José Gil MOVIMENTO TOTAL o CORPO E A DANÇA R ELÓGIO D ' ÁGU A Movimento Total o Corpo e a Dança Rua Sylvio Rebelo, n." 15 1000-282Lisboa Telef.: 21 8474450 Fax: 21 8470775 Internet: http://www.relogiodagua.pt e-mail: [email protected] Título: Movimento Total- OCorpo eaDança Autor: José Gil Tradução: Miguel Serras Pereira Capa: Fernando Mateus sobre desenho deMatisse ©Relógio D'ÁguaEditores, Novembro de 2001 Composição epaginação: Relógio D'ÁguaEditores Impressão: Rainho & Neves, Lda.1Sta. MariadaFeira Depósito Legal n.o: 172221/01 José Gil Movimento Total o Corpo e a Dança Tradução deMiguel SerrasPereira Antropos «Erixímaco[olhando paraAtikté, abailarina]: Toda elasetorna dança, etoda ela se consagra ao movimento total!» Paul Valéry,L'Âme et la Danse Agradecimentos Há longo tempo em gestação, este livro deve muito a todos aqueles que, pertencendo ao mundo da dança, acolheram omeu interesse constanteporessa arte com amaiorsimpatia. Devo re ferir em primeiro lugar osbailarinos, os coreógrafos e os alunos da EDDC, de Arnhern, escola dirigida por Aat Houge e Mary Fulkerson que muitas vezes aí me convidaram a dar cursos. Ci tarei, em particular, Eva Karczag, entre outros maravilhosos bailarinos. Aprendi muito vendo dançar e falando com a minha amiga VeraMantero. Devo uma referência particular a José Sásportes cuja dispo nibilidade, pondo o seu rico espólio documental àminha dispo sição, me foi de uma grande utilidade. Finalmente, uma bolsa que me permitiu trabalhar alguns me ses no Lincoln Center de Nova York, generosamente concedida pelaFundação Luso-Americana de Lisboa, foi o factor que de . sencadeou a escrita, há tanto tempo à espera de começar. Os meus vivos agradecimentos àFundação. Índice Prólogo 13 1. As séries de Cunningham 31 2. Ocorpo paradoxal 57 3. Adança e a linguagem 81 4. Ogesto e o sentido 103 5. A comunicação dos corpos: Steve Paxton 131 6. Aconsciência do corpo. Azona. 157 7. O que é uma dança actual? Yvonne Rainer 183 8. Os gestos do pensamento: PinaBausch 213 9. Valéry Matisse dança desenho 229 Nota sobre os desenhos de Nijinsky 251 Prólogo No começo era omovimento. Não havia repouso porque não havia paragem do movimen to. Orepouso era apenas uma imagem demasiado vasta daquilo que se movia, uma imagem infinitamentefatigada que afrouxa va o movimento. Crescia-se para repousar, misturavam-se os mapas, reunia-se o espaço, unificava-se o tempo num presente que parecia estar em toda aparte, para sempre, ao mesmo tem po. Suspirava-se dealívio, pensava-seter-se alcançado aimobi lidade. Era possível enfim olhar-se a si próprio numa imagem apaziguadora de si e do mundo. Era esquecer omovimento que continuava em silêncio nofun do dos corpos. Microscopicamente. Porque, como se passaria do movimentoaorepousosenãohouvessejámovimentonorepouso? No começo não haviapois começo. No começo era omovimento porque o começo era o homem depé, naTerra. Erguera-se sobre os dois pés oscilando, visando oequilíbrio. Ocorpo não eramais que umcampo deforças atra vessado por mil correntes, tensões, movimentos. Buscava um ponto de apoio. Uma espécie de parapeito contra esse tumulto que abalava os seus ossos e a sua carne: Então a linguagem nascia num relâmpago, os sons combina vam-se, as palavras encadeavam-se, os sentidos incendiavam-