Matemática Aplicada e Análise Numérica UmaIntroduçãocomOctave Pedro Serranho SecçãodeMatemática DepartamentodeCiênciaseTecnologia UniversidadeAberta 2017 Conteúdo 1 Motivação 1 1.1 Exemploconhecido: Omodelodequedalivre . . . . . . . . . . . . 2 2 Teoriadoerro 5 2.1 ErrosdeArredondamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2.2 Propagaçãodeerros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.3 OutrasFormasdeErro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 3 PrincípiosBásicosdeAnáliseFuncional 13 3.1 EspaçosnormadosedeBanach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 3.1.1 EspaçosdeBanachdedimensãofinita . . . . . . . . . . . . . 18 3.2 Espaçospré-HilbertianosedeHilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 4 Condicionamento 23 4.1 Normasdematrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 4.2 Condicionamentodesistemaslineares . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 4.3 Regularização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.3.1 Regularizaçãopordecomposiçãoemvaloressingulares . . . 37 4.3.2 RegularizaçãodeTikhonov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.4 LocalizaçãodeValorespróprios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 4.4.1 TeoremadeGershgorin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 5 AproximaçãodeFunções 49 5.1 FórmuladeTaylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 5.2 InterpolaçãoPolinomial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 5.3 Interpolaçãoporsplines . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 5.4 AproximaçãoporMínimosQuadrados . . . . . . . . . . . . . . . . 80 5.4.1 RegressãoLinear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 5.4.2 RegressãoExponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 5.4.3 RegressãoPolinomial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 ii CONTEÚDO 6 MétodosIterativosparaEquaçõesNão-Lineares 99 6.1 Métododabisseção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 6.2 Métododopontofixo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 6.2.1 Métododopontofixogeneralizado . . . . . . . . . . . . . . 115 6.3 MétododeNewton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 6.3.1 MétododeNewtonGeneralizado . . . . . . . . . . . . . . . 127 6.4 MétododaSecante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 7 SistemasLinearesdeEquações 141 7.1 Métodositerativospararesoluçãodesistemaslineares . . . . . . . 142 8 Integraçãonumérica 157 8.1 Quadraturassimplescomnósigualmenteespaçados . . . . . . . . 158 8.1.1 Regradostrapéziossimples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 8.1.2 RegradeSimpsonsimples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 8.1.3 RegrasdeNewton-Cotesdeordemsuperior . . . . . . . . . 169 8.2 Quadraturascompostascomnósigualmenteespaçados . . . . . . . 170 8.2.1 Regradostrapézioscomposta . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 8.2.2 RegradeSimpsoncomposta . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 8.3 Quadraturascomnósnão-igualmenteespaçados . . . . . . . . . . . 181 9 MétodosNuméricosparaequaçõesdiferenciaisordinárias 187 9.1 MétododeEuler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190 9.1.1 MétododeEulerparaEDOsescalaresdeprimeiraordem . 190 9.1.2 MétododeEulerparaEDOsvetoriaisdeprimeiraordem . . 196 9.1.3 MétododeEulerparaEDOsescalaresdeordemn. . . . . . 200 9.2 MétodosdeRunge-Kutta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204 9.2.1 MétodoRKdopontomédio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205 9.2.2 MétodoRKdeEulermodificado . . . . . . . . . . . . . . . . 211 9.2.3 MétododeRKdeordem4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215 10 MétododasDiferençasFinitas 225 10.1 EquaçãodoCalor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227 10.2 Casounidimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227 10.2.1 MétodoExplícito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229 10.2.2 MétodoImplícito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236 10.2.3 MétododeCrank-Nicolson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243 10.3 CasoBidimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248 10.3.1 Dominiospoligonais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252 Capítulo 1 Motivação Umdosmaioresdesafiosdosdiasdehojeemciênciaéacapacidadedefazerpre- visões. Este é um processo complicado com várias fases e que raramente passa por executar a experiência cujo resultado queremos descobrir, devido aos eleva- dos custos ou pouco tempo disponível. Uma das possibilidades para conseguir prever passa por fazer a modelação do problema. Neste âmbito, a Matemática temaplicaçõesemváriasáreas,desdeasmaisrecentestecnologiasnasváriasen- genharias a áreas da saúde, passando pela meteorologia, arquitetura ou arte. A própria natureza apresenta padrões matemáticos que se repetem e podem por- tantoserprevistos. Problema da 1.Modelação Modelo vida real Matemático 2a) Análise 2b)Teoria da Matemática Aproximação Previsão Solução aproximada Solução exacta + Estudo do erro Resultado 3. Interpretação Figura1.1: Esquemadoprocessodeprevisão. Dadoumproblemadavidareal,oprimeiropassoéconstruirummodeloma- temático que aproxima o problema. Geralmente, o modelo matemático implica 2 1.1. Exemploconhecido: Omodelodequedalivre uma aproximação do problema inicial. O controlo do erro efetuado neste passo saiforadoâmbitodestaunidadecurricular. Tendoummodelomatemáticoéne- cessário resolvê-lo. A resolução poderá implicar resolver equações, inequações, maximizar ou minimizar funções, entre outros. Muitas vezes não é possível en- contrar soluções exatas dos modelos, pelo que é necessário recorrer a métodos numéricos que aproximam as soluções com uma margem de erro controlável. Porúltimo,dadaasoluçãodomodelomatemáticoénecessáriointerpretá-lapara conseguir encontrar o resultado previsto. O processo de previsão precisa ainda deservalidadopelasobservaçõesdarealidadeparasemostrarfiável. Neste texto vamos estar principalmente interessados em resolver modelos matemáticos(focando-nosnasuaresoluçãonumérica,istoé,emdeterminarapro- ximações da solução exata) e na interpretação da sua solução. Nos próximos ca- pítulosvamosestudaralgunsmodelosemétodossimples,comaplicaçõesvárias nasáreasdaengenhariaeindústria,nomeadamenteemcasosemquearesolução analíticanãoéconhecidaouédemasiadomorosa. Começamosporapresentarummodelosimples,combasenumaequaçãodi- ferencial. 1.1 Exemplo conhecido: O modelo de queda livre Um dos exemplos mais simples é o que modela a queda livre de um corpo. Va- mossuporqueumcorpoemmovimentoverticalseencontrainicialmenteauma altura y e velocidade v . Seja y = y(t) a altura do corpo no instante t. Por 0 0 definição, a velocidade v = v(t) do corpo no instante t é a derivada da função posição y(t), ou seja, v(t) = y(cid:48)(t). Sabemos ainda que a aceleração do corpo é a aceleraçãogravíticag ≈ 9.8nosentidonegativo,peloqueasegundaderivadada funçãoposiçãoy édadapor y(cid:48)(cid:48)(t) = −g. Se adicionarmos as condições iniciais, queremos encontrar a solução do pro- blema y(cid:48)(cid:48)(t) = −g, t ≥ 0 y(cid:48)(0) = v 0 y(0) = y 0 que modela a queda livre de um corpo com altura inicial y e velocidade ini- 0 cial v . Note-se que neste modelo estamos a desprezar as forças de atrito do ar, 0 ilustrandoqueomodelojáéemsiumaaproximação. 1. Motivação 3 Asoluçãodaequaçãopodeserdadaporintegraçãodireta,nomeadamente (cid:90) (cid:90) y(cid:48)(t) = y(cid:48)(cid:48)(t)dt = − gdt = −gt+C para algum C ∈ R. Pela condição inicial para a velocidadey(cid:48)(0) = v , temos C = 0 v peloque 0 y(cid:48)(t) = v −gt. 0 Integrandodenovoemt,obtemos (cid:90) (cid:90) t2 y(t) = y(cid:48)(t)dt = v −gtdt = v t−g +C 0 0 2 para algum C ∈ R. De novo, pela condição inicial para a altura y(0) = y , te- 0 mosC = y peloqueasoluçãodoproblemaédadapor 0 t2 y(t) = y +v t−g , t ≥ 0 0 0 2 o que nos dá a equação (já conhecida da Física) do movimento de uma partícula uniformementeacelerada(comaceleração−g)emmovimentoretilíneo. Este exemplo ilustra um caso simples de resolução analítica de um modelo paraumfenómenofísico. Outroscasosparticularesdeequaçõesdiferenciaispo- demsertambémresolvidosanaliticamente,comoporexemploequaçõesdiferen- ciaisordináriaslineares,oudecoeficientescontantes,oudevariáveisseparáveis. Para uma análise mais cuidada destes e de outros casos de possibilidades de resoluçãoanalítica,podeconsultarporexemplo[1,2,3]. No entanto é fácil de compreender que em casos mais complexos o processo para obter uma solução analítica pode ser bem mais complicado ou mesmo não ser possível. Por exemplo se for introduzido no modelo a resistência do ar em forma de força de atrito F , teríamos pela segunda lei de Newton (F = m.a) que a aaceleraçãodocorposeriadadapor F y(cid:48)(cid:48)(t) = −g + a m em que m é a massa do corpo e a força de atrito é geralmente considerada como proporcionalàvelocidade F = Ay(cid:48)(t), a emqueotermoAdependedaformadoobjetoedadensidadedoar,entreoutros. Em particular, se pensarmos que a densidade do ar depende da altura (e para facilitar)deformalinear,istoé,A = Cy(t)ficamoscomaequação y(t)y(cid:48)(t) y(cid:48)(cid:48)(t) = −g +C m 4 1.1. Exemploconhecido: Omodelodequedalivre quedeixadeserumaequaçãolinearnasoluçãoy. Assim é necessário encontrar formas expeditas de obter soluções de proble- masmaiscomplexosmotivadosporaplicaçõesreais,porexemploqueenvolvam equações não-lineares ou equações às derivadas parciais, uma vez que na maio- ria dos problemas com aplicações práticas a solução analítica não é possível de obter. Conformejáfoireferidonestaintrodução,geralmenteopreçoapagarporter ummétodopararesolverestasequaçõeséqueasoluçãoencontradadeixadeser exataparaserapenasaproximada. Énestecontextoqueavançamosparaospró- ximos capítulos, começando evidentemente por estabelecer formas apropriadas demediroerrocometidonumaaproximação. Capítulo 2 Teoria do erro Associadoaqualquertipodemediçãoestásempreoerrocometido,partindodo princípioquenapráticaumamediaçãonuncaéexata. Dependendodaescalado aparelho de medida e da experiência do técnico de medição, podemos obter um erro mais ou menos grosseiro. Existem várias formas de medir o erro. A mais usual é o chamado erro absoluto e da aproximação x˜, em que consideramos o x˜ módulodadiferençaentreovalorexatoxeaaproximaçãox˜,istoé, e = |x−x˜|. x˜ No caso geral, em que x não é um valor real (pode ser um vector, uma matriz, uma função,...) convém considerar uma métrica adequada, substituindo-se o móduloporumanormaadequada,istoé, e = ||x−x˜||. x˜ No entanto o erro absoluto nem sempre é um bom indicador da qualidade da aproximação. Por exemplo, cometer um erro absoluto de um metro na distân- cia entre Lisboa e Porto pode ser considerado bom, mas cometer o mesmo erro absoluto na medição da altura de uma pessoa é considerado um erro grosseiro. Destaforma,considera-setambémoerrorelativoδ dadopor x˜ ||x−x˜|| δ = x˜ ||x|| que nos indica a percentagem de erro cometido em relação à grandeza do valor aaproximar. Temosentãoaseguintedefinição. 6 Definição2.1(Erroabsolutoerelativo). Seja x˜ a aproximação de um valor exato x e seja ||.|| uma norma adequada parax. Chama-seerroabsolutoe a x˜ e = ||x−x˜|| (2.1) x˜ eerrorelativoδ a x˜ ||x−x˜|| δ = . (2.2) x˜ ||x|| Oerrorelativoindicaapercentagemdeerroemrelaçãoàgrandezadex. Exercício 2.2. Determine os erros relativos e absolutos associados às aproxima- çõesseguintes: (a) Umlápismedeexatamente12.23cm.Comaajudadeumaréguacomescala atéaosmilímetros,obteve-seamedição12.2cm. (b) Conseguiu-semostrarteoricamentequeexistem64.345×1023 moléculasde determinada substância num recipiente. No entanto, utilizando métodos laboratoriais apropriados obteve-se o valor experimental de 64.554 × 1023 moléculas. (c) De determinado ponto da terra, sabe-se que uma estrela conhecida está na direção (0.23,0.65,0.72). No entanto, o telescópio utilizado para avistar a estrela foi apontado na direção (0.2,0.6,0.7). (Nota: utilize a norma usual paravectores.) Resposta. (a) Oerroabsolutoée = 0.03cmenquantoqueoerrorelativoéaproximadamen- x˜ te0.00245. (b) Oerroabsolutoée = 2.09×1022 moléculasenquantoqueoerrorelativoé x˜ aproximadamente0.00325. (c) O erro absoluto é aproximadamente e = 0.0616 enquanto que o erro rela- x˜ tivoéaproximadamente0.0618.
Description: