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Monografia Luana Lopes Amaral 2010-02 PDF

53 Pages·2010·0.31 MB·English
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Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras OS VERBOS DE MODO DE MOVIMENTO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Luana Lopes Amaral Orientadora: Márcia Cançado Belo Horizonte 2010 Luana Lopes Amaral OS VERBOS DE MODO DE MOVIMENTO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Monografia apresentada ao Colegiado de Graduação em Letras da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Letras (habilitação em Linguística). Orientadora: Profa. Dra. Márcia Cançado Belo Horizonte Faculdade de Letras da UFMG 2010 Resumo Este trabalho se insere na área de pesquisa que estuda a interface entre a sintaxe e a semântica lexical. Assumimos, juntamente com outros autores, que propriedades semânticas específicas das classes verbais determinam o comportamento dos verbos nas alternâncias verbais das quais participam. Assim, descrevemos uma classe de verbos do português brasileiro, ainda pouco estudada nessa língua, os verbos de modo de movimento, a fim de investigar as propriedades semânticas desses verbos que têm papel de determinar seu comportamento sintático. Esses verbos são verbos como sacudir, quicar e girar e descrevem o modo como determinado objeto se move, sem que seja acarretada uma trajetória do movimento. Além de descrever semantica e sintaticamente essa classe de verbos, pretendemos descrever e explicar a alternância verbal da qual participa: um tipo de alternância transitivo- intransitiva. Tomando como base o trabalho de Cançado e Godoy (2010), propomos representações semântico-lexicais para os verbos de modo de movimento do português brasileiro, em termos de decomposição em predicados primitivos. Chegamos à conclusão de que esses verbos podem ser subdivididos ainda em três classes de acordo com propriedades sintáticas e semânticas, como a reflexivização e o aspecto lexical. Essa subdivisão não afeta a alternância transitivo-intransitiva, já que a diferença que há entre esses verbos não tem relação com a propriedade semântica relevante para a alternância: o modo de movimento. Ainda, discordamos de alguns autores que propõem que os verbos de modo de movimento participam da alternância causativo-incoativa. Mostramos a diferença entre verbos de modo de movimento e verbos causativos e incoativos e porque a alternância em questão não se trata da alternância causativo-incoativa. Abstract The present work is inserted in the research field which studies the syntax-lexical semantics interface. We assume, together with other authors, that specific semantic properties of verb classes determine the syntactic behavior of verbs within argument alternations. We describe a verb class of Brazilian Portuguese, which has not been much treated in the semantic literature of that language, the manner of movement verbs. We search for semantic properties of these verbs that determine their syntactic behavior. These are verbs like balançar, quicar and girar and they describe the manner how a determined object moves, without the entailment of a path. Besides describing semantically and syntactically this verb class, we also describe and explain the argument alternation in which it participates: a kind of transitive-intransitive alternation. Following Cançado and Godoy (2010), we propose lexical- semantic representations for the manner of movement verbs, in terms of predicate decomposition. We conclude that these verbs can be subdivided in three classes, according to their syntactic and semantic properties, like reflexivization and aktionsart. This subdivision does not affect the transitive-intransitive alternation, since the difference between the verbs is not related to the semantic property relevant to the alternation: the manner of movement. Still, we disagree with some authors who propose that the manner of movement verbs participate in the causative-inchoative alternation. We show the difference between manner of movement verbs and causative and inchoative verbs and why the alternation is not the causative- inchoative. Conteúdo 1. Introdução .......................................................................................................................... 6 2. Os verbos de modo de movimento na literatura ................................................................ 10 2.1 Levin e Rappaport (1992) e Levin (1993) ................................................................... 10 2.2 Jackendoff (1990) ....................................................................................................... 13 2.3 Talmy (1985) ............................................................................................................. 14 2.4 Ribeiro (2010) ............................................................................................................ 17 3 Referencial Teórico ........................................................................................................... 19 4 A nossa análise para os verbos de modo de movimento do PB .......................................... 25 4.1 Verbos de modo de movimento que denotam atividade: sacudir e quicar ................... 26 4.2 Verbos de modo de movimento causativos: girar ....................................................... 30 4.3 Estrutura de predicados .............................................................................................. 34 4.4 Alternância verbal ...................................................................................................... 38 5 Conclusões ........................................................................................................................ 43 6 Referências Bibliográficas................................................................................................. 45 Anexo .................................................................................................................................. 49 1. Introdução Na literatura em Semântica Lexical, encontramos vários trabalhos sobre alternâncias verbais e como essas alternâncias ocorrem em classes verbais específicas. Por exemplo, para o inglês temos Levin (1993), Levin e Rappaport (1995), Hale e Keyser (2002), e outros; para o português brasileiro, temos Cançado (2010), Ciríaco (2007), Godoy (2009), entre outros. Neste trabalho, pretendemos contribuir com os estudos na interface sintaxe-semântica lexical do português brasileiro (PB) através da descrição e da análise de uma classe verbal dessa língua e de uma alternância verbal característica dessa classe. Assumimos, juntamente com outros autores como Levin e Rappaport (1992, 1995), Cançado (2005, 2010), entre outros, que as possibilidades das alternâncias verbais são determinadas por propriedades semânticas sintaticamente relevantes das classes verbais. A classe de verbos que tomamos como objeto de estudo são os verbos que chamaremos de verbos de modo de movimento, pois são verbos que descrevem o movimento de um objeto pelo ponto de vista do modo como se dá esse movimento, sem que haja a descrição de uma trajetória. O objeto que sofre o movimento não tem necessariamente controle sobre o evento. Verbos desse tipo são exemplificados a seguir: (1) a. A empregada sacudiu os tapetes. b. O menino quicou a bola de basquete. c. O participante girou a roleta. Esses verbos não expressam uma trajetória e não descrevem a direção do movimento, nem implicitamente. Um objeto pode sacudir, quicar e girar sem sofrer mudança de lugar. Segundo Levin e Rappaport (1992) e Talmy (1985), estas duas propriedades semânticas, modo do movimento e direção do movimento, nunca são lexicalizadas pelo mesmo verbo, ou seja, estão em distribuição complementar1. Alguns verbos do PB que lexicalizam a trajetória são exemplificados a seguir: 1O próprio Talmy cita contra exemplos para essa proposta, porém assume que esse tipo de lexicalização é raro. Para Levin e Rappaport (2010) verbos que aparentemente lexicalizam modo e trajetória são, na verdade, polissêmicos, de forma que em cada uso ou o verbo expressa modo ou trajetória, nunca os dois ao mesmo tempo. Para o PB, podemos citar como contra exemplos a essa proposta verbos como rolar e caminhar, que são tratados geralmente como verbos de modo de movimento. Esses verbos denotam o modo do movimento e acarretam uma trajetória. Se um objeto rola, necessariamente ele muda de lugar. Jackendoff (1990) afirma que correr, no inglês run, possui um argumento implícito que denota uma trajetória. Goldberg (2010) também cita contra exemplos e propõe outro tipo de restrição para a lexicalização dos verbos. 6 (2) a. O brinquedo caiu no chão. b. A menina foi para a casa da amiga. c. A Maria voltou de Nova York. Existe, ainda, um outro tipo de verbo que podemos também classificar como sendo de modo de movimento. São verbos necessariamente agentivos como andar e correr2. Em um primeiro momento, assumiremos que não é relevante separar esses verbos da classe maior de verbos inergativos, que inclui verbos como falar e cantar. Além disso, esses verbos diferem dos verbos que tomamos como objeto de estudo, por terem uma trajetória implícita. Se alguém anda ou corre, anda ou corre de um lugar A até um lugar B. Deixaremos esses verbos para uma pesquisa futura e neste trabalho, sempre que usarmos a denominação de verbos de modo de movimento, estaremos nos referindo aos verbos que não acarretam trajetória nem expressam direção do movimento e que denotam o movimento de um objeto, sem que este tenha necessariamente controle sobre o evento. O que nos leva a tomar os verbos de modo de movimento do PB como objeto de estudo é o fato de que eles, assim como outros verbos do PB e de outras línguas, participam de um tipo de alternância transitivo-intransitiva. Essa alternância ocorre quando um verbo alterna o número de argumentos que toma, podendo aparecer tanto em uma forma intransitiva, como em uma forma transitiva. Alguns autores, como Levin e Rappaport (1992, 1995) e Ribeiro (2010), assumem que tal alternância se trata da alternância conhecida como causativo- incoativa3. Entretanto, pretendemos mostrar que o tipo de alternância que ocorre com verbos de modo de movimento, do ponto de vista semântico, não é o mesmo que ocorre com verbos causativos e incoativos4. Vejamos o que estamos entendendo por alternância causativo- incoativa. A alternância causativo-incoativa é um processo semântico que possui um reflexo na sintaxe na forma de uma alternância transitivo-intransitiva. Esse processo faz com que um determinado predicador verbal alterne o número de argumentos que toma. Por exemplo, verbos causativos como abrir podem aparecer na sintaxe com um argumento ou com dois: 2 Esses verbos podem ter usos não agentivos, como em A agulha andou/correu pelo corpo do rapaz ou em A água correu, mas esses usos são claramente metafóricos e não invalidam a afirmação de que tais verbos são agentivos. 3 Para mais detalhes sobre a alternância causativo-incoativa ver Levin e Rappaport (1995), Hale e Keyser (2002), Ciríaco (2007), Ribeiro (2010), Chagas de Souza (1999) e Cançado e Amaral (2010). 4 Chamamos de verbos causativos verbos como quebrar, abrir, clarear e machucar. Chamamos de incoativos verbos como amadurecer, apodrecer, murchar e talhar. 7 (3) a. A porta (se) abriu. b. O menino/o vento abriu a porta. Semanticamente, podemos analisar a alternância por meio de paráfrases. A forma transitiva pode ser parafraseada da seguinte forma: um elemento X causa um elemento Y mudar de estado. No exemplo em (3b), X é o menino ou o vento e Y é a porta. A forma intransitiva pode ser parafraseada da seguinte forma: um elemento Y muda de estado. A forma transitiva, que contém uma causa, é a contraparte causativa da alternância. A forma intransitiva, que só expressa uma mudança de estado, é a contraparte incoativa5. Sintaticamente, essa alternância é um tipo de alternância transitivo-intransitiva e, nesse ponto, ela se assemelha a alternância da qual participam os verbos de modo de movimento. Neste trabalho, mostraremos que, na verdade, os verbos de modo de movimento são diferentes dos verbos causativos e incoativos. Os verbos de modo de movimento não são verbos de mudança de estado. Em um evento descrito por um verbo de modo de movimento, o objeto não muda de estado, apenas sofre um movimento. Vejamos exemplos da alternância transitivo-intransitiva que ocorre na classe de verbos de modo de movimento: (4) a. O vento sacudiu a cortina. b. A cortina sacudiu. (5) a. O jogador quicou a bola de basquete. b. A bola de basquete quicou. (6) a. O Joãozinho girou a roleta. b. A roleta girou. Portanto, a hipótese que norteará esta pesquisa é a de que a alternância transitivo- intransitiva que ocorre com os verbos de modo de movimento é um processo sintático que ocorre também com verbos causativos e incoativos. Porém, semanticamente, a alternância em questão é específica dessa classe de verbos e sofre restrições de propriedades semânticas que compõem os verbos dessa classe. Os objetivos deste trabalho são descrever os verbos de 5O termo incoativo é muitas vezes utilizado na literatura para tratar de fenômenos diferentes. Segundo Haspelmath (1987) o termo é utilizado na tradição da linguística americana para caracterizar verbos que descrevem a transição para um estado. Para Jackendoff (1990), incoativo é um evento cujo ponto final é um estado. Em outras abordagens, o termo se refere a um tipo de aspecto que especifica o início de uma ação (Crystal, 2000). 8 modo de movimento do PB; explicar e caracterizar semanticamente a alternância transitivo- intransitiva da qual eles participam e propor uma representação lexical, em termos de decomposição em predicados primitivos para essa classe de verbos. Os procedimentos metodológicos a serem seguidos são coleta de dados através do dicionário de Borba (1990) e dos trabalhos de Levin (1993) e Ribeiro (2010), aplicação de testes aspectuais para verificar o aspecto lexical desses verbos, criação de sentenças gramaticais e agramaticais com os verbos coletados. Analisaremos os dados coletados tomando como quadro teórico o trabalho de Cançado e Godoy (2010). Esta monografia se organiza da seguinte forma: na parte seguinte, discutimos os principais trabalhos encontrados na literatura sobre os verbos de modo de movimento; na parte 3, apresentamos o referencial teórico adotado na pesquisa; na parte 4, mostramos a nossa análise para os verbos de modo de movimento do PB; concluímos a monografia na parte 5. 9 2. Os verbos de modo de movimento na literatura 2.1 Levin e Rappaport (1992) e Levin (1993) No trabalho de Levin e Rappaport (1992), as autoras estão preocupadas com a relação entre a classe de verbos de movimento e o fenômeno da inacusatividade. Tomados como pertencentes a uma única classe verbal, os verbos de movimento pareciam ser um grande contra exemplo para a Hipótese Inacusativa. A Hipótese Inacusativa, como formulada por Perlmutter (1978) e adotada por Burzio (1986), é uma hipótese sintática que propõe que os verbos intransitivos são divididos em duas classes: verbos inergativos e inacusativos, cada uma associada a uma configuração sintática diferente. O único argumento de um verbo inergativo possui propriedades de sujeito e o único argumento de um verbo inacusativo possui propriedades de objeto direto. Além de propriedades sintáticas, cada classe de verbos intransitivos apresenta propriedades semânticas em comum, o que levou os pesquisadores a postularem a determinação da semântica sobre a inacusatividade. Segundo as autoras, é possível, através da Hipótese Inacusativa postular uma regra de correspondência entre a sintaxe e a semântica que determina a qual classe o verbo pertencerá. Argumentos agentes são sujeitos em Estrutura Profunda e argumentos pacientes são objetos diretos em Estrutura Profunda. Também, classes semânticas de verbos tendem a se comportar da mesma forma com relação à inacusatividade. Através dessas propriedades, foram propostos vários testes para saber se um verbo intransitivo se comporta como inergativo ou inacusativo. Esses testes foram chamados de diagnósticos de inacusatividade. Porém, nem sempre esses diagnósticos agrupavam a mesma classe semântica. Os verbos de movimento, por exemplo, não apresentam comportamento uniforme com relação aos diagnósticos de inacusatividade. Alguns verbos de movimento se comportam como inacusativos, outros como inergativos e outros, ainda, parecem se comportar como ambos, dependendo do uso. Levin e Rappaport propõem então que a inacusatividade é semanticamente determinada, ou seja, as propriedades semânticas de um verbo, como os papéis temáticos que esse verbo atribui a seus argumentos, como o seu aspecto lexical ou como outras partes de seu sentido, determinam se ele será um verbo inacusativo ou inergativo. O fato de que os verbos 10

Description:
of verb classes determine the syntactic behavior of verbs within argument alternations class, we also describe and explain the argument alternation in which it English Verb Classes and Alternations: A Preliminary Investigation.
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