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Mercadores e banqueiros na Idade Média PDF

71 Pages·1991·17.51 MB·Portuguese
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Universidade hoje Universidade hoje Apresentação de Machado de Assis - I. Teixeira A literatura hispano-americana - J. Joset A civilização helenística - P. Petit A literatura grega - F. Robert A religião grega - F. Robert MERCADORES A psicologia social - J. Maisonneuve O inconsciente - J.-c' Fil/oux E BANQUEIROS A crítica literária - P. Brunel, D. Madelénat, J.-M. Gliksohn e D. Couty Sociologia do direito - H. Lévy-Bruhl DA IDADE MÉDIA As teorias da personalidade - S. Clapier-Valladon Literatura brasileira - L. Stegagno Picchio A crítica de arte - A. Richard As primeiras civilizações do Mediterrâneo - J. Gabriel-Leroux lacques Le Goff A economia dos Estados Unidos - P. George A idéia de cultura - V. Hell História da educação - R. Gal História dos Estados Unidos - R. Rémond As empresas japonesas - Masaru Yoshimori Os celtas - V. Kruta Epistemologia genética - J. Piaget Descartes - G. Pascal A produtividade - J. Fourastié Aristóteles - L. Mil/et História da imprensa - P. Albert eF. Terrou t, O som - J.-J. Matras História da psicanálise - R. Perron A Contra-Reforma - N. S. Davidson Mercadores e banqueiros da Idade Média - J. L. Goff O socialismo utópico - J. Russ História de Bizâncio - P. Lemerle Em preparação: A vida na Idade Média - G. d'Haucourt Marfins Fonfes Título original: MARCHANDS ET BANQUIERS Sumário AU MOYEN AGE publicado por Presses Universitaires de France, na col. Que Sais-Je? Copyright Presses Universitaires de France, 1986 Copyright © Livraria Martins Fontes Editora Ltda., para a presente edição. Introdução . 1~ediçãobrasileira:dezembro de 1991 Tradução: Antonio de Pádua Danesi CAPÍTULO I - A atividade profissional 7 Revisão da tradução: Lilian Escorei de Carvalho Revisão tipográfica: Andrea Stahel I. A revolução comercial, 7 Sadika Osmann 11. O mercador itinerante, 9 III. O mercador sedentário, 17 Produção gráfica: Geraldo Alves IV. Progressos dosmétodos nosséculos XIVeXV, 26 Composição: Márcia Cristina Jacob Capa - Projeto: M.F. CAPÍTULO li - O papel social e político 41 Dados Internacionais deCatalogação na Publicação (CIP) I. Papel social dos grandes mercadores, 41 (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) II. Aspectos da dominação política da burguesia mercantil, 55 LeGoff, Jacques. Mercadores ebanqueiros da Idade Média / Jacques LeGoff ;[tradução Antonio dePádua Danesi ;revisão da tradução Lilian Escorei deCarvalho). - São Paulo: CAPÍTULO III - A atitude religiosa e moral 71 Martins Fontes, 1991.- (Universidade hoje). I. Banqueiros - Europa - História 2. Comerciantes 1. A Igreja contra os mercadores: a teoria, 71 - Europa - História 3. Idade Média - História I. Tí- tulo. 11.Série. lI. A Igreja e os mercadores: a prática, 77 TIl. A mentalidade do mercador, 84 CDD-380.0902 IV. A religião do mercador, 88 91.2904 -332.10902 V. Evolução da atitude da Igreja para com os mercadores, 95 Índices para catálogn sistemático: I. Banqueiros ebancos: Idade Média :História 332.10902 2.Idade Média :Banqueiros ebancos: História 332.10902 3.Idade Média: Mercadores ecomércio: História 380.0902 CAPÍTULO IV - O papel cultural . 103 4.Mercadores ecomércio: Idade Média: História 380.0902 ISBN 85.336.0031-3 I. Os mercadores e a laicização da cultura, 103 II. O mecenato dos mercadores, 111 Todos os direitos para o Brasil reservados à III. A cultura burguesa, 115 LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LTDA. IV. Mercadores e civilização urbana, 127 Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 - Te!.: 239-3677 01325 - São Paulo - SP - Brasil B'Ib!"lograJ.rla· . 131 Introdução o esboço aqui apresentado éde ambições modes- tas. Excluímos o menos certo, o que se apóia em um número demasiado reduzido de documentos e traba- lhos, o que continua sendo mais objeto de controvér- siasentre eruditos ehistoriadores do que conquista - embora provisória - da ciênciaeoque permanece nos limites explorados apenas por alguns raros pioneiros da investigação histórica. Com pesar tivemos de sa- Lt <'o~ 1.1''1D crificar oexamedos problemas à exposição dó presente ------.- estado de nossos conhecimentos. Cumpre, porém, no limiar deste pequeno livro, explicar, senão justificar, essaslimitações, colocar esses problemas, evocar as orientações seguidas pelos pes- quisadores. OFRJ - IFCS - Dept." de História Em primeiro lugar, optamos por um contexto geo- Programa de Pós- Graduação fim gráfico específico: o daEuropa cristã. Esperamos, com História Social isso, ganhar em coesão, mas seguramente perdemos CNPq Proc. n.~3.QXo.?B..r:!t..Mestrado em horizontes. Renunciar a falar do mercador bizan- tino emuçulmano era evitar tratar degente pouco co- Proc. n." Doutorado Fornecedor: A~ ~....J"g;.J:(ª-S1 . nhecida, de personagens pertencentes a civilizações di- ferentes ou mesmo hostis. Mas o comércio, embora ·'?.L~ . Nota Fiscal: .. susciteconflitos, constitui um dos vínculos maiores en- Data da AquisiÇão:\~í.og.rq4 . tre as áreas geográficas, civilizações e povos. Mesmo no tempo das Cruzadas as trocas comerciais - base para outros contatos - não se interromperam entre a cristandade ocidental e o mundo muçulmano.flvle- lhor ainda, pode-se pensar ter sido a formação do Islã que, longe de separar o Oriente do Ocidente, reuniu os dois mundos criando, por seus grandes centros ur- banos de consumo, um intercâmbio de produtos que está na origem da renovação comercial do Ocidente bárbaro. Em todo caso, écerto que o mercador vene- 1 ziano construiu sua fortuna no contato com Bizâncio mente dito, operações financeiras de todos os tipos, equeasgrandes cidadesmarítimas da Itália foram bus- especulação, investimentos imobiliários e prediais. car no domínio greco-muçulmano, de Ceuta a Trebi- Contentamo-nos aqui em evocar, para nomeá-los, os zonda, de Bizâncio a Alexandria, o essencial daquilo dois pólos de sua atividade: o comércio e o banco. que fez a sua riqueza. O mercador cristão, cuja ativi- Aliás, para designar osmais poderosos, osmais repre- dade éposterior à do bizantino ou à do árabe, não lhes sentativos entre elesnão empregou a própria Idade Mé- tomou emprestados métodos, mentalidades, atitudes? dia o termo mercadores-banqueiros? Ora, essetipo está Esse abandono do mundo oriental, que teria sido ligado à fase de desenvolvimento da economia da Eu- imperdoável se tivéssemos estudado o comércio me- ropa cristã, a partir do século XI. Renunciamos, pois, dieval, julgamos poder aceitá-lo ao tratar do merca- a falar dos mercadores da Alta idade Média. Solução dor. Segunda limitação deste pequeno trabalho: o co- cômoda, dir-se-á. Evitamos assim a necessidade de ex- mérciopropriamente dito - com oestudo deseusmer- por as múltiplas teses que se confrontam nesse domí- cados, rotas, instrumentos, produtos eevolução - não nio; evitamos falar de seu número ede sua importân- foi tratado em simesmo. O que interessa aqui são os cia - ínfima para alguns, grande para outros -, de homens que se dedicaram a ele. Sob este aspecto, o sua natureza - mercadores especializados ou de se- mercador cristão, conquanto sua atividade seasseme- gunda categoria, independentes ou ligados a príncipes lhe forçosamente à de seus congêneres orientais, está ea estabelecimentos religiosos, simples ambulantes ou mergulhado num contexto político, religioso e cultu- capitalistas de largos horizontes -, de sua nacionali- ral totalmente distinto. Ora, empenhamo-nos especial- dade - judeus ou indígenas -, e finalmente do pro- mente em recolocá-lo no âmbito de sua cidade, Esta- blema capital de sua origem obscurecido pelas teorias do, sociedade ecivilização. O que elefezdesua rique- - sobrevivência do passado, do mundo greco-romano, za, de seu poder, fora do campo econômico, reteve- aventureiros itinerantes, proprietários prediais que se nos particularmente a atenção. põem a investir capitais no comércio. Ainda seria preciso escolher entre esseshomens. t . Em todo caso, desse modo podíamos delimitar Aqui, foram os pequenos que tivemos de sacrificar: mais facilmente a última alternativa: plano cronoló- mercadores varejistas, usurários de prazo curto e ju- gico ou plano lógico? O que teria sido impossível se roselevados,vendedores ambulantes. A escassezdedo- partíssemos das origens medievais afigurou-se legíti- cumentos pessoais que os mencionam e a dificuldade mo num contexto temporal em que, depois do que se do historiador em distinguir figuras individuais entre chamou justamente de "revolução comercial", as con- eles determinaram essa escolha, assim como o desejo dições fundamentais da vida do grande mercador cris- de mostrar sobretudo ostPersonagens a quem o pode- tão permanecem relativamente estáveis.Optamos, pois, rio econômico permitiu d-esempenharum papel de pri- por uma exposição sistemática na qual - sempre pro- meiro plano tanto na política ou na arte como no mer- curando osvínculos entre as diferentes atitudes deum cado. São, pois, os negociatores, os mercatores, que mesmo homem - seconsiderou omercador-banqueiro vamos mostrar. Homens de negócios, como se diz, e primeiro em seugabinete ou no mercado - isto é, em a expressão é excelente porque exprime a extensão e sua atividade profissional -, depois em face do no- a complexidade de'seus interesses: comércio propria- bre, do operário, da cidade, do Estado - isto é, em 2 3 seu papel social e político -, em seguida, diante da o problema conexo de suas gerações - novos-ricos ou Igreja e de sua consciência - ou seja, em sua atitude filhos de ricos - nem o das preocupações fundiárias dos homens de negócio medievais. religiosa emoral- e, enfim, perante o ensino, a arte, a civilização - vale dizer, em seu papel cultural. Finalmente, mesmo no interior de um contexto Tais opções não causaram apenas remorsos. Fo- geográfico e cronológico que fundamentalmente não ram acompanhadas de arrependimentos cujos traços, mudou, levamos em conta tanto a diversidade do es- que pareceram legítimos ou mesmo necessários, encon- paço - o mercador italiano não é o hanseático - traremos mais adiante. quanto a evolução no tempo - o pioneiro do século Se nos ativemos unicamente ao mercador cristão, XII não é o novo-rico do século XIII, as crises do sé- não dissimulamos nem a amplitude geográfica de sua culo XIV produzem um tipo de negociante diferente atividade, nem os problemas profissionais ou morais daquele engendrado pela prosperidade do século XIII, suscitados pelos contatos com o mundo cismático, he- o contexto político do principado ou da monarquia na- rético ou pagão. Não esquecemos que o mercador cris- cional modela um personagem distinto daquele surgi- tão da Idade Média tinha horizontes mais amplos que do no contexto comunal dos séculos precedentes. Éim- os de muitos eruditos modernos que o estudaram. Se portante não se perder de vista que o desequilíbrio por- Marco Polo é um caso excepcional ou, antes, extre- ventura encontrado em favor do mercador italiano se mo, numerosos foram os seus confrades que percor- explica pela excepcional abundância da documentação reram em pensamento todas as rotas por onde ele real- a ele concernente, pelo número equalidade das publi- mente se aventurou. cações que dele se ocuparam, pelo caráter "pioneiro" Não quisemos tampouco evocar o mercador ou de seus métodos e pela amplitude de suas perspecti- o banqueiro sem explicar de que se compunha sua vi- vas, que fazem dele um personagem exemplar - des- da profissional. Do comércio esboçamos, pois, os mé- de que se tenha em mente que em outros lugares, de todos, a organização, o contexto em que o comerciante modo geral, se está longe de ter avançado tanto quan- evolui. to ele. Não nos esquecemos igualmente de que, à som- Esperamos, então, que o leitor seja indulgente e bra dos poderosos personagens tratados, os humildes, coloque em primeiro plano, entre as figuras que per- os pequenos constituíam o tecido conjuntivo de um mitem compreender a cristandade medieval, entre aque- mundo que não se podia compreender sem eles, e o les "estados do mundo" que o pessimismo da Idade leitor poderá perceber na filigrana o seu rosto anôni- Média moribunda colocará na Dança Macabra - ao mo. No mais, foi preciso questionar, aexemplo de emi- lado do cavaleiro, monge, universitário ecamponês-, nentes historiadores, a que correspondia a distinção o mercador, que fez a história como eles e com eles, entre grande e pequeno mercador na Idade Média, se e com outros que, desejamos, possam obter um dia, ela era redutível à oposição entre comércio atacadista segundo a bela expressão de Lucien Febvre o "direito e varejista. à história". Do mesmo modo, se deixamos de lado, em seu aspecto histórico, o problema da origem do mercador cristão na Alta Idade Média, também não eludimos 4 5 CAPÍTULO I A atividade profissional I. A revolução comercial A revolução da qual a cristandade medieval foi palco, entre os séculos XI eXIII, está ligada a alguns fenômenos gerais com relação aos quais é difícil de- terminar em que medida foram causas ou efeitos. Em primeiro lugar, Q..Jim das invasões. Germa- nos, escandinavos, nômades das estepes eurasiáticas e sarracenos deixam de penetrar no coração da cris- tandade, de afluir às suas margens. Aos combates su- cedem astrocas pacíficas - aliás, modestamente nas- cidasemmeioàspróprias lutas - eessesmundos hostis vão revelar-se como grandes centros deprodução ou consumo: aparecem os grãos, agasalhos de pele, es- cravosdo mundo nórdico eoriental queatraem ao mes- mo tempo os mercadores das grandes metrópoles do mundo muçulmano, de onde afluem, por sua vez, os metais preciosos da África e da Ásia. t A paz, relativa, sucede aos ataques, às pilhagens, ea segurança permite uma renovação da economia e, sobretudo, graças àmenor periculosidade das rotas ter- restres emarítimas, uma aceleração, ou antes, uma re- tomada do comércio] Melhor ainda: com a diminui- ção da mortalidade por acidentes eamelhoria das con- dições de alimentação e das possibilidades de subsis- tência, produz-se um incomparável s-urtodernográfi- co que fornece à cristandade consuniidores, produto- res, uma mão-de-obra, um reservatório onde ocomér- ciovai buscar osseushomens. E, quando o movimen- 7 to seinverte, quando a cristandade ataca por sua vez, dia, Flandres, Champagne, regiões do Mosa e da Bai- o grande episódio militar das Cruzadas já não passa xa Renânia. Essa Europa do Noroeste é ogrande cen- de uma fachada épica à sombra da qual seintensifica tro do comércio de tecidos, é- com a Itália do Norte o comércio pacífico. edo Centro - a única região da Europa medieval em A essas mudanças está ligado - fenômeno capi- relação à qual se pode falar de indústria. Juntamente tal - o nascimento ou orenascimento das cidades+Se- c0!llosgêneros do Norte edo Oriente, essesprodutos jam elas novas criações ou velhas aglomerações; é o de,indústria têxtil européia são as mercadorias que o seucaráter novo eimportante que determina oprima- hanseático eo italiano vão buscar nos mercados enas do da função econômica.Etapas de rotas comerciais, feiras da Champagne edeFlandres. Issoporque, nessa articulações entre asviasde comunicação, portos ma- primeira fase de nascimento edesenvolvimento, omer- rítimos ou fluviais, seucentro vital fica ao lado do ve- cador medieval é sobretudo um mercador itinerante) lho castrum feudal, do núcleo militar ou religioso, é o novo bairro das lojas, do mercado, do trânsito das mercadorias, É ao desenvolvimento das cidades que 11. O mercador itinerante seligam osprogressos do comércio medieval' éno con- texto urbano que cumpre situá; ocrescimento do mer- 1.As rotas- Ao longo dasrotas terrestres eaquá- cador medieval. -." ticas por onde transporta suas mercadorias, ele sede- As diferentes regiões da cristandade não conhe- para com muitos obstáculos. cemcom amesma intensidade essasmanifestações ini- Primeiro, obstáculos naturais. Em terra, são as ciais da revolução comercial.';Individualizam-se três montanhas a transpor através deestradas precárias do grandes centros, nosquais aatividade comercialda Eu- que por vezes se costumou dizer, mais largas do que ropa tende a concentrar-se. Como osdois pólos do co- asestradas lajeadas oucimentadas daAntigüidade, mas mércio internacional se localizam no Mediterrâneo e ainda assim muito rudimentares. Sepensarmos que as no Norte (domínio muçulmano e domínio eslavo- grandes rotas do comércio Norte-Sul devem transpor escandinavo), é nos postos avançados da cristandade os Pireneus e sobretudo os Alpes - mais permeáveis localizados na rota dessesdois centros de atração que ao tráfego, mas onde o volume muito maior de mer- se constituem duas franjas de poderosas cidades co- cadorias multiplica as dificuldades -, perceberemos merciais: na Itália e, em menor grau, na Provença e desde já tudo o que o transporte de um carregamento na Espanha; e na Alemanha do Norte) Daí a predo- de Flandres para a Itália, por exemplo, representa de minância, na Europa medieval, de doistipos de mer- esforços e de riscos. E não se deve esquecer que, se cadores: o italiano e o hanseático, com seus domí- emcertos trechos seutiliza o que subsistiu das vias ro- niosgeográficos, métodos epersonalidades peculiares. manas, se em alguns itinerários se encontram verda- Mas,(entre esses dois domínios, há uma zona de con- deiras estradas, na maioria das vezesa estrada medie- tato cuja originalidade está no fato de bemcedo acres- val, através dos campos edas colinas, éapenas "o lu- centar à sua função de troca entre as duas áreas co- gar por onde sepassa". Juntem-se a issoasinsuficiên- merciais uma função produtora e industrial} é a Eu- cias do transporte.II'alvez os progressos da atrelagem ropa do Noroeste - 'Inglaterra do Sudeste, Norman- a partir do século X tenham sido uma das condições 8 9 f técnicas favoráveis, senão necessá~ias, ao_desen~olvi- ~ento do comércio) mas, em cammhos naopavimen- cadorias de preço elevado por um volume pequeno, tados, os resultados desses aperfeiçoamentos foram empregadas na toalete, na farmácia, na tinturaria ena bastante limitados. Assim, ao lado da~ pesadas carro- cozinha -, o custo do transporte não passava de 20 ças de quatro rodas, dos veículos mais leves de duas a 250/0do preço inicial, mas, para o que A. Sapori cha- rodas, os animais de carga - mulas ecavalos -, com mou de "mercadorias pobres", pesadas e volumosas suas selas eseus fardos, foram os agentes de transpor~e por um valor menor - grãos, vinho, sal -, tais des- normais.(Considere-se ainda a insegurança, os bandi- pesas chegavam a 1000/0, 1500/0, às vezes até mais, de seu valor original. dos, senhores ou cidades ávidos por am~alhar r~cur- sos através do simples roubo ou do confisco mars ou, menos legalizado dos carregamentos dos mercadore~.! 2. As viasfluviais - Por causa disso, o merca- dor medieval preferia as vias aquáticas. A condução E, sobretudo, talvez - porque mais freq~e?tes emais regulares -, as taxas, os direitos, os pe~agIOs de todo de madeira pelos rios, o transporte por barcos a vela tipo cobrados por inúmeros senhores, cidades ecomu- das outras mercadorias se praticam em grande escala nidades para a travessia de uma ponte, um vau ou pa- onde quer que a navegabilidade dos rios o permita. Três redes assumem, nesse particular, uma importância ím- ra o simples trânsito em suas terras - em tempos de par por seu tráfego. A Itália do Norte, onde o rio Pó extrema divisão territorial e política. eseus afluentes constituíam a maior via de navegação : Quando essas taxas são cobradas como preç? de interior do mundo mediterrâneo, comparável- guar- uma manutenção efetiva da estrada, a despesa ainda dadas as devidas proporções - à via atual dos gran- pode parecer legítima, e, a partir do século XIII, se- des lagos americanos. A via rodaniana, prolongada em nhores mosteiros e sobretudo burgueses constroem pontes 'que facilitam e aumentam um tráfego do qual direção ao Mosela e ao Mosa, foi até o século XIV o grande eixo do comércio Norte-Sul. A.rede, enfim, dos eles retiram direta e indiretamente recursos conside- ráveis' mas às vezes é "à custa dos usurários", dos pró- rios flamengos, completada a partir do século XII por prios mercadores, que se constroem tais obras de ar- toda uma rede artificial de-canais ou vaarten e de te como a ponte suspensa, a primeira do gênero, que f barragens-eclusas ou overdraghes, épara a revolução I abriu pelo Gothard, em 1237, o caminho mais curt,o comercial do século XIII o que será para a revolução entre a Alemanha e a Itália. Só no final da Idade Me- índustria! do século XVIII a rede dos canais ingleses. dia é que uma política de obras públicas, d~ pa~te dos E preciso mencionar também a via Reno-Danúbio, de crescente importância no fim da Idade Média, ligada príncipes ou dos reis no conte~to d~ or~amz~~ao dos Estados centralizados, e uma isençao ~I.stematIca dos ao desenvolvimento da Alemanha média emeridional. pedágios atenuarão tais despesas.As dificuldades, aos Em todo esse trabalho de equipamento, os mercado- riscos incertos acrescentam-se, pOIS,para o mercador, res, antes dos príncipes, desempenharam por longo tempo um papel preponderante. essas despesas inevitáveis que tornam tão oneroso o transporte terrestre ..Para os produtos raros. e~aros.-: escravos tecidos de luxo esobretudo "especiarias mIU- 3. As vias marüimas - Mas é o transporte por das", expressão que abrange toda uma série de mer- ma~, meio por exocelênciadoocomércio medie~~ o c nacional, que vai fazer a nqueza dos grançt~\~rca- ('/ ' 10 I\~:"'<(.".t"" ,.t\«;;. I LII •:~:.>.• l" •....'1.)il )'~-(,O~• \ 'J>' ;'~,I '\"/f:,- , .- "~-/ " vesas e espanholas carregadas de especiarias, as velo- torestque nos ocupam particularmente. Ainda aqui, as zes naus venezianas que iam buscar o algodão nos por- dificuldades continuam sendo grandes. .Há, em primeiro lugar, os riscos de naufrágios e tos da Síria ede Chipre raramente excediam 500 tone- ladas. de pirataria: Esta sempre campeou e~ .grande esc~la. Obra de marinheiros privados a prmcipio, verdadeiros Havia enfim o problema da rapidez da navega- empresários da pirataria, que a praticavam alter~ada- ção. A partir do século XIII, a difusão de invenções mente com o comércio, e concluíam, com relaçao ao como o leme de cadaste, a vela latina, a bússola, os seu exercício, verdadeiros contratos onde assegur~vam progressos da cartografia - conquistas em que, ao lado sua parte do lucro ao honrosos comerciantes que fman~ da contribuição oriental e extremo-oriental, devemos ciavam suas empresas. Ação das cidades edos Estad~s destacar a contribuição dos marinheiros ecientistas bas- também em virtude do direito de guerra ou de um di- cos, catalães e genoveses - permitem reduzir ou eli- reito de naufrágio" que dava margem avárias interpre- minar os grandes entraves à rapidez das viagens marí- tações, e, embora essejus naufragii bem ced~ tenha s~- timas da Idade Média, que eram a ancoragem duran- do abolido no Mediterrâneo (ainda que os reis angevi- te a noite, a interrupçãodurante o inverno ea cabota- nos venham arestabelecê-lo no fim do século XIII, para gem ao longo das costas, Ainda em meados do século grande escândalo dos italianos~, permane~e por mais XV, o ciclo completo de uma operação mercantil ve- tempo no domínio nórdico, praticado espec~a~m~n~epe- neziana dura dois anos inteiros. Esse ciclo constitui- los ingleses ebretões ao longo de uma tradição mmter- se de - transporte de especiarias de Alexandria a Ve- rupta que conduzirá àguerra de corso dos tempos mo- neza, reexpedição dessas especiarias para Londres, re- dernos. Só as grandes cidades marítimas - sobretudo torno de Londres com um frete de estanho, reexpedi- Veneza - conseguem organizar comboios regulares es- ção desse estanho para Alexandria e recarregamento coltados por navios de guerra. de especiarias para Veneza.O mercador precisa ter pa- Ressalte-se também a pequena capacidade dos na- ciência e capital. Mas o fato é que o custo do trans- vios. Sem dúvida, a revolução comercial eo crescim~n- porte por mar é infinitamente menos elevado do que to do tráfego fazem aumentar a tonelagem dos navios por terra; 20/0 do valor da mercadoria para a lã ou a mercantes'; Mas as pesadas koggen hanseáticas, adap- seda, 15070 para os grãos, 33070 para o alúmen. tadas ao transporte das mercadorias volumosas e pe- Sigamos com Roberto Lopez e Armando Sapori sadas, eas grandes galeras comerciais itali.an~s - pa~- um grupo de mercadores que no final do século XIV ticularmente venezianas -, conquanto anngissem mil embarcam em Gênova com destino ao Oriente. O car- toneladas no fim da Idade Média, representavam no regamento é constituído sobretudo de tecidos, armas total apenas uma fraca tonelagem. A maior, ~arte ti- e metais. A primeira escala que se atinge, indo pela nha uma capacidade menor: as koggen hanseáticas que costa ou pela Córsega, Sardenha e Sicília, é Túnis; a transportavam a lã inglesa e o vinho francês ou ale- segunda, Trípoli. Em Alexandria, mercadorias de to- mão no mar do Norte e no Báltico, as carracas geno- dos os tipos - produtos da indústria local e sobretu- do importações orientais - vêm engrossar a carga. Se se estaciona nos portos sírios - São João de Acre, Ti- • Direito deaquisição dedestroços ou bens abandonados por nau- ro, Antioquia -, é para transportar viajantes, pere- frágio. (N. R.) . 13 12

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