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Novas regras do metodo sociologico PDF

98 Pages·1978·5.177 MB·Portuguese
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-"..-- TRAJECTOS ANTHONY GIDDENS 1.ANTES DE SOCRATES-INTRODUC;AO 18. NAc;6ESENACIONAUSMO ADESTUOODA FILOSOFIAGREGA ErnestGellner JostTrindadeSantos 19. ANGUSTIAECOLOOICAEOFUTIlRO 2. HIST6RIA DA FILQSOFIA - PERiooo EuricoFigueiredo CRISTAO 20. REFLEXOESSOBREAREVOLUC;AO FcmandVanSteenberghen NAEUROPA 3. ACONDIl;AOroS·MODERNA RalfDahrendorf Jean·F~is Lyotard 21. ASOMBRA-ESlUDOSOBRE ACLANDESTINIDADECOMUNISTA 4. METADIALooos ~goryBateson JostPachecoPereira 22. OOSABERAOFAZER:PORQU~ S. ELEMENTOSDEF1LOSOFlADACIENOA ORGANIZARAa~aA LudovicGeymonat NOVAS REGRAS JoftoCara~ 6.DO MUNDO FECHADO AD uNIVERSe 23. PARAUMAlfiST6RlACULTURAL IANleFxINanIdTrOeKoyre E.H.Gombrich DO ME" TODO 24. AIDENTIDADEROUBADA 7. GEOGRAFIAHUMANA- TEORIAS JostCarlosGomesdaSilva ESUASAPUCAc;OES M.G.BradfordeW.A.Kent ~.A~OOOUGIADAECONO~A SOCIOLO" GICO 8. asGREGOSE0IRRACIONAL Mark.Blaug E.R.Dodds 26. AVELHAEUROPAEANOSSA 9. oCREPOSCULODAIDADEMEDIA JacquesLeGoff EMPORTUGAL 27. ACULTURADASUBTILEZA-ASPECTOS Ant6nioJo~Saraiva DAFILOSOFIAANALinCA M.S.Lou~o As 10. 0NASCIMENTODEUMANOVAFiSICA UMA CRITICA POSITIVA SOCIOLOGIAS I.BernardCohen 28. CONDI<;6ESDAUBERDADE ErnestGellner 11. ASDEMOCRACIASCONTEMPQRA.NEAS INTERPRETATIVAS 29. TELEVISAO,UMPERIGOPARA ArendUjphart ADEMOCRACIA 12.ARAZAONAS(orSASHUMANAS KarlPoppercJohnCondry HerbertSimon 30. RAWLS.UMATEORIADAJUSn<;A 13. PRE-AMBULOS-OSPRIMEIROSPASSOS EOSSEUSCRfncos 2.a ediyao com nova introduyao 00HOMEM ChandranKukathasePhilipPettit YvesCoppens 31. DEMOORAflAEDESENVOLVIMENTO: 14.oTOMISMO ELEMENTOSBAsICOS F.VanSteenberghen AdelinoTorres 15.0LUGARDADESORDEM 32. 0REGRESSO00POUTICO RaymondBoudon ChantalMouffc REVISAOC1ENTiFICA DE 16. CONSENSOECONR.JTO 33. AMUSAAPRENDEAESCREVER A. MARQUES BESSA SeymourMartinLipset EricA.Havelock ISCSP 17. MANU.ALDEINVESTIGAc;AO 34. NOVASREGRASDOMEroOO EMCIENCIASSOCIAlS SOCIOL6GlCO RaymondQuivyeLucVanCampenhoudt Anthony Giddens gradiva ( \ Titulo original ingles: New Rules ofSociological Method © Anthony Giddens, 1993 Tradw;ao: Ant6nio Escobar Pires 316 Revisao do texto: Jose Soares de Almeida G453N Capa: Armando Lopes 2 ..ED.. Fotocomposi~ao: Gradiva Impressao e acabamento: Tipografia Lugo, L.d4 FBe Direitos reservados a: Gradiva - Publicar6es, L.dll Rua Almeida e Sousa, 21, ric, esq. - Telefs. 3974067/8 1997/210718-7 1350 Lisboa 1997/09/05 1.' edi,ao: Maio de 1996 8576 Deposito legal n." 99830/96 , Indice Prefacio 7 a Introdu,ao 2.' edi,ao 9 ./1 a Introdu,ao I.' edi,ao 25 I. Algumas escolas de teoria social e filosofia 37 A fenomenologia existencial: Schutz 38 Etnometodologia 48 A filosofia p6s-wittgensteiniana: Winch 59 ~Resumo: 0 significado das sociologias interpretativas 67 Henneneutica e teoria critica: Gadamer, Apel, Habermas 70 "'10'j :,,'~"- '.•'...,' "~'l"e;I " .h '"•. ''''-" .. :--2. Ac,iio, identifica,ao de actos e inten,ao comunicativa 87 Biba1i~~:c,;;I"'·'nw;; e 1 CO~iun~cd~~O :. Problemas de ac,ao 88 Inten~6es e projectos 92 ':)//.., N'· -' ~ ,..:;> A identificacrao dos actos 95 ,JG6·3}J- , A racionalizacrao da accrao 98 ChamBdii • 2.£,D, ' Significadoe intencrao comunicativa 103 tr 3. A produ,ao e reprodu,ao da vida social ············ III 23 Oota, 5}(, Ordem, poder, conflito: Durkheim e Parsons ·· ····..· 111 iLI,6"35 p'~~~,;:'.' «Voluntarismo» , ,.., , ' 113 /1,.-, . O,~"'",'. (.,/J . f..../yJ,-)-..:-(-J]..'..-,..'.... ~ o individuo em sociedade 114 Ordem, pader, conflito: Marx 117 A produc;:ao da comunicac;:ao como «significante» 121 Ordens marais de interacc;:ao 125 As relac;:oes de pader na interacc;:ao 128 Racionalizac;:ao e reflexividade 132 A motival'ao da aCl'ao 134 Aprodul'ao e reprodul'ao da estrutura 136 Sumario 144 4. A forma dos relatos explanatorios 149 Dilemas positivistas 151 Ultimos desenvolvimentos: Popper e Kuhn 155 Prefacio -Ciencia e nao ciencia 158 Diferencia~ao da nao ciencia . 158 Fundamenta~il:o epistemol6gica da ciencia . 159 o significado da falsifica~ao , 160 Este estudo e entendido apenas como parte de urn projecto mais Paradigmas . 162 alargado. Entretanto, pode. e certo, ser visto como urn trabalho auto Relativismo e analise henneneutica . 165 suficiente, pois aborda varias questaes que, embora nao analisadas de o problema da adequal'ao . 169 uma fonna ponnenorizada, sao vitais para 0 meu projecto como urn todo. Este envolve tres ojectivos a atingir. 0 primeiro consiste em "Conclusao: algumas novas regras do metodo sociologico .. 177 fazer uma abordagem critica ao desenvolvimento da teoria social no Notas . 187 seculo XIX e sua subsequente integra~ao em «disciplinas» institucio nalizadas e profissionalizadas de «sociologia», «antropologia» e «ciencias politicas» no decurso do seculo XX; 0 segundo, em levantar alguns dos principais temas do pensamento social do seculo anterior que frutificam nas teorias da fonna,ao das sociedades avanl'"das e submete-Ios acritica; 0 terceiro, em teorizar e, paralelamente, empreender a reconstru,ao de problemas levantados pelo caracter - sempre inc6modo- das ciencias sociais, no que toca ao «objecto de estudo» que essas «ciencias» pressup6em: actividade social humana e intersubjectividade. Este livro e proposto como urn contri bUIO para a ultima destas tres questaes. Mas qualquer discussao ex travasa os contomos desse limite conceptual e tern implica,aes no trabalho de outras areas. Como projecto (inico, as tnSs quest5es estao interligadas na tentativa de construir uma analise criticado legado da teoria social do soculo XIX e principios do soculo XX ao periodo I contemporaneo. 7 t \ ",..,... Este livro aborda 0 «metodo» no sentido em que os fil6sofos sociais caracteristicamente empregam 0 terma - 0 sentido em que Durkheim 0 usano seu livroAsRegrasdo Metoda Sociologico, 0 que quer dizer que naD e urn guia de «como fazer pesquisa pratica» nem oferece quaisquer propostas especificas de pesquisa, E, em primeiro lugar, urnexerciciodeclarifica,aode questaes16gicas. Pelosubtitulo, as Uma cr{tica positiva sociologias interpretativas, 0 leitor vera que e naD tern qualquer significado «positivista», pais apenas usado no sentidode «compreensivo» au «construtivo», sentidoque se afasta da transposi,ao do termo de Comte, que refere uma filosofia exacta das ciencias sociais e naturais. Para as escolas de pensamento que apare e cern no primeiro capitulo, 0 terma sociologias interpretativas uma a designa,ao err6nea, uma vez que alguns dos autores cujo trabalho e Introdu9ao 2.a edi9ao analisado estao ansiosos porafastar da «sociologia» aquila que tern a dizer. Usa 0 terma somente porque naD existe DUtrO imediatamente disponivel para agrupar conjuntos de textos que partilham pontos de a vista semelhantes no que diz respeito «aq:ao significante». Naoobstante teremjadecorridoalguns anos desde 0 aparecimento A tematiea deste estudo assenta na necessidade de a teoria social deste livro, espero que ele nao tenba perdido a sua relevancia no incorporar urn tratarnento de ac,ao como conduta racionalizada e tocante as questaes actuais da teoria social. Em Novas Regras ponho reflexivamente ordenada por agentes humanos e compreender 0 sig emdestaqueurncertonumerodemodelosdasociologiainterpretativa, nificado da linguagem como meio pnltieo pelo qual isto se toma assim como algumas das principais tradi,aes sociol6gicas. Quando possivel. As impliea,aes destas no,Oes sao profundas, mas 0 livro redigi 0 livro, tomei-o, e continuo ainda afaze-lo, como urn «dialogo limita-se a fazer uma abordagem a algumas delas. Quem reconhe,a critico» dosmodelosdepensamentosocialefilosofico aque serefere, que a auto-reflexao, mediada linguisticamente, e essencial para a ou seja, urn compromisso crftico com ideias que considero de essen caracteriza~ao da conduta social humanadeve saber que isso tambem cial importancia, masque, poruma ou outrarazao, naoforamadequa e valida paraasua actividade enquanto «analista» social, «investiga damente analisadas nas perspectivas de que inicialmente resuItaram. don>, etc. Alem disso, penso que e correeto dizer que as teorias pro Alguns viram este tipo de estrategia como urn eclectismo indevi e duzidas em ciencias sociais nao sao somente «quadros de referencia» damente equacionado, mas considero que esse dialogo critico a por direito proprio, mas constituem tambem interven~5es morais na essencia de urn desenvolvimento conceptual enriquecedor em teoria vida social, cujas condi,aes de existencia procuram cJarifiear. social. Novas Regras do Metodo Soci%gico vai ao encontro de outras «critieas positivas» que procurei defender na elabora,ao dos princi pios fundamentais dateoria daestrutura,aosocial. Em textos comple mentares que elaborei no mesmo periodo esbocei pequenas aborda gens a amilise social que foram postas de lado ou tratadas apenas ao de leve em Novas Regras. Tais abordagens abrangiam a sociologia naturalista - urn tenno quejulgopreferivel ao mais comume ambi guo r6tulo de positivismo- funcionalismo, estruturalismo e «p6s- 8 9 ~, -estruturalismo». No livro The Constitution ofSociety (1984) desen de estrutura.Quais sao algumas das objec~oes que podem ser-Ihe volvi urnesquemaconcepual mais inteligivel para an",ao deestrutu feitas? Incluem as seguintes: ra~aodoque0 propostoemNovasRegras, sem,contudo, 0 suplantar'.. Novas Regras analisa particularmente as questoes de ac~ao, estrutura 1. Talvez os actores recorram rotineiramente as nonnas e aos a e transforma~ao social; 0 seu ponto de incidencia assenta na natureza recursos suadisposi~ao eassimos reproduzamnodecurso da da «ac~ao» e nas implica~oes de uma analise da ac~ao para a logica sua actividade diana. Nao sera, contudo, tal orienta~ao para as das ciencias sociais. nonnas e as recursos a unica ou a predominante de que dis Desdeapublica~aodeNovas Regrasrealizaram-se muitos debates poem? Como Mouzelis coloca a questao, «os actores, por sabre estes temas, mas, aD rever 0 livro, encontrei muita palica ma vezes, distanciam-se, eles pr6prios, das nonnas e recursos de teria que possaser alvo de abandono ou reformula~ao. 0 pensamento forma a questionarem-nos, estabelecerem teorias acerca deles de Talcott Parsons continua a ter seguidores e a ser preponderante ou ainda, em especial, delinearem estrategias, quer tendo em atraves dos textos de Niklas Luhmann e outros, mas ja nao desempe vista a sua manuten~ao, quer a sua transforma~ao»3; nha 0 papel central que antes the era atribuido. As no~oes fenome 2. Assim sendo, segue-se que a ideia da dualidade de estrutura nologicas janao sao tao largamente difundidas, enquanto 0 pos-estru nao explica propriamente a constitui~ao ou reprodu~ao dos turalismo, nos seus diferentes aspectos, viu a sua importancia sistemassociais. As nonnaseos recursos sao reproduzidos nao acrescida e apareceu associado a concepr;5es pos-modemistas. Nao so no contexto do seu uso priitico, como tambern quando os me parece, contudo, que estas mudan~as alterem de alguma maneira actores «se distanciam» deles de maneira a porem-nos em os pontosdevistaquedesenvolvinesteestudo,quecontinuaamanter causa de uma forma estrategica. Quando tal sucede, 0 conceito -se valido. da dualidade de estrutura e completamente inadequado. Em Novas Regras angariou a sua quota-parte de criticas, umas vez disso, talvez devessemos falar de urn dualismo, porque 0 positivas, Dutras de impeto mais destrutivo. Respondi a esse criti individuo, 0 «sujeito», enfrenta as nonnas e os recursos como cismo em diferentes locais, pelo que nao retomarei aqui a mesma sendo «objectos» no ambiente social; replica. Seja-me permitido que me concentre apenas em duas ques 3. Estes comentarios assentam directamente em distin~oes entre toes: se a ideia de «dualidade da estrutura», vital para a teoria da a micro e a macroanalise em ciencias sociais. Embora nao estruturalfao social, associa niveis da vida social que devam ser tra discutida directamente em Novas Regras, a diferenciafYaa e tados em separado; se a distinr;ao entre «hermeneutica simples» e micro/macro, como e normalmente entendida, algo que po «hermeneutica dupla» das ciencais sociais deve ser mantida. A lite nho em causa. Se tentarmos, no entanto, sustentar posi~oes a ratura subsequente publica~ao de Novas Regras contem muitas criticas sem ela, 0 resultado sera urn reducionismo infundado. discussoes acerca destes problemas. Tendo em vista simplificar a Os sistemas sociais tern muitas propriedades estruturais que questao, refiro os pontos de vista de Nicos Mouzelis, no que respeita nao podem ser entendidas em termos de ac~ao de individuos ii primeiraquestao, e os de Hans Harbers e Gerard de Vries, no caso situados. A micro e a macroanalise nao sao, parem, mutua da segunda'. mente exclusivas; de facto, cada uma requer aautra, mas tern Muitos criticos aceitaram as objec~oes que formulei contra 0 de ser mantidas separadas; conceito de estrutura tal como e vulgarmente usado em sociologia. 4. Aideiadadualidadedeestrutura naopodeabrangerumaac~ao Vista como «fixo» e, na visao durkheimiana, como «exterior» aos orientada para uma escala demasiado vasta, mas, pelo contra actores socais, 0 conceito de estrutura aparece mais como urn cons rio, aplica-se numcontextodepequenaescala. Pode,porexern trangimento ii ac~ao do que como urn catalisador. Foi para fazer pIo, funcionarmelharquando seconsideraumaconversadiaria compreender este duplo caracter que introduzi a no~ao de dualidade entre duas pessoas na rua, mas nao se ajusta a uma situafYao 10 11 onde, digamos, se reuna urn grupo de chefes de Estado para Afastando-se deste dualismo de perspectivas te6ricas, a analise tomarem decis6es que afectam milhoes. A primeira situa,ao e, desenvolvida em Novas Regras tambem rejeita 0 dualismo de «indi podedizer-se, inconsequente nas Silas implic3'toes com ordens viduo» e «sociedade». Nenhum deles constitui urn born ponto de sociaismais v3stas,enquantoasegundaasafectadeumaforma partida para uma reflexao te6rica; em vez disso, a quesUio central 6bvia e directa. Na teoria da estrutura,ao hti uma «identifica incidesabreasprdticasreprodutivas. Eimportante, cantudo, serclaro 'raa»da actividade com «microssujeitos que, pelousa rotineiro acercado que significaarejei,ao do dualismo <dndividuo/sociedade». de normas e recursos, contribuempara areprodu,ao da ordem Categoricamente, tal nao significa negar que haja sistemas sociais e institucionaJ. A macroac,ao e negligenciada, quer pelo tipo de formas decolectividadeque tenham propriedades estruturais distintas, ac,ao que resulta da incumboncia de posi,oes de autoridade nem implica que essas propriedades estejam de algum modo «conti [...] quer tambem pelo tipo de ac,ao resultante de uma capa das» nas ac,oes de cada individuo isoladamente. Para desafiar 0 e cidade variavel de sujeitos individuais se unirem de forma a dualismo individuo/sociedade necessaria insistir em que cada urn defenderem, manterem au transfonnarem nonnas e recursos»4; deve ser desconstrutdo. 5. As no,6es durkheimianas de exterioridade e constrangimento Considerando que a «individuQ» tern existencia corporea, a seu precisam de ser sustentadas, embora talvez nao da mesma conceito parece naD se apresentar problemMico. Todavia, tendo em forma que 0 pr6prio Durkheim as expressou. Ha varios niveis aten,ao que 0 individuo nao pode ser olhado simplesmente como urn au graus envolvidos; 0 que eexteriore constrangedorpara urn corpo, a no,30 de corpo toma-se complexa quando relacionada com individuo pode so-Io em menor grau para outro. Este ponto aactividade individual. Falar de individuo e ter em mente tambem a interliga-se com as anteriores, por dar a entender que a vida ideiade agente, extravasando asimples nOyao de «sujeito»; aideiade social e hierarquica - mais do que falar «do individuo» em aCyao (como Talcott Parsons costuma frisar) e, inevitavelmente, 0 e confronto com a «sociedade», deveriamos admitir a ponto central. No entanto - e isto e crucial-, a aCyao nao sim multiplicidade de niveis de organiza,ao social, com graus plesmente uma qualidade do individuo, mas e igualmente a essoncia variaveis de disjun,ao entre eles. da organizayao social ou da vida colectiva. Muitos soci6logos, in cluindo mesmo alguns dos que trabalham nos quadros da sociologia Em resposta a estas observa,6es, elucido 0 leitor de que me interpretativa, falharam ao nao reconhecerem que a teoria social, nao debrucei sobre as razoes por que desenvolvi 0 conceito de dualidade importando 0 grau «macro» das Suas preocupaC;oes.requer urn enten de estrutura para por em causa dois tipos principais de dualismo. Urn dimento tao profundo da actividade e do agente como da percep,ao E e aquele que se encontra entre as perspectivas te6ricas preexistentes. das complexidades sociais. precisamente urn entendimento desta As sociologias interpretativas, como as discutidas em Novas Regras ordem que Novas Regras procura levar a cabo. e expostas noutros sitios, sao «fortes na ac~ao, mas fracas na estru o conceito da dualidade de estrutura aparece ligado ii logica da tura». Veem os seres humanos como agentes decididos, conscientes analise social; em si mesmo, au par si, nao oferece qualquer genera de si pr6prios enquanto agentes e encontrando razoespara aquilo que liza,ao acerca do binomio reprodu,ao social/transforma,ao. Este fazem, mas tern POllCOS meios para lidarem com assuntos que assen ponto e fundamental, pois de outra maneira uma analise estruturalista tamlargamenteemperspectivasfuncionalistas eestruturais- proble estaria realmente exposta ii acusa,ao de reducionismo. Dizer que a mas de constrangimento, poder e organiza,ao social em larga escala. produyao e reproduC;ao da vida social sao amesma coisa implica niio Este segundo grupo de contribui,6es, por outro lado, embora «forte tomar posi,ao acerca da estabilidade ou mudan,a em determinadas na estrutura», tern side «enfraquecido na acc;:ao». Os agentes sao condi,6es da actividade social. Alem disso, deve real,ar-se que nem tratados como inertes e incapazes - marionetas de poderes mais do ponto de vista 16gico, nem mesmo na nossa actividade diaria, fortes do que eles. podemos abstrair-nos do fluxo da ac,ao, quer ela contribua para as 12 13 r I mais rigidas instituic;6es sociais, guer paraas mais radicais fermas de Quanto ao referido no ponto 2, devo reafirmarque adualidade de mudan9a social. : estrutura «nada significa». Tern apenas valor explanat6rio quando Uma vez estabelecidas estas materias, passo acomentaros pontos consideramos'algumas situa~oes hist6ricas concretas. A «dualidade» I a5. 0 ponto I contem umequivocoacercadoconceitodadualidade da dualidade de estrutura respeita a dependencia da aC9ao e da estru de estrutura e presume um conceito de reflexividade demasiado pri tura, entendidacomo asser9ao l6gica, mas que nao envolve certamen mitivo. Todos os actores sao te6ricos sociais, e tern de se-Io para te a fusao de urn actor situadocom a colectividade. Realmente, neste serem verdadeiros agentes sociais. As conven900s aque se obdece na caso sera preferivel falarmos de uma hierarquia a mantermos a ideia organiza9ao da vida social de modo algum podem ser vistas como de urn dualismo: existem varias formas de interconexao entre indivi E «habitos cegos». Urn dos contributos determinantes da fenomeno duos e colectividades. por de mais evidente que cada actor situado logia, em particular da etnometodologia, tern sido 0 de demonstrar enfrenta urn ambiente de aC9ao que possui, para ele ou ela, uma (I) que a condu9ao da vida social envolve continuamente a «teori «objectividade» num sentido quase-durkheimiano. za9ao» e (2) que mesmo os habitos mais rigorosos, ou as normas Notocanteaospontos3e 4,adistin~aoentremicroemacroanalise sociais mais inabaHiveis, envolvem uma aten<;ao reflexiv3, continua e nao e a mais indicada em ciencias sociais, pelo menos em alguns dos pormenorizada. A rotiniza9ao e de elementar importancia na vida modos em que habitualmente e entendida. Sera especialmente enga social, mas todas as rotinas, em qualquer altura, sao realiza96es po nadora se for vista como urn dualisrno - onde as «microssituayoes» a tencialmente fracas e contingentes. se adequarn nOyao de acc;ao, enquanto as «macrossituayoes» dizem Em todas as formas de sociedade os individuos «autodistanciam respeito as situa90es em que ha inexistencia de controle por parte do -se» de nonnas e recursos, aproximam-se estrategicamente deles, e individuo'. 0 quee importanteeteremconta as liga96es, assimcomo assim sucessivamente. Em alguns casas, por razees 6bvias, eesta a as disjunyoes, entre situa~oes de co-presenc;a e «conexoes interme condi9ao dos modos de reprodu9aO social mais regulares. Nao dias» entre individuosecolectividadesde varios tipos. Naoe somente obstante urncontexto deaC9ao sertradicional,porexemplo, atradi9ao o caso a que Mouzelis chama «macroac9ao» que e posto de lado na ecronicamente interpretada, reinterpretada e generalizada pelos mes teoria da estrutura~ao. Contudo, a «macroacyao» nao e, pelas razoes mas meios com que se «manifesta». E6bvio que todos os momentos que ele apresenta, 0 mesmo que a inexistencia de co-presen~a: aqui de atenc;ao reflexiva fazem usa e reconstituem nonnas e recursos; ofen6meno de poder diferencial e normalmente central. Urn pequeno repete-se que nao pode haver uma saida para fora do fluxo de aC9ao. numero de individuos que se encontram pode estabelecer politicas e A forma de «distanciamento» que Mouzelis teorizou particu com consequencias bastante profundas. Este tipo de macroac9ao e larmente evidente em circunstancias sociais onde a influencia da ainda mais subtil do que Mouzelis faz crer, porque nao e de forma tradi9ao foi atenuada. Podemos fazer aqui uma distin9ao util entre alguma limitado a processos conscientes de tomada de decisao; os a reflexividade, como uma qualidade da aC9ao humana em geral, e sistemas de poder em grande escala sao reproduzidos tanto mais a reflexividade institucional. enquanto fen6meno hist6rico. fortemente quanto mais as circunsHincias de interac9ao co-presente A reflexividade institucional diz respeito it instituciona1iza~ao da estao rotinizadas. atitude investigadora e calculista no tocante as condi96es generaliza Quanto ao ponto5, avidasocial,particularmenteemcondi96es de das da reprodu9ao do sistema; tanto estimulacomoreflecte 0 declinio modernidade, envolve multiplos niveis de actividade colectiva. Longe da forma tradicional de fazer as coisas, estando tambem associada de ser inconsistente com as pontos de vista expressos neste livro, tal a cria9ao de poder (entendida como capacidade transformadora). observa9ao esta na mesma linha de orienta9ao. «Exterioridade» e A expansao da reflexividade institucional esta por detras da prolife «constrangimento» nao podem ser vistas, como Durkheim pensava, ra9ao de organiza96es em circunstancias de modemidade, incluindo como caracteristicasgeraisdos«factos sociais». 0 «constrangimento» as organiza96es de ambito geral'. apresenta-se sob diversas formas, algumas das quais concernem de 14 15 ~ \ re;=~ r "'="""'"•-"".... novo ao fen6meno do poderdiferencial. A «exterioridade» dos factos Co"'"". -"""'"" •• sociais nao as define enquanto faetos sociais, mas, em vez disso, nificadobiisicodadiversidade,docontextoedahist6ria.Osprocessos dirige a aten,ao para diferentes propriedades/contextos/nlveis dos de reproduc;ao social empiricacruzam-se uns com os outros de varias ambientes de ac,ao de individuos situados. formas em rela,ao ii sua «extensao» espacio-temporal para a for Na teoria de estrutura~ao 0 conceito de «estrutura» presume 0 ma,ao e distribui,ao de poder e para a reflexividade institucional. de sistema; sao somente os sistemas sociais au as colectividades que o momento apropriado para 0 estudo da reprodu,ao social esta no tem propriedades estmturais. Acima de tudo, a estmtura deriva de processo imediato da constitui,ao de interac,ao, porquanto toda a praticas regulares e, por essa razao, esta intimamente ligada ii vida social e uma realiza,ao activa; cada momento da vida social institucionaliza~ao; a estrutura da forma a influencias totalizantes carrega a marca da totalidade. «A totalidade» nao e, porem, uma na vida social. Sera, por fim, enganador tentar esclarecer 0 conceito «sociedade» abrangente e limitada, mas um composto de impulsos e da dualidade de estmtura por referencia ao uso da linguagem? Se de ordens totalizantes diversas. -Io-a de facto se olharmos a linguagem como uma entidade fechada Reflexividade instltucional- esta nO\Oao liga a analise da moder e homogenea. Devemos conceber a Iinguagem como urn conjunto nidade ii ideia mais generalizada da hermeneutica dupla. 0 caracter de praticas diversas e fragmentadas, contextos e modos de organi «duplo» da «henneneutica dupla» implica uma vez mais adualidade: za,ao colectiva. Como friso no texto, a ideia de Levi-Strauss de que as «descobertas» das ciencias sociais nao permanecem isoladas do e a «sociedade como a linguagem» deveria ser fortemente comba «objecto de estudo» aque se referem, mas reintegram-no e remode tida, mas 0 estudo da linguagem ajuda certamente a lan,ar luz sobre lam-no constantemente. Ede primordial importiincia enfatizar que 0 e algumas das caractensticas basicas da actividade social como urn que esta aqui em questao nao a existencia de mecanismos de todo. feedback. Pelo contrario, a intmsao de conceitos e as reivindica,oes Tudo isto foi jareferido, mas os criticos podem continuara sentir de conhecimento assentes no universe de fen6menos que procuram -se preocupados e insatisfeitos. Nao existira, por isso, uma longa descrever produzem um equlvoco essencial. A hermeneutica dupla distanciaentre as «praticasdiarias», ainteracfYao situadade individuos encontra-se desta forma intrinsecamente envolvida na natureza o as propriedades dos sistemas sociais ,m larga escala, mesmo que deslocada e fragmentada da modemidade vista enquanto tal, particu globais, que tanto influenciam a vida social modema? Como poderia larmente na fase da «alta modemidade»'. o primeiroelemento serde alguma maneira0 meio de reprodu,ao das Multas implica9iies decorrem desta observa,ao, mas quero consi propriedades estmturais do segundo? Uma resposta a esta pergunta derar aqui a tese da hermeneutica dupla s6 do ponto de vista dos consistiria em dizer que, em resultado de tendencias globalizantes diferentes debates em filosofia e sociologia das ciencias. Tais deba actuais, ha efectivamente muitos aspectos importantes em que as tes tem origem na observa,ao, actualmente aceite, de que as cien e actividades diarias comunicam com influencias exteriores globais, e cias naturais tern caracteristicas hermeneuticas. Como analisada vice-versa. Na economia global, as decisoes locais de compra, por neste Iivro, a velha diferencia,ao entre Verstehen e Erkliiren tomou exemplo, efectam e servem para constituir ordens econ6micas que, -se problematica; a ideia de que as ciencias naturais lidam apenas e por sua vez, actuam de novo sobre as decisoes subsequentes. 0 tipo principalmente com conceitos generalizames do tipo juridico per de comidaque umapessoaconsome tem, globalmente, consequencias tence a uma visao da aclividade cientifica hoje em dia largamente para a ecologia global. Aum nivel menos circunscrito, aforma como abandonada. Como Karen Knorr-Cetina coloca a questao, «a investi um homem olha para uma mulher pode ser um elemento constitutivo ga,ao em ciencias naturais assenta no mesmo tipo de 16gica de estruturas arraigadas de podersexual. Areproduc;ao/transformac;ao situacionista,e e marcada pelo mesmo tipo de raciocinio indicial, que dos sistemas globalizantes esta presente em toda a variedade de de costumamos associar ao caracter simb6licoe interaccional do mundo cisoes e actos diiirios. social»8. ~ 16 17 sa... aIlIU•••cattoIDIII • <,;.11'111 . ·'.llo""r:e~ r T Essas conclusoes foram obtidas mais em resultado de estudos dades. 0 projecto holandes sobre talentos (The Dutch Project on sociologicos do que de interpreta,ao filos6fica. Assim, a experimen Talents) foi um deles, um trabalho levado a cabo por um grupo de ta,ao, desde hii muito considerada a pedra angular do conheeimento onze investigadores sociais. A ideia da pesquisa consistia em estudar cientifico, tern side estudada como urn processo de translac~ao e alarga reserva de «talentos inaproveitados» que se supoe existir. Por constru~ao de informac;ao contextual.'Mas sera isto a «henneneutica outraspalavras,pensou-sequemuitascrian~as provenientesdosmeios simples», que pode ser difereneiada da hermeneutica dupla das cien mais pobres se qualificavam para niveis avan,ados de educa,ao cias naturais? Alguns, incluindo Knorr-Cetina, dizem que nao. Esta secundaria, mas nao eram encaminhadas para as escolas apropriadas. distin,ao, refere, depende de duas suposi,oes: que os seres humanos Os resultados nao confirmaramessa expectativa. As crian,asfrequen possuem «actividade causal» inexistente na natureza; que no mundo tavam escolas que iam de encontro as suas capacidades; a relativa social ha meios distintos, apropriayao consciente, para que a acti baixa presen,a de crian,as de niveis menos privilegiados nao resul vidade causal se desencadeie. Nenhuma e justificada. A primeira tava de decisoes mal encaminhadas acerca do tipo de escola depois assenta na no,ao pouco sofisticada de causalidade natural, pois da educa,ao primaria. Essas crian,as ji tinham ficado para tras na tambem podemos dizer que os objectos no mundo natural possuem escola primaria. poderes causais. A segunda ignora 0 facto de haver mecanismos Estas conclusoes foram aprimeira vista aceites por muitas auto desencadeadores equivalentes, se nao paralelos, para a recep,ao de ridades educacionais e a politica governamental baseou-se ne!as. informayao no mundo da natureza. Contudo, subsequentemente, outro investigador publicou um livro Harbersede Vriessugeremqueestasvisoesantagonicasdaherme utilizando novos calculos provenientes dos mesmos dados. Recor neuticaduplapodemserestudadasaluzdaevideneiaempirica. Knorr rendo aurn conceito diferente de «talento», concluiu que areserva de a -Cetina baseia a sua tese em estudos hist6ricos e socio16gicos das talentos raros existia de facto. projecto inicial sobre talentos foi a cieocias naturais. Por que naD considerar directamente a influencia levado a cabo no quadro definitivo de suposi,oes correspondentes a das eiencias soeiaisem quadros mais alargados do conhecimentoeda visao popular da «meritocracia». segundo investigador combateu accr8o? Deacordocomos autores atnls citados, atesedahenneneutica tais suposi,oes e nao so propos uma visao diferente sobre aigualdade duplapresume duas hipoteses: que, quando as interpreta,oes de senso educaeional, como ainda uma orienta,ao pratica diferente para redu comum constitutivas do fenomeno social se tornam 0 objecto de zir as desigualdades. Os seus conceitos e descobertas contribuiram mudan,a historica, as interpreta,oes oferecidas no ambito das cien para a dissolw;ao do «consenso meritocratico» que anterionnente cias sociais mudam correspondentemente, que as novos conceitos au existia. Por seu turno, a soeiologia da educa,ao produziu novas defi descobertas desenvolvidosemeienciassoeiais teraode serdefendidos ni,oes de pesquisa dos problemas e fragmentou-se num numero de naD so no seio da comunidade sociologica, mas tambem em «foruns perspectivasopostas. Estas, porSuavez, foram encaminhadasdenovo de senso comum de leigos». A no,ao da hermeneutica dupla implica para debates publicos sobre questoes de politica educacional. que, em contraste com 0 que se passa em ciencias naturais, as Harbers ede Vries sugeremque 0 seu estudo fomece umexemplo sociologos tern aobrigar;ao «cientifica», e nao so civica, de apresen concretodahermeneuticadupla: as atitudes publicassobre aeduca,ao tarem as suas ideias auma audiencia de leigos9. Harbers e de Vries foram alteradas pelos processos de pesquisa soeial, que, por sua vez, examinam estas hipoteses, analisando os desenvolvimentos da educa ajudaram a alterar. Quando 0 «estilo teorico» do trabalho de pesquisa e coincidentecomsuposi,6eS amplamente sustentadas por leigos, eles ,ao na Holanda. Os sociologos empenham-se desde hi muito emdocumentarem as referemque as posi,oes de senso comumperrnanecemesqueeidas por a oportunidades desiguais naeduca,ao. Desde os anos 50ate presente ambas as partes. Em tal situa,ao, 0 investigador sociologico pede data foram estabelecidos muitos projectos em diferentes paises, tendo aparecer COmo urn «cientista autonomo», muito semelhante ao cien em vista descobrir quais os factores que int1uenciam essas desigual- tista natural. Quando, porem, existe uma variedade de opinioes dis- 18 19

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