Michel p6ucault Nascimento da Biopolitica Curso dadono Collegede France (1978-1979) Edi"ao estabelecida por Michel Senellart sob a dire"ao de Fran"ois Ewald e Alessandro Fontana Tradw;ao EDUAROOBRANDAo Revisaodatradw;ao CLAUDIABERLINER Paul~Michel Fran~a, Foucault nasceu em Poitiers, em 15 deoutubrode1926.Em1946ingressanaEcoleNonnaleSupe rieure, onde conhece e mantem contato com Pierre Bourdieu, Jean-PaulSartre,PaulVeyne,entreoutros.Em1949,concluisua licenciaturaem psicologia e recebe seu diploma em Estudos Martins Fontes SuperioresdeFilosofia,comumatesesobreHegel,sobaorien Sao Paulo 2008 ta,aodeJeanHyppolite.Morreem25de junhode1984. ESI~obr~foipllbIic~d~origin~lmenleemfr~ncescom0ti/ulo NAISSANCEDELABIOPOLlTIQUE par£ditionsduSeuiI. Copyright©Seuil/G~Jlim~rd,2004. fNDICE Edi~iioest~beJecid~porMichelSenell~r/ sob~direfiiode Fr~n~oisEw~ldeAlessandroFon/~n~. Copyright©2OOS,Livr~riaMartinsFon/esEditoraLldtI., SiloP~ulo,p~raapresenteedi~iio. A<:ompanhamentoeditorial MarwFernandaAIVIlres Preparal;iodooriginal AndreaStaheJM.daSilVll Revisoesgdfi<:as SandraGarcwCortes MarisaRowTeixeira DinarteZorzaneJUdaSilva Produl;iografka GeraldoAlves Paginal;iolFoto1itos Studio3DesenvolvimentoEditorial Nota.................................................................................. XV DadosInternacionaisdeCataloga~naPubli~(CIP) (camaraBrnsileiIadolivro,SP,Brasil) CURsa,ANaDE 1978-1979 Fou<:ault,Mkhel,1926-1984. Nasdmentodabiopoliti<:a:cursodadonoCollegedeFran <:e(1978-1979)/ Mi<:helFoucault;edil;aoestabelecidapor Aulade 10dejaneirode 1979.......................................... 3 MichelSenellart;sobadiw;aodeFranl;oisEwaldeAles Questoesde metodo. - Suporque os universais sandroFontana;tradm;aoEduardoBrandao;revisaodatra nao existem. - Resumo do curso do ana prece dUl;iioClaudiaBerliner.-saoPaulo:MartinsFontes,2008. (Cole¢ot6picos) dente: 0 objetivo limitado do governo da razao Titulooriginal:Naissancedelabiopolitique. de Estado (politicaexternal e 0 objetivo iliamita- Bibliogratia. dodoEstadodepolicia(politicainternal.- di- ISBN978-85-336-2402-3 reito como principiode limitac;ao externa dara- 1.Ciendapolitica- Filosotia2.0 Estado- Filosotia3.Fi zao de Estado.- Perspectivado curso deste ana: losofiapoHtica4.Foucault,Michel,1926-19845.LtberaHsmo I.Senellart,Michel.II.Ewald,Fran~ois.Ill.Fontana,Ales a economia politicacomo principiodelimitac;ao sandro.IV.TItulo.V.serie. interna da razao governamental. - abjeto geral 07-9873 CDD-194 destapesquisa: 0 parserie depraticas/regimedae verdade e seus efeitos de inscric;ao no real. - lndkesparantiilogosistematko: 1.Filosofiafrancesa 194 que e 0 liberalismo? 2.Fi16s0fosfranceses 194 3.Foucault:Obrasfilos6ficas 194 Aulade 17dejaneiro de 1979 . 39 a Todososdireitosdestaedifiioreservadosa liberalismo e a adoc;ao de uma nova arte de LivrariaMartinsFontesEditoraLtda. governarnoseculoXVIII.- As caracteristicases- RuaConselheiroRamalhn,330 01325·000 SaoPaulo SP Brasil Tel.(11)3241.3677 Fax(11)3105-6993 e-mail:[email protected] http://www.martinsjonteseditora.com.br Aulade31 dejaneirode 1979.......................................... 103 pecfficasda arteliberal de govemar: (1) A,:ons titui~ao fOl;na~ao A fobia do Estado. - Questoes de metodo: sen- domercado comolugar de de verdadeenaomaisapenascomodorrumodeJU tidoseimplica~oesdacoloca~aoentreparenteses risdi~ao. _ Questoes de metodo. Objetos das deumateoriadoEstadonaanalisedosmecanis- pesquisas empreendidas em tome da loucura, mosdepoder.- Aspraticasgovemamentaisneo da penalidade e da sexualidade: :s~o~o de uma liberais:0liberalismoalemaodosanos1948-1962; hist6ria dos "regimes de vendi~ao .- Em que o neoliberalismo americano.- 0 neoliberalismo ~o alemao (1).- Seucontextopolitico-econornico.- deve consistiruma criticapolitica saber.- (2) o o problema da limita~aodo e".eraclo do poder Conselho Cientffico reunido por Erhard em publico. Os dois tipos de solu~ao:0,radlCalismo 1947.Seuprograma: libera~aodospre~oselirni- juridicofrances e 0utilitansmomgles.- ~'1ues ta~ao das interven~oesgovemamentais. - A via limita~ao mediadefinidaporErhardem1948entreaanar- tao da "utilidade" e a do exerClClO do Obse~a~ao~obre quia e 0 "Estado-cupim".- Seu duplo significa- poderpublico.- 0estatut,:do a heterogeneo em histona: 10gl_ca de"estrategl~ do: (a) 0 respeito liberdade economica como contra16gica dialetica. - Ano~ao de mteresse condi~aodarepresentatividade politicadoEsta- do; (b) a institui<;ao da liberdade economicaco- como operadora danova arte de govemar. mo estopim paraa forma~ao de umasoberania Aulade 24dejaneiro de 1979.;.; ····..·············· 71 politica. - Caracteristica fundamental da gover As caracteristicas espeClficas da arte hberal de namentalidade alema contemporiinea: a liber- govemar (ll): (3) 0 problemadoeqUllfbno~uro dade economica,fonte de legitimidadejurfdica rela~oes edeconsensopolitico.- 0 crescimentoecono- peu e das intemaclOnals; - 0 caleulo economico e politico no mercantihsmo. 0 jOnn mica, eixo de uma nova consciencia historica cipio daliberdade de mercado segundo os fiSlO que possibilita a ruptura com 0 passado. - A a adesao da Democracia Crista e do SPD poli- cratas e Adam Smith: nascimento de um novo modelo europeu. - 0 aparecimento de ;,ma ra tica liberal. - Os principios liberais de governo esc~a e a ausencia de racionalidade govemamental cionalidade govemamental_estendlda a mundial. Exemplos: a quest~o do dlr~ltomanti socialista. mo' osprojetosdepazperpetuanoseculoXVIll. _Osprincipios danovaarteliber~!de govem~: Aulade 7defevereiro de 1979................... 139 o um "naturalismo govemamental ;. a produ~ao neoliberalismo alemao (I1). - Seu problema: ar~ltragem como a liberdade econornica pode ao mesmo da liberdade. - 0 problema da libe tempo fundar e limitar 0 Estado? - Os te6ricos ral. Seus instrumentos: (1) a gestao dos pengos ado~ao seguran~a; neoliberais: W. Eucken, F. Bahm, A. Miiller-Ar e a de mecanismos de (2) os mack,F.vonHayek.- MaxWebere 0 problema controles disciplinares (0 panoptlsmo de Ben tham); (3) aspoliticasintervenclOmstas.- Ages da racionalidade irracional do capitalismo. As respostas da Escola de Frankfurte da Escola de tao daliberdade e suas crises. Friburgo.- 0 nazismo como campo de adversi- a dade necessario defini,ao do objetivo neolibe litica: a forrnaliza,ao da sociedade com base no a ral.- asobstaculos politicaliberalnaAlemanha modelo da empresa. - Sociedade de empresa e desde 0 seculo XIX: (a) a economiaprotecionista sOCledadejudiciana,duasfaces deurnmesmofe segundoList; (b) 0 socialismodeEstadobismarc nomeno. kiano; (c) a implanta,ao, durante a Pnmerra Guerra Mundial, de uma economia planific~da; Aulade21 defeuereiro de 1979....................................... 221 (d) 0 dirigismo de tipo keynesiano; (e) a po~tica Segundoaspecto da "politicadesociedade",se economica do nacional-socialismo. - A cntica gundoosordoliberais:0 problemadodireitonu- neoliberal do nacional-socialismo a partir desses rna sociedade regulada segundo 0 modelo da diferentes elementosdahistoriaalema.- Conse economia concorrencial de mercado. - Retorno sa qiiencias teoricas: extensao des critica ao New aocoloquioWaiterLippmann.- Reflex6esapar- Deal e aos planos Bevendge; dirigISmo e cresCl tirdeurntextodeLouisRougier.- (1)Aideiade mento dopoderestatal;a massifica,ao e,aunifor uma ord:m juridico-economica. Reciprocidade miza¢o,efeitosdoestatismo.- a queesta;mJogo das rela<;oes entre os processos economicos e a no neoliberalismo: suanOVldade emrela,ao aoli moldura inStituciOl;al..- Desafiopolitico: 0 pro beralismoclassico.Ateoriadaconcorrenciapura. blema da sobreVlvencla do capltalismo. - Dois problemas complementares: a teoria da concor Aulade 14defeuereiro de 197? :.: . 179 rencia e a analise historica esociologicado ca a neoliberalismo alemao (Ill). - Utilidade das pltahsmo.- (2)Aquestao do intervencionismo analises historicas em rela,ao ao presente. - Em juridico. - RecapituJa<;ao historica: 0 Estado de que 0 neoliberalismo se dis~gue do liberalismo direito no seculo XVIII, en; oposi<;ao ao despo- classico?- Seudesafio especifico: comoregular0 tism.0 e ao,Estado de pohcla. Reelabora,ao da exercicio global do poder politico com base nos no<;ao no s:culo XIX: a 'luestao das arbitragens principios de uma eco:,omla de mercado e as entre cldadaosepoderpublico.a problemados transforrna,6es que dal decorrem. - a descol~ tribunalSadministrativos.- a projetoneoliberal: mento entre a economia de mercado e as poh mtroduzir os principios do Estado de direito na ticas do laissez-faire. - a coloquio Walter Lipp ord;meconomica. - Estado de direito e planifi- mann (26-30 de agosto de 1938). - a problema ca<;ao segundo Hayek. - (3) a crescimento da do estilo da a,ao governarnental.Tres exemplos: demandajudiciana.- Conclusaogeral: aespeci (a) a questao dos monopolios; (b) a questao,das fiCldade da arte neoliberal de governar na Ale "a,6es conforrnes". as fundarnent~sda politica manha. a ordoliberalismoem face dopessimis- economicasegundoW. Eucken.A,oesregulad<: mo de Schumpeter. rasea,Desordenadoras;(c) apoliticasocial.Acn tica ordoliberal da econorrua do bern-estar. - A Aulade 7de mar(o de 1979............................................. 257 sociedadecomopontodeaplica,aodasinterven Obser;r.'<;6esgerais: (1) a alcance metodologico ,6es governarnentais. A "politica de sociedade" da anahse dos mlcropoderes. (2) a inflacionis- (Gese/lschajtspolltzk).- Pnmerroaspecto dessapo- mo da fobia do Estado. Suasliga,6es com a cri- I'ital humane genetico; (b) os elementosadqui tica ordoliberal.- Duas teses sobre 0 Estado to ndos e 0 problema da forma~ao do capital hu talitano e 0 decrescimento da governam!'ntall mano (educa~ao,saude,etc.).- Interessedessas dade deEstadonoseculoXX.- Observa~oes so breadifusaodomodelealemao,naFran~ae.;'os analises:retomadadoproblemadainova~aoso cial e econornica (Schumpeter). Uma nova con EstadosUnidos.- 0 modeloneoliberalalemaoe cep~aodapoliticade crescimento. o projeto frances de uma "economla sOClal de passagem~ mercado". - 0 contexto da na Fran ~, Aulade21 de marfo de 1979 . 329 aumaeconomianeoliberal.- ApohticaSOClal o neoliberalismo americana (II). - A aplica~ao francesa: 0exemplodaseguridadeSOClal.- AdlS socia~ao dagradeeconornicaaosfenomenossociais.- Re entre 0 economic? e 0 sOClal,;.egundo a torno problematica ordoliberal: os equivocos Giscard d'Estaing. - 0 pro]eto de um nnposto negativo" e suas implica~oesSOClalS epoliticas. da Gesellschajtspolilik. A generaliza~ao da forma empresa" no campo social. Polftica econornica Pohreza IIrelativa" e pobreza absoluta". A re 1/ a II e VitalpoUlik: uma sociedadeafavor do mercado nuncia politicado plenoemprego. e contra 0 mercado. - A generaliza~ao ilimitada 297 da forma economica do mercado no neolibera Aulade 14de marfo de 1979 ·································· o neoliberalismo americano. Seu contexto. lismo americana: principio de inteligibilidade dos comportamen!osindividuais e principio cti Diferen~asentreosneoliberalismosamencanoe tlco das mterven~oesgovernamentais. - Aspec europeu. - 0 neoliberalismo amencano como reivindica~ao tos do neoliberalismo americana: (2) A delin global, foco utopico e metodo de qiienciaeapolfticapenal.- Recapitula~aohisto pensamento.- Aspectos desse neohberahsmo: nca: 0problema da reforma do direito penal no (1) A teoria do capltal humano. Os dOls_pro fim doseeuloXVIII.Calculoeconomicoeprinci cessos que ela representa: (a) uma mcursa,o da PlO delegalidade.Aparasitagemdaleipelanor analise econ6mica no Intenor do seu propno campo:criticadaanaliseclassicadotr~balhoe:n manoseeuloXIXe0nascimento deumaantro termosdefatortempo; (b)umaextensao~aan~ pologiacriminal.- Aanaliseneoliberal: (1) ade liseeconomicaacamposconsideradosate e..n. ~ao fini~ao do crime; (2) a caracteriza~ao do sujeito muta~ao cnmmoso como homo oeconomicus; (3) 0 estatu nao-economicos. - A episten:'0loglca anahse to da pena como instrumento de "enfon;o" da produzidapelaanaliseneoliberal: da dos a lei. 0 exemplo do mercado da droga. - Conse processoseconomicos analisedaraclOnahdade qiiencias dessaanalise: (a) asupressaoantropo interna dos comportamentoshumanos.- 0 tra 16gica do criminoso; (b) 0 descarte do modele balho como conduta economica. - Sua decom posi~ao disciplinar. em capital-competencia e renda. - A redefini~aodohomooeconomu::<sco~o empreen no~ao Aulade28de marfo de 1979 . 365 dedor de si mesmo. -A de capltal hu o modele do homo oeconomicus. - Sua genera mano". Seuselementosconstitutivos: (a) osele liza~aoatodaforma decomportamentononeo- mentos inatos e a questao da melhoria do ca- liberalismo americano. - Analise economica e tOrico-na!"ral; (2) ela assegura a sintese espontanea tecnicas comportamentais. - 0 homo oeconomi ?osmdlVlduos.Paradoxodovinculoeconomico; (3)ela cus como elemento basico da nova razao gover eumamatrizperrnanentedepoderpolitico;(4)elaCOns xvm. - namental surgida no seculo Elementos titUl 0 motor da historia. - Aparecimento de um novo paraumahistoriadano~aodehomooeconomicus sIstemadepensamentopolitico.- Conseqiienciasteo antes deWalras e dePareto.- 0 sujeitode inte ncas: (a) aquestaodasrela~6esentreEstadoesocieda resse na filosofia empirista inglesa (Bume). - A de. As problematicas alema, inglesa e francesa· (b) a heterogeneidade entresujeitodeinteresse e su regulagem,doexerciciodopoder: dasabedoriad~poo jeitode direito: (1) 0 caraterirredutiveldo inte c:pe aos caJculos racionais dos govemados. - Conclu a resse emrela~ao vontade juridica. (2) Alogica sao gera!. inversa do mercado e do contrato. - Segunda inova~aoem rela~aoao modelo juridico: a rela f:~~;;o ~~~;::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 431 ~ao do sUjeito economico com 0 poder politico. dXo 441 Condorcet.A"maoinvisivel" deAdamSmith: a invisibilidade do vinculo entre a busca do lucro indices individual e 0 aumento da riqueza coletiva. Ca I~~~: ~~~ ~~~::d~·p~~~~·~~·:::::::::::::::::::········· 449 rater nao-totalizavel do mundo economico. A 467 necessaria ignorancia do soberano. - A econo mia politica como criticada razao govemamen tal: exclusao da possibilidade de um soberano economica, sob suas duas formas, mercantilista efisiocratica.- Aeconomiapolitica,cii'ncialate a ral emrela~ao arte de govemar. Aulade 4de abrilde 1979 . 397 Elementos para uma historia da no~ao de homo oeconomicus (II). - Volta ao problema da limlta ~aodopodersoberanopelaatividadeeconomica. - A emergenciade um novo campo, correlativo da arte liberal de govemar: a sociedade civil. Homo oeconomicus e sociedade civil: elementos indissociaveis da tecnologia govemamentalli beral. - Analise da no~ao de "sociedade civil": suaevolu~aodeLockeaFerguson.0 Ensaiosobre ahistariadasoeiedadeeivildeFerguson(1787).As quatrocaracteristicasessenciaisdasociedadeci vi]segundoFerguson:(1) elaeumaconstantehis- , I / NOTA Michel Foucault ensinou no College de France de ja neirode1971ateasuamarte,emjunhode1984- comexce ,aode1977,quandogozou deurnanasabatico.0 tituloda sua cadeiraera: Hist6ria dos sistemas de pensamento. Essacadeirafoi criadaem30denovembrode1969,par proposta deJulesVuillemin, pela assembleia geral dospro a fessores do College de France em substitui,ao cadeirade hist6ria do pensamentofilos6fico, queJean Hyppolite ocu pou ate a sua morte. A mesma assembleia elegeu Michel Foucault, no dia 12 de abril de 1970, titular da nova cadei ra'.Eletinha43 anos. Michel Foucault pronunciou a aula inaugural no dia 2 de dezembro de1970'. 1.MichelFoucaultencerrou0 oplisculoqueredigiuparasuacan· didaturacomaseguinteformula; "Serianecessariaempreenderahis t6riadossistemasdepensamento"("Titresettravaux",inDitsetterits, 1954-1988,ed.porD.DeferteF.Ewald,colab.J.Lagrange,Paris,Galli mard, 1994, 4vols.; ct. vol. I,p. 846) [Ed. bras.: Ditoseescritos,5vols. tematicos,RiodeJaneiro,ForenseUniversitaria,2006]. 2. FoipublicadapelasEditionsGallimardemmaiode1971com o titulo: COrdredu discours. [Ed. bras.:Aordem dodiscurso,SaoPaulo, Loyola,1999.1 ... ~ l_----===~~ l XVI NASCIMENTODABIOPOLtTICA NOTA XVII o ensinono CollegedeFranceobedecearegrasespe para ches:arasua cadeira,afasta os gravadoresparapousar cificas. Os professores tern a obriga~ao de dar 26 horas de seus papels, lira 0 paleto, acende urn abajur e arranca a por aulaporano (metade das quais,no maximo,podeserdada cern hora.Voz!orte, eficaz, transportadaporalto-fam'n naformadeseminarios').Devemexporacadaanournapes tes, uruca concessao ao modernismo de uma sala mal ilu quisa original,0 que os obrigaa sempre renovar0 conteu mmadapelaluzqueseelevadeumasbaciasdeestuque.Ha do do seu ensino.Afreqtiencia as aulas e aos seminarios e trezentos lugares e quinhentas pessoas aglutinadas, ocu inteirarnentelivre,naorequerinscri~aonemqualquerdiplo p,a~doto~oequalquerespa~olivre [...]Nenhumefeitoora ma. E 0 professor tambem nao fornece certificado algum'. tono. Iiympldo e terrivelmente eficaz. Nao faz a menor Novocabulariodo CollegedeFrance,diz-seque osprofes concessao ao Improviso. F?ucault tern doze horas por ano soresnaotern alunos, mas ouvintes. paraexplicar,numcursopublico,0 sentidodasuapesquisa o cursodeMichelFoucaulteradadotodasasquartas durante 0 ano que acabou de passaro Entao, compacta 0 feiras, docome~odejaneiroate 0fim demar~o.Aassisten malS quepode,eenche asmargens comoaqueles missivis tas que amda tern muito a dizer quando chegarn ao fim da cia, numerosissima, composta de estudantes, professorese folha. 19h15. Foucault para. Os estudantes se precipitam pesquisadores, curiosos, muitos deles estrangeiros, mobili para asua mesa. Nao e parafalar COm ele, mas para desli zavadois anfiteatrosdo CollegedeFrance. MichelFoucault gar os g;-a,,?~ores.Nao ha perguntas. Na confusao, Fou queixou-se repetidas vezes da distancia que podia haver cault esta so. EFoucault comenta: "Seria born poder dis entre eleeseu"publico" edopoucointercambioque afor cutir 0 que propus. As vezes, quando a aula nao foi boa mado cursopossibilitava5 Sonhavacomurnseminarioque • bastariapoucacoisa, umapergunta,paraportudono devi~ servisse de espa~o para urn verdadeiro trabalho coletivo. dolugar.Masessaperguntanuncavern. Defato, naFran~a, Fezvariastentativasnessesentido.Nosultimosanos,nofim oefelto d:gropo torna qualquer discussao real impossive!. da aula, dedicava urn born tempo para responder as per E,comonaohacanalderetorno, 0cursoseteatraliza.Tenho guntas dos ouvintes. com as pessoas que estao aqui uma rela~aode ator ou de acrobata. E, quando tennino de falar, uma sensarao de to- Eiscomo,em1975,urnjornalistadoNouvelObservateur, talsolidao... "f> 'r Gerard Petitjean, transcrevia a atmosfera reinante: "Quan .Michel F.?ucault abordava seu ensino como pesquisa doFoucaultentranaarena, rapido, decidido, como alguem d,?r. explora~oes paraurn futuro livro, desbravamento tam que pulana agua, tern de passarpor cimadevarios corpos bern de campos de problematiza~ao, que se formulavam mUltomalScomournconvitelan~adoaeventuaispesquisa 3.Foi0 queMichelFoucaultfezate0 iniciocladecadade1980. dores.IiporISS0queoscursosdoCollegedeFrancenaore 4.NoambitodoCollegedeFrance. petemosIIvros pubhcados. Nao sao 0esbo~o desses livros 5. Em 1976, na (vii) esperanc;a de reduzir a assistencia, Michel et;'lbora certos temas~p~ssam ser comuns a livros e cursos~ Foucaultmudou0 horMiodocurso,quepassoude171145paraas9cia Tern seu estatuto propno. Originam-se de urn regime dis- manha. Cf. 0 iniciociaprimeiraaula (7dejaneirode 1976)de I'llfaut dejendrelasociete".COUTSauCollegedeFrance, 1976,~d, por,M.Bertani,e A.Fontana,sobadir.deF.EwaldeA.Fontana,Pans,Gallimard/Seuil, 6.GerardPetitjean,"LesGrandsPretresdel'universitefran~aise" 1997[ed.bras.: Emdefesadasociedade,SaoPaulo,MartinsFontes,1999]. LeNouvelObservateur,7deabrilde1975. ' XVIII NASCIMENTODABIOPOriTlCA NOTA XIX cursivoespecificonoconjuntodos"atosfilos6ficos".efetua la tal qual. Mas a passagem do oral ao escrito imp6e uma e dosporMichelFoucault.Nelesdesenvolve,emparticular,0 inteIVen~aOdo editor: necessario, no minima, introduzir programa de urna genealogi~das rela~6essaber/pode~em umapontua~aoe definirparagrafos.0 principiosemprefoi fun~aodoqual,apartirdoInlCWdosanos1970,refletiraso o de ficar 0 mais pr6ximo possivel da aula efetivamente breseutrabalho- emoposi~aoao deumaarqueologJa das pronunciada. forma~6esdiscursivas que ele ate entao dominara'. Quandopareciaindispensavel,asrepeti~6esforamsu Os cursos tambem tinhamuma fun~aona atualidade. primidas; as frases interrompidasforam restabelecidas e as oouvintequeassistiaaelesnaofica~apenascati,,:,dopelo constru~6esincorretas, retificadas. relato que se construia semana apos ~emana; ,nao ficava As reticencias assinalam que a grava~ao e inaudivel. apenas seduzido pelo rigor da exposl~ao:tambem encon Quando a frase e obscura, figura entre colchetes umainte trava neles uma luz sobre a atualidade. A arte de Mi~hel gra~aoconjecturalouurn acrescimo. Foucaultestavaem diagonalizar a atua,lidade pela l;istona. Urn asterisco no rodape indica asvariantes significati 1'SI ElepodiafalardeNietzscheoudeAristotele.s,dapencla vas das notas utilizadas porMichelFoucaultem rela~aoao quiatricano seculoXIXoudapastoral cnsta,mas 0 ouvmte que foi dito. sempre tirava do que eie diZla urna ~uz sobre 0 preser;tee As cita~6esforam verificadas e as referencias aos tex sobre os acontecirnentos contemporaneos.A for~apropna tosutilizados, indicadas. 0 aparato cnticose limita a eluci deMichelFoucaultemseus cursosvinhadesse sunl cruza darospontosobscuros, aexplicitarcertasalus6es eapreci mento entreumafina erudi~ao,urnengajamentopessoale sarospontos cnticos. urn trabalho sobre 0 acontecimento. Para facilitar a ieitura, cada aula foi precedida por urn breve resumo que indicasuasprincipais articula~6es. * * * Osanos1970viram0 desenvolvimentoe0 aperfei~oa o texto do curso e seguido do resumo publicado no mento dos gravadores de fita cassete - a mesa de Michel Annualre du College de France. Michel Foucault os redigia Foucaultiogofoitomadaporeles.Oscursos (ecertossenu- geralmente no mes de junho, pouco tempo depois do fim nanos) foram conservados gra~asaesses aparelhos. . do curso,portanto. Eraa oportunidadeque tinha para des Estaedi~aotomacomoreferenciaapalavrapronunCla tacar,retrospectivamente, a inten~ao e os objetivosdele. E dapublicamenteporMichelFoucal;ltefomece asuatran~ constituema melhorapresenta~aode suas aulas. cri~aomaisliteralpossivel". Gostanamos depoderpublica- Cadavolumeterminacomuma#situa\,ao", derespon sabilidade do editor do curso.Trata-se de dar ao leitor ele mentos de contexto de ordem biografica,ideo16gica e poli 7.Cf.emparticular"Nietzsche,lagenealogi~, l'hist~~": j~C?its~t tica,situando0 curso naobrapublicadae dandoindica~6es Ecrits,II,p.137.[Ed.bras.:"Nietzsche,agenealoglaeahistona ,InMl relativas a seu lugarno ambito docorpus utilizado, alimde crofisicadopoder,RobertoMachado(org.),RiodeJaneiro,Gr~al,1979.] 8. Foram utilizadas, em especial, as grava~6es realizadas por facilitarsuacompreensaoeevitaros contra-sensos quepo GerardBurleteJacquesLagrange,depositadasnoCollegedeFrancee deriam se clever ao esquecimento das circunstancias em que cadaurn dos cursos foi elaboradoe ministrado. noIMEC. .---------...t......----~~