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Mentes depressivas: as três dimensões da doença do século PDF

191 Pages·2016·1.44 MB·Portuguese
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Ana Beatriz Barbosa Silva MENTES DEPRESSIVAS As três dimensões da doença do século com a colaboração de Dra. Ya Ximenez copyright © 2016 by Ana Beatriz Barbosa Silva copyright © 2016 by Abbs Cursos e Palestras Eireli Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida – em qualquer meio ou forma seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc. – nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados sem a expressa autorização da editora. Texto fixado conforme as regras do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995) Editora responsável: Camila Werner Editor assistente: Lucas de Sena Lima Editor digital: Erick Santos Cardoso Preparação de texto: Luciana Garcia Revisão de texto: Laila Guilherme e Jane Pessoa Projeto gráfico: Mateus Valadares Diagramação e capa: Diego de Souza Lima Ilustrações: Erika Onodera Imagens da capa: Elisabeth Ansley/Trevillion Images 1ª edição, 2016 CIP-Brasil. Catalogação na Publicação Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ S578m Silva, Ana Beatriz Barbosa Mentes depressivas : as três dimensões da doença do século / Ana Beatriz Barbosa Silva. - 1. ed. - São Paulo : Principium, 2016. : il. ISBN 978-85-250-6348-9 1. Depressão mental. 2. Psicanálise. I. Título. CDD: 616.8527 16-36287 CDU: 616.891.6 Direitos de edição em língua portuguesa para o Brasil adquiridos por Editora Globo S.A. Av. Nove de Julho, 5229 – 01407-907 – São Paulo / SP www.globolivros.com.br Sumário Capa Folha de rosto Créditos Dedicatória Epígrafe 1 - Tristeza × depressão Epígrafe 2 - Depressão: uma epidemia moderna Epígrafe 3 - As diversas faces da depressão Epígrafe 4 - A depressão e suas causas Epígrafe 5 - Depressão infantojuvenil Epígrafe 6 - Depressão na terceira idade Epígrafe 7 - Depressão feminina: o lado blue do sexo pink Epígrafe 8 - A depressão e suas associações Epígrafe 9 - Estratégias complementares e fundamentais na recuperação da depressão Epígrafe 10 - Tratamento dos transtornos depressivos: uma história recente e com um futuro promissor Epígrafe 11 - Depressão e espiritualidade Epígrafe 12 - Suicídio: precisamos falar sobre isso Epígrafe 13 - As faces depressivas dos tempos modernos Bibliografia Contatos da Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva Notas Dedico este livro a minha tia Martha, que nos deixou esse ano de forma tão inesperada. Gratidão por tudo que você me ensinou sobre a importância da espiritualidade nessa vida tão material. Agradeço a todas as pessoas que contribuíram para que Mentes depressivas se tornasse realidade em tão pouco tempo. Meus agradecimentos especiais a Camila Werner, Lya Ximenez, Mauro Palermo e Simone Halfpap. O luto, a tristeza e a ansiedade são reações necessárias e salutares diante das perdas. No entanto, se a dor começa a se estender por um tempo e se mantém de maneira intensa e incapacitante, tenderá a transformar-se num quadro de depressão. 1 TRISTEZA × DEPRESSÃO A vida tem lá os seus mistérios! Eu sempre ouvia minha avó Maria dizer isso quando algo inesperado acontecia na família. A primeira vez que me lembro de ela ter dito isso de forma clara e organizada foi quando minha prima Alice, na época com quinze anos, desapareceu num sábado durante as férias de verão. Eu, na pequena estatura dos meus seis anos, não conseguia entender o porquê de tanta gente na casa da vovó: tios, tias, primos e um senhor de terno, gravata afrouxada, cabelo com brilhantina, cigarro constante no canto esquerdo da boca e cara de salvador da pátria. Logo descobri que ele era um delegado amigo do meu tio Nestor, pai de Alicinha. Os adultos falavam alto, e minha avó, ajoelhada diante do altar do seu quarto, rezava em voz baixa com uma vela acesa que queimava rapidamente, como se soubesse que a família inteira tinha pressa em saber onde Alice se encontrava. O telefone fixo (naquela época, um luxo doméstico) tocou, e, num pulo, tio Nestor atendeu e disse: “Minha filha, onde você está? Fale comigo, eu exijo que você fale agora!”. Minha avó discretamente pegou o telefone da mão do meu tio e falou: “Alice, minha querida, você está com o Marquinhos? Sim, vovó entende o seu amor, e vamos tratar de oficializar esse namoro assim que vocês retornarem. Tudo vai ser resolvido, venha para a casa de vovó com seu namorado, e aqui oficializaremos seu noivado. Tá, você me liga em uma hora para dizer onde estão e quando estarão de volta, o.k.?”. Todos disseram aos gritos que vovó era maluca, que deveria ter ameaçado o casal, dito que a polícia estava atrás deles e que o tal Marquinhos seria preso por sequestro e abuso de menor. Era um chororô danado. Minha avó foi para o quintal e, embaixo do pé de amêndoas, colocou sua cadeira de balanço e me chamou para o seu colo. Entre uma balançada e outra, começou a cantar baixinho uma música que fazia muito sucesso na época: “E na vida a gente tem que entender/ que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri...”. Eu estava louca para perguntar o que era “sequestro” e “abuso de menor”, mas a paz daquele momento me calou com seu aconchego. Ali, no colo da minha avó, nada de mau poderia acontecer; tudo era paz e proteção. Uma hora depois, Alice telefonou e disse para vovó que eles estavam em uma cidade chamada Pindamonhangaba, e meu pai e meu avô foram buscá-los. No domingo, todos almoçamos juntos. Alice e Marquinhos já eram oficialmente namorados e pré--noivos, para o desgosto do meu tio Nestor, que permaneceu calado a pedido de sua mãe, com cara de poucos amigos. Três meses depois, Alice e Marquinhos desfizeram o namoro por conta própria, e tudo voltou ao normal. Perguntei para minha avó o que era “sequestro” e “abuso”, e ela respondeu: “Você terá muito tempo para aprender isso. O mais importante é aprender que na vida tudo passa, os bons e os maus momentos, e que só não há solução para morte”. Três anos depois, faltando vinte dias para o meu aniversário de nove anos, a vida para mim era só alegria. Eu estava em uma escola nova que havia escolhido, tinha novos amigos, papai tinha comprado um Corcel marrom, a festa do meu aniversário já estava sendo preparada e reuniria toda a família na casa da vovó. O que mais eu poderia querer da vida? Pais amorosos, uma irmã que fazia tudo para mim, ser a caçula dos catorze netos... Eu era literalmente a imagem e semelhança da minha avó, e sentia que o amor dela por mim me fazia não temer nada nem ninguém. Eu era plenamente feliz no auge dos meus quase nove anos. Na semana que se iniciou no domingo, dia 7 de março de 1976, a vida me sorriu com tamanha generosidade que eu me sentia uma pessoa de muita sorte. Na terça, dia 9, falei com minha avó por telefone, como fazia sempre às sete da manhã e às cinco da tarde, religiosamente, todos os dias, e ela disse que deitaria mais cedo, pois estava com uma leve tontura e dor de cabeça. Na quarta, dia 10, meus pais não foram trabalhar e foram visitar minha avó. Perguntei se eu poderia ir, e eles responderam que eu ficasse em casa estudando, pois na quinta-feira eu teria prova de geografia e história e precisava tirar boas notas na nova escola. Na quinta, dia 11, cheguei em casa depois do colégio e novamente meus pais estavam em casa, dessa vez esperando por nós. Quando minha irmã também chegou, eles pediram que trocássemos nossas roupas, pois iríamos para a casa da vovó Maria. Algo diferente estava acontecendo: fazíamos isso aos domingos, e não às quintas. Não perguntei nada. No carro, um silêncio incomodativo, e em vinte minutos chegamos ao nosso destino: muita gente no portão, uns abraçados, outros sozinhos, mas todos choravam. Lembro-me de que não falei com ninguém; passei rápido entre todos e corri para o quarto da minha avó. Na porta do quarto deparei com minha avó deitada, com as mãos cruzadas sobre a barriga e minha tia Zezé chorando e falando muito ao pé do ouvido esquerdo dela. Eu me sentei do lado direito da cama da vovó e ali fiquei por um bom tempo, olhando-a quietinha, como se estivesse dormindo calmamente com um leve sorriso na face. Por alguns bons minutos éramos só eu e ela; tudo ao redor ficou turvado pelas gotas salgadas que insistiam em cair dos meus olhos. Naquela noite eu entendi que a morte é o sequestro da vida, e que perder alguém que se ama muito é um abuso doloroso da vida. E que a dor da perda afetiva é uma dor diferente de todas as outras dores físicas: ela dói no fundo, mas no fundo tão fundo que a gente fica perdido por um tempo até reencontrar o caminho de volta. Durante os dez dias seguintes, vivi uma sensação de que tudo não tinha passado de um sonho ruim, e uma espécie de anestesia emocional tomou conta de mim. Aos poucos, fui retornando à minha rotina de estudos e às brincadeiras com os amigos; a tristeza estava comigo todo o tempo, mas, se tudo tinha solução, como minha avó me ensinara, eu aprenderia a fazer tudo com a companhia da tristeza. De alguma forma, eu sabia que era isso que ela esperava de mim. E assim fui tocando a vida, mas sempre com um sorriso nos lábios, pois era como ela gostava de me ver. Hoje, aos cinquenta anos, ainda choro ao me lembrar daquele dia, porém meu choro não é mais de desespero ou perplexidade; é de alegria de ter sido neta, por oito anos, onze meses e vinte dias, da melhor avó do mundo. As lembranças felizes são infinitamente maiores e mais poderosas do que aquelas 48 horas de março de 1976, e delas me abasteço todos os dias. Devo confessar que, diariamente, ainda falo em pensamentos com a minha avó; peço conselhos, divido dores e alegrias e um pouco do meu dia a dia. Mas fiquem tranquilos, pois nunca “ouvi” a voz dela me respondendo! Ao menos não em forma de vozes ou visões. No entanto, de uma maneira que eu não saberia explicar, a vida sempre me trouxe as respostas que para ela direcionei. “A vida tem lá os seus mistérios!” Quando enfrentamos uma grande perda, como foi para mim a morte da minha avó, ou de alguém que perde um cônjuge de forma inesperada ou vitimado por uma longa e dolorosa doença, é absolutamente natural e previsível que tenhamos sintomas depressivos como insônia, dificuldade de nos concentrar nas ações cotidianas, inapetência, sentimentos de culpa pelo que deixamos de fazer pela pessoa, perda de apetite, falta de vontade de participar de atividades sociais etc. Nesses casos, a presença desses sintomas não pode caracterizar um comportamento anormal. Pelo contrário, eles são normais e fazem parte do período de luto que todos vivenciamos quando somos submetidos a uma grande perda. O fato de ser normal e previsível não invalida a dor nem o sofrimento que nos acomete nesses momentos. No entanto, viver esse luto é necessário e saudável, pois é ele que nos reabastece para que algum tempo depois possamos recuperar nossas forças e seguir em frente na difícil e fascinante tarefa de escrever a nossa vida. O luto normal geralmente apresenta algumas etapas: a negação, a adaptação e a aceitação. A negação é típica dos primeiros dias após a perda e costuma se apresentar para a pessoa como se ela estivesse vendo um filme, e não a sua vida real. A dificuldade em acreditar na perda ocorrida faz com que muitas pessoas se sintam anestesiadas ou entorpecidas. Pode haver um isolamento com muito choro ou um intenso tomar de ações, como providenciar os papéis e os demais trâmites do funeral. No entanto, tudo é feito de forma automática, como se a pessoa estivesse vivendo uma realidade distante da sua própria. Se tudo acontecer como o esperado, esse entorpecimento (torpor) ou isolamento dá lugar a uma vivência da realidade, muitas vezes com a presença de alguns sintomas depressivos, como já mencionados acima. Paulatinamente, vamos retomando nossas atividades profissionais, sociais e familiares. Algumas pessoas são capazes de transformar a dor do luto em luta proativa, participando de grupos que buscam justiça e mudanças sociais importantes. Um exemplo típico e profícuo dessa situação são as pessoas que perdem seus entes queridos vítimas de assassinatos, acidentes automobilísticos, chacinas etc. Outras ainda passam a se dedicar a causas de caridade relacionadas à pessoa que morreu ou a se entregar de forma integral ao trabalho. Todas essas reações mostram uma necessidade de preencher o mais rápido possível o vazio deixado pela pessoa perdida. Não podemos esquecer que existem situações de luto que não envolvem a perda propriamente dita de pessoas amadas, e sim perdas pessoais relacionadas à saúde ou às capacidades funcionais. Como quando uma pessoa sofre um acidente e fica paraplégica, ou quando se perde a autonomia cotidiana durante o tratamento de uma doença grave. Essas pessoas são tomadas por sentimentos de vergonha e desmoralização. Sintomas depressivos são comuns aqui também – mais especificamente, a desesperança, a baixa autoestima e a sensação de desespero ocasionadas pela perda do controle da própria vida. Esses sintomas costumam

Description:
Baseada em sua ampla experiência clínica em comportamento humano e psiquiatria, além de estudos e pesquisas recentes, Ana Beatriz Barbosa desmistifica a doença considerada um problema de saúde pública. Com linguagem envolvente e acessível a um público amplo, a autora aborda a depressão de m
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