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Nietzsche Em Suas Obras PDF

277 Pages·1992·19.509 MB·Portuguese
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LOU ANDREAS-SALOMEÉ NIETZSCHE EM SUAS OBRAS Tradução: JoséCarlosMartinsBarbosa editora brasiliense CopyrightO byInselVerleagFrankfurtamMain, 1983 Títulooriginal:FriedrichNietzscheinseinenWerken ISBN: 85-11-12063-7 Primeiraedição,1992 Preparaçãodeoriginais:MariaAméliaDalsenter Revisão:Ana MariaM. BarbosaeIratiAntonio Capa:Qu4troArquitetos/ClaudioFerlauto brasiliense Av. MarquêsdeSãoVicente,1771 01139-SãoPaulo-SP Fone(011)67-9171-Fax826-8708 Telex(11) 33271DBLM BR TMPRESSONOBRASIL Apresentação à edição brasileira .. ... 12000000.0o Y Prefácio ..c cc cAA 11 Sua ESSÊNCIAa..c 0000A 27 SuasMetamorfoses ..c c0000./c A 61 O “Sistema Nietzgsche” Luc cc000000. 143 Apresentação à edição brasileira Roma, abril de 1882. Numa manhã de primavera, Louise von Salomé conhece Friedrich Nietzsche; sãoapresentadospor um amigo comum, Paul Rée, num passeio à Basílica de São Pedro. Lou viajava pela Itália em companhia da mãe. Com vinte e um anos, gozava de uma independência de espírito e liberdade de comportamento desconcertantespara a época - embora usuais na Rússia, suaterranatal. Começava afregiien- tarosmeios intelectuais edecidira dedicar-se àliteratura. Nietz- sche,aostrintaeseteanos,definia-se como um “espírito livre”. Formado em filologia clássica em Leipzig, cedo foi nomeado professor na Basiléia. Entre 1869 e 1876, ministrou cursos e publicou vários livros. Crises de saúde obrigaram-no a aban- donar suas atividades acadêmicas; desde 1879 abraçara uma vida errante. : Em Nietzsche, a“jovem russa” julga encontrar um homem brilhante que poderia auxiliá-la aaprimorar suaformação.-Em Lou, o filósofo espera ter “uma discípula”, “uma herdeira” que continue seu pensamento. Encontros e desencontros mar- cam essarelação profunda — e efêmera. | Graças àsuainteligência epersonalidade, Lou fará amigos cêlebres. Manterá uma relação ambígua com Nietzsche, apai- xonada com Rilke, fecunda com Freud. Em 1894, publicará u biogralfia do filósofo: Friedrich Nietzsche em suas obras; em 1927, a do poeta: Rainer Maria Rilke; em 1931, a do 8 APRESENTAÇÃO psicanalista: Minha gratidão a Freud. Escreverá ainda roman- ces e poemas. Dada à fragilidade de sua saúde e os recursos exíguos de que dispõe, Nietzsche mergulhará cada vez mais na solidão. Abandonado, não terá leitores nem discípulos - —e até mesmo os mais próximos o desertarão.: Marcado pelo sofrimento e pela dor, produzirá a parte mais importante de sua obra, construirá sua própria filosofia. . Em 1882,Nietzsche sente-seatraído pelapresença deespí- rito e capacidade de escutadeLou Salomé. Está seduzido por seu ardor intelectual e desejo de vida. Nesse ano, a “jovem russa” planejaredigir umabiografia dofilósofo. Quer descrever esseespírito peculiar paracompreender oseupensamento. Lon- gos passeios, animadas conversas. À Nietzsche, Lou confia o seu projeto; com ele, discute a primeira parte e trechos da segunda, que irão compor o seu livro. (Mas só elaborará a terceira, quando já estiverem afastados). Então, o filósofo pa- rTeceentusiasmar-se com o trabalho. “Sua idéia de reduzir os sistemas filosóficos à vida pessoal de seus autores”, diz ele na carta de 16 de setembro de 1882, “provém diretamente de uma “alma-irmã'; nesse sentido, eu mesmo ensinei a história da filosofia antiga, na Basiléia, e gostava de dizer a meus ouvintes: “talsistema estárefutado e morto — mas apessoa que se achapor trásdele é irrefutável, é impossível matá-la'” Em 1894, atentaàrepercussãodopensamento deNletzsche e sensível às distorções por que passam as suas idéias, Lou Salomé decide publicar Friedrich Nietzsche em suas obras. À estabiografia outrasseseguirão: adeMeta von Salis, Filósofo e aristocrata. Contribuição para caracterizar Friedrich Nietzsche (Philosoph und Edelmensch. Ein Beitrag zur Cha- racteristik Friedrich Nietzsche) em 1897; a de Paul Deussen, Lembranças de Friedrich Nietzsche (Erinnerungen an Frie- drich Nietzsche) em 1901; a de Elizabeth Fôrster-Nietzsche, A vida deFriedrich Nietzsche (Das Leben Friedrich Nietzsche) em 1904. Em seu livro, Lou Salomé opta por umaabordagem psi- cológica dos textos do filósofo; procura entender aspossíveis contradições, neles presentes, como mamfextaçao de conflitos APRESENTAÇÃO 9 pessoais. O propósito é esclarecer o pensador através do ho- iném; o pressupostoéo deque, em Nietzsche, obra e biografia comeidem. Por isso, não se propõe inscrevê-lo na história da lilosolia nem aprofundar os seus conceitós. Guiada pela idéia de que “o instinto religioso sempre governou sua essência e seupensamento”, acabapor fazer uma leitura bastantepeculiar de alguns dos temas centrais presentes em sua reflexão. À morte de Deus transforma-se assim em “desejo de endeusa- mento de si mesmo”; o além-do-homem converte-se em “re- presentação de uma pura ilusão divina”; o eterno retorno tor- na-se parte integrante de uma “mística”. Todas as suas dou- trinas, enfim, nasceriam — segundo a autora — de uma con- cepção básica: “a monstruosa divinização do filósofo-criador”. Amparando-se naestreitaconvivência que tevecom Nietz- sche durante o ano de 1882, Lou Salomé elucida passagens relevantes da vida do filósofo. Esclarece as relações que ele estabeleceu com Wagner e Paul Rée, as transformações por que passou devido à solidão e à doença. Ressalta, ainda, a atraçãoque sentiu pelo positivismo, os estudos que consagrou às ciências da natureza e à importância que atribuiu à teoria do conhecimento. Estes, aliás, são aspectos de sua atividade intelectualque os comentadores negligenciarão por muito tem- po. Friedrich Nietzsche em suas obras é o testemunho de al- guém que partilhou momentos marcantes com um dos pensa- dores mais controvertidos de nosso tempo. Se não fornece ao leitor aschaves para compreender em profundidade afilosofia nietzschiana, com certezalhedásubsídios paradescobrir Nietz- sche enquanto ser humano. São Paulo, agosto de 1991 Scarlett Marton* * ProfessordaoDepartamentdce;)FÍilosofiadaUSP.PublicouNietzsche, dasforçascósmicasaosvaloreshumanos(Brasiliense,1990). Lou von Salomé tinha 21 anos quando, em abril de 1882, em Roma, conheceu Friedrich Nietzsche, quase 17 anos mais velho, amigo dePaul Rée, 5 anosmais jovem que ele, eescre- veu o livro Friedrich Nietzsche em suas obras com 33, em Berlim, como Lou Andreas-Salomé, pouco antesde partir em sua primeira viagem a Paris como escritora independente. O título “Friedrich Nietzsche em suasobras” deve elucidar que não consideremos o livro uma mera interpretação da obra e que a relação pessoal da autora com Nietzsche, ajunção de documentos variados eacitação detrechos decartasdeNietz- sche a ela e a Paul Rée devem igualmente servir aum único fim: revelar ocurso evolutivo ecognitivo deNietzsche, oculto, por assim dizer, em suas obras. — Tais indicações não permitem supor que o encontro de Nietzsche e Lou von Salomé, pré-requisito para a elaboração do livro, só possa ser entendido como o entrecruzamento dos caminhos de suasvidas e deseuspensamentos num momento bem definido, e que sua redação só foi possível num dado 1momentodavida deLou Andreas-Salomé. Duas coisas, porém, i resistênciadeNietzsche aum mero entrecruzamento deduas vidas e a convicção de Lou von Salomé de que sua convi- vência amigável com Paul Rée duraria a vida inteira, condu- viram tanto no caso de Nietzsche como no seu à uma contingência de vida que, por sua vez, possibilitou a ambos 12 PREFÁCIO a consumação das tarefas a eles destinadas: a de Nietzsche como filósofo, a de Lou Andreas-Salomé como conhecedora do homem. Pois sem passar pela solidão das solidões, Nietzsche não chegaria a seus conceitos revolucionários, e sem fracassar na tentativa de basear seu casamento com F. C. Andreas na con- fiança de Paul Rée manter continuamente atuante a antiga relação que tinham em Deus, ela não se tornaria a Lou An- dreas-Salomé que conhecemos. Essas considerações deveriam serfeitas antesde nos ocu- parmos documentalmente darelação de Lou von Salomé com ambos, Nietzsche e Paul Rée. Nietzsche que, em vez deir paraRoma, viajara deGênova paraMessina, como um novo Colombo, obteve uma impressão altamenteelucidativa deLou von Salomé através dasseguintes palavras de uma carta de Paul Rée que revelam também sua própria perplexidade diante da jovem (20.04.1882): “Com esse passo <viagem a Messina> você causou so- bretudopasmo e aflição aessajovem russa'. Estava tãoansiosa por vê-lo, por falar-lhe, que desejou para tal retornar à Suíça via Gênova, ficando muito furiosa ao sabê-lo tão afastado. É um serenérgico eincrivelmente inteligente, com atributosmui- to femininos e mesmo pueris”. Porém, numa carta de Berlim, na noite do ano novo de 1883, com uma retrospectiva sobre o ano que finda, Lou von Salomé dá aentender seurompimento com Nietzsche e acon- tinuação de seu relacionamento com Rée, então com 34 anos e em temporada na Prússia Ocidental, sua terra de origem: “Foi nos primeiros dias dejaneiro quando, cansada e do- ente, cheguei ao sol da Itália para levar comigo sol e vida para o ano inteiro”, Paul Rée sabe que essas palavras o incluem desde que, em março, em Roma, Lou von Salomé o conquistara para o 1 Defamíliaalemã,LouvonSaloménasceuemSãoPauloPetersburgo (Rússia).(N.T.).

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