ebook img

natureza, raz natureza, razão e mistério ão e mistério PDF

643 Pages·2009·1.76 MB·Portuguese
by  
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview natureza, raz natureza, razão e mistério ão e mistério

A Afonso Rocha f o n s o R Natureza, Razão e Mistério trata de questões e de autores que o c h foram particularmente importantes no pensamento e na cultura a portuguesas, muito designadamente no que concerne à segun- NNAATTUURREEZZAA,, RRAAZZÃÃOO EE MMIISSTTÉÉRRIIOO da metade do século xıx e primeira do século xx. Natureza, Razão e Mistério, a par de se fazer eco duma perspec- tiva comparada do estudo do pensamento português, tanto PPAARRAA UUMMAA LLEEIITTUURRAA CCOOMMPPAARRAADDAA logrará pôr em contacto com autores como o Padre António Vieira, Amorim Viana, Guerra Junqueiro, Sampaio (Bruno), Raul DDEE SSAAMMPPAAIIOO ((BBRRUUNNOO)) Brandão, Basílio Teles, Leonardo Coimbra, José Marinho, Álva- ro Ribeiro, Delfim Santos, António Braz Teixeira e Pinharanda Gomes…, como possibilitará aceder ao conhecimento da perspectiva que tais autores consagram sobre questões como a ideia de Deus, a concepção da religião, o problema do Mal, NN o conflito da razão científica e da razão religioso-teológica, AA o positivismo, o materialismo e o racionalismo, a «questão reli- PP TT giosa», o sebastianismo português e a missão divina de Portu- AA UU RR gal, o messianismo e o progresso, a monarquia e a república, a AA RR «filosofia portuguesa» e a filosofia portuguesa… DD U U EE ZZ No âmbito de uma aparente heterogeneidade de autores e de EE MM AA temáticas, Natureza, Razão e Mistério, recorrendo com fre- SS AA quência à análise comparada, não se dispensará de fazer AMAM LE LE , R, R emergir Sampaio (Bruno), quer como referencial de pensamento PAPA ITIT AA dos autores do seu tempo e décadas seguintes, quer como II UU ZZ OO RR ÃÃ pensador e filósofo que, entre nós, e antes de mais ninguém, AA (B(B OO demonstrou ser capaz de afirmar o Mal como mistério absoluto, CC RR de superar o conflito iluminista da razão e da religião, de con- UU OO E E ceber a filosofia segundo parâmetros de universalidade e de NONO MPMP M M situação… )) ARAR ISIS AA TT DD ÉÉ AA RR II OO ISBN 978-972-27-1722-9 temas portugueses 9 789722 717229 IINNCCMM Título: Natureza, Razão e Mistério Para uma Leitura Comparada de Sampaio (Bruno) Autor: Afonso Rocha Edição: Imprensa Nacional-Casa da Moeda Concepção gráfica: UED/INCM Tiragem: 800 exemplares Data de impressão: Outubro de 2009 ISBN: 978-972-27-1722-9 Depósito legal: 295 894/09 PRÓLOGO Natureza, Razão e Mistério — Para uma Leitura Compa- rada de Sampaio (Bruno) intenta criar condições para uma visão global e integrada de um conjunto de estudos escritos ao longo dos últimos anos de forma relativamente articulada. Escritos na sua maior parte após o estudo monográfico «O Mal no pensamento de Sampaio (Bruno), uma filosofia da razão e do mis- tério», tais estudos, para além de intentarem contribuir para um conhe- cimento mais profundo e alargado sobretudo do pensamento português moderno-contemporâneo, também visam contribuir, quer para uma certa complementação e/ou explicitação de alguns aspectos que não puderam ter um justo tratamento no mencionado estudo monográfico, quer para um melhor conhecimento da relação que se pode ter veri- ficado entre a obra e o pensamento de Sampaio (Bruno) e o conjunto dos principais autores do seu tempo e das décadas seguintes. Deste modo, Natureza, Razão e Mistério, a par de se fazer eco duma perspectiva comparada do estudo do pensamento português, tanto logrará pôr em contacto com autores como o Padre António Vieira, Amorim Viana, Guerra Junqueiro, Sampaio (Bruno), Raul Brandão, Basílio Teles, Leonardo Coimbra, José Marinho, Álvaro Ribeiro, Delfim Santos, António Braz Teixeira e Pinharanda Gomes..., como possibilitará aceder ao conhecimento da perspectiva que tais autores consagram sobre questões como a ideia de Deus, a concepção da religião, o problema do Mal, o conflito da razão científica e da razão religioso-teológica, o positivismo, o materialismo e o racionalismo, a «questão religiosa», o sebastianismo português e a missão divina de Portugal, o messianismo e o progresso, a monarquia e a república, a «filosofia portuguesa» e a filosofia portuguesa... 7 Ao mesmo tempo, no âmbito de uma aparente heterogeneidade de autores e de temáticas, Natureza, Razão e Mistério, recorrendo com frequência à análise comparada, não se dispensará de fazer emergir Sampaio (Bruno), quer como referencial de pensamento dos autores do seu tempo e décadas seguintes, quer como pensador e filósofo que, entre nós, e antes de mais ninguém, demonstrou ser capaz de afirmar o Mal como mistério absoluto, de superar o conflito iluminista da razão e da religião, de conceber a filosofia segundo parâmetros de universalidade e de situação... Por isso, Natureza, Razão e Mistério propõe-se consistir numa obra que consagra a abordagem de temáticas que, configurando hete- rogeneidade de conteúdos, têm entre si uma relação de fundamental complementaridade e mesmo coerência. A atestá-lo, aí está a estrutura temática em que, sem dificuldade, se entendeu agrupar os estudos em consideração: Sampaio (Bruno) ou o Mal como mistério; Sampaio (Bruno) ou a superação da razão iluminista; Sampaio (Bruno) ou a afirmação do universalismo situado. Finalmente, no termo do seu prólogo, fazemos questão de anotar que Natureza, Razão e Mistério, nas suas limitações e nos seus méritos, quer aparecer como mais um acto da homenagem que o Por- tugal «mental» entendeu prestar a Sampaio (Bruno) nos 150 anos do seu nascimento (1857-2007). Porto, 20 de Fevereiro de 2009. 8 SECÇÃO PRIMEIRA SAMPAIO (BRUNO) OU O MAL COMO MISTÉRIO CAPÍTULO I O MAL NO PENSAMENTO FILOSÓFICO DO OCIDENTE * A história revela que a problemática do Mal tem na huma- nidade o estatuto de questão perene. O carácter radical, uni- versal e abissal com que sempre se manifestou ao homem fez dele, desde sempre, o maior sem-sentido da sua existência e o maior obstáculo à afirmação de Deus. Mas, não obstante a sua absurdidade, a história demonstra que a humanidade nunca se rendeu à sua inexorabilidade, como nunca desistiu de o explicar e resolver. Demonstram-no as civilizações, as religiões, as teogonias, a arte... e sobretudo o pensamento, que, no discurso racional ou no discurso mítico, na filosofia ou na teologia, nas ciências humanas ou na hermenêutica, fez dele objecto per- manente da sua pesquisa. Porém, no âmbito da abordagem filosófica que nos ocupa, não se poderá omitir a alusão ao carácter evolutivo da con- cepção do Mal. E, sem que neste ponto se possa ignorar, como * Este texto corresponde dominantemente ao que foi publicado na Revista Portuguesa de Filosofia, t. LVI, Janeiro/Junho de 2000, sob o título «O Mal no pensamento ocidental: das concepções às constâncias do pro- blema», e que serviu de suporte à lição pública do autor, no dia 8 de Novembro de 1999, na Faculdade de Filosofia de Braga (UCP), como requisito para a sua admissão ao processo de doutoramento em Filosofia. 11 dominantes e polares, as duas grandes reformulações verificadas ao longo dos séculos, a do Mal moral e a do Mal metafísico, é no entanto essencial referir a tal propósito as duas especiais mutações da tradição ocidental, a do cristianismo e a da moder- nidade, em que o primeiro, possuindo uma antropologia de dignidade e de liberdade do homem, determinou o enrai- zamento da concepção antropológica do Mal, enquanto a moder- nidade, baseando-se numa cultura da razão e numa filosofia de perspectiva místico-platónica, provocou a viragem do pensa- mento do Mal a uma perspectiva metafísica. E, se a este propó- sito não se pode deixar de referir que os principais protagonistas desses entendimentos foram Santo Agostinho e São Tomás em relação ao Mal moral, e Schelling em relação ao Mal metafísico, de modo semelhante se pode afirmar que Leibniz e Kant foram os grandes artífices da transição de uma perspectiva para outra. Porém, em face de toda esta evolução, ter-se-á de anotar que o Mal deixou de ser olhado como uma normal questão filosófica, para passar a ser assumido como «problema do mal», como «enigma» 1, e logo de seguida como «problema de Deus» e causa fundamental do ateísmo moderno 2. E, se este foi o entendimento e a evolução do problema do Mal a nível global do pensamento filosófico no Ocidente, em Portugal como foi ele entretanto perspectivado? Sumariamente, poder-se-á dizer que sempre hegemonizou na cultura portu- guesa o seu entendimento segundo uma perspectiva antro- pológica, mas com variações importantes. Por isso, a história da cultura portuguesa demonstra que o Mal, não obstante a domi- nância da perspectiva antropológica, nunca deixou de ser pen- sado entre nós, e na Península Ibérica, desde tempos remotos, sob a peculiar influência do priscilianismo gnóstico 3. Mas, para 1 Cf. A. Braz Teixeira, Deus, o Mal e a Saudade, Lisboa, Fundação Lusíada, 1993, 62; 75. 2 Cf. Cl. Tresmontant, Introduction à la Théologie Chrétienne, Paris, Éditions du Seuil, 1974, 679-680. 3 Cf. Braz Teixeira, Deus, 61; J. Pinharanda Gomes, Priscilianismo in Dicionário de Filosofia Portuguesa, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1987, 187-189. 12 além disso, nos tempos modernos, sobretudo a partir da se- gunda metade do século XIX, o pensamento português do Mal também passou a denunciar uma concepção de natureza mís- tico-metafísica, então muito em voga no meio místico-esotérico europeu. Assim, a partir desta altura, a perspectiva místico- -metafísica do Mal passará a hegemonizar ou a influenciar significativamente o pensamento filosófico português, muito de- signadamente a nível dos seus grandes representantes. Eviden- ciam-no sobretudo Guerra Junqueiro, Sampaio (Bruno), Leo- nardo Coimbra, Pascoaes, Basílio Teles, Raul Brandão, Fernando Pessoa... Mas, de todos, Sampaio (Bruno) será o campeão da nova concepção, assumindo o Mal como metafísico e con- cebendo-o como fundamento da metafísica, da religião e da mundividência... O cristianismo e a concepção antropológica do Mal O advento do cristianismo provocou uma verdadeira mu- tação no pensamento em geral e no do Mal em particular. Con- sistindo numa revelação acerca de Deus e do homem, da existência e do mundo, do cristianismo decorreu obviamente uma nova antropologia. Nesta, sobretudo pelo que concerne à problemática do Mal, interessará relevar de uma forma par- ticular a bondade absoluta de Deus e da criação, a dignidade do homem como ser racional, livre e participante na natureza divina, e, finalmente, a redenção do Mal e do pecado mediante a cooperação livre e responsável do homem. Com estes pressupostos filosófico-teológicos, o cristianismo dispunha das condições necessárias para poder constituir uma interpelação frontal ao mundo circundante, sobretudo em rela- ção ao judaísmo e à gnose, concretamente no que se refere à questão do Mal. Já muito anteriormente ao cristianismo, sobretudo com o livro de Job, o judaísmo havia iniciado um processo de in- terrogação religioso-experiencial acerca do sentido e da natureza do Mal. De facto, o problema do Mal é no livro de Job objecto de um tal questionamento que, não obstante a diversidade das 13 suas interpretações 4, bem se poderá dizer que com ele ficou para sempre posto o problema da natureza moral e metafísica do Mal. Como diz P. Ricoeur, desde o momento em que Job conheceu o escândalo de poder acumular em si o «grau zero da culpabilidade» com o «extremo do sofrimento», nunca mais foi possível sustentar que o Mal tinha a sua explicação apenas no âmbito da justiça retributiva temporal (tese defendida pelo judaísmo oficial), tal como, desde que Job ousou interrogar Deus sobre «como é possível que um homem inteiramente justo seja tão totalmente sofredor», também nunca mais foi possível contornar a assunção do sofrimento como um enigma 5. Numa palavra, com P. Ricoeur é de interpretar que, desde que Job devolveu a acusação da responsabilidade do Mal «contra o Deus ético da acusação», não só nunca mais foi possível fazer caber a justificação do «mal inocente» na concepção ética tradicional do judaísmo, como nunca mais foi possível evitar a necessidade da justificação de Deus e do nascimento da teodiceia 6. No entanto, será sobretudo com o advento do cristianismo, e designadamente com Santo Agostinho e São Tomás de Aqui- no, que a cultura ocidental virá a dispor, própria e rigoro- samente, de uma síntese filosófico-teológica acerca do Mal, a 4 Pelo particular alcance que consubstanciam, referenciam-se espe- cialmente as interpretações de Gustavo Gutiérrez e de René Girard. O pri- meiro, porque interpreta o livro essencialmente como uma interrogação acerca da questão de «como é possível falar de Deus» num contexto de «mal inocente» (cf. G. Gutiérrez, Hablar de Diós desde el Sufrimiento del Inocente, Salamanca, Ediciones Sigueme, 1986, 19-20; 24-25; 35-39; 54-55; 150-165). O segundo, porque, considerando que o livro não trata nem do mal moral, nem do mal metafísico, sustenta que aquilo de que o livro se ocupa consiste no problema do reconhecimento da equivalência da violência e do sagrado, por força do que Job, explorador do povo, deve ser submetido à morte (cf. R. Girard, La Route Antique des Hommes Pervers, Paris, Grasset, 1985, 11-13; 21-22; 30-31; 35-45; 48-49; 186; 203-207; 225-229; 238-243). 5 Cf. P. Ricoeur, Philosophie de la Volonté, 2, Finitude et Culpabilité, Paris, Aubier, 1988, 441-459. 6 Cf. ibidem, 449. 14 qual, para além de corresponder a um notável progresso da revelação, também passou a consubstanciar uma visão alter- nativa ao maniqueísmo. Graças à mundividência cristã de que puderam dispor, Santo Agostinho e São Tomás conceberam o Mal do mundo como uma realidade antropológico-moral e a sua concepção manteve-se na tradição ocidental praticamente até Leibniz. E, mesmo depois de Leibniz e do pensamento moderno subsequente, ela não deixou de constituir na cultura ocidental a visão dominante. Assim, em virtude do pensamento de Santo Agostinho e de São Tomás, o Mal passou a ser concebido como uma realidade antropológico-moral, consistindo numa privatio boni, decorrente da opção humana e da permissão de Deus. E o argumento que, por sua vez, invocam para a justificação desta permissão divina é o do contributo do Mal para a potenciação do bem e da beleza no mundo. Perspectivando à existência do Mal uma finalidade positiva, quer Santo Agostinho, quer São Tomás, consideram que ele existe por causa do bem, de um maior bem. De resto, segundo o bispo de Hipona, é tão imperioso reconhecer a realidade do Mal como a previsão da sua existência por parte de Deus, de sorte que em boa verdade não se poderá deixar de presumir que Deus, ao criar o mundo e o homem, tenha criado também as condições para a transformação do Mal em bem. No seu entender, tal como a «oposição dos contrários no discurso» contribui para a beleza do estilo, do mesmo modo, «por uma semelhante oposição», o Mal «põe em relevo a beleza do Mundo» 7. Assim, também São Tomás de Aquino, pois defende a existência do Mal em nome de um universo diversificado e variado nos seres, na bondade e na perfeição. Para ele, o Mal contribui para um maior bem e para uma maior beleza no universo, de maneira que muitos bens nem sequer existiriam, se Deus não permitisse a sua existência 8. 7 Cf. Saint Augustin, Les Confessions (traduction, préface et notes par Joseph Trabuco), Paris, Garnier-Flammarion, 1964, livro XI, 18. 8 Cf. S. Tomás de Aquino, Suma de Teología (edición dirigida por los regentes de estudios de las provincias dominicanas en España. Presen- 15

Description:
recolhidos na excelente edição Buchot []» [cf. Diario da vamente, La Philosophie Mystique en France à la Fin du XVIII Siè- cle — Saint-Martin et
See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.