Trata-se de um livro escrito muito recentemente. Para Trotsky não há moral em si, não há moral ideal ou moral eterna. A moral é relativa a cada sociedade, a cada época, relativa sobretudo aos interesses das classes sociais. No momento atual, a maior parte dos países vivem sujeitos a uma moral burguesa. Nos países de democracia liberal, os interesses da burguesia encontram-se mascarados sob uma moral ideal, conforme aos interesses bem compreendidos da burguesia. A verdadeira moral deve defender os interesses da própria humanidade, representada pelo proletariado. Trotsky pensa que o seu partido, que já esteve no poder e que hoje se encontra na oposição, representou sempre o verdadeiro proletariado e que ele próprio representou a verdadeira moral. Conclui daqui, por exemplo, o seguinte: fuzilar reféns é ato que assume significados completamente diferentes, consoante a ordem for dada por Estaline, ou por Trotsky, ou pela burguesia. Essa ordem é moralmente válida se tiver por objectivo e por efeito táctico a vitória revolucionária da classe proletária. Assim, Trotsky defende o decreto que promulgou em 1919 e que autorizava o sistema dos reféns (mulheres e filhos dos adversários...) mas julga abominável este sistema quando aplicado por Estaline (que, por exemplo, para obrigar um diplomata a regressar à Rússia, ameaça a sua família), porque Estaline age assim para defender a burocracia contra o proletariado. Apoiando-se em Lenine, Trotsky declara que: os fins justificam os meios (desde que os meios não sejam inúteis; exemplo, em geral, o terrorismo individual é inútil); nenhum cinismo nesta atitude, mas, diz o autor, simples constatação dos factos. Trotsky declara ter destes factos uma consciência aguda, que constitui o seu sentido moral. O conteúdo desta obra não é sem dúvida inteiramente novo, mas nunca foi expresso com tanta clareza, nem formulado tão nitidamente. Para toda uma categoria de intelectuais e escritores de esquerda a astúcia e a violência em si são sempre coisas más, que só podem gerar o mal. Para Trotsky, quando são postas ao serviço de um fim justificado, a astúcia e a violência devem ser empregadas sem hesitação, representando nessas circunstâncias, pelo contrário, o bem.