“ a o = O od a á Fr. SE ., tra: P AAMET Pepe MBA TIE Frito PE TAS REERRT ALT RAJA Mo INTE, A Ad Pepe Hrerige JARRA NT: dA a MARIALAS: SERIA Ts E. Ifá, aa ? Ferrera E) j E Ad Fe AMA STA: O MUNDO DA ARTE MUNDO ANTIGO GIOVANNI GARBINI Professor do Instituto de Estudos do Oriente Próximo na Universidade de Roma EDITÔRA EXPRESSÃOE CULTURA O Mundo da Arte PLANO GERAL DA OBRA A ARTE PRÉ-HISTÓRICA E PRIMITIVA Dr. Andreas Lommel, Diretor do Mnseu de Etnologia de Munique MUNDO ANTIGO Professor Giovanni Garbini, do Instituto de Estudos do Oriente Próximo, Universidade de Roma ANTIGUIDADE CLÁSSICA Dr. Donald Strong, Diretor-Assistente do Departamento de Antiguidades Grega e Romana do Museu Britânico, Londres CRISTANDADE CLÁSSICA E BIZANTINA Professor Jean Lassus, do Instituto de Arte e Arqueologia, Sorbonne, Paris MUNDO ISLÂMICO Dr. Ernst J. Grube, Diretor do Departamento Islâmico, Museu Metropolitano de Arte, Nova York MUNDO ORIENTAL Jeannine Auboyer, Diretora do Museu Guimet, Paris Dr. Roger Goepper, Diretor do Museu de Antiguidades do Extremo Oriente, Colônia MUNDO MEDIEVAL Peter Kidson, do Instituto Courtauld de Arte, Londres O RENASCIMENTO Andrew Martindale, Catedrático da Escola de Belas Artes, Universidade de East Anglia O BARROCO Michael Kitson, Catedrático de História da Arte, do Instituto Courtauld de Arte, Londres ARTE MODERNA Norbert Lyton, Diretor do Departamento de Arte Histórica e Estudos Gerais, da Escola Chelsea de Arte, Londres COPYRIGHT, 1966, THE HAMLYN PUBLISHING GROUP LIMITED PIANFEJAMENTO GERAL DA OBRA: TREWIN COPPLESTONE E BERNARD S. MYERS REVISÃO ORTOGRÁFICA: 1978 Ldição em lingua portuguesa -—— Supervisão Técnica: Aracy Abreu do Amaral e José Roberto Teixeira Leite E Revisão do Texto: Milton Pinto, Roberto Mello, Vanede Nobre e Joaquim Gonçálvez Pereira M Tradutores: Alvaro Cabral, Aurea Weissenberg, Donaldson Garschagen, Henrique Benevides, Lélia Contijo Soares, Sílvia Jambeiro e Vera N. Pedroso M Produção Editorial: EXPED — Expansão Editorial E Com- posição, Impressão e Acabamento: AGGS — Indústrias Gráficas S.A, Na página anterior; Relevo do Palácio de Assurbanipal, Ninive, representando o Rei numa caçada, Museu Britânico, E Indice 8 Introdução 9 A Mesopotâmia A Civilização Sumeriana — O Estudo da Arte Sumeriana — Arquitetura Pré- Dinástica — Escultura Pré-Dinástica — Sinêtes Pré-Dinásticos — A Primeira Crise da Civilizacão Sumeriana: Período de Transição — O Primeiro Período Dinástico — Arquitetura da 1.2 Dinastia — Origens de Escultura da 1.2 Di- nastia — Escolas Regionais de Escultura no 1.º Período da 1.2 Dinastia — A Escultura do Segundo Período da Primeira Dinastia — Relevos do Segundo Período da Primeira Dinastia — As Artes Menores — O Período Acádico (cerca de 2.350 a 1.950 a.C.) — A Escultura Acádica — Sinetes Acádicos — Período Neo-Sumeriano — A Arte Neo-Sumeriana — Os Períodos de Isin- Larsa e Babilônico Antigo — Arquitetura e Pintura — A Escultura — Sinetes do Período Babilônico Antigo — O Domínio Cassita — Os Assírios — O Período Neo-Assírio — Assurnasípal II — Shalmaneser III — Tiglathpileser III — Sargão II e Senaqueribe — Assurbanípal — A Pintura Assíria — Plane- jamento Urbano e Arquitetura Assíria — O Período Neobabilônico. 70 Areas Periféricas A Primitiva Palestina: Jericó — A Antiga Anatólia — O Antigo Irão — Irã e Mesopotâmia — Arte Proto-Elamita — Influências Sumerianas — A Civili- zação do Vale do Indo — A Síria e a Palestina no Terceiro Milênio — Es- cultura Sírio-Palestina — Anatólia no Terceiro Milênio — Ascensão dos Povos Montanheses no Segundo Milênio — A Civilização Hitita — Arquitetura e Es- cultura Hititas — Mitanni — Renascimento Iraniano — A Síria e a Palestina no Segundo Milênio — Arquitetura Sírio-Palestina — A Escultura Síria — Artes Menores Sírias — Ruptura e Recuperação Parcial — A Arquitetura Síria do Primeiro Milênio — Relevos Sírios — Fenícia e Palestina — A Arte Fenícia — O Luristão — O Império Persa — Arte Persa — Anatólia no Primeiro Milênio — Síria e Palestina: a Fase Final — A Fenícia. 11 O Egito Considerações Gerais — O Egito Pré-Dinástico: um Esboço — A Arte no Início do Período Dinástico — Arquitetura do 1.º Período Dinástico — Es- cultura do 1.º Período Dinástico — Antigo Império: Era das Pirâmides — Escultura do Antigo Império — Relevos do Antigo Império — O Médio Im- pério: Antecedentes Históricos — A Arte do Médio Império — A Undécima Dinastia — A Duodécima Dinastia — O Segundo Período Intermediário — O Cosmopolitismo do Novo Império — O Primeiro Nôvo Império — A Escultura no Reinado da Rainha Hatshepsut — O Reinado de Tutmés III e seus sucessores — A Pintura do Novo Império — A Revolução de Amarna — O Posterior Estilo de Amarna — Transição para a Décima Nona Di- nastia — A Pintura Tebana no Fim do Nôvo Império — A Escultura da Era de Ramsés — Transição para o Último Período — A Dinastia Saíta — O Fim da Arte Egípcia. 167? A Expansão da A Núbia — A Arábia Meridional — A Etiópia — A Civilização Fenícia no Além-Mar — Arte Púnica. Arte do Antigo Oriente Médio Índice das Ilustrações a Cores Vista do Nilo, perto de Assuã 17 52 A porta Ishtar, Babilônia 88 tas Vista do Jordão, perto de Jericó, 18 53 Detalhe da fachada da Sala do Trono, Babilônia 89 9 Os Cedros do Libano 18 54 O zigurate de Choga Zambil E 90 I G Ruínas em Babilônia 19 55 Vista de Persépolis, tomada da Entrada de Xerxes 91 a f As ruínas de Jericó 20 56 Vista geral de Persépolis 92 A C Torre neolítica, em Jericó 20 57 O Palácio de Dario, Persépolis 92 O Ruínas do templo do primeiro período sumeriano, 58 Relevo de Persépolis 93 ] - em Uruk 21 59 Placa de marfim do tesouro de: Ziwiye 94 60 O zigurate de Uruk 22 Ríton, vasos e detalhes ornamentais aquemênidas 95 61 A Pirâmide dos Degraus, em Zoser 23 Taça de Hasanlu | 95 10 As pirâmides de Giza 24 62 Túmulos aquemênidas em Nagsh-i-Rustam 96 VI; 12 A Esfinge de Quéfren, detalhe as 26 63 Túmulo de Artaxerxes II 96 64 13 O zigurate de Ur 27 Obelisco de Aksum, Abissínia 113 65 14, 15º O Estandarte de Ur 28 Vista de Motye 114 16 Cabeça de touro decorando a frente de uma lira (Ur) 29 66 O tophet de Tharros, Sardenha | 114 67 17 Capacete de Meskalamidug (Ur) 30 Interior do Templo de Vale de Quéfrem, em Giza 115 68 18 Jarro canelado (Ur) 30 Rahotep e sua esposa Nofret 116 69 19 Figura de oferenda (Ur) 31 Pavilhão de jubileu de Sesóstris I 117 20 Vaso em estilo de Susa I 32 70, 71. Relevos do. pavilhão de Sesóstris I 118, 119 21 Figura sentada ("Ubaid) 49 12 Estátua do Rei Mentuhotep 119 22 Relevo - de Imdugud ("Ubaid) 50 73 Os Colossos de Memnon 120, 121 23 - Vaso ('Ubaid) 50 74, 75 Templo da Rainha Hatshepsut, em Deir el-Bahni, 24 Gudéia de Lagash 51 e detalhe 122; 123 25 Pintura Mural do palácio de Zirimlim, em Mari 52 76 Colunata intermediária em Deir el-Bahri 123 26 Vaso (Khafajah) 52 71 Pátio de Amenhotep III, Templo de Amon, Luxor 124 27 Jarro (Alaca Hiúyuk) 53 78 Colunata de Amenhotep III, Templo. de Amon, 28 Estandarte em forma de cervo (Alaca Hiiyiik) 54 Luxor | 125 29 Estandarte em forma de disco (Alaca Hiiyiik) 54 o Pilones da entrada do Templo de Amon em Carnac 125 30 Jarra (Kiiltepe) 35 80 Templo de Ramsés III em Medinet Habu 126 Vaso (Conelle) 31 56 81 Relevo do templo em- Medinet Habu 126 32 “Vista das ruínas do templo de Hattusas 57 82 Vestíbulo de Kom Ombo 127 . 33, 34 A porta do Leão, em Hattusas, e detalhe o 58 83 Cabeça de Taharqa 128 Esfinge da Porta da Esfinge, em Alaca Hiiyiik 59 84 O Vale dos Reis em Tebas 145 SA O santuário rochoso de Yazilikaya 60 85 Pintura Mural do túmulo de Itet em Medum 146 38 Relevo: procissão dos doze deuses (Yazilikaya) 61 86 Pintura Mural do túmulo de Ity em Gebelein 146 39 Relevo: Tudhalyas IV protegido pelo deus 87, 88 Pinturas Murais: túmulo de Nakht, Tebas 147, 148 (Sarumma) 61 89 Pintura Mural: túmulo de Menna, Tebas 149 40 Vaso (Alalakh) 62 90 Pintura de Teto: túmulo de Khonsu, Tebas 150 41 Relevo (Malatya) 62 91 Pintura Mural: túmulo de Ramose, Tebas Ai 42 Estatueta (Megido) 63 92 Pintura Mural de um palácio em Amarna 152, 153 43 Taça (Ugarit) 64 93 Cabeça de Nefertite 154 44 Salva de prata do tesouro de Ziwiye 81 94 O segundo ataúde mumiforme de Tutancâmon 155 45. Templo de obeliscos em Biblos 82 95, 96 Pinturas Murais do túmulo de Meve, Tebas 156 46 Ruínas em Biblos 82 97 Pintura Mural: túmulo de Userhet, Tebas 157 47 Placa em terracota de Kish 83 98 Detalhe de um Livro dos Mortos 158 48 Marfim fenício de Nimrud — Leoa atacando um 99 Pintura Mural: túmulo de Pashedu, Tebas 158 84 menino etíope num bosque de papiros 100, 101 Pinturas Murais do túmulo de Sennedjem. Tebas 159 49 Placa síria em marfim de Nimrud 85 102 Estela funerária de Nes-Khonsu-pa-Khered 160 50, 51 Pinturas Murais assírias do palácio de Til Barsip 86, 87 6000 JERICÓ HACILAR 56h00 HASSUNA BAKUN | 5000 SIYALK | SAMARRA | asas FAIYUM “A” € e TASIANO HA LAF 4000 "BADARIANO AMRATIANO "UBAID 3500 | GHASSUL GERZEANO PRÉ-DINASTIA 3000 TROY SUSA Il DINASTIA PRIMITIVA a BEYCESULTANO TRANSIÇÃO e GIYAN IV 2700 KHUERA ALACA 1.DINASTIA PRIMITIVA 2500 2.DINASTIA PRIMITIVA ade CERA VELHO REINO: AKKADIANA ELAMITA se MARDIKH GUTI 12 INTERMEDIÁRIO 2000f-= 1997 — URI MARI. KULTEPE A SI N-LARSA E DINASTIA a ALALAKH & 2º INTERMEDDIÊÁ RIO eo VELHO AE IDLEÓ NIA REINO ELAMITA < | IMPÉRIO HITITA 1500 UGARIT EO NOVO DINASTIA NOVO REINO u / HAZOR | = IMPÉRIO HITITA | CASSITA EA 1190 Sirio-Hititas e n INVASÕES Fenícios Frígios 1090 ERA asc Mad IRANIANAS Fr BABILÔNICO ÚLTIMO PERÍODO REINO ELAMITA, DOMÍNIO BABILÔNICO e ASSÍRIO PERSAS 500 DOMÍNIO PERSA Os números nas margens referem-se às ilustrações: em negrito, Introdução para as estampas a cores; em itálico, para as em preto e branco. Há um milhão e meio ou um milhão de anos, aproximadamente, lítico e cultural das duas raças apresenta características acentuada- mente diversas. começa a longa história do homem tal como hoje o conhecemos. O Egito sempre teve uma natureza dual, o Norte e o Sul, conhecidos Durante a maior parte desse tempo, vivendo em condições simples € primitivas, dominado pelas forças físicas do clima e da geografia, respectivamente como Egito Inferior e Superior, com tendência a lutava o homem pela sobrevivência mais restrita, na sua busca de um poverno independente. Esse dualismo foi sempre controlado por um forte poder central que mantinha um Egito mais ou menos uni- elimentos e de abrigo. Grupos humanos inteiros pereciam ao acaso de um erro quando ficado, sob um único governante, o faraó, a quem eram dados po- lhes falhavam a intuição ou o instinto. Com o passar dos tempos, ao deres e privilégios divinos. Na Mesopotâmia, por outro lado, raramente se obteve unidade política devido à força autônoma das cidades. A longo de milhares de anos, em certas regiões mais favoráveis e ao curso de uma longa experiência, surgia lentamente o conhecimento de cidade-estado, com um governo teocrático, foi a típica expressão política uma disciplina que permitiria a vida em comunidades: constituía-se dos sumerianos, assim como a região-estado foi típica da Mesopotâmia família em relativa segurança, cultivava-se a terra, criavam-se animais, como um todo. O governante sumeriano nunca assumia: direitos divinos, construíam-se estruturas de abrigo e defesa. Nesse estágio do desen- Era o representante dos deuses na terra: limitava-se a interceder junto volvimento humano começaria uma forma mais complexa e estável aos deuses em favor do seu povo. de civilização. Iegnoradas as origens dos fenômenos naturais havia As regiões periféricas (Irã, Síria-Palestina e Anatólia) tiveram por contudo o entendimento de uma organização da natureza: com a vezes estruturas políticas poderosas, como o Império Hitita, na Ana: procura de causas e responsabilidades surgiriam de fato as primeiras tólia e o estado Elamita,. no Irã. Mas em geral estiveram sempre em formas reais de religião, A necessidade de uma atividade restrita à posição política inferior, dispersos em grandes extensões de território comunidade e de uma responsabilidade social conduziria à lei e à e, por isso, presa fácil dos seus vizinhos mais fortes, a Mesopotâmia soberania. O homem progredira de uma cultura primitiva para uma e o Egito. cultura cmadurecida, É em virtude apenas do nosso distanciamento que a civilização do Este livro trata do desenvolvimento histórico e social de algumas das Antigo Oriente Médio pode nos apresentar uma unidade, De fato, ela prandes civilizações e das formas de sua expressão artística. Na região varia extremamente de região para região: a civilização sumeriana difere hoje conhecida como o Antigo Oriente Médio nasceriam as primeiras não só da egípcia, mas também da babilônica, sua descendente natural. expressões político-religiosas e artísticas do homem numa cultura Contudo, as realizações dessas civilizações foram paralelas, tendo havido amadurecida. Esta região estende-se do Egito e da Anatólia, a oeste, entre elas um certo intercâmbio. Uma escrita com caracteres seme- até o platô iraniano, a leste, alongando-se para o sul de modo a lhantes surgiu quase ao mesmo tempo no Egito (hieroglífica), na abranger a Península Arábica. Seus aspectos pcopgráficos variam con- Mesopotâmia (cuneiforme) e no Irã (proto-elamita), constatando-se na sideravelmente. Dois grandes vales de rios atravessam seus desertos: escrita egípcia um senso decorativo mais expressivo. Nas artes gráficas o do Nilo, no Egito, e o vale dos dois rios, o Tigre e o Eufrates, em geral, as realizações variaram de região para região, embora pos- na Mesopotâmia. (Segundo a tradição bíblica, o último era o Jardim suíssem as mesmas principais fontes de inspiração. Numa avaliação em do Éden, ou paraíso terreno.) Entre o Tigre e o Eufrates, acom- conjunto, não se deve esquecer que o Egito, devido à sua posição panhando os fertéis sopés das cordilheiras montanhosas do norte, fica geográfica, sempre permaneceu fiel a si mesmo, em língua, arte, re- o Crescente Fértil que se estende em arco sobre a Mesopotâmia se- ligião e política, enquanto as regiões asiáticas tiveram uma contínua tentrional até a Palestina, através da Síria setentrional e a região sucessão de raças e, consequentemente, de línguas, estruturas políticas costeira do Mediterrâneo (Fenícia). Abaixo desse crescente está o e culturais. A arte egípcia foi única, na sua consistência, durante um deserto sírio-árabe e, para além dele, os planaitos do Irã e da Anató- espaço de tempo de três milênios, apesar das diferenças espirituais lia, com cadeias de montanhas correndo de leste para oeste. entre um período e outro. (As obras de C. Aldred, na Inglaterra, e de Nessa região iriam desenvolver-se as mais antigas civilizações criadas S. Donadoni, na Itália, são fundamentais para a compreensão do es- pelo homem. Originando-se ao longo dos vales dos rios, primeiro na pírito da arte egípcia.) As artes da Ásia, entretanto, sofreram nume- Mesopotâmia e pouco depois no Egito e na Índia (ao longo do rio rosas rupturas e influências das regiões entre si, permanecendo de modo Indo), apresentavam diversas afinidades culturais nas suas fases pré- geral em nível mais baixo de realização que no Egito. -dinásticas. Assim, nos primeiros estágios da história do Oriente Médio, Ao examinarmos uma obra ou um trabalho de qualquer sociedade os rios constitufam-se em centros de atração. Povos nômades, que primitiva, devemos ter sempre em mente que os critérios de excelência tráziam seus rebanhos para os vales, aprenderam a canalizar as águas daqueles que os produziram diferiam dos nossos. Para nós, a arte das torrentes e a irrigar as terras, surgindo daí o cultivo do trigo em envolve uma apreciação estética, bem como uma consideração das suas escala comercial. Com isso veio a estabilidade econômica, desenvolven- funções sociais, políticas ou religiosas. Estamos irrevogavelmente com- do-se o comércio com regiões mais pobres, possibilitando assim o prometidos, hoje em dia, com essa qualidade indefinível, a que cha- surgimento de cidades-estado. mamos beleza. É nosso hábito relacionar todas as manifestações artis- Mas os movimentos étnicos e culturais não se limitaram às planícies. ticas, desde artefatos até arquitetura, com a nossa idéia pessoal e A comunicação entre o Eeste e o Oeste também se fazia através transitória de beleza. Aplicamos esse juízo estético tanto à arte do dos vales do Norte, fato oque só foi destacado recentemente. Dessa ma- passado como às produções dos nossos dias. Apreciamos, por exemplo, neira, surgiram relações entre o Irã, a Anatólia e o Cáucaso, que a escultura egípcia, julgando as suas qualidades como uma “obra de mais tarde fariam sentir a sua influência, quando povos como os hur- arte”. Contudo, é importante recordar que as considerações estéticas ritas, os cassitas e os hititas desceram do Norte. Esses povos mon- eram desconhecidas para as sociedades primitivas. (Na Grécia, por tanheses, geralmente de língua indo-européia, dariam uma nova dire- exemplo, não havia uma palavra em separado para designar arte.) ção à história do Antigo Oriente. Para os egípcios e os sumerianos, a escultura tinha um reconhecido uso Ainda não há qualquer dúvida, contudo, de que os impulsos mais prático na adoração dos deuses, na celebração de vitórias ou na de- criadores das civilizações do Antivo Oriente Médio desenvolveram-se coração de palácios ou túmulos: um conceito isolado de beleza teria ao longo do Nilo, do Eufrates e do Tigre, Os egípcios e os sumerianos parecido a esses povos senão incompreensível, decerto irrelevante. Se pfoolríatmi cas.o s Mapsri meeirmobso ra poveosst iveas semc riare m pocdoenrdoisçaõse s e semceolmhpalnetxeass —e strcuotmu rasa nos é impossível evitar considerações estéticas ao contemplar a arte do Antigo Oriente Médio — tentemos, pelo menos, não atribuir os mesma necessidade de represamento dos grandes rios para que fossem obtidos meios de subsistência e de energia — o desenvolvimento po- nossos valores àqueles que a produziram, há tantos séculos atrás. SI SA panda,t ia Ylesopotâmia im NU O território da antiga Mesopotâmia — terra dos dois rios — corresponde, na sua maior parte, ao da atual República do Iraque. A Mesopotâmia não é definida por fronteiras naturais marcantes, continuando-se, a leste para o Irã, ao norte para a Anatólia e, a oeste, para a Síria. (A arte dessas regiões será tratada no capítulo seguinte: “Áreas periféricas”.) A Mesopotâmia apresenta um aspecto plano e monótono, cuja uniformidade só é quebrada pelos canais dos rios Tigre e Eufrates e pelos remanescentes tells, ou morros artificiais, gradualmente levantados ao longo de muitas e sucessivas fases de habitação urbana. A história dos primeiros povoamentos na Mesopotâmia pode ser traçada através das peças de cerâmica descobertas em lu- 23 gares como Tell Hassuna, Samarra, Tell Halaf e Tell al"Ubaid. Mas a verdadeira história da civilização e da 1. Vaso de Samarra. Barro queimado e pintado. Staatliche arte mesopotâmicas só começa com o período Uruk, que Museen zu Berlin. As origens da cultura de Samarra ainda parece coincidir com a chegada dos sumerianos. são discutidas. Possivelmente iraniana, a cerâmica de Para uma melhor compreensão a história da civilização Samarra (cerca da 1º metade do 5º milênio a.C.) é semelhante mesopotâmica pode ser dividida em duas épocas: a su- à de Tepe Siyalk II. O nome origina-se de um local à meriana e a semita. A primeira (aprox. de 3.500 a margem do Tigre; é encontrada na região que se estende para Oeste até a Síria Setentrional, e se caracteriza por 2.350 a.C.) compreende um período de preparação, o estreitas faixas com ornamentos geométricos. A cultura de período pré-dinástico, e um período de florescimento clás- Samarra foi precedida, na Mesopotâmia Setentrional, pela sico, o chamado período da Primeira Dinastia, dividido de Tell Hassuna e continuada pela cultura, mais em três partes. A época semita começa por volta de rica, de Tell Halaf. 2.350 a.C., com a dinastia acadiana. Após um breve re- “2. Figura feminina de 'Ubaid. Período Pré-Dinástico. nascimento sumeriano, ao tempo da 3.2 Dinastia de Ur, a Primeira metade do quarto milênio a.C. Terracota. Altura, predominância semítica foi restabelecida no período ba- I4 cm. British Museum, Londres. Essas figuras contam-se bilônico antigo, continuando através dos períodos cassita, entre as primeiras descobertas do Período Pré-Dinástico. neo-assírio e neobabilônico. O domínio nativo na Meso- Por vezes representam uma mulher amamentando uma potâmia terminou, finalmente, com a conquista de Babi- criança. Os inchaços nos ombros possivelmente representam tatuagens. A cabeleira é de betume. A cultura de "Ubaid lônia pelos persas, em 539 a.C. é a primeira cultura pré-histórica da Mesopotâmia Meridional, tendo sua origem no platô iraniano. A CIVILIZAÇÃO SUMERIANA Esta civilização desenvolveu-se na Mesopotâmia Meridio- nal, na segunda metade do 4.º milênio a.C. Os sumerianos foram intrusos no complexo étnico dos primórdios da Me- sopotâmia (tanto em relação à língua quanto, provavel- mente, na formação racial): parecem ter vindo das terras altas do Irã. Entretanto, conseguiram fundir-se de tal ma- neira à população nativa que a sua origem estrangeira só agora é conhecida, dada a existência de certos nomes de cidades que não pertencem ao idioma sumeriano. Mas, embora impusessem a sua língua à população, adotaram o sistema de vida que encontraram na região, desenvol-. vendo-o. O comportamento imprevisível do Tigre e do Eufrates exigiu a construção de diques e a abertura de canais, a fim de garantir um curso de água regular e conter as desastrosas inundações. Assim irrigado, o rico solo aluvial do sul da Mesopotâmia tornou-se extremamente pro- dutivo. Sem esse controle, a Mesopotâmia Meridional — como ocorre atualmente — fica reduzida a estepes e a pantanais. A princípio, os sumerianos formaram comunidades agrícolas, que viviam sobretudo dos seus rebanhos e do cultivo de milho e tamareiras. (Os primeiros exemplares da arte sumeriana trazem a marca desse modo de vida.) A civilização sumeriana propriamente dita surgiria com a 10 lenta organização coletiva dessas comunidades, possibili- existia a matéria-prima necessária, sendo insuficiente a quantidade então importada para a formação de cor- tando o empreendimento das enormes obras públicas ne- porações de artesãos capazes de passar a sua arte de pais “cessárias à agricultura em larga escala. Uma tal organização requer um forte poder central, o para filhos, como aconteceu no Egito: ali, quando a ins- que se traduziu, entre os sumerianos, por uma forma teo- piração artística enfraquecia, a capacidade técnica cos- tumava compensá-la. A ausência de pedra na Mesopo- crática. Assim, o centro lógico de civilização e da vida tâmia explica por que a arte da escultura — como se. sumeriana era o templo, a casa do deus que governava a cidade. O sumo sacerdote, o en, que era assistido por um verá mais adiante — foi provavelmente dependente, de vasto corpo de subordinados, representava o deus: com- início, dos modelos egípcios. Considerada durante. muito binava os poderes políticos e religiosos; o ensi, ou go- tempo como uma das mais típicas expressões da civilização vernador, tinha uma posição semelhante. Só muito mais mesopotâmica, a escultura em pedra praticamente deixou tarde, numa fase posterior da história sumeriana, é que a de existir no fim do período sumeriano. A escultura babi- autoridade política, representada pelo lugal, ou rei, seria lônica é quase toda executada em bronze. desligada do templo. Toda uma estrutura política desen- ARQUITETURA PRÉ-DINÁSTICA volveu-se a partir desses fatos econômico-sociais básicos: assim, concebia-se o governante ideal como homem amante A arte sumeriana começa em Uruk, a Erech bíblica, nos 24 da paz, disposto a levantar templos aos deuses e a cons- últimos séculos do 4.º milênio a.C., com uma série de truir canais para o seu povo. Muito mais que um ideal obras que testemunham o avançado grau de civilização - humanitário, esta concepção representava a realidade vi- desta cidade. Uruk está situada na Mesopotâmia inferior, tal dos sumerianos, necessária, portanto, ao período for- a leste do Eufrates. A condição da'cidade de vale do rio mativo de sua civilização e destinada a manter-se efetiva impossibilitava a execução de elaborados projetos de cons- durante todo o curso de sua história. Muito mais tarde, trução: os altos juncos dos pântanos prestavam-se apenas esse ideal de realeza seria revivido pelos babilônios. à feitura de abrigos para animais; não havia madeira nem pedra, mas somente barro aluvial, em quantidade ilimi- O ESTUDO DA ARTE SUMERIANA tada. As construções eram feitas com tijolos de barro, Infelizmente, ainda é difícil distinguiars linhas-mestras que parecem ter sido uma anterior invenção iraniana: dos primórdios da arte sumeriana. A escassez de objetos recebiam formato oblongo, eram secos ao sol e colocados remanescentes de um período que se estende por mais de numa argamassa também de barro. Principalmente de- mil anos é um enorme obstáculo. Além disso, as obras co- vido ao seu prestígio religioso, Uruk foi sempre um dos nhecidas (compreendendo vários tipos) estão dispersas mais importantes centros do mundo sumeriano. Ao pri- irregularmente em vários locais. Para dar apenas dois meiro período pertencem dois grandes complexos sacros, exemplos, a grande profusão de sinetes cilíndricos tem a o recinto da E-anna (“a casa do céu”) e o chamado Anu 8 compensá-la muito pouco achados nas outras artes me- Zigurate, encimado pelo Templo Branco. O recinto da nores, ao passo que um número considerável de peças de E-anna era um conjunto de templos, dos quais apenas os escultura oriundas de Khafajah e Telloh (antiga Lagash) mais importantes podem ser mencionados aqui. O Templo não encontra correspondência nas descobertas arqueoló- de Pedra Calcária, cujo nome deriva desse material de gicas em lugares da importância de Ur e Uruk. Outro fator construção pouco comum, tem uma planta em forma de que dificulta o estudo da arte sumeriana é a incerteza um amplo retângulo (mais ou menos 35 x 85 m). No cen- quanto à cronologia. Eminentes estudiosos atribuíram a tro há um grande aposento em forma de T, guarnecido muitos objetos datas inteiramente diferentes. Finalmente, lateralmente, e na parte posterior por câmaras menores. cite-se o inadequado desenvolvimento dos estudos histó- Várias entradas foram feitas nos dois compridos lados da rico-artísticos, relativos à antiga Ásia Ocidental. As pes- construção. Apesar de ter sido usada a pedra, ao invés do quisas, nesse campo, têm permanecido sobretudo num tijolo encontrado na maioria dos outros templos sume- plano filológico. Embora não haja dúvida de que alguns rianos, O edifício conserva os contrafortes característicos estudos no campo da análise de estilos, como os de Anton dos templos de tijolo. Inventados como um meio de sus- 9 Moorgat e Henri Frankfort, tenham ampliado os nossos tentar altas estruturas de madeira com espessas e pesadas conhecimentos, a validez geral desses métodos no estudo da massas de barro não cozido, esses contrafortes são um arte do antigo Oriente Médio ainda não foi estabelecida. traço notável da arquitetura religiosa sumeriana e foram Se compararmos a arte sumeriana com as realizações até copiados no Egito. Mais tarde, os arquitetos sumeria- dos egípcios no mesmo período de tempo, a inferioridade nos utilizaram contrafortes para formar um elemento de- sumeriana em expressão formal e perfeição estilística corativo: a segiiência regular de unidades sólidas e ocas torna-se evidente, particularmente no campo da escultura servia não só para quebrar o monótono peso das paredes, em pedra. Este fato pode ser explicado levando-se em como também para dotá-las de uma espécie de ritmo es- conta naturalmente a provável diferença entre o gosto cultórico, com aproveitamento dos efeitos da luz. Esta ar- artístico dos dois povos e ainda a diferença do meio am- quitetura é severamente simétrica, tanto na distribuição biente que lhes fornecia as energias vitais. No campo da do espaço interior como no tratamento tridimensional das escultura em pedra, por exemplo, onde os sumerianos pro- paredes. E duziam amiúde obras pouco notáveis, observe-se que na O Templo de Pedra Calcária e um segundo templo, Mesopotâmia Meridional, ao contrário do Egito,” não “ligado a êle, mas voltado a um ângulo de noventa graus,