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Nove vidas: Em busca do sagrado na Índia moderna PDF

279 Pages·2012·1.83 MB·Portuguese
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DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós: O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: LeLivros.org ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível." Para Sammy Sumário Mapa Introdução 1. A narrativa da monja 2. O dançarino de Kannur 3. As filhas de Yellamma 4. O cantador de epopeias 5. A fada vermelha 6. A história do monge 7. O fabricante de ídolos 8. A dama crepúsculo 9. A canção do trovador cego Glossário Bibliografia Introdução A ideia deste livro nasceu há dezesseis anos, em uma manhã clara no Himalaia, no verão de 1993. Eu estava subindo por uma trilha serpenteante às margens do rio Bhagirathi, ao longo das laterais íngremes de um vale densamente arborizado. A trilha era macia e musguenta e passava por fetos e samambaias, moitas de arbustos espinhosos e bosques de cedros altos do Himalaia. Pequenas cascatas caíam em meio aos cedros. Era o mês de maio, e depois de uma caminhada de dez dias eu estava a um dia a pé de meu destino: o grande templo himalaico de Kedarnath, que os hindus acreditam ser uma das principais moradas do Senhor Shiva e, assim, ao lado do monte Kailash no Tibete, um dos dois candidatos ao monte Olimpo hindu. Eu não estava só na estrada. Na noite anterior, tinha visto grupos de peregrinos — a maioria deles aldeões do Rajastão — acampados junto dos templos e bazares ao pé da montanha, aquecendo as mãos sobre pequenas fogueiras de madeira em decomposição. Agora, à luz da manhã, seu número parecia ter se multiplicado milagrosamente, e a estreita vereda de montanha lembrava um grande mar indiano de gente. Todas as classes sociais de todos os cantos do país estavam lá. Havia grupos de fazendeiros, trabalhadores analfabetos e pessoas urbanas sofisticadas do norte e do sul, todos aglomerados como numa cena de um moderno Contos de Canterbury indiano. Os ricos montavam cavalos ou eram carregados para o alto em doolies, um estranho cruzamento entre uma espreguiçadeira de vime e uma mochila; porém a imensa maioria de peregrinos pobres não tinha opção a não ser caminhar. A cada meio quilômetro eu encontrava grupos de vinte ou trinta aldeões que se arrastavam pela trilha íngreme de montanha. Velhos descalços, curvados, com bigodes cinzentos, conduziam as esposas de véu pelas encostas; outros, mais devotados, se curvavam em oração diante de pequenos santuários — muitas vezes não mais que pilhas de pedregulhos e um pôster de calendário. Sadhus, os homens santos nômades da Índia, também ocupavam a estrada em uma quantidade impressionante. Enquanto vagava em meio a aquilégias, ranúnculos e malvas das pastagens de altitude que chegavam aos joelhos, passei por um fluxo constante de homens magros, fortes, saltitantes, com dreadlocks nos cabelos emaranhados e barbas espessas. Alguns viajavam em grupos; outros, sozinhos, e muitos deles pareciam mergulhados em concentração profunda enquanto caminhavam, curvados pelos tridentes de metal pesados, em um esforço de encontrar a moksa no ar límpido e no silêncio cristalino das montanhas. Enquanto escalava trilha acima, comecei a conversar com um sadhu untado de cinzas e completamente nu, mais ou menos da minha idade. Sempre imaginara que os homens santos que vira na Índia vinham de aldeias tradicionais e eram motivados por uma fé cega e simples. Mas, assim que começamos a conversar, ficou claro que Ajay Kumar era na verdade uma figura bem mais cosmopolita do que eu esperava. Ajay e eu caminhamos juntos ao longo da crista íngreme de uma montanha, com as grandes aves de rapina circulando as correntes de ar quentes abaixo de nós. Pedi que me contasse sua história e, depois de certa hesitação inicial, ele concordou. “Sou sanyasi [viandante] há apenas quatro anos e meio”, disse. “Antes disso era gerente de vendas da Kelvinator, uma empresa de produtos eletrônicos de Bombaim. Tinha feito meu mba na Universidade de Patna e era considerado uma promessa pelos meus empregadores. Mas um dia cheguei à conclusão de que não poderia passar o resto da vida anunciando ventiladores e geladeiras. Assim, simplesmente fui embora. Escrevi uma carta ao meu chefe e aos meus parentes, dei minhas posses aos pobres e tomei um trem para Benares. Lá, joguei fora meu velho terno, esfreguei cinzas no corpo e achei um mosteiro.” “Você nunca se arrependeu do que fez?”, perguntei. “Foi uma decisão muito súbita”, respondeu Ajay. “Mas, não, nunca me arrependi por um minuto, mesmo que esteja há vários dias sem comer e sinta muita fome.” “E como você se ajustou a tamanha mudança de vida?”, perguntei. “É claro que no início foi muito difícil”, ele disse. “Mas tudo que vale a pena na vida leva tempo. Eu estava acostumado a todos os confortos: meu pai era político e muito rico pelos padrões do nosso país. Mas eu nunca quis ter uma vida mundana como ele.” Tínhamos chegado à crista da montanha e o terreno caía íngreme de todos os lados. Ajay apontou para as florestas e pastagens que se estendiam a nossos pés, centenas de tons de verde emoldurados pelo branco cegante dos picos nevados distantes à nossa frente. “Quando você caminha nas montanhas a mente fica limpa”, ele disse. “Todas as preocupações desaparecem. Veja! Levo apenas um lençol e uma garrafa de água. Não tenho posses, e, portanto, não tenho preocupações.” Ele sorriu: “Uma vez que você aprende a conter os desejos, tudo se torna possível”. A espécie de mundo em que um sadhu naga nu e comprometido podia também ter um mba era algo com que eu me acostumaria ao longo das viagens que fiz por conta deste livro. Em novembro passado, por exemplo, consegui localizar um tântrico célebre em um terreno de cremação perto de Birbhum, na Bengala Ocidental. Tapan Goswami era fornecedor de crânios. Vinte anos antes ele tinha sido entrevistado por um professor americano de religião comparada, que escreveu um ensaio acadêmico sobre a prática de convocação de espíritos e de encantamento de Tapan por meio da utilização de crânios conservados de virgens mortas e suicidas desassossegados. O material parecia ser rico, embora de natureza sinistra, de modo que passei a maior parte de um dia percorrendo os vários terrenos de cremação de Birbhum antes de finalmente encontrar Tapan, sentado do lado de fora de seu pequeno templo de Kali na extremidade da cidade, preparando um sacrifício para a deusa. O sol descia e a luz começava a esmaecer; uma pira funerária ainda fumegava, sinistra, diante do templo. Em todo lugar, moscas zumbiam no ar quente, parado. Tapan e eu falamos sobre o tantra, e ele confirmou que na juventude, quando o professor o entrevistara, ele era de fato um entusiasta provedor de crânios. Sim, disse, o que escreveram sobre ele era verdade, e, sim, ele ainda curava crânios de vez em quando e convocava os proprietários mortos para usar seus poderes. Porém, infelizmente, disse, não poderia me contar os detalhes. Por quê?, perguntei. Porque, ele disse, seus dois filhos eram oftalmologistas bem- sucedidos em Nova Jersey. Eles haviam proibido com firmeza que ele desse outras entrevistas sobre o que fazia, pois os rumores de que a família era metida com magia negra poderia prejudicar a prática lucrativa que exerciam na Costa Leste. Agora ele achava que talvez pudesse se desfazer dos crânios e se reunir a eles nos Estados Unidos. Morando da Índia nos últimos anos, vi o país se transformar em uma velocidade impossível de imaginar quando me mudei para cá pela primeira vez no fim dos anos 1980. Ao voltar a Delhi depois de quase uma década, aluguei uma chácara a cinco quilômetros de Gurgaon, cidade de crescimento explosivo, na extremidade sudoeste de Delhi. Do fim da estrada viam-se na distância os círculos de novas propriedades se erguendo, cheias de call-centers, empresas de software e blocos de apartamentos elegantes, todos se elevando rapidamente sobre terrenos que dois anos antes eram fazendas virgens. Seis anos depois, Gurgaon galopou em nossa direção a tal velocidade que agora estava a passos do limite de nossa chácara, e o que se anuncia com orgulho como o maior shopping da Ásia fica a meio quilômetro de casa. A velocidade do desenvolvimento é de tirar o fôlego de qualquer um que esteja acostumado aos índices de crescimento lentos da Europa Ocidental: o tipo de construção que na Inglaterra levaria 25 anos para ser feito se completa aqui em cinco meses. Como sabemos, hoje a Índia está prestes a alcançar o Japão para se tornar a terceira economia do mundo, e, segundo estimativas da cia, a economia indiana deve alcançar a dos Estados Unidos por volta de 2050. Isso tudo é tão extraordinário que é fácil deixar de ver a fragilidade e irregularidade da explosão. Quando deixamos Gurgaon e seguimos pela autoestrada de Jaipur, a impressão é a de uma volta no tempo a um mundo pré- moderno mais antigo, mais lento. Vinte minutos depois de deixarmos a sede da Microsoft ou do Google Ásia em Gurgaon, carros e caminhões começam a dar lugar a carros de boi e de camelos, e ternos, jeans e bonés de beisebol são substituídos por empoeirados dhotis e turbantes de algodão. Trata-se de fato de uma Índia muito diferente, e é aí, nos lugares suspensos entre a modernidade e a tradição, que acontece a maior parte das histórias deste livro. Muito se escreveu sobre o modo como a Índia avançou para devolver ao subcontinente seu lugar tradicional no coração do comércio global, mas pouco foi dito sobre o modo como esses imensos terremotos afetaram as diferentes

Description:
Há anos que a Índia é objeto de fascínio do Ocidente. Se por um lado a nação se torna um gigante cada vez maior no ranking das economias mundiais, de outro ela continua a atrair milhares de pessoas em busca de experiências transcendentais ou algum tipo de revelação. O escritor William Dalry
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