DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudíavel a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós: O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: LeLivros.Info ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível." Folha de Rosto Vi r g i n i a Wo o l f Noite e dia tradução Raul de Sá Barbosa prefácio Antonio Bivar Créditos Night and Day Copyright da tradução © 2007 by Raul de Sá Barbosa Copyright © 2008 by Novo Século Editora Ltda. Produção Editorial: Equipe Novo Século Capa: Guilherme Xavier / gxavier.com Projeto Gráfico: Guilherme Xavier Composição: Cintia de Cerqueira Cesar Revisão: Edson Cruz Diagramação para ebook: Janaína Salgueiro Woolf, Virginia, 1882-1941. Noite e dia / Virginia Woolf ; tradução Raul de Sá Barbosa. -- Osasco, SP : Novo Século Editora, 2008. Título original: Night and day 1. Ficção inglesa I. Título. 08-06684 CDD-823 1. Ficção : Literatura inglesa 823 2008 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. Rua Aurora Soares Barbosa, 405 – 2º andar CEP 06023-010 – Osasco – SP Fone (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br [email protected] Prefácio Noite e Dia é o segundo romance de Virginia Woolf.Experimentalista por excelência, depois do parto difícil quefora A Viagem, seu primeiro livro, Noite e Dia (Night and Day) foi sua tentativa de escrever um romance convencional. No primeiro ela brincara com fogo, conjurando algunsdemônios que habitavam sua mente – como dirá um de seus biógrafos – e sofrera a maior crise mental até então.Por isso, no segundo romance preferiu embarcar em algosadio e quieto, uma obra recuperadora. Certo. De sua história durante a feitura de Noite e Dia consta que ela sofreraapenas as dores da extração de dois dentes e, bem depois,uma gripe que a mandou para a cama duas semanas. Mas, como em todos os seus romances, do primeiro aoúltimo,neste também ela não deixou de recorrer à sua própriahistória e a de parentes,amigos,conhecidos,antepassados,assim como a observância comportamental da gente povo, que,de algum modo,fazia parte de sua experiência de vida.Virginiasempre foi uma caminhante apaixonada, fosse no campo, napraia ou nas ruas de sua adorada Londres. Em 1917 ela voltaa escrever, quase semanalmente, resenhas para The Times Literary Supplement.Nesse mesmo ano ela e o marido Leonard, vivendo em uma casa chamada Hogarth House, no subúrbio de Richmond,fundam a editora Hogarth Press,que,segundovisitantes, vai atravancando inclusive a sala. Para ocuparVirginia,distraindo-a de problemas de saúde mental,Leonardcomprou uma pequena impressora de segunda mão. Virginiapassa então a se ocupar, também, de um trabalho manual: elamesma mete a mão na massa, ou seja, compõe, com tipos, aspáginas,assim como aprende a lidar com a tinta de impressão.O casal começa, amadoristicamente, por publicar pequenoslivros de pequena tiragem.Originais de escritores amigos e de alguns outros por estes indicados. Nesse mesmo ano ela começa a esboçar Noite e Dia. No ano seguinte,1918,enquanto o romance vai tomando forma, a editora vai ganhando credibilidade. Virginia eLeonard Woolf recebem originais até de autores que nãoconhecem pessoalmente. Recebem, por exemplo, o manuscrito de Ulysses. Virginia, embora com ressalvas, reconhecevalor no livro mas a editora ainda não tem capacidade técnica de publicar livro tão volumoso. Mesmo o romance que elaestá a escrever terá mais de 500 páginas e terá [ainda] que serpublicado pela editora do meio-irmão Gerald Duckworth,editora de grande porte e que em 1915 publicara A Viagem. Mas, entre os pequenos volumes publicados pela editora de Virginia e Leonard, o primeiro livro de poemas de T.S. Eliot e a noveleta Prelúdio, 68 páginas, de Katherine Mansfield – com quem Virginia tem bastante convívio e com quem mantém um relacionamento ambivalente de mútua admiração e inveja. Mansfield, que gostara de A Viagem, odiou Noite e Dia. Em sua crítica demolidora, publicada no Athenaum, refutou o livro como “antiquado”dando a entender que nele Virginia se mostrava alienada ao ignorar a realidade da guerra etc. Depois se arrependeu e as duas continuaram o relacionamento ambíguo. Nesse tempo Virginia freqüenta Garsington, o solar campestre do casal Philip e Ottoline Morrell, perto de Oxford.Nos anos da primeira guerra o solar é um refúgio de pacifistascultos, ilustrados e de estirpe. A excêntrica Lady Ottoline recebe e hospeda em sua mansão no campo figuras brilhantescomo Aldous Huxley,Lytton Strachey, o pintor Henry Lamb, o economista Maynard Keynes e o filósofo Bertrand Russell,com quem Ottoline mantém caso extra-conjugal. E tambéma Mansfield, o Eliot e muitos outros, gente selecionada pelafeérica Ottoline.Um que a essa altura Ottoline já não permitiaentrada em casa era D.H.Lawrence.O autor a expusera como personagem em Mulheres Apaixonadas e Ottoline se magoaracom a exposição. Mais tarde ela também se ofenderá com Huxley. Aldous a fez sentir-se denegrida ao inspirar-se nela e em Garsington para uma das personagens e cenário de seu romance A Feira de Crome (Crome Yellow). E com grande prazer Virginia continuava o Noite e Dia. Durante o período em que deslancha o livro ela quase nadaescreve no diário sobre o trabalho em progresso. Em compensação, quando termina de escrevê-lo, ela quase não escreve sobre outra coisa nas páginas do diário desses dias. Novembro de 1918 trouxe o armistício e também o final de Night and Day.Em 1º de junho de 1919 o casalcompra, num leilão, por 700 libras, a Monk’s House, no vilarejo de Rodmell, em Sussex, casa que será, para o restode sua vida, a residência campestre do casal. Uma casa atémodesta mas com um vasto jardim. Nessa casa, Virginia eLeonard hospedarão amigos e receberão visitantes famosose/ou importunos. Monk’s House é hoje é uma casa visitável: a casa de Virginia Woolf e o belo jardim de Leonard.Fica a uma hora de trem, de Londres até Lewes, donde ao lado da estação um táxi levará a Rodmell e à casa, mantida, assim como tantas outras casas famosas inglesas, pelo National Trust. No quarto de Virginia obras dela em todasas línguas, inclusive, entre as brasileiras, Noite e Dia, primeira edição pela Nova Fronteira, 1979, tradução de Raulde Sá Barbosa, tradução que o leitor terá o maior prazer deler, nesta nova edição, pela Novo Século, 2008. Vale lembrar, já que chegamos tão longe, que o editor das duas edições, a de 1979 e a de 2008, é o mesmo: Pedro Paulo de Sena Madureira, quem, pela quantidade e qualidade deobras dela por ele editado, é, por excelência, o mais prolíficoeditor de Virginia Woolf no Brasil. Virginia Woolf estava com 37 anos quando Night and Day foi publicado, em 1919. O romance começa com a filhada casa servindo chá aos mais velhos. A personagem que se segue ao longo é Katharine Hilbery,“cuja mocidade é absorvida pelo passado, freqüentemente sentindo-se como que pertencendo ao mundo dos mortos, como se fosse um fantasma entre os vivos”, segundo Hermione Lee, autora damais extensa biografia de Woolf. E a biógrafa escreveu: “Virginia satirizou relacionamentos familiares, fazendo umaanálise da tirania e da hipocrisia dos pais vitorianos.Virginiafaz entender que a possibilidade de escrever sobre o passadode modo pessoal e não- oficial resulta em arte no seu próprio direito. Uma arte extraída das reminiscências.” Noite e Dia é um romance na linhagem da tradição inglesa de grandes novelistas como Jane Austen,Charlotte Brontëe George Eliot. Os personagens são puro deleite para o lei-tor. A Sra. Hilbery, mãe de Katharine, a heroína, foi inspirada em uma tia torta de Virginia, de muito convívio em seusanos de menina e moça (e mesmo depois, já casada), a tiaAnny Thackeray. O primeiro casamento de Leslie Stephen,pai de Virginia,foi com Minny,a filha mais nova do autor deVanity Fair (Feira de Vaidades). Mesmo depois de viúvo ecasado em segunda núpcias com Julia Duckworth, tambémviúva e com quem terá quatro filhos,um deles Virginia.também viúva, todos continuaram muito ligados à cunhada de Leslie, tia Anny. Muito animada e presente, ela própria umaromancista, Anny Thackeray foi uma grande influência emVirginia e serviu de inspiração para a personagem da Sra.Hilbery em Noite e Dia. Segundo Quentin Bell, o romancepode ser lido como um tributo à tia Anny. E Quentin contaem sua biografia da tia Virginia Woolf: “A Sra. Hilbery é umretrato bastante correto de tia Anny. Ela própria era umaromancista de obras tênues e encantadoras em que a narrativa tendia a se perder.Vaga,errática,insinuante.Um de seustalentos consistia em provocar as pessoas com seu otimismojuvenil, vigoroso e animado.” Como num romance “clássico”,em Noite e Dia,Virginia Woolf atira o leitor dentro de uma sociedade, seus costumes, sua linguagem, num jogo de poder e contestação,através do amor entre Katharine Hilbery e Ralph Denham -advogado, intelectual e burguês. E o enredo se desenrola num estilo ao mesmo tempo sólido e etéreo. Noite e Dia é um belo e elegante romance de leitura prazerosa. E a tradução brasileira de Raul de Sá Barbosa é uma obra-prima. Em sua resenha do livro, publicada no CadernoB do Jornal do Brasil em 11 de agosto de 1979, escreveuGastão de Holanda: “Conhecendo o inglês profundamente,Raul de Sá Barbosa [com Noite e Dia] pode ombrear-se aostradutores brasileiros que desempenharam papel histórico em nossa literatura.”E cita nomes:Cecília Meireles,Manuel Bandeira, Mário Quintana, Otávio Mendes Cajado, CarlosDrummond de Andrade, Onestaldo de Pennafort, Paulo Rónai e outros. E dá um exemplo: ‘It was past eleven and the clocks had come into their reign...’ “[Raul de Sá Barbosa] encontrou uma perfeita equivalência entre ‘into the reign’ e ‘começava a reinação dos relógios’.” Sim, Noite e Dia é um romance em que Virginia Woolf experimenta o tradicional. E, indubitavelmente, quem sai ganhando é o leitor. Mas Virginia, ela mesma, não era de deitar sobre os louros. Sua próxima aventura será modernista. Em 1922, ano da publicação de Ulysses de Joyce e da Semana de Arte Moderna em São Paulo, Woolf lançará, e agora por sua própria editora, O Quarto de Jacob, seu primeiro romance decididamente modernista. Antonio Bivar Membro do The Virginia Woolf Society of Great Britain 1 Era uma tarde de domingo em outubro e, como muitas jovens damas da sua classe, Katharine Hilbery servia o chá.Talvez uma quinta parte da sua mente estivesse ocupada nisso; o restante saltava por cima da frágil barreira de dia que seinterpunha entre a manhã de segunda-feira e esse amenomomento, e brincava com as coisas que a gente faz espontânea e normalmente no curso do dia. Embora calada, via-se evidentemente senhora da situação, que lhe era familiar, einclinava-se a deixar que seguisse seu curso (pela centésimavez?) sem ter de engajar por isso qualquer das suas faculdadesociosas. Um simples olhar bastaria para mostrar que Mrs.Hilbery era tão rica dos dons que fazem o sucesso dos chás degente importante de certa idade, que a rigor podia dispensar o auxílio da filha,desde que alguém se encarregasse por ela doaborrecido trabalho das xícaras e do pão com manteiga. Considerando que o pequeno grupo estava assentado em torno da mesa há menos de vinte minutos, a animação estampada nos seus rostos e a bulha que produziam coletivamente faziam honra à anfitriã. De repente deu na cabeçade Katharine que, se alguém abrisse a porta naquele momento,poderia pensar que estivessem a divertir-se.Pensaria:“Que casa encantadora!” – e, instintivamente, riu, dizendo qualquer coisa presumivelmente para aumentar o burburinho, em benefício do bom nome da casa – uma vez que elaprópria não sentia qualquer animação. Nesse momento exato, e para grande divertimento dela, a porta se escancarou, ede fato um rapaz entrou na sala. Katharine perguntou mentalmente ao saudá-lo: “Vamos, acha que estamos nos divertindo a valer?” – Mr. Denham, mamãe – disse em voz alta, pois viu quea mãe esquecera o nome dele. O fato foi percebido pelo próprio Mr. Denham, e agravou o constrangimento que cerca inevitavelmente a entrada de um estranho numa sala cheia de gente inteiramenteà vontade, e todos embarcaram em frases simultâneas. Ao mesmo tempo, pareceu a Mr. Denham como se mil portasacolchoadas se tivessem fechado entre ele e a rua. Uma garoa fina, espécie de essência diáfana do nevoeiro, era visívelacima do vasto e quase vazio espaço da sala-de-estar, todode prata, onde as velas se agrupavam na mesa de chá, avermelhada à luz do fogo. Com os ônibus e os táxis correndolhe ainda pela cabeça, com o corpo ainda trepidante da rápida caminhada a pé pela rua, a desviar-se do tráfego e dospedestres, o salão
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