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Moda Ayê: Guia de elementos afro-brasileiros para moda Aye PDF

20 Pages·2011·0.28 MB·Portuguese
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Moda Ayê: Guia de elementos afro-brasileiros para moda Aye Fashion: Elements' guide Afro-Brazilian to fashion Ivan Luis Sérvulo Porto, graduado em Design [email protected], graduado pela IESB/PREVE de Bauru/SP Jennifer K. Silva Francisco, graduada em Design [email protected], graduado pela IESB/PREVE de Bauru/SP Profª. Drª. Lílian Henrique de Azevedo, docente da IESB/PREVE [email protected], Doutora em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Assis RESUMO Com a inserção do negro em nosso país, desde sua chegada ao Brasil, retirados de suas tribos na África e trazidos em porões dos navios negreiros, ficando aqui cativos, obrigados a adaptar-se aos hábitos e costumes de seus senhores, houve, com a adaptação, a assimilação da nova cultura e reinvenção da sua própria. Desta mistura de cores, ritmos e fé, emergem os afro- brasileiros, com hábitos próprios - nem europeus, nem africanos. Buscamos informações para definir como fora dada esse processo de influência na moda, se houvera uma importação da moda africana ao Brasil ou se os negros passaram a produzir uma nova moda e em que momento puderam retomar sua cultura, através de suas vestimentas, pois a escravidão os impediu de praticar sua própria cultura. Visto tudo isso, busca-se identificar as influências afro-brasileiras na cultura brasileira, especificamente através da moda, destacando algumas características da moda afro- brasileira e elementos como os tipos de estampas, tecidos preferidos, e modelagem mais apropriada. Embora busca-se elementos afro-brasileiros, relacionou-se elementos contemporâneos, modernos e bonitos , pois não se trata de uma moda simplesmente folclórica ou festiva, o intuito do guia gerado pela pesquisa foi relacionar elementos aplicáveis a peças de roupas, para desenvolvimento de peças contemporâneas, para o uso geral. Elementos aplicáveis a roupas masculinas e femininas, adulto ou infantil, enriquecidos através da singularidade da cultura afro-brasileira. Podendo assim dar o devido valor, a esta cultura que faz parte dos pilares culturais brasileiros, mas é pouco conhecida, divulgada e apreciada. Palavras-chave: cultura, moda, África, Brasil, design ABSTRACT With the insertion of the black in our country, since their arrival to Brazil, taken from their tribes on Africa and brought into the holds of slave ships, staying here, forced to adapt to the habits and customs of their lords, had , with the adaptation and assimilation the new culture and reinvention of their own. This mix of colors, rhythms and faith emerge the Afro-Brazilians, with their own habits - neither European nor African. We seek to define how information was given this process of influence in fashion, whether there had been an importation of African fashion in Brazil or if blacks started producing a new fashion and when they could resume their culture through their clothing, for slavery prevented them from practicing their own culture. With all, we seek to identify the Afro- Brazilian influences in Brazilian culture, specifically through fashion, highlighting some features fashion Afro-Brazilian elements and the types of prints, fabrics preferred, and modeling appropriate. While we seek Afro-Brazilian elements, related to elements of contemporary, modern and beautiful, because it is not just a fad or folk festival, the purpose of the guide was produced in the study relate to the applicable articles of clothing, for the development of contemporary pieces for general use. Elements applicable to male and female clothing, adult or child, enriched by the uniqueness of Afro-Brazilian culture. May thus give due weight to this culture that is part of the Brazilian cultural pillars, but is little known, disseminated and appreciated. Keywords: culture, fashion, Africa, Brazil, design MODA AYÊ: Guia de elementos afro-brasileiros para moda As raízes da cultura brasileira são plurais, mas as maiores influências vêm das etnias indígenas, que já habitavam nosso país quando a segunda etnia, a portuguesa, aqui chegou. E, devido a necessidades da época, uma terceira etnia foi trazida ao Brasil, a etnia negra, representada pelos escravos trazidos da África para trabalhar neste país. Então, a partir desta tríade cultural, foi se construindo a essência da cultura do Brasil, e esta cultura, segundo Darcy Ribeiro, é uma cultura própria que já não era mais uma cultura nativa, européia ou africana, uma cultura resultante do processo de desenvolvimento da nação brasileira. Nação esta que mesmo influenciada por indígenas e negros, ainda não se consolidou socialmente a estas etnias, visto que ainda nos dias de hoje necessita de políticas públicas que lhe assegurem respeito e igualdade de direitos. Prova disso que foi sancionada a Lei 11.465/08, que obriga a inclusão no currículo escolar a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, conforme visto na versão online do jornal Correio do Brasil do dia 12/03/2003. Desejamos contribuir para a divulgação da cultura afro-brasileira, através da moda. Desenvolvendo um instrumento o qual o usuário possa ter acesso à informações, voltadas para moda, sobre esta etnia. Devido à falta de uma tradição em produção de moda, nota-se um desinteresse em documentar a moda afro-brasileira. Sabe-se que os negros desenvolveram muitos dos produtos típicos nacionais e influenciaram, juntamente com os índios, nosso vocabulário, mas pouco sabemos de como se vestiam nas senzalas e como passaram a se vestir quando alforriados, o por quê das negras baianas usarem branco e o por quê muitos negros evitam usar vermelho e preto? Existiria um sincretismo negro na moda brasileira, assim como afirmam existir um sincretismo religioso com os negros, ou seja, a moda brasileira é negra ou existe uma moda étnica afro-brasileira? Partindo destas questões, este trabalho de conclusão de curso busca demonstrar que a cultura negra influencia a cultura brasileira muito além do que conhecemos e que observando mais de perto a cultura negra podemos desenvolver uma moda rica e com grande personalidade. A metodologia aplicada ao projeto foi adaptada de Munari (2008) e será linear. A partir da coleta e análise de dados, definirá o produto gráfico e os requisitos do projeto para desenvolvê-lo, segundo os objetivos deste trabalho. Para o desenvolvimento e produção deste produto gráfico poderá realizar-se uma análise de produtos similares, caso disponíveis, auxiliando assim na geração de alternativas. O Design no Brasil Muitos têm a idéia de que o design existe somente nas classes dominantes deixando de lado seu papel social. Da mesma forma que diferentes pessoas têm diferentes preferências e necessidades, assim também ocorre nas visões que cada pessoa tem sobre o design. Além de ser uma profissão relativamente nova, pois obteve sua maturidade acadêmica nos últimos 30 anos. De acordo com Rafael Cardoso Denis (2000), para se entender um pouco mais sobre o trabalho de um designer, é só perceber que existe uma nítida separação de funções ao se fabricar determinado objeto, pois o designer o projeta, deixando com que o artesão ou o operário o fabrique. Ao se projetar determinado objeto, pode-se determinar uma função prioritária dentre a estética, funcional, mas não é somente isso, também há a preocupação em resolver problemas do cotidiano, tentando assim facilitar a vida de seus usuários, pesquisando, encontrando respostas e obtendo as melhores soluções, através de métodos, reconhecendo as características gerais do público-alvo. Este profissional necessita pesquisar o signo juntamente ao símbolo de seu usuário, para que possa interpretar e agir com responsabilidade, criando algo útil, funcional e estético, utilizando de metodologias, com base em muitas pesquisas e testes até chegar ao produto final. A maior parte da população ainda não tem essa consciência, fugindo do conceito, e às vezes até ridicularizando esse profissional, utilizando termos como designer de carnaval, hair designer, design de sobrancelhas, entre outros. Interferências como estas fazem com que o profissional designer perca seu real significado, dificultando a valorização exata que este profissional tem com a sociedade. Na década de 50 não se conhecia a expressão design, mas sim Industrial Design, ou Desenho Industrial, um equívoco que limitava o significado exato da profissão. Na década de 70, seu nome foi alterado para design, originado pelo idioma inglês, com origem do latim designare, com o sentido de designar, indicar, representar, marcar, ordenar. O português de Portugal se assemelhou tendo o significado de projetar, configurar, desenhar e inovar. Percebe-se claramente que na maioria de suas definições, o design atribui na junção de conceitos intelectuais com sua forma material. No seu livro, Rafael Cardoso Denis (2000) afirma que no Brasil o design teve influência européia, seguindo modelos de estruturações educacionais da Alemanha. Em 1963, a ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial), primeira escola do gênero no Brasil, teve como seus primeiros professores profissionais estrangeiros ou formados no exterior, isso fez com que o ensino permanecesse com suas características culturais, estéticas e éticas, obtendo expressão estética modernista, impedindo assim que seus alunos construíssem uma linguagem formal própria, pois obtinham essa forma de aprendizado por um longo tempo. Somente em 1993, com a renovação do corpo docente, a instituição criou uma comissão de pós-graduação, formada por professores de três 2 departamentos, obtendo a junção do Projeto de Produto, Programação Visual e Integração Cultural, assim formando uma nova base de ensino para o design. Em décadas passadas o Brasil era considerado como inferior, por ser um país com variada mistura de etnias e povos de diferentes culturas e etnias. Esse é um detalhe, ou melhor, uma prioridade que o design brasileiro tem acima de outros países, pois podemos criar novos horizontes, ampliando e exibindo nossas riquezas materiais, sociais e culturais, riquezas únicas, que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar no mundo. Nos dias de hoje o design brasileiro é visto por outros países como muito criativo, colorido e até mesmo exótico, podendo ser um elemento simples que expresse determinado cotidiano regional, ou um elemento que transforme o simples em algo muito sofisticado, tornando-se um objeto de desejo. Bons exemplos de designers brasileiros são grandes renomes como os irmãos Campana, Sergio Rodrigues, Romero Brito entre muitos outros, reconhecidos no Brasil e exterior. A Origem do povo afro-brasileiro   Ao longo de quatro séculos (de 1530 a 1880), mercadores europeus rumavam à África onde se negociavam negros e os destinavam para o território brasileiro, por serem submetidos à condição escravos, assim assimilando os valores da cultura dominante, sem abandonar os fundamentos das culturas de suas origens. Estes negros eram trazidos para, na grande maioria, servirem nas lavouras, garimpos e serviços braçais. Segundo Darcy Ribeiro (1995), a cultura africana trazida ao Brasil se distingue em três grandes grupos étnicos. O primeiro desses grupos nos trouxe a cultura sudanesa das tribos Yorubás, Dahomey, Fanti-Ashanti, Gâmbia, Serra Leoa, Costa Malagueta e Costa do Marfim; o segundo grupo que é de tribos do norte da Nigéria como Peuhl, Mandinga e os Haussa, que trouxeram a cultura islamizada; e o terceiro grupo, o Congo-angolês, das tribos Bantu, Angola e Moçambique. Cada um destes grupos tinha sua sociedade completamente desenvolvida com uma cultura rica e distinta, e muitos já dominavam a metalurgia e faziam escravos, e todos eles tinham seus processos de tecelagem. No início da formação da cultura brasileira, a contribuição cultural do negro foi pouco relevante, sendo muito mais passiva que ativa. Darcy Ribeiro (1995) explica que estes negros produziam tecidos, roupas, objetos de cerâmica, praticavam agricultura, criavam gado, domesticavam diversas plantas e dominavam técnicas da metalurgia. Existia um valor sagrado ao ferro, celebravam sua potência divina. Nas aldeias, possuíam casas e campos, sendo senhores proprietários da terra, da água, das florestas e dos sertões com todos os animais em que neles viviam e em alguns casos eles mantinham inimigos derrotados como escravos. 3 Preservando a herança cultural africana os escravos conservaram planos ideológicos próprios como crenças religiosas, práticas de magias, reminiscências rítmicas, musicais, culinárias e associada às culturas indígenas juntamente com as culturas dos portugueses, assim iniciou-se a cultura brasileira. A influência da cultura negra na formação da cultura brasileira   O negro escravo, capturado na África, passou a ser a massa trabalhadora durante o período colonial e imperial no Brasil, em decorrência da demanda de mão de obra nas fazendas açucareiras, cafezais e nas minas de ouro. Mas também havia os que viviam nas cidades, que tinham funções domésticas, como carpinteiros, pedreiros, construtores de móveis e carruagens, joalheiros, sapateiros, barbeiros, ferreiros entre muitas outras funções, pois os portugueses que aqui moravam obtinham uma enorme rejeição por qualquer que fosse o trabalho manual, assim sendo, quando um português pobre conseguia um pouco a mais de dinheiro a primeira coisa que este fazia era comprar um escravo, para que fizesse todos os serviços possíveis para ele. E também através deste fato temos a reflexão de que os negros escravos foram a base para a desenvolvimento de nosso país neste período. Os negros que discordavam da condição de escravo e rebelavam-se contra seus feitores e buscavam a fuga. Quando bem sucedidos na fuga organizavam-se em comunidades denominadas Quilombos, em geral, escondidas em áreas de difícil acesso, onde pudessem se sentir realmente livres. Nos quilombos, os negros relembravam suas origens africanas, além de juntamente incorporar elementos da cultura indígena e da cultura branca, dando origem a novas expressões culturais. Ainda hoje existem muitas comunidades remanescentes de quilombos, onde pode-se constatar a cultura negra ancestral preservada. O catolicismo para o negro foi uma forma de se aproximar do ideal do senhor, conquistando seu prestígio e confiança. Mas, por outro lado, se formou diversas irmandades religiosas negras, impondo resistência cultural e étnica do grupo negro, muitas dessas arrecadavam dinheiro dos negros que conseguiam fazer trabalhos extras para comprar a alforria de seus membros. Os negros não tinham a liberdade de cultuarem seus ancestrais e orixás, tendo que esconder seus orixás por trás de santos católicos, assim fingindo que aceitaram os valores e costumes dos brancos, desta forma eram tratados melhor, sofrendo castigos menos violentos. Pois a principal “desculpa” para a escravização dos negros e indígenas era que como eles tinham hábitos diferentes, cultuavam a outros deuses e não reconheciam a Deus como o Criador de todas as coisas, seriam eles criaturas comparadas a animais, daí a facilidade na sociedade aceitar a relação de propriedade dos portugueses com os negros. 4 A cultura negra, juntamente com a indígena e a branca, se reuniu formando características e rituais próprios, dando origem ao Candomblé e a Umbanda. E destes cultos vem a maior riqueza cultural afro-brasileira pois neste panteão cada orixá corresponde a um elemento da natureza, tem sua própria história, hábitos que são muito comuns aos humanos e tem suas vaidades, vestindo-se de maneira distinta preferindo por determinada cor e cada uma destas características vem carregada de significados, a exemplo de Yemanjá que segundo alguns corresponde a Nossa Senhora Aparecida, é a rainha do mar, veste-se de um vestido longo tem os cabelos lisos e prefere as cores azul e branco, a partir daí podemos imaginar seu temperamento e costumes e sendo assim cada orixá tem uma veste apropriada. O afro-brasileiro Darcy Ribeiro (2003) nos lembra que o negro não teve atuação relevante na formação da cultura brasileira no período colonial, pois viera para o Brasil cativo na condição de mão de obra. A princípio, o negro teve dificuldade de se organizar como uma única etnia pois, segundo Darcy Ribeiro (2003), eles eram capturados em diversas regiões e de diversas etnias africanas diferentes, onde cada grupo tinha uma língua e cultura diferente e os escravistas usavam isso para dificultar sua socialização, Darcy Ribeiro (2003, p. 115) nos trás um depoimento interessante do conde de Arcos: [...] A diversidade lingüística e cultural dos contingentes negros introduzidos no Brasil, e essas hostilidades recíprocas que eles traziam da África e à política de evitar a concentração de escravos oriundos de uma mesma etnia, nas mesmas propriedades, e até nos mesmos navios negreiros, impediu a formação de núcleos solidários que retivessem o patrimônio cultural africano. o conde de Arcos. Darcy Ribeiro (2003, p. 115) cita que, devido a essa dificuldade de socializarem-se, os negros se viram obrigados aceitar a aculturação dos seus senhores. [...] ao lado de outros escravos, seus iguais na cor e na condição servil, mas diferentes na língua, na identificação tribal e freqüentemente hostis pelos referidos conflitos de origem, os negros foram compelidos a incorporar-se passivamente no universo cultural da nova sociedade. A partir desta citação entende-se que o negro se viu obrigado a homogeneizar seus costumes para que pudesse se comunicar, entender e organizar para assim tentar reverter sua condição cativa. Darcy Ribeiro (2003) segue afirmando que assim conseguiram aportuguesar o Brasil, além de influenciar de muitas maneiras certas regiões onde se concentravam, “uma flagrante feição africana na cor da pele, nos grossos lábios e nos narigões fornidos, bem como na cadência e ritmos e nos sentimentos especiais de cor e gosto”, neste trecho refere-se especialmente a regiões do nordeste e do centro do país. Uma prática que ajudou a desgastar a cultura dos negros escravos, no período do Brasil colônia, foi sua relação com a produção, visto que a princípio eram utilizados nas minas e nos engenhos de cana-de-açúcar, atividades diferentes as que exerciam nas suas terras natais, assim 5 eram incorporados a um universo novo e a cultura africana ia sendo erradicada, em partes visto que o negro buscava formas de preservar algo de sua cultura ancestral, e foram mais bem sucedidos em preservar, adaptando, suas crenças, religiões e práticas mágicas, além de seus ritmos musicais, saberes e gostos culinários. Ou seja, neste período o negro não podia produzir nada além dos produtos exigidos pelos seus senhores, que se travava basicamente açúcar, farinha e, como mineiros, extrair ouro e pedras preciosas, sem falar dos trabalhos braçais das propriedades, sendo assim não poderiam ter produzido roupas ou moda pra si, e se vestiam com trapos fornecidos pelos seus senhores. Ao longo dos séculos, com os negros adaptando-se a cultura aportuguesada brasileira, passaram a desempenhar funções na casa grande, e assim estarem, de certa maneira, mais próximos dos seus senhores e isso levou esses senhores a vestir esses negros com roupas “melhores”, mas roupas conforme o costume das suas senhoras, a moda branca dominante. Com essa aproximação entre senhores e escravas a prática de estupro com as mesmas passou a ser ainda mais comum, visto que as negras eram obrigadas a entregar-se sobre pena de severos castigos em caso de negativa e o risco de terríveis castigos e suas senhoras se descobertas. Como fruto de abomináveis atos, as escravas deram a luz a mestiços os mulatos. Os mulatos nasciam na condição de escravo, mas em alguns casos recebiam o privilégio de servir na casa-grande em serviços mais brandos comparados a lida nas plantações, engenhos ou minas. Com passar das décadas alguns privilégios eram oferecidos aos negros, como a concessão de escravas para satisfação sexual de grupos de . Séculos depois, o Brasil passou por um processo de desenvolvimento sócio-cultural, além disto, a escravidão passou a ser mal vista na comunidade internacional e vários fatores vieram a dificultar o sistema escravista brasileiro, tais como: dificuldade em adquirir escravos trazidos da África, pois o tráfico de escravos passou a ser ilegal e passou a ser combatido por outros países; crescentes revoltas dos escravos, que agora se encontravam mais organizados; grande ocorrência de fugas para os muitos quilombos existentes no final do século XVIII. Paralelo a estes fatos, o Brasil passa por uma reforma política, onde deixa de ser colônia e passa a ser império, e começaram a surgirem leis que vieram a favorecer os escravos, permitindo que tivessem a possibilidade de comprar sua alforria, seguida pela lei do ventre livre que favorecia aos filhos de escravos nascidos a partir da data de sua sansão e a lei dos sexagenários que favorecia aos negros em idade superior a 65 anos. O mais importante a ser percebido nos fatos acima citados é a maneira que a vida no Brasil mudara, não esquecendo que mesmo o negro não recebendo o devido respeito e reconhecimento, naquela época, como cidadão brasileiro, mas com a possibilidade de alforria, a vida do mesmo mudou. 6 Passando a existir principalmente nas regiões urbanas os escravos de ganho, que tinham direito de receber uma parte da remuneração dos trabalhos que executavam a mando do seu senhor. Os escravos de ganho conseguiam comprar roupas melhores e em alguns casos alguma jóia, mas como todo escravo brasileiro era proibido de utilizar sapatos. O afro-brasileiro é uma etnia que passou por muitas transformações. Se originou de diversas etnias retiradas das suas terras natais, subjugadas e trazidas cativas ao Brasil. Então, essas etnias passam a aprender a cultura de seus algozes para unirem-se e, nesse momento, nasce o afro- brasileiro, que durante séculos sobrevive a um alto preço de sangue, suor e lágrimas. O afro- brasileiro se rebela e após anos de lutas conseguem a libertação. Quando libertos, sofrem um novo choque, pois mesmo livres não são respeitados, visto que o racismo está enraizado na cultura brasileira da época, perdem espaço nas lavouras para imigrantes. Sendo obrigados, mais uma vez, a se adaptar e se reinventar, e seguem assim até chegarem ao que são hoje, tendo uma vida digna e condições justas para conviver e ser tratado como igual por qualquer brasileiro. Não entenda esta afirmação como se o racismo e o preconceito não existam mais, mas observe que, hoje, existem muitas maneiras de superá-lo e combatê-lo. Existe esta condição mais privilegiada que outrora, o afro-brasileiro tem condições de buscar mais efetivamente suas relações ancestrais, firmando-se como etnia e neste esforço, ou desejo, de reforçar sua personalidade oferecem-se neste guia, elementos para o desenvolvimento de uma moda étnica afro-brasileira. Moda Desde que o ser humano iniciou o uso de vestimentas para cobrir sua nudez, iniciou-se também a moda, transformando-se em uma forma especializada de ornamentação para o corpo, sendo tudo o que é lançado ou usado naquele momento. Segundo o livro de Sue Jenkyn Jones (2005), houve um tempo em que o estudo das vestimentas era reconhecido como parte da antropologia. Exploradores e viajantes foram os primeiros a documentar e a comentar os ornamentos corporais e os estilos de se vestir que encontravam ao redor do mundo. Assim voltando de suas viagens com desenhos e exemplos de vestimentas, ampliando o desejo não só de artefatos em si, mas também por um conjunto deles. Atualmente, o foco está no uso das roupas que vem de manifestação e passagem de inquietações sociais e de mudanças culturais, a moda obtém como fonte formas e materiais do passado que inspiram e complementam novos estilos. 7 A grande maioria dos consumidores normalmente escolhe suas roupas tendo em mente questões como: o que está na moda, o conforto, a durabilidade, a praticidade e a valorização o seu tipo físico. A composição do vestuário além da roupa, também conta com os adornos. Os adornos possibilitam enriquecer atrativos físicos, afirmar a criatividade e individualidade ou sinalizar nossa associação ou posição dentro de um grupo ou cultura. As pessoas usam acessórios como jóias, bijuterias, calçados, maquiagens, penteados e cortes de cabelo para afirmar sua identidade dentro de uma sociedade. As pessoas também podem usar as roupas para diferenciar e reconhecer profissões, filiações religiosas, níveis sociais e estilos de vida. Uniformes são expressões de autoridade e fazem com que o usuário se destaque na multidão. Um bom exemplo é o traje recatado de uma freira, que identifica sua fé, ou o uniforme de funcionários de determinada empresa, pois a mesma peça pode ser produzida em série alterando cores ou pequenos detalhes. A sociedade exige adequação no vestir-se, mas cada pessoa tem seu estilo próprio sendo este clássico, básico, romântico, contemporâneo entre outros, fazendo com que suas roupas, acessórios e maquiagem se transformem em um ícone que revele seu gosto, inibindo pontos fracos e valorizando pontos fortes. Crenças políticas, sociais e éticas podem obter grande impacto sobre a moda. As pessoas se vestem de modo semelhante para indicarem que pertencem a um determinado grupo. Aquelas que não se moldam aos estilos aceitos são consideradas divergentes ou inconfiáveis, e em último caso são excluídas. Inversamente, a vítima da moda que segue as regras correntes de estilo sem sensibilidade, é percebida como alguém sem personalidade nem gosto, tentando desesperadamente pertencer a um grupo. Em alguns casos as roupas são afirmações de uma rebelião contra a sociedade e a própria moda. Embora os punks não tenham um uniforme, podem ser reconhecidos por uma gama de signos identificadores: roupas rasgadas, coleiras, algemas, alfinetes, penteados extravagantes entre outros acessórios. Esse código de vestir foi desenvolvido pela estilista britânica Vivienne Westwood, como uma provocação a moda convencional e bem-comportada da segunda metade dos anos 1970. As peças de roupas precisam ser adequadas ao estilo de vida de seus usuários, pois estilos usados em subúrbios são significativamente diferentes dos usados em áreas empresariais de grandes metrópoles, não sendo necessariamente menos modernos ou fora de moda. Tendências podem ter significados para determinado grupo etário ou círculo social, podendo não se adequar a outros. Segundo Jones (2005), muitos comerciantes varejistas trabalham de perto e cotidianamente garantindo e fornecendo tipos de roupas que seus clientes solicitam, obtendo uma leitura de condições socioeconômicas locais, identificando nichos de mercado, assim oferecendo uma mercadoria adequada. 8

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