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Maus pensamentos & outros PDF

174 Pages·2016·1.262 MB·Portuguese
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Belo Horizonte | Veneza DIRETOR EDITORIAL ÂYINÉ Pedro Fonseca COORDENAÇÃO EDITORIAL André Bezamat CONSELHEIRO EDITORIAL Simone Cristoforetti PRODUÇÃO EDITORIAL Fábio Saldanha EDITORA ÂYINÉ Praça Carlos Chagas, 49 2° andar CEP 30170-140 Belo Horizonte +55 (31) 32914164 www.ayine.com.br [email protected] PAUL VALÉRY MAUS PENSAMENTOS & OUTROS TRADUÇÃO Pedro Sette-Câmara REVISÃO Maria Fernanda Alvares TÍTULO ORIGINAL: MAUVAISES PENSÉES ET AUTRES © 2016 EDITORA ÂYINÉ IMAGEM DA CAPA: Julia Geiser PROJETO GRÁFICO: Estúdio Âyiné UMA PRODUÇÃO: Zuane Fabbris Editor SUMÁRIO Maus pensamentos & outros 7 Biografia 173 6 A Não se esqueça de que toda mente é moldada pelas experiências mais banais. Dizer que um fato é banal é dizer que é um daqueles que mais concorreram para a formação das tuas ideias essenciais. Ele entra na composição da tua substância mental mais do que 99% das imagens e das impressões sem valor. E acrescenta que as vistas estranhas, os pensamentos novos e singulares tiram todo seu valor desse fundo vulgar que os ressalta. * A origem da “razão”, ou da noção de razão, é talvez a transação. É certo que é necessário transigir, ora com a “Lógica”, ora com o instinto ou a intuição; ora com os fatos. Tenta, portanto, todas as vezes que a palavra Razão vier a ti, ou de ti mesmo ou de outros, trocá-la por “transação”. Assim, acaba-se a deusa… * Há em nós certezas inexplicáveis e dúvidas sem causa, o que produz místicos e filósofos. Como nada consegue explicar as primeiras nem justificar as segundas, somos levados a pensar que, em um milhão de homens, dúvidas e certezas estão distribuídas como “ao acaso”… * O objeto próprio, único e perpétuo do pensamento é: aquilo que não existe. 7 Aquilo que não está diante de mim; aquilo que foi; aquilo que será; aquilo que é possível; aquilo que é impossível. Às vezes esse pensamento tende a realizar, a elevar ao verdadeiro aquilo que não existe; e às vezes a tornar falso aquilo que existe. * Todo pensamento é uma exceção a uma regra geral que é: não pensar. * O pensamento talvez seja apenas uma peculiaridade que a natureza oferece a uma espécie, do mesmo modo que ela produz aqueles chifres de ruminantes raros ou desaparecidos que podem ser vistos nos museus: armas ou enfeites tão curiosamente extensos, encaracolados ou espiralados, ou tão frondosos que chegam a ser mais incômodos do que inúteis ao animal que coroam. Não? Por que não? Nossa cabeça está carregada de questões e de ideias enredadas na floresta dos fatos, e ela nos mantém embaraçados, orgulhosos de estar assim, condenados a bramir poemas e hipóteses – orgulhosos e desesperados. * O aguilhão de cada vida intelectual é a convicção do fracasso, ou do aborto, ou da insuficiência das vidas intelectuais anteriores. * 8 Notei que, entre os partidários e os adversários de uma tese qualquer (e que por ela são unidos), a grande maioria se compõe de pessoas que não a conhecem realmente. Também reparei que aquilo que chamamos de “convicção” não passa da falsa atitude enérgica exigida pela consistência frágil própria de uma opinião. Toda a força colocada na forma – mesmo interior – é sinal de dúvidas voluntariamente reprimidas. Enfim, quando se diz que uma teoria “consegue se sustentar”, não se está dizendo que ela precisa de alguém que a sustente? Por si própria, ela cai, e que caia. * Julga as inteligências observando para onde elas se inclinam. Algumas que se apresentam como grandes só levam seu homem ao vazio. Se seus pensamentos se desenvolvessem, elas morreriam de inanição. É preciso compreender que as ideias só possuem valor transitivo. Uma ideia só vale pela expectativa que instiga e pelas chances que traz de uma perfeição maior de nosso ser, que reagirá sobre ela, e levará ela própria a um estado superior de simplicidade, de riqueza e de esperança. É por isso que não se deve construir sistemas. Um sistema é uma parada. É uma desistência. Parar numa ideia é parar sobre um plano inclinado, é um falso equilíbrio. Não existe ideia que tenha seu fim em si mesma e que interdite ou absorva todo desenvolvimento ou toda resposta ulterior. Essa parada sobre um plano inclinado deve-se portanto a alguma resistência passiva. Por exemplo, a grande satisfação que se tem ao encontrar certa solução ou certa fórmula, e que seduz a deter-se nele, a fixá-la, a torná-la pública, é uma resistência desse tipo, assim como seriam o cansaço ou qualquer outra causa alheia ao pensamento por ela interrompido. 9 * Toda filosofia poderia ser reduzida a procurar laboriosamente aquilo mesmo que se sabe naturalmente. Ou a isto: descobrir, por meditações e confrontos que aquilo que se enxerga no espelho e aquele que o mira têm algumas propriedades comuns ou indivisas. Buscar alguma coisa pode ter uma importância maior do que trazer prazer ou dor, bem-estar ou incômodo? * Que todos os sistemas terminam em mentiras, não há dúvida. O contrário seria impossível, e não natural. Quanto a seus começos, pode-se discutir sua boa-fé. * FALSOS FILÓSOFOS Aqueles engendrados pelo ensino da filosofia, pelos programas. Nestes, eles aprendem problemas que não teriam inventado e que não sentem. E eles os aprendem todos! Os verdadeiros problemas dos verdadeiros filósofos são aqueles que atormentam e que tornam a vida incômoda. O que não quer dizer que eles não sejam absurdos. Porém, ao menos esses nascem em vida – e são verdadeiros como as sensações. * 10

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