QUEM DIRIA que essa frase profética escrita por William Blake no século XVIII influenciaria o mundo da forma como o fez? De Walt Whitman a Dylan Thomas, toda uma linhagem de poetas da língua inglesa reivindicaria filiação a esse romântico visionário. De Aldous Huxley, que lhe tomou o espírito e a letra para batizar seu livro sobre experiências alucinógenas (As portas da percepção), a Jim Morrison, o poeta cantor do grupo The Doors (“of perception”), Blake alcançaria no século XX uma glória literária que esteve longe de vislumbrar enquanto viveu. Filho de um vendedor de meias de Londres,William Blake (1757–1827) desde cedo mostrou-se um gravador original, inspirado pela arte gótica de seu tempo. Poetical Sketches (1783), sua primeira obra publicada, por amigos, continha poemas e fragmentos dramáticos escritos entre os 12 e os 20 anos, revelando seu apreço por Ossian, pela poesia elizabetana, seu interesse em conciliar mitologia, história e a Bíblia, bem como o lirismo peculiar das obras futuras. O casamento do Céu e do Inferno começa aparentemente como um panfleto anti-swedenborguiano, mas logo se revela uma sátira visionária, vazada num misto de prosa e verso, ambientada no céu e no inferno, queinclui personagens como anjos e demônios, profetas do Velho Testamento, John Milton e o próprio Swedenborg.