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Mil platôs é o prolongamento de uma aposta iniciada em O anti-E PDF

151 Pages·2006·1.05 MB·Portuguese
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coleção TRANS Gilles Deleuze Félix Guattari MIL PLATÔS Capitalismo e Esquizofrenia Vol. 4 Coordenação da tradução Ana Lúcia de Oliveira 1a Edição- 1997 EDITORA 34 R. Hungria, 592 CEP 01455-000 - São Paulo-SP Tel/Fax (011) 816-6777 Distribuição pela Códice Comércio Distribuição e Casa Editorial Ltda. R. Simões Pinto, 120 CEP 04356-100 Tel. (011) 240-8033 São Paulo - SP Copyright © Editora 34 Ltda. (edição brasileira), 1997 Mille plateaux © Les Éditions de Minuit, Paris, 1980 Título original: Mille plateaux - Capitalisme et schizopbrénie Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica: Bracher & Malta Produção Gráfica Revisão técnica: Luiz Orlandi CIP - Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Deleuze, Gilles, 1925 -1995 D39m Mil platôs - capitalismo c esquizofrenia, vol. 4 / Gilles Deleuze, Felix Guattari; tradução de Suely Rolnik. - São Paulo: Ed. 54, 1997 176 p. (Coleção TRANS) Tradução de: Mille plateaux - capitalisme et schisophrénie Bibliografia ISBN 85-7326-050-5 1. Filosofia. 1. Guattari, Felix, 19(0-1992. II. Título. III. Serie. CDD- 194 96-0138 CDU- 1(44) Das abas do livro: Mil platôs é o prolongamento de uma aposta iniciada em O anti-Édipo. Mais do que um acerto de contas com a conturbada década dos 60 e o freudo-marxismo que parecia animá-la, este era, segundo a bela definição de Michel Foucault, uma "introdução à vida não-fascista". Ou seja, um livro de ética. Foucault resumia as linhas de força daquele "guia da vida cotidiana": liberar a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante; alastrar a ação, o pensamento e o desejo por proliferação e disjunção (e não por hierarquização piramidal); liberar-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta), investindo o positivo, o múltiplo, o nômade; desvincular a militância da tristeza (o desejo pode ser revolucionário); liberar a prática política da noção de Verdade; recusar o indivíduo como fundamento para reivindicações políticas (o próprio indivíduo é um produto do poder) etc. Ora, não podemos dizer que essas balizas perderam algo de sua pertinência ou atualidade, muito pelo contrário. Na esteira delas, Mil platôs vai ainda mais longe, e de maneira mais leve, sóbria e radical. Despede-se das polêmicas com a psicanálise, desfaz os mal-entendidos sobre os marginais e suas bandeiras, multiplica as regras de prudência, intensifica a leitura micropolítica, amplia o espectro das matérias deglutidas (etologia, arquitetura, cibernética, metalurgia etc.), reinventa suas interfaces e hibridações e lança ao ar saraivadas de conceitos novos, como desterritorialização, devires, rizoma, platô. Já a forma do livro pede uma leitura inusitada. Seus platôs de intensidade, e não capítulos, podem ser lidos independentemente uns dos outros, mas formam uma rede, um rizoma. Num rizoma entra-se por qualquer lado, cada ponto se conecta com qualquer outro, não há um centro, nem uma unidade presumida — em suma, o rizoma é uma multiplicidade (como se vê, todas essas características prenunciavam a geografia imaterial da Internet, para cuja assimilação filosófica parecíamos tão pouco preparados). Contra a geografia mental do Estado, com seus sulcos e estrias, Mil platôs faz valer um espaço liso para um pensamento nômade. Contra o homem-branco-macho-racional-europeu, padrão majoritário da cultura, libera as mutações virtuais, os devires minoritários e moleculares capazes de desfazer nosso rosto demasiadamente humano. Contra as miragens em que se contempla, o homem é devolvido ao rizoma material e imaterial que o constitui, seja ele biopsíquico, tecno-social ou semiótico. Para aquém das figuras visíveis da História e do Capital, colhe seus movimentos de desterritorialização, a singularidade dos Acontecimentos aí gestados, as subjetivações que se anunciam, as lufadas intempestivas que chamam por um povo ainda desconhecido. Este livro é um exemplo vivo daquilo que os autores consideram a tendência, ou mesmo a tarefa da filosofia moderna: elaborar um material de pensamento capaz de captar a miríade de forças em jogo e fazer do próprio pensamento uma força do Cosmos. O filósofo como um artesão cósmico, a filosofia como estratégia. Deleuze chegou a considerar Mil platôs o melhor de tudo o que já escrevera. Predileção premonitória ou não, o fato é que este livro inclassificável começa a ser revisitado, justo numa época em que se prega sobranceiramente o fim da Filosofia, ou mesmo da História, em vez de se buscar ferramentas teóricas para a travessia do milênio. Peter Pál Pelbart Este livro foi publicado com o apoio do Ministério das Relações Exteriores da França. Da capa do livro: Devir nunca é imitar. Quando Hitchcock faz o pássaro, ele não reproduz nenhum grito de pássaro, ele produz um som eletrônico como um campo de intensidades ou uma onda de vibrações, uma variação contínua, como uma terrível ameaça que sentimos em nós mesmos. E não são apenas as "artes": as páginas de Moby Dick valem também pela pura vivência do duplo devir, e não teriam essa beleza de outro modo. A tarantela é a estranha dança que conjura ou exorciza as supostas vítimas de uma picada de tarântula: mas, quando a vítima faz sua dança, pode-se dizer que ela está imitando a aranha, que identifica-se com ela, mesmo numa identificação de luta "agonística", "arquetípica"? Não, pois a vítima, o paciente, o doente não se torna aranha dançante a não ser na medida em que a aranha por sua vez é suposta devir pura silhueta, pura cor e puro som, segundo os quais o outro dança. Não se imita; constitui-se um bloco de devir, a imitação não intervém senão para o ajuste de tal bloco, como numa última preocupação de perfeição, uma piscada de olho, uma assinatura. Mas tudo o que importa passou-se em outro lugar: devir-aranha da dança, à condição de que a aranha torne-se ela mesma som e cor, orquestra e pintura. Gilles Deleuze e Félix Guattari MIL PLATÔS Capitalismo e Esquizofrenia Vol. 4 NOTA DOS AUTORES: Este livro é a continuação e o fim de Capitalismo e Esquizofrenia, cujo primeiro tomo é O anti-Édipo. Não é composto de capítulos, mas de "platôs". Tentamos explicar mais adiante o porquê (e também por que os textos são datados). Em uma certa medida, esses platôs podem ser lidos independentemente uns dos outros, exceto a conclusão, que só deveria ser lida no final. Já foram publicados: "Rizoma" (Ed. de Minuit, 1976); "Um só ou vários lobos?" (revista Minuit, n° 5); "Como criar para si corpo um sem órgãos" (Minuit, n° 10). Eles são aqui republicados com modificações. NOTA DO EDITOR: Esta edição brasileira de Mil platôs, dividindo a obra original em cinco volumes, foi organizada com o acordo dos autores e da editora francesa (Ed. de Minuit). MIL PLATÔS Capitalismo e Esquizofrenia Vol. 4 8 10. 1730 — D -I , D -A , D -I EVIR NTENSO EVIR NIMAL EVIR MPERCEPTÍVEL (Tradução de Suely Rolnik) 100 11. 1837 — A R (Tradução de Suely Rolnik) CERCADO ITORNELO 150 Índice Geral dos Volumes 10. 1730 — DEVIR-INTENSO, DEVIR-ANIMAL, DEVIR-IMPERCEPTÍVEL... Lembranças de um espectador. — Lembro-me do belo filme Willard (1972, Daniel Mann). Um série B, talvez, mas um belo filme impopular, pois os heróis são ratos. Minhas lembranças não são necessariamente exatas. Vou contar a história por alto. Willard vive com sua mãe autoritária na velha casa de família. Terrível atmosfera edipiana. A mãe manda-o destruir uma ninhada de ratos. Ele poupa um (ou dois, ou alguns). Depois de uma briga violenta, a mãe, que "parece" um cachorro, morre. Willard corre o risco de perder a casa, cobiçada por um homem de negócios. Willard gosta do rato principal que ele salvou, Ben, e que se revela de uma prodigiosa inteligência. Há ainda uma rata branca, a companheira de Ben. Quando volta do escritório, Willard passa todo seu tempo com eles. Eles agora proliferaram. Willard conduz a matilha de ratos, sob o comando de Ben, para a casa do homem de negócios, e o faz morrer atrozmente. Mas, ao levar seus dois preferidos para o escritório, comete uma imprudência, e é obrigado a deixar os empregados matarem a branca. Ben escapa, depois de um longo olhar fixo e duro sobre Willard. Este conhece então uma pausa em seu destino, em seu devir-rato. Com todas as suas forças, tenta ficar entre os humanos. Até aceita as insinuações de uma garota do escritório que "parece" muito uma rata, mas justamente só parece. Ora, um dia em que convida a garota, disposto a se fazer conjugalizar, re-edipianizar, ele revê Ben, que surge rancoroso. Tenta enxotá-lo, mas é a garota que ele enxotará, e desce ao porão para onde Ben o atrai. Lá, uma matilha inumerável o espera para despedaçá-lo. E como um conto, não é angustiante em momento algum. Está tudo aí: um devir-animal que não se contenta em passar pela semelhança, para o qual a semelhança, ao contrário, seria um obstáculo ou uma parada; um devir-molecular, com a proliferação dos ratos, a matilha, que mina as grandes potências molares, família, profissão, conjugalidade; uma escolha maléfica, porque há um "preferido" na matilha e uma espécie de contrato de aliança, de pacto tenebroso com o preferido; a instauração de um agenciamento, máquina de guerra ou máquina criminosa, podendo ir até a autodestruição; uma circulação de afectos impessoais, uma corrente alternativa, que tumultua os projetos significantes, tanto quanto os sentimentos subjetivos, e constitui uma sexualidade não-humana; uma irresistível desterritorialização, que anula de antemão as tentativas de reterritorialização edipiana, conjugai ou profissional (haveria animais edipianos, com quem se pode "fazer Édipo", fazer família, meu cachorrinho, meu gatinho e, depois, outros animais que nos arrastariam, ao contrário, para um devir irresistível? Ou então, uma outra hipótese: o mesmo animal poderia estar tomado em duas funções, dois movimentos opostos, dependendo do caso?). Lembranças de um naturalista. — Um dos principais problemas da história natural foi o de pensar as relações dos animais entre si. É muito diferente do evolucionismo ulterior que se definiu em termos de genealogia, parentesco, descendência ou filiação. Sabe-se que o evolucionismo chegará à idéia de uma evolução que não se faria necessariamente por filiação. Mas, no começo, ele só podia passar pelo motivo genealógico. Inversamente, a história natural tinha ignorado esse motivo ou, pelo menos, sua importância determinante. O próprio Darwin distingue, como muito independentes, o tema evolucionista do parentesco e o tema naturalista da soma e do valor das diferenças ou semelhanças: com efeito, grupos igualmente parentes podem ter graus de diferença inteiramente variáveis em relação ao ancestral. É precisamente porque a história natural ocupa-se antes de mais nada da soma e do valor das diferenças, que ela pode conceber progressões e regressões, continuidades e grandes cortes, mas não uma evolução propriamente dita, isto é, a possibilidade de uma dependência cujos graus de modificação dependem de condições externas. A história natural só pode pensar em termos de relações, entre A e B, e não em termos de produção, de A a x. Mas é ao nível dessas relações que algo de muito importante se passa, pois a história natural concebe de duas maneiras as relações de animais: série ou estrutura. Segundo uma série, eu digo: a assemelha-se a b, b assemelha-se a c..., etc., sendo que todos esses termos remetem eles próprios, segundo seus diversos graus, a um termo único eminente, perfeição ou qualidade, como razão da série. É exatamente o que os teólogos chamavam de uma analogia de proporção. Segundo a estrutura, eu digo a está para b como c está para d, e cada uma dessas relações realiza à sua maneira a perfeição considerada: as brânquias estão para a respiração na água, como os pulmões estão para a respiração no ar; ou então, o coração está para as brânquias, como a ausência de coração está para a traquéia... É uma analogia de proporcionalidade. No primeiro caso, tenho semelhanças que diferem ao longo de toda uma serie, ou de uma série para outra. No segundo caso, tenho diferenças que se assemelham numa estrutura, e de uma estrutura para outra. A primeira forma de analogia passa por mais sensível e popular, e exige imaginação; no entanto, trata-se de uma imaginação estudiosa, que deve levar em conta ramos da série, preencher as rupturas aparentes, conjurar as falsas semelhanças e graduar as verdadeiras, levar em conta ao mesmo tempo progressões e regressões ou desgraduações. A segunda forma de analogia é considerada como real, porque ela exige antes todos os recursos do entendimento para fixar as relações equivalentes, descobrindo ora as variáveis independentes combináveis numa estrutura, ora os correlatos que

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Deleuze chegou a considerar Mil platôs o melhor de tudo o que já Matheson e Asimov têm uma particular importância nessa evolução (Asimov.
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