra a harmonia desejada por Ilúvatar. Mas tal não é absolutamente uma criação: é, antes, uma perversão de algo bom. E, como bom, tem ainda a sua última origem no ato criador de Ilúvatar. Encontramos, assim, em Ainulindalë, uma cabal rejeição de qualquer espécie de maniqueísmo, que acompanhará todas as narrativas que se desenrolam neste universo. Ilúvatar é o absoluto do Ser e do Bem, e, por isso, absoluta fonte criadora, causa primeira, ainda que tal criação se faça mediatamente. Melkor é sempre criatura: não possui uma natureza contrária à de Ilúvatar, pois “só o não ser é que é contrário ao que é”14, mantendo-se na existência sempre por participação do Bem. É, portanto, apenas sub-criador, pelo que incapaz de uma criação independente. Não há, assim, criação maligna. Em sentido ontológico, apenas se pode falar do mal como privação de Bem, 13 A mudança do nome de Melkor reforça a tese de Ainulindalë como alegoria da queda dos anjos: tal como Lucifer (do Latim, portador de luz) passa a ser denominado Satanás (do Hebraico, inimigo), também Melkor (do Quenya, poderoso) passa a ser chamado de Morgoth (do Sindarin, inimigo obscuro do mundo) Bauglir (do Sindarin, tirano). Cf. Joseph PEARCE, Tolkien: hombre y mito, Minotauro, Barcelona, 2000, p. 104. 14 AGOSTINHO DE HIPONA, A Cidade de Deus, XII, 2. Note-se, contudo, a imprecisão na linguagem (mas não no pensamento) de Agostinho ao dizer que ei quippe, quod est, non esse contrarium est; o não ser é contraditório, e não contrário, ao que é. 6 mas não como substância criada, segundo a doutrina agostiniana: “o mal, com efeito, não é uma natureza: a perda do bem é que recebe o nome do mal”15. Mesmo após a desarmonia introduzida por Melkor, a música é, em si, uma eufonia; mas não tão eufónica como na harmonia original, e nessa perda consiste o seu mal. Também os temas desafinados de Melkor são postos em ser aquando da ontologização da música angélica. O conceito de uma sub-criação angélica é, assim, apresentado como solução para o problema do chamado “mal físico”, que, como vimos, não é mal em substância, mas em privação: o mundo não é sumamente harmónico porque a vontade daqueles pelos quais foi sub-criado não era sumamente harmónica com a vontade divina; a imperfeição do mundo explica-se pela imperfeição da vontade dos anjos16. Melkor não podendo criar coisa alguma de positivo, persistirá, no novo Cosmos criado, Eä, na sua senda de corromper o bem que existe, que havia começado ao desfazer a original angélica sinfonia. O mal é, com efeito, sempre um parasita do Bem: não podendo subsistir por si, por lhe faltar a substância17, contenta-se em corromper o que é bom. À semelhança do demónio caído da tradição cristã, que, não podendo ser criador, se contenta em tentar o homem, criatura boa e amada por Deus, corrompendo-o e levando-o a cair, assim Melkor, agora Morgoth, começa por introduzir corrupção em Eä, provocando a primeira guerra, contra Valar, e outras que se lhe seguiram. A guerra 15 Ibidem, XI, 9. 16 Tal explicação para a imperfeição do mundo não é incompatível com a fé cristã, ainda que tenha tido pouca relevância na sua tradição teológica, segundo Peter KREEFT, The philosophy of Tolkien: The worldview behind the Lord of the Rings, Ignatius Press, San Francisco, 2005, pp. 72-73. 17 Neste aspeto são preciosas as descrições que Tolkien faz dos Nazgûl, salientando a sua falta de substância: “they wear [black robes] to give shape to their nothingness” (LOTR, p. 222.); “empty and shapeless” (p. 275); “his face was shadowed and invisible” (p. 74). É também relevante a escolha de Peter Jackson, nas adaptações cinematográficas, em representar Sauron como um olho desencarnado, sem um corpo concreto, salientando a sua falta de densidade ontológica. 7 é, com efeito, o sinal por excelência da corrupção, antítese do Bem-comum e da harmonia18. Uma imagem poderosa para esta medíocre ação de quem, não sabendo criar, se contenta em destruir é a origem da raça dos orcs e dos trolls. Como vimos, os elfos e os homens foram criados imediatamente por Ilúvatar. As restantes raças foram sub-criadas pela Ainulindalë: Mahal cantou os Anões, Yavanna os Ents, etc. Ora Morgoth, não podendo criar uma raça de servos, porque o poder de criação não pertence senão ao Bem, com o qual se recusa a cooperar, corrompe alguns elfos e ents, torturando-os e criando-os19, produzindo a raça dos orcs e dos trolls20. Não são, pois, fruto de uma verdadeira originalidade maligna; mas sim da aniquilação, ainda que não absoluta, de Bem21. É este o apanágio do mal, parasita estéril do Bem, que só existe enquanto privação de um bem que devia ou podia estar presente. Esta é uma posição metafísica fundamentalmente diferente de afirmar Ilúvatar como criador do Bem e do mal22. Também não equivale a afirmar que Ilúvatar tivesse querido que a música perdesse a sua original harmonia. O Bispo de Hipona explica, em relação à queda do homem, que Deus, na eternidade, sabia já à partida da perversão, mas sabia igualmente o bem que daí poderia retirar23. O mesmo princípio está presente no Silmarillion; a resolução, pelo menos teórica, do problema do mal, é, desde logo, posta nas palavras de Ilúvatar: quem o desafiar será seu “instrumento na criação de coisas 18 Também o é a degradação de paisagens sujeitas à influência do mal, por exemplo em Isengard e Mordor: “whereas it had once been green and fair, it was now filled with pits and forges” (LOTR, p. 260). 19 No sentido em que se faz criação de animais, não no de trazer à existência. 20 “They are mighty strong. But Trolls are only counterfeits, made by the Enemy in the Great Darkness, in mockery of Ents, as Orcs were of Elves. We [the Ents] are stronger than Trolls. We are made of the bones of the earth.” (LOTR, p. 486) 21 Olhando para o texto bíblico, podemos assim dizer que Job, caso tivesse negado a presença absoluta do Bem em si, ter-se-ia tornado, precisamente, num orc. 22 Que é a leitura, desastrosa precisamente porque numa hermenêutica psicológica e não metafísica, em Maria MONTEIRO, The Lord of the Rings: A viagem e a transformação, Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1992, pp. 73-75. 23 Cf. AGOSTINHO DE HIPONA, A Cidade de Deus, XIV, 11. 8 ainda mais maravilhosas”. Afirma-se, assim, que pertence à Providência de Deus retirar bem do mal, ou, melhor, revelar o bem que resta no mal24. Como veremos, tal é manifesto na mediação de Gollum em O Senhor dos Anéis25. O mal, como perversão do Bem, tem, assim, origem no livre-arbítrio da vontade de Melkor, e não na sua natureza, isto é, é criado bom, em sinfónica harmonia com o divino, mas escolhe não se manter na mesma harmonia26. A harmonia não é, em momento algum, imposta por Ilúvatar: os Ainur não são obrigados a cantar o Tema que lhes é dado. Pois se tal é, efetivamente, a vontade de Ilúvatar, é sempre colocada perante o critério do livre-arbítrio de cada um27. Com efeito, apesar da possibilidade de um mundo mais pobre, porque desarmónico, caso a escolha dos Ainur rejeite o tema divino, o livre-arbítrio da vontade abre a possibilidade de um mundo mais rico, de harmonias mais perfeitas, porque escolhidas livremente; é assim um bem em si, ainda que contendo a possibilidade do mal. Ora, a vontade dissonante com a vontade divina é sempre prejuízo para o próprio28; com efeito, “o único bem fonte de beatitude para a criatura racional e inteligente é Deus”29, 24 Isto não equivale a dizer que o mal seja um momento necessário para o advento do bem, à maneira de Hegel, o que é inaceitável; o mal é sempre desnecessário. 25 Como teremos oportunidade de desenvolver adiante, a Providência de Deus, vencedora do mal, é o tema maior de O Senhor dos Anéis. Perante do drama existencial do silêncio de Deus, Tolkien imagina um universo onde Deus está verdadeiramente silencioso (ausência quase total de revelação e de religião), mas no qual não deixa de agir na mediação das causas segundas, encaminhando a História para uma consumação na qual o mal é definitivamente vencido (a destruição do Anel); mostra-se, assim, que o “problema do mal” não se resolve negando a existência de Deus, mas, pelo contrário, afirmando a sua amorosa Providência. 26 “Não é lícito pôr em dúvida que as inclinações, entre si contrárias, dos bons e dos maus anjos, não resultam de naturezas e princípios diversos, pois foi Deus, autor e criador excelente de todas as substâncias, quem as criou a umas e a outras, - mas provêm das vontades e apetites”: AGOSTINHO DE HIPONA, A Cidade de Deus, XII, 1. 27 “[…] ye shall show forth your powers in adorning this theme, each with his own thoughts and devices, if he will” (itálico nosso). 28 “[…] o vício, que faz erguerem-se contra Deus aqueles a quem chamamos seus inimigos, é um mal não para Deus mas para os próprios”: AGOSTINHO DE HIPONA, A Cidade de Deus, XII, 3. 29 Ibidem, XII, 1. 9
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