Universidade de São Paulo – USP Escola de Comunicações e Artes – ECA Departamento de Jornalismo e Editoração - CJE Euclides Santos Mendes MEDIAÇÕES JORNALÍSTICAS NA ERA DA COMUNICAÇÃO DE MASSA: O OMBUDSMAN NA IMPRENSA DO BRASIL E DE PORTUGAL Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Comunicação, na área de Estudos dos meios e da produção mediática, sob a orientação do Professor Doutor José Coelho Sobrinho. São Paulo, Brasil, fevereiro de 2007 1 Aos meus pais, Maria e Gercino, Verbena e Antônio À pequena Ana Clara 2 Agradecimentos Agradeço, sobretudo, às pessoas e instituições que me possibilitaram compreender um pouco mais o complexo mundo da comunicação social. Encontrei na Universidade de São Paulo pessoas que me incentivaram e me indicaram novas perspectivas de abordagem teórica e metodológica durante a pesquisa. Por isso, meus mais sinceros agradecimentos aos professores José Coelho Sobrinho, José Luiz Proença, Cremilda Medina, Manuel Carlos Chaparro, Alice Mitika, Osvaldo Ceschin, Nancy Ramadan e Cláudio Júlio Tognolli. Agradeço também à Comissão Européia pela concessão de bolsa de estudos que me permitiu, em 2005 e 2006, realizar um master degree (European Master of Arts in Media, Communication and Cultural Studies) junto às Universidades de Florença (na Itália) e Roskilde (na Dinamarca), oportunidade que me fez conhecer melhor outras áreas de interesse nas Ciências da Comunicação. Agradeço ainda à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, onde me graduei em Jornalismo em 2003, pelas primeiras e inestimáveis possibilidades de contato, estudo e descoberta da comunicação social. Agradeço, por fim, à colaboração de Paulo Cesar Bontempi, do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA, e de Cristina Cavaco, do Diário de Notícias, de Lisboa, bem como aos amigos Alexandre Chareti, Renata Parpolov, Mariana Duccini e Bárbara Bechelloni pelas conversas pautadas na descoberta do novo, do interdisciplinar e do extraordinário. 3 Universidade de São Paulo – USP Escola de Comunicações e Artes – ECA Departamento de Jornalismo e Editoração - CJE Euclides Santos Mendes MEDIAÇÕES JORNALÍSTICAS NA ERA DA COMUNICAÇÃO DE MASSA: O OMBUDSMAN NA IMPRENSA DO BRASIL E DE PORTUGAL Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Comunicação, na área de Estudos dos meios e da produção mediática, sob a orientação do Professor Doutor José Coelho Sobrinho. Banca examinadora: _____________________________________________ ___________________________ _____________________________________________ ___________________________ _____________________________________________ ___________________________ Defesa: São Paulo, ___ de ___________ de 2007 4 SUMÁRIO Introdução..................................................................................................................................9 Primeira parte: MEIOS E MEDIAÇÕES DE MASSA..................................................................................17 1. O novo mapa das mediações.........................................................................................18 2. A reflexão teórica sobre a sociedade de massa.............................................................22 3. A sociedade de massa na América Latina.....................................................................34 4. As formas de controle dos meios de comunicação de massa........................................39 5. O conceito de mediação................................................................................................43 Segunda parte: MUDANÇAS ESTRUTURAIS NO JORNALISMO...........................................................45 1. Uma pequena história da imprensa...............................................................................45 2. Jornalismo, publicidade e consumo..............................................................................54 3. Definição do campo jornalístico...................................................................................58 4. A produção do discurso jornalístico..............................................................................64 5. Imprensa e esfera pública..............................................................................................68 6. Imprensa e esfera social................................................................................................74 7. A reflexão teórica sobre o jornalismo...........................................................................77 8. O jornalismo na era pós-moderna.................................................................................90 9. A crise de paradigmas na formação do jornalista e no jornalismo.......................................................................................106 10. Jornalismo, cidadania e alteridade..............................................................................115 Terceira parte: JORNALISMO E OMBUDSMAN NO BRASIL E EM PORTUGAL.............................125 1. Uma visão histórica e contemporânea do jornalismo brasileiro e português..................................................................................................126 2. As origens do ombudsman..........................................................................................142 3. Etimologia do termo....................................................................................................146 4. A gênese do ombudsman em Portugal e no Brasil......................................................147 5. Ombudsman, consumo e relações públicas.................................................................149 6. O ombudsman de imprensa.........................................................................................153 7. O “Projeto Folha” e a gênese do ombudsman na imprensa brasileira.........................164 8. A gênese do provedor dos leitores na imprensa portuguesa.......................................178 9. A evolução do ombudsman/provedor dos leitores na Folha de S. Paulo e no Diário de Notícias...............................................................................................185 10. Imprensa, leitores e ombudsman.................................................................................194 11. Ombudsman e opinião pública....................................................................................202 12. Jornalismo, ombudsman e mediação...........................................................................205 13. Análise comparada das colunas do ombudsman/provedor dos leitores na Folha de S. Paulo e no Diário de Notícias............................................209 5 Considerações finais..............................................................................................................221 Referências bibliográficas....................................................................................................227 1. Livros..........................................................................................................................227 2. Monografias, dissertações e teses...............................................................................228 3. Artigos, crônicas e ensaios..........................................................................................229 4. Websites......................................................................................................................230 Anexos....................................................................................................................................233 1. Colunas críticas semanais do ombudsman da Folha de S. Paulo, Marcelo Beraba, publicadas em 2005. 2. Colunas críticas semanais do provedor dos leitores do Diário de Notícias, José Carlos Abrantes, publicadas em 2005. 3. Algumas colunas críticas semanais de Marcelo Beraba e José Carlos Abrantes publicadas em 2006. 6 RESUMO Esta pesquisa procura entender o aparecimento e a função do ombudsman na imprensa brasileira e portuguesa a partir do estudo das mediações, da comunicação de massa e das mudanças estruturais no jornalismo. Para isso, empreendemos uma revisão das principais correntes teóricas sobre a comunicação de massa e o jornalismo, bem como traçamos um panorama histórico e contemporâneo do jornalismo brasileiro e português. A pesquisa completa-se com a análise comparada das colunas semanais dos ombudsmen (ombudsmän em sueco) da Folha de S. Paulo e do Diário de Notícias, jornais de referência na formação da opinião pública no Brasil e em Portugal, respectivamente. Palavras-chave: Mediações, Comunicação de Massa, Jornalismo, Ombudsman, Folha de S. Paulo, Diário de Notícias. 7 ABSTRACT This research aims to understand the appearance and the function of the ombudsman in the Brazilian and Portuguese press from the study of the mediations, the mass communication and the structural changes in the journalism. Therefore, a review of the main theoretical lines about mass communication and journalism is undertaken, as well as outline a historical and contemporary view of the Brazilian and Portuguese journalism is outlined. The research completes it with the comparative analysis of the weekly ombudsmen (ombudsmän in Swedish) columns of Folha de S. Paulo and Diário de Notícias, reference newspapers in the formation of public opinion in Brazil and Portugal, respectively. Keywords: Mediation, Mass Communication, Journalism, Ombudsman, Folha de S. Paulo, Diário de Notícias. 8 O que singulariza a grande corporação da mídia é que ela realiza limpidamente a metamorfose da mercadoria em ideologia, do mercado em democracia, do consumismo em cidadania. Realiza limpidamente as principais implicações da indústria cultural, combinando a produção e a reprodução cultural com a produção e reprodução do capital; e operando decisivamente na formação de “mentes” e “corações” em escala global. Octavio Ianni, O Príncipe Eletrônico. A grande perversão do nosso tempo, muito além daquelas que são comumente apontadas como vícios, está no papel que o consumo veio representar na vida coletiva e na formação do caráter dos indivíduos. Milton Santos, O espaço do cidadão. Sobrecarregada tanto pelos processos de transnacionalização quanto pela emergência de sujeitos sociais e identidades culturais novas, a comunicação está se convertendo num espaço estratégico a partir do qual se podem pensar os bloqueios e as contradições que dinamizam essas sociedades-encruzilhada, a meio caminho entre um subdesenvolvimento acelerado e uma modernização compulsiva. Assim, o eixo do debate deve se deslocar dos meios para as mediações, isto é, para as articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais, para as diferentes temporalidades e para a pluralidade de matrizes culturais. Jesús Martín-Barbero, Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 9 INTRODUÇÃO Conforme o biólogo britânico C. H. Waddington (apud Campos, 1996, p. 15), a comunicação é “o mecanismo cultural que garante a evolução da espécie humana no planeta Terra”. Isto se dá, segundo Milton Nunes Campos (1996, p. 179), porque o homo sapiens é “uma espécie animal que desenvolveu uma capacidade específica de simbolização”, a qual “é condição sine qua non para a sobrevivência da espécie no planeta”; “as dimensões física e simbólica do homem, não estando separadas, participam ambas no processo de evolução da espécie” e “o mecanismo evolutivo que permite a troca simbólica com o meio é exatamente a comunicação”. De tal premissa partimos para um estudo sobre o papel da mediação na chamada “comunicação de massa” na sociedade (pós) moderna, buscando desvendar o papel nebuloso que ocupa o ombudsman dos meios de comunicação ou representante dos receptores midiáticos (leitores, ouvintes e telespectadores). Desde tempos imemoriais, a comunicação se constitui como “mecanismo cultural” sob dois aspectos fundamentais: como um problema, mas também como um recurso. O problema da comunicação está presente, como sugere Campos (idem, p. 185), por exemplo, no famoso gráfico EMISSOR?MENSAGEM/MEIO?RECEPTOR, tid o como estrutura modelar clássica da comunicação. O problema está no fato de que o termo “emissor” nem sempre quer dizer “todos os emissores possíveis”, o termo “mensagem” não significa, necessariamente, “toda mensagem possível”, assim como o termo “meio” não implica em “qualquer meio passível de ser empregado pelo homo sapiens” e o termo “receptor” não quer dizer exatamente “todos os receptores possíveis” (Ibidem, p. 185). Campos (idem, p. 16) argumenta que “o primeiro registro histórico fazendo referência explícita ao que hoje chamaríamos um problema da comunicação” está num dos textos mais antigos e influentes da história do pensamento humano: a Bíblia1. A Torre de Babel descrita 1 Está escrito no Gênesis, 11, 7-9: “Vinde, pois, desçamos e ponhamos nas línguas tal confusão, que eles se não entendam uns aos outros. Desta maneira é que o Senhor os espalhou daquele lugar para todos os países da terra, e que eles cessaram de edificar esta cidade. E por esta razão é que lhe foi posto o nome de Babel, porque nela é que sucedeu a confusão de todas as línguas do mundo. E dali os espalhou o Senhor por todas as regiões” (in Campos, idem, p. 16).
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