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MEU CAMINHO PARA BRASÍLIA A EXPERIÊNCIA DA HUMILDADE PDF

408 Pages·2020·23.6049 MB·other
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Dividido em 3 volumes, Meu caminho para Brasília inicia-se com o depoimento sobre as lembranças mais emocionadas e significativas na vida do homem que seria um dos estadistas mais importantes do Brasil do século XX. O primeiro volume leva o título de A experiência da humildade e Juscelino narra sua infância e juventude, a primeira viagem a Belo Horizonte, sua nomeação para os Telégrafos, a Diamantina que permaneceu nele durante toda a sua vida, a formação em medicina, os momentos decisivos da história do Brasil como a revolução constitucionalista de 1932, os primeiros passos na política, a eleição para a Câmara dos Deputados até chegar à prefeitura de Belo Horizonte. No segundo volume, A escalada política, Juscelino conta sua trajetória política – sem esquecer o lado humano – em direção à presidência da República. Aqui estão os depoimentos sobre o fim do Estado Novo, a política mineira e a nacional, a redemocratização, o fim traumático de Vargas, as viagens de Juscelino que lhe abrem o conhecimento a outras experiências de governo, a candidatura à presidência, a tentativa de golpe contra ele e, por fim, a posse no governo federal. No terceiro volume, 50 anos em 5, Juscelino relata seus contratempos, conquistas e vitórias na talvez melhor e mais profícua presidência da República num único mandato. É fundamental acompanhar a narração dos fatos por quem foi protagonista de um dos períodos mais fecundos da transformação do país numa nação moderna. Aqui, Juscelino escreve sobre a construção de Brasília, a política econômica, os embates políticos, os desafios para implantar uma democracia plena e conciliar os contrários, além de tecer comentários sobre assuntos candentes até hoje como, entre outros temas, a inflação e a instalação de uma infraestrutura que atenda ao crescimento econômico. Não é apenas livro de memórias, mas o depoimento de quem protagonizou a história do Brasil do século XX. Sua visão particular – e mais importante, a visão de um estadista – que vivenciou como testemunha os fatos mais marcantes de sua época e foi ator com mais brilho e dinamismo da história republicana e democrática dos anos 1930 até a sua morte, em agosto de 1976. Três tomos.


EDIÇÕES DO
SENADO FEDERAL 

Por que construí Brasília. 

Trata-se de
um circunstanciado depoimento sobre a
construção de Brasília, feito pelo presidente Juscelino Kubitschek, considerado
visionário, que concebeu e fez construir
a nova capital federal, já sonhada, anunciada desde o princípio do século XIX. É o
melhor documento sobre Brasília, já que
relatado pelo próprio autor de uma das
mais modernas capitais em todo o mundo. 

Volume 70


Prefácio 

UM LIVRO DE MEMÓRIAS 

É, de certo modo, um complemento da vida. Ao escrevê-lo, o memorialista sente que encerrou
uma parábola, só lhe cumprindo agora o reexame de si mesmo, no
gosto das reminiscências. Este livro não tem outra explicação. Tirei-o
do meu mundo de lembranças, não apenas levado pela nostalgia do
tempo transcorrido, mas também animado pelo propósito superior
de que ele possa constituir uma lição de esperança para os que vieram da humildade, como eu vim.
Uma existência, por mais vitoriosa que seja, não deixa de
ter sido amalgamada com sofrimentos e lutas. Entretanto, cumpre-nos
apagar esses ressentimentos e amarguras com os nossos triunfos. Só
assim o exercício da vida se engrandece.
Dando um balanço no que realizei, ao longo do caminho
que me levou ao Planalto Central para ali edificar a capital de meu
país, quero ser o primeiro a reconhecer que só esse triunfo, que a
História recolheu nas suas páginas imperecíveis, bastaria para atenuar na minha natureza qualquer impulso de cólera ou de revolta.  

Nestas memórias, espelho do que sou e do que fui, quero
ser mais uma vez coerente com a imagem que de mim projetei na
consciência de meus contemporâneos, isto é, a do brasileiro confiante nos altos destinos de sua pátria, otimista por temperamento,
democrata por arraigada convicção, e ainda profundamente cristão,
com a fé que herdei de meus antepassados, sobretudo de minha mãe.
Jean-Jacques Rousseau, no começo de suas Confissões, dizia que, ao soar a trombeta do Juízo Final, seriam elas o livro que
traria nas mãos ao comparecer diante de Deus.
Não ergo a tão alto o meu propósito. Inspira-me, isto sim,
o desejo de recompor diante de meus patrícios, sem distinguir amigos ou adversários, a vida que realmente vivi, na sua modéstia, nas
suas lutas, e também nas suas vitórias. Estou convencido de que
nosso destino, se em parte nos obedece, como um ato de vontade
que de nós exclusivamente depende, também em parte nos escapa,
no momento decisivo de seus desígnios superiores. No entanto, sem
nosso esforço porfiado, dificilmente se cumpririam esses desígnios.
Por onde tenho andado, no correr dos últimos dez anos,
sempre fui interrogado sobre as razões que me impulsionaram a
construir uma nova capital para o Brasil. A explicação profunda,
que desce à essência mesma do problema, estará talvez nas páginas
deste livro.
Possam estas memórias esclarecer aos que me interrogam
sobre a geratriz distante de Brasília as razões que determinaram fosse eu, na hora própria, o instrumento de sua criação.
Dei a estas memórias o título geral de Meu Caminho
para Brasília, o que representa uma súmula da minha atividade
na vida pública do meu país. Contudo, dada a extensão do relato,
vi-me obrigado a desdobrar a obra em três partes, autônomas, cada uma refletindo em ordem cronológica uma fase da minha vida,
como homem e como político.
A primeira, A Experiência da Humildade, que é este livro, cobre o período da minha infância; da juventude difícil; dos
meus estudos em Diamantina e em Belo Horizonte e a respectiva
formatura em Medicina; da iniciação política, encerrando-se com a
minha nomeação para o cargo de prefeito da capital mineira.
A segunda, sob o título A Escalada Política, relata as minhas primeiras lutas políticas; minha administração como prefeito,
num dos períodos mais agitados da evolução brasileira – a instituição do Estado Novo; minha candidatura e eleição para o cargo de
governador de Minas; o que foi o binômio energia-transportes; minha candidatura, campanha eleitoral e eleição para a Presidência
da República, através de sucessivos e dramáticos acontecimentos,
que culminaram com a deposição de dois chefes do governo – Café
Filho e Carlos Luz – e a entrega da Presidência a Nereu Ramos,
presidente do Congresso Nacional, a fim de que fosse assegurada
a vontade soberana do povo, manifestada livremente nas urnas
eleitorais.
E a terceira – 50 Anos em 5 –, na qual relato minha
atividade presidencial, através da realização das 30 Metas, que
englobavam os problemas fundamentais do país, e mais da Meta
Síntese – a construção de Brasília –, culminada com a verdadeira
epopeia que foi a transferência da sede do governo do litoral para o
Brasil Central.
Não quero concluir sem uma referência nominal a Adolpho Bloch. A rigor, e para ser agradecido, foi ele, com o seu estímulo
fraterno, quem venceu minha relutância em escrever estas memórias. Elas me pareciam, em última análise, um ato de narcisismo,
que talvez não fosse corretamente entendido. 

Outro nome que cito com gratidão é o de Caio de Freitas,
que foi infatigável na colaboração que me prestou, ajudando-me a
selecionar, no vasto manancial de informações dos arquivos e das
publicações, o material adequado à redação das minhas memórias.
Ao lhes dar começo, logo verifiquei que, no repassar de
meu destino, subiam à tona de minha consciência as emoções de
outrora, numa volta ao tempo perdido. E amigos, e companheiros,
e seres queridos refluíam como poeira de ouro no raio de sol do fio
das lembranças. Essa emoção do reencontro, só por si, valia o ato de
recordar.
Mas, por outro lado, cada homem público, no termo de
sua jornada, deve aos seus contemporâneos uma explicação – para
lhes dizer de onde veio, como veio e ao que veio. É essa a essência
deste livro, sem que o seu autor tenha perdido de vista, ao escrevê-lo,
a verdade do versículo bíblico: “Deus dá ao humilde a honra da
vitória.” 

J.K.  


“Na velha e querida Diamantina eu era o Nonô,
menino pobre, filho de dona Júlia, que andava descalço
e não tinha onde estudar.” 

Juscelino Kubitschek de Oliveira 

 (*Diamantina-MG, 12/9/1902 – Resende-RJ, 22/8/1976),
médico, oficial da Força Pública Mineira e político.  



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