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Mito e religião na grécia antiga PDF

50 Pages·2006·1.697 MB·Portuguese
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MITO E RELIGIÃO NA GRÉCIA ANTIGA Jean-Pierre Vernant Tradução JOANA ANGÉLICA D'A VILA MELO Jean~Pierre Vemant, historiador, nasceu em Toulouse em 1914. Iniciou estudos em filosofia em 1937 e, em 1948, passou a dedicar-se à antropologia da Grécia antiga. Foi diretor de es tudos na École des Hautes Études a partir de 1958, e criou em 1964 o Centre de Recherches Comparées sur les Sociétés An dennes. De 1975 a 1984, ocupou, no College de Franee, a cadeira de estudos comparados de religiões antigas. É doutor honoris causa das universidades de Chicago, Bristol, Brno, Nápoles e ~ Oxford e professor honorário no College de France. Entre suas obras, destacam-se Les origines de la pensée grecque, Mythe et wmfmartinsfontes pensée chez les Grecs, L'individu, la mort, ['amour e L'Univers, les SÃO PAULO 2009 dieux, les hommes. Esta obra foi pubJicadll origirwJmente em frllncês com o título MYTHE ET REUGION EN GRECE ANCIENNE por Éditions du SeuiJ, Paris. Copyright © Éditions du Seui!, 1990, sUMÁRIo Coleção "Lu l.ibrairie du XXI' sil'c/e", dirigida por Maurice Olcnder, para a versiW franct:Sll e Il introdução. Copyright © Macmillan Publ/shing Company, 1987. Na versão inglesa, este texto foi publicado com o titulo "'Greek Religion"' no 6" volume de The Encyc/opedia of ReJigion, Mirem EJiade (Ed.), Nova Yorke l.ondres, Macmillan, 1987, pp. 99-118. Copyrighl © 2006, Editora WMF Mnrtins Fontes Lida., São Paulo, para a pn:sente edição. 1~ edição 2006 2~ tiragem 2009 Transliteração do grego Juvenal Savian Filho Acompanhamento editorial Mnria Fernanda Alvares Preparação do original Mnria Fernanda Alvares Revisões gráficas Sandra Garcia Cortes Solange Mnrtins Dinarle ZorZilnelli da Silva Introdução ........................................................... . 1 Produção gráfica Geraldo Alves Paginação/Fotolltos Mito, ritual, imagem dos deuses .................. . 13 Studio 3 Desenvolvimento Editorial A voz dos poetas ........................................... . 15 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CP) Uma visão monoteísta .................................. . 20 (Ornara Brasileira do Uvro, sp, Brasil) Vemant, Jean-Plerre, 1914- A decifração do mito 24 Mito c religião na Grécia antiga / Jean-Pierre Vemant; tra dução Joana Angélica D'A vila Melo. -São Paulo: WMF Mar o mundo dos deuses ..................................... . 29 tins Fontes, 2006. Título original: Mythe et religion en Greçe andenne. Zeus, pai e rel. ............................................... . 30 Bibliografia. ISBN 85-60156-04-6 Mortais e imortais ......................................... . 37 1. Ikuses gregos 2. Gréda - Religião 3. Mitologia grega I. Titulo. A religião cívica 41 <J6.5806 COO·292.08 Sobre os deuses e os heróis ......................... . 44 índices para catálogo sistemático; Os semideuses .............................................. . 47 1. Grécia antiga: Mitologia e religião 292.08 Dos homens aos deuses: o sacrifício ........... . 53 Todos os direitos desta edição reservados à Editora WMF Martins Fontes Ltda. Repasto de festa .................................... . 57 Rua Conselheiro Ral1Ullho, 330 01325-000 São Paulo SP Brasil Tel. (11) 3241.3677 Fax (11) 3101.1042 Os ardis de Prometeu ................................... . 61 e-mal1: injo®l1UIrtinsfontes.com.br http://www.martinsjontes.com.br Entre animais e deuses ................................. . 66 o misticismo grego.......................................... 69 INTRODUÇÃO Os mistérios de Elêusis ................................. 71 Dioniso, o estranho estrangeiro ................... 75 O orfismo. Em busca da unidade perdida... 81 Fugir do mundo ............................................. 85 Bibliografia 89 Tentar num breve ensaio fazer um quadro da re ligião grega não seria uma aposta perdida de ante mão? Assim que pegamos na pena para escrever, surgem muitas dificuldades e muitas objeções nos assaltam, mal a tinta secou. Teremos o direito, até mesmo, de falar de religião, no sentido em que a entendemos? No "retomo do religioso" com o qual hoje todos se espantam, para comemorá -lo ou para deplorá-lo, o politeísmo dos gregos não tem vez. Porque se trata de uma religião morta, é claro, mas também porque nada poderia oferecer à expectativa daqueles que buscam realimentar-se numa comu nidade de crentes, num enquadramento religioso da vida coletiva, numa fé íntima. Do paganismo ao mun do contemporâneo, modificaram -se o próprio esta tuto da religião, seu papel, suas funções, tanto quan to seu lugar dentro do indivíduo e do grupo. A. -J. 2 MITO E REUGlÃO NA GRÉCIA ANTIGA INTRODUÇÃO 3 Festugiere - teremos oportunidade de voltar mais religião cívica tendo por modelo o crente de hoje, longamente a isso - excluía da religião helênica todo que assegura sua salvação pessoal, nesta vida e na o campo da mitologia, sem o qual, contudo, teríamos outra, no seio de uma Igreja que é a única habilitada grande dificuldade em conceber os deuses gregos. a conferir-lhe os sacramentos que fazem dele um fiel. Segundo ele, somente o culto, nessa religião, per Porém, assinalar a distância, e mesmo as oposições, tence ao âmbito religioso. O culto, ou melhor, aqui entre os politeísmos das cidades gregas e os mono lo que, como bom monoteísta, ele acredita poder teísmos das grandes religiões do Livro não deve projetar de sua própria consciência cristã sobre os levar a desqualificar os primeiros, a suprimi -los do ritos dos antigos. Outros estudiosos levam mais lon plano religioso para relegá-los a outro domínio, vin ge essa exclusão. Da piedade antiga suprimem tudo culando-os, como fizeram os defensores da escola o que lhes parece estranho a um espírito religioso antropológica inglesa na esteira de J. G. Frazer e J. E. definido por referência ao nosso. Assim, ao falar do Harrison, a um fundo de "crenças primitivas" e de orfismo, Comparetti afirmava em 1910 ser esta a úni práticas" mágico-religiosas". As religiões antigas não ca religião que, dentro do paganismo, merece tal são nem menos ricas espiritualmente nem menos nome: "todo o resto, salvo os mistérios, não passa complexas e organizadas intelectualmente do que as de mito e culto". Todo o resto? À exceção de uma de hoje. Elas são outras. Os fenômenos religiosos têm corrente sectária inteiramente marginal em sua as formas e orientações múltiplas. A tarefa do histo piração a fugir deste mundo para unir-se ao divino, riador é identificar o que a religiosidade dos gregos a religiosidade dos gregos se reduziria a ser apenas pode ter de específico, em seus contrastes e suas ana- mito, ou seja, do ponto de vista desse autor, fabula 10gias com os outros grandes sistemas, politeístas e ção poética e culto, isto é, ainda segundo ele, con monoteístas, que regulamentam as relações dos ho junto de observâncias rituais sempre mais ou me mens com o além. nos aparentadas com as práticas mágicas das quais Se não houvesse analogias, não poderíamos se originam. falar, a propósito dos gregos, de piedade e de im O historiador da religião grega, portanto, deve piedade, de pureza e de mácula, de temor e de res navegar entre dois escolhos. Precisa abster-se de peito diante dos deuses, de cerimônias e de festas em "cristianizar" a religião que ele estuda, interpretan homenagem a ehis, de sacrificio, de oferenda, de pre do o pensamento, as condutas, os sentimentos do ce, de ação de graças. Mas as diferenças saltam aos grego exercendo sua piedade no ,,c ontexto de uma olhos; são tão fundamentais que até os atos cultuais 4 MITO E RELIGIÃO NA GRÉCIA ANTIGA INTRODUÇÃO 5 cuja constância parece ser a mais estabelecida e que, tir de Potências primordiais, como Vazio (Cháos) e de uma religião para outra, são designados por um Terra (Gala), das quais saíram, ao mesmo tempo e só e mesmo termo, como o sacrifício, apresentam em pelo mesmo movimento, o mundo, tal como os hu seus procedimentos, em suas finalidades, em seu al manos que habitam uma parte dele podem contem cance teológico, divergências tão radicais que é pos plá-lo, e os deuses, que a ele presidem invisíveis em sível falar em relação a elas tanto de permanência sua morada celeste. quanto de mutação e de ruptura. Há, portanto, algo de divino no mundo e algo de Todo panteão, como o dos gregos, supõe deuses mundano nas divindades. Assim, o culto não pode múltiplos; cada um tem suas funções próprias, seus visar a um ser radicalmente extramundano, cuja for domínios reservados, seus modos particulares de ma de existência não tenha relação com nada que ação, seus tipos específicos de poder. Esses deuses seja de ordem natural, no universo físico, na vida hu que, em suas relações mútuas, compõem uma so mana, na existência social. Ao contrário, o culto pode ciedade do além hierarquizada, na qual as compe dirigir-se a certos astros como a Lua, à aurora, à luz tências e os privilégios são alvo de uma repartição do Sol, à noite, a uma fonte, um rio, uma árvore, ao bastante estrita, limitam-se necessariamente uns aos cume de uma montanha e igualmente a um senti outros, ao mesmo tempo que se completam. Tal como mento, uma paixão (Aidós, Éros), uma noção moral a unicidade, o divino, no politeísmo, não implica, ou social (Díke, Eynomía). Não que se trate sempre como para nós, a onipotência, a onisciência, a infi de deuses propriamente ditos, mas todos, no regis nidade' o absoluto. tro que lhes é próprio, manifestam o divino do mes Esses deuses múltiplos estão no mundo e dele fazem parte. Não o criaram por um ato que, no caso mo modo que a imagem cultuaI, tomando presente do deus único, marca a completa transcendência a divindade em seu templo, pode legitimamente ser deste em relação a uma obra cuja existência deriva e objeto da devoção dos fiéis. depende inteiramente dele. Os deuses nasceram Em sua presença num cosmos repleto de deuses, do mundo. A geração daqueles aos quais os gregos o homem grego não separa, como se fossem dois prestam um culto, os olimpianos, veio à luz ao mes domínios opostos, o natural e o sobrenatural. Estes mo tempo que o universo, diferenciando-se e orde permanecem intrinsecamente ligados um ao outro. nando-se, assumia sua forma definitiva de cosmos Diante de certos aspectos do mundo, experimenta o organizado. Esse processo de gênese operou-se a par- mesmo sentimento de sagrado que no comércio com 6 MITO E RELIGIÃO NA GRÉCIA ANTIGA INTRODUÇÃO 7 os deuses, por ocasião das cerimônias que estabe termediários, de mediadores. Para fazer-se conhecer lecem o contato com eles. às suas criaturas, foi preciso que Deus decidisse re Não que se trate de uma religião da natureza e velar-se a algumas dentre elas. Numa religião mo que os deuses gregos sejam personificações de for noteísta, a fé normalmente faz referência a alguma ças ou de fenômenos naturais. Eles não são nada forma de revelação: de saída, a crença enraíza -se na disso. O raio, a tempestade, os altos cumes não são esfera do sobrenatural. O politeísmo grego não re Zeus, mas de Zeus. Um Zeus muito além deles, visto pousa sobre uma revelação; não há nada que funda que os engloba no seio de uma Potência que se es mente, a partir do divino e por ele, sua inescapável tende a realidades, não mais físicas mas psicológicas, verdade; a adesão baseia -se no uso: os costumes hu éticas ou institucionais. O que faz de uma Potência manos ancestrais, os nómoi. Tanto quanto a língua, o uma divindade é o fato de que, sob sua autoridade, modo de vida, as maneiras à mesa, a vestimenta, o ela reúne uma pluralidade de "efeitos", para nós sustento, o estilo de comportamento nos âmbitos completamente díspares, mas que o grego relaciona privado e público, o culto não precisa de outra jus entre si porque vê neles a expressão de um mesmo tificação além de sua própria existência: desde que poder exercendo-se nos mais diversos domínios. Se passou a ser praticado, provou ser necessário. Ele ex o raio ou as alturas são de Zeus, é que o deus se ma prime o modo pelo qual os gregos regulamentaram, nifesta no conjunto do universo por tudo o que traz desde sempre, suas relações com o além. Afastar-se a marca de uma eminente superioridade, de uma disso significaria já não ser completamente si mes supremacia. Zeus não é força natural; ele é rei, de mo, como ocorreria a alguém que esquecesse de seu tentor e senhor da soberania em todos os aspectos idioma. que ela pode revestir. Entre o religioso e o social, o doméstico e o cívi Um deus único, perfeito, transcendente, inco co, portanto, não há oposição nem corte nítido, as mensurável para o espírito limitado dos humanos, sim como entre sobrenatural e natural, divino e mun como alcançá-lo pelo pensamento? Nas malhas de dano. A religião grega não constitui um setor à par que rede o entendimento poderia abranger o infini te, fechado em seus limites e superpondo-se à vida to? Deus não é cognoscível; pode-se apenas reco familiar, profissional, política ou de lazer, sem con nhecê-lo, saber que ele é, no absoluto de seu ser. fundir-se com ela. Se é cabível falar, quanto à Gré Para preencher a intransponível distância entre Deus cia arcaica e clássica, de "religião cívica", é porque e o resto do mundo, é necessária a intervenção de in- ali o religioso está incluído no social e, reciproca- 8 MITO E RELIGIÃO NA GRÉCIA ANTIGA INTRODUÇÃO 9 mente, o social, em todos os seus níveis e na diver psykhé, fantasma do vivo, sombra inconsistente re sidade dos seus aspectos, é penetrado de ponta a legada sob a terra. ponta pelo religioso. O fiel, portanto, não estabelece com a divinda Daí uma dupla conseqüência. Nesse tipo de re de uma relação de pessoa para pessoa. Um deus ligião, o individuo não ocupa, como tal, um lugar transcendente, precisamente por estar fora do mun central. Não participa do culto por razões puramen do, fora de alcance deste mundo, pode encontrar no te pessoais, como criatura singular voltada para a sal foro íntimo de cada devoto, em sua alma, se ela ti vação de sua alma. Exerce nele o papel que seu esta ver sido preparada religiosamente para tal, o lugar tuto social lhe atribui: magistrado, cidadão, membro privilegiado de um contato e de uma comunhão. Os de uma fratria, de uma tribo ou de um demo, pai deuses gregos não são pessoas mas Potências. O de família, matrona, jovem - rapaz ou moça - nos culto os honra em razão da extrema superioridade diversos aspectos de sua entrada na vida adulta. do estatuto deles. Embora pertençam ao mesmo Religião que consagra uma ordem coletiva e que mundo que os humanos e, de certa forma, tenham integra nesta, no lugar que convém, suas diferen a mesma origem, eles constituem uma raça que, ig tes componentes, mas que deixa fora de seu campo norando todas as deficiências que marcam as criatu as preocupações relativas acada individuo, à even ras mortais com o selo da negatividade - fraqueza, tual imortalidade deste, ao seu destino além da mor fadiga, sofrimento, doença, morte -, encarna não o te. Nem mesmo os mistérios, como os de Elêusis, nos absoluto ou o infinito mas a plenitude dos valores quais os iniciados compartilham a promessa de uma que importam na existência nesta terra: beleza, força, sorte melhor no Hades, têm a ver com a alma: ne juventude constante, permanente irrupção da vida. les não há nada que evoque uma reflexão sobre a Segunda conseqüência. Dizer que o político está natureza dela ou a aplicação de técnicas espirituais impregnado de religioso é reconhecer, ao mesmo para sua purificação. Como observa Louis Gernet" tempo, que o próprio religioso está ligado ao polí o pensamento dos mistérios permanece suficien tico. Toda magistratura tem um caráter sagrado, mas temente confinado para que nele se perpetue, sem todo sacerdócio tem algo de autoridade pública. Se grande mudança, a concepção homérica de uma os deuses são da cidade, e se não existe cidade sem divindades políades que velam, interna e externa mente, por sua salvação, é a assembléia do povo que 1. "L'anthropologie de la religion grecque" (1955), em Anthropolo gie de Ia Crece antique, Paris, 1968, p. 12. comanda a economia das hierá, das coisas sagradas, 10 MITO E RELIGIÃO NA GRÉCIA ANTIGA INTRODUÇÃO 11 dos assuntos dos deuses, assim como os dos ho mistérios cujas aspirações e atitudes lhe são parcial mens. Ela fixa os calendários religiosos, eclita leis sa mente estranhas, e integrando a si mesma, para en gradas, decide sobre a organização das festas, sobre globá -la, uma experiência religiosa como o dionisis o regulamento dos santuários, sobre os sacrifícios a mo, cujo espírito é, sob tantos pontos de vista, con fazer, sobre os deuses novos a acolher e sobre as trário ao seu. honras que lhes são devidas. Uma vez que não há Religião cívica, dionisismo, mistérios, orfismo: cidade sem deuses, os deuses cívicos, em contrapar sobre as relações entre eles durante o período de que tida, precisam de cidades que os reconheçam, que os trata nosso estudo, sobre a influência, o alcance, a adotem e os façam seus. De certo modo eles neces significação de cada um, o debate não está encerra sitam, como escreve MareeI Detienne', tomar-se ci do. Historiadores da religião grega que pertencem, dadãos para serem plenamente deuses. como Walter Burkert, a outras escolas de pensamen Nesta introdução, quisemos prevenir o leitor to que não aquela à qual eu me vinculo defendem contra a tentação bastante natural de assimilar o pontos de vista diferentes dos meus. E, entre os es mundo religioso dos antigos gregos àquele que hoje tudiosos mais próximos de mim, a concordância so nos é familiar. Mas, ao privilegiar os traços diferen bre o essencial não deixa de apresentar, quanto a cer ciais' não podíamos evitar o risco de forçar um pou tos pontos, algumas nuanças ou divergências. co o quadro. Nenhuma religião é simples, homogê A forma de ensaio que escolhi não me convida nea, unívoca. Mesmo nos séculos VI e V antes da va a evocar essas discussões entre especialistas nem nossa era, quando o culto cívico, tal como o evoca a me lançar numa controvérsia erudita. Minha am mos, dominava toda a vida religiosa das cidades, não bição limitava -se a propor, para compreender a reli deixavam de existir ao lado dele, em suas franjas, gião grega, uma chave de leitura. Meu mestre Louis correntes mais ou menos marginais de orientação Gemet deu à grande obra, sempre atual, que consa diferente. É preciso ir mais longe. A própria reli grou ao mesmo assunto o título de Le Génie grec dans gião cívica, embora modele os comportamentos re la religion3 [O gênio grego na religião]. Neste peque ligiosos, só pode garantir plenamente seu domínio no volume, quis tomar sensível ao leitor aquilo a que reservando um lugar, em seu seio, para os cultos de chamaria de bom grado o estilo religioso grego. 2. La Vie quotidienne des dieux grecs (com G. Sissa), Paris, 1989, p. 172; 3. L. Gernet e A. Boulanger, Le Génie grec dans la religion, 1932. Ree cf. também pp. 218-30. ditado em 1970. MITO, RITUAL, IMAGEM DOS DEUSES A religião grega arcaica e clássica apresenta, en tre os séculos VIII e IV antes da era cristã, vários tra ços característicos que é necessário lembrar. Assim como outros cultos politeístas, é estranha a toda for ma de revelação: não conheceu nem profeta nem messias. Mergulha suas raízes numa tradição que engloba a seu lado, intimamente mesclados a ela, todos os outros elementos constitutivos da civiliza ção helênica, tudo aquilo que dá à Grécia das cida des-Estado sua fisionomia própria, desde a língua, a gestualidade, as maneiras de viver, de sentir, de pensar, até os sistemas de valores e as regras da vida coletiva. Essa tradição religiosa não é uniforme nem estritamente determinada; não tem nenhum caráter dogmático. Sem casta sacerdotal, sem clero especia lizado, sem Igreja, a religião grega não conhece livro sagrado no qual a verdade estivesse definitivamente

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