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Maquiavel PDF

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• • - I __ ) ... { • ', ) • QUENTIN SKINNER I, ) l OEDALUS -Acervo - FFLCH-FIL \ ) • Maquiavel I I ) ' 320.1 I M149sp ) .) 21000033061 I • A Mandrágora - Nicolau Maquiavel ) • Consideracões sobre o Governo da Polônia e sua Reforma • ) Projetada - Jean-Jacques Rousseau I • Discurso da Servidão Voluntária - Etienne de La Boétie ) ' • Ensaios de Filosofia Ilustrada - Rubens Rodrigues Torres I I Filho ) I • Genealogia da Moral - Friedrich Nietzsche • ) • Idéia de uma História Universal de um Ponto de Vista ' l Cosmopolita - lmmanue/ Kant Tradução ) • Liberalismo e Democracia - Norberto Bobbio 1 Maria Lucia Montes • Linhagens do Estado Absolutista - Perry Anderson I { ) • Polrtica e Liberdade em Hegel - Denis L. Rosenfield ' • Sociedade e Estado na Filosofia Política Moderna - ) I ' ' .I Norberto Bobbio/ Michelangelo Bovero J ' ) ' • I Coleção Primeiros Passos I • ) l I I • O que é Filosofia - Caio Prado Jr. ) • O que é Poder - Gérard Lebrun • O que é Política - Wolfgang Leo Maar ) •• • • ' .I ' \ • ' - - \"" ..." " ):' ;_ i~/ I • ) .. . ...... I ..: . . ~ l . ·. I ··~ I '\ ~~ (~ ~ . I ) • Tombo: 05201 •' .... - ' ......._ .. . J ) ~, t ,) r ) SBD- FFLCH-USP ! l I I ) • ) ) • ·~) • •,) • \ ' ) ' editora ) \ 1988 I ) \.) r 1(_) I' ) Copyright © Publicado originalmente em inglês sob o título ) Machiavelli © Oxford University Press 1981. ) Copyright © da tradução: Editora Brasiliense S. A. para publicação e comercialização em língua por tuguesa. ) Revisão: ) Rosa Maria da Silveira ) ISBN: 85-11-14067-0 I ) I I ) I ) ) ) ) ) Índice ) . . ) ) ) ) ) Prefa . 7 ; c o · · · · · · · · · · · · I· • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • ) Introdução . . .. . . . . . .. .. - .. - .. . . · · · · · · · · · · · · · 11 ) 1. O diplom ata ..................... · · · · · · · · · 14 . ) A formação huma nistà · ...... . . . . .. . .. ... · · · 14 ) As missões dipl omáticas ... . .. . ....... .. . · · · 18 As lições da diplomacia ...... . ....... . .. . · · · 31 ) I . . ) 2. O conselheiro dos príncipes" . ....... · .. · · · · · · · 39 ) O con texto florentino ...... ·.· .......... ·.···· 39 A herança clássica . ...... . ... . ........ · · · · · 44 ) I A revolução ma quiavélica .. . ............. · · · 53 j ) ecfrtorá brasiliense s. a. A nova moralidade ...................... · · · 68 • rua da consolação, 2697 ) .. ~ • 01416- são pauto- sp . 3. O f ilósofo da liberdade ........ . ............ . 78 ) fone (011) 280-1222 Os meios par.a se alcançar a gr andeza . . ....... . '82 ) telex: 11 33271 DBLM BR ) • ) . I ) • • - .. --·~~-=-, ..- -e ' I 6 QUENTIN SKINNER As leis e a liderança ....................... . 92 A prevenção da corrupção .................. . 104 Ao d · , · use a o tmperto ...................... . . 112 ~ ! 4. O historiador de Florença .................. . 120 l I A finalidade da história .................... . 120 l "- ) O declínio e a queda de Florença ............. . 126 • I ) A desgraça final .......................... . 131 • ) Obras de Maquiavel citadas no texto ............ . 135 ) Notas sobre as fontes · 136 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • ) Leituras complementares .................. . 138 • • • • ) Prefácio ) ) ) ) ) Há bem uns vinte e cinco anos que não aparece em ) inglês uma análise que esboce em traços rápidos o perfil da vida e da obra de Maquiavel. (O último trabalho que ) • se compara a este em escala é o belo estudo de J. R. H ale, ) Maquiavelli and Renaissânce Italy, publicado em 1961.) -) Minha principal razão para apresentar este novo estudo é que, nesse período, surgiram muitas informações novas ) sobre a carreira e o pensamento de Maquiavel. Muitos ) dados biográficos foram descobertos, publicou-se pela ' ) primeira vez uma edição crítica completa de sua obra, ) e uma nova geração de intérpretes vem produzindo um fluxo constante de comentários que, em alguns casos, são ) notáveis pela sua qualidade. E grande a minha dívida para • ) com esses progressos recentes no campo do trabalho aca ) dêmico, e neles apoiei-me bastante ao longo de toda esta obra. ) • • ) ) \ .J ) ) ) • PREFÁCIO 9 8 QUENTIN SKINNER ) texto encontram-se nas "Notas sobre as fontes" à pá- , ) Entretanto, tentei ao mesmo tempo apresentar uma gina 136. visão da teoria política de Maquiavel que se baseia, ao ) Há ainda dois outros pontos a esclarecer acerca das menos em parte, nos resultados de minhas próprias pes I traduções inglesas utilizadas. Aventurei-me em algumas ) I quisas. Trabalhando em especial sobre a obra de Hans I passagens a modificar a tradução de Gilbert para dar I ) . Baron, Felix Gilbert e J. G. A. Pocock, procurei retratar ' uma idéia mais clara da fraseologia exata usada p or Ma I I Maquiavel essencialmente· como um expoente de uma ) quiavel. E me mantive fiel à minha convicção de que o • I tradição humanista característica dentro do republica conceito de_viJ.:t.U ( virtus, em latim) , em torno do qual se ) nismo clássico. Além disso, procurei demonstrar que os articula toda a concepção política de Maquiavel, não ) aspectos mais originais e criativos de sua visão política i pode ser traduzido para o inglês moderno por nenhuma • I são melhor compreendidos quando considerados como ) palavra isolada nem por uma série de perífrases que se • uma série de reações polêmicas - algumas vezes satí • tnostrasse viável. Por isso, mantive esse termo e os que ) r I ricas- contra o corpo de crenças humanistas de que foi I lhe são correiat os em sua forma original ao longo de toda ) herdeiro e que basicamente continuou a endossar. Em a obra. Entretanto, isto não quer dizer que deixe de dis ) bora meu objetivo principal tenha sido fornecer uma cutir seus significados; ao contrário, grande parte do introdução clara e direta ao seu pensamento, espero que ) meu texto pode ser lida como uma explicação do que estas conclusões possam também ter algum interesse considero que Maquiavel queria dizer com eles. ) para os especialistas nessa área. · Os primeiros três capítulos deste livro contêm - de I ) Quando cito a Correspondência, as Missões Diplo forma muito resumida e revista - o essencial da Série máticas e os assim chamados Caprichos ( Ghiribizzi)' de ) Carlyle de conferências sobre "A Teoria Política de Ma Maquiavel, utilizo minhas próprias desses tex I , traduçõe~ quiavel" que apresentei na Universidade de Oxford du ) tos. Com relação às suas .outras obras, basee1-me (com a rante o segundo semestre de 1980. Sou extremamente ) permissão dos editores) nas excelentes traduções inglesas grato à Universidade por convidar-me para ministrar de Allan Gilbert que se encontram em Machiavelli: The aquelas aulas, a Nevil Johnson pelo trabalho que teve ) Chie/ Works and Others (3 vols., Duke U niversity Press, com todos os prepara ti vos e ao Ali Souls College pela sua } 1965). Ao citar a Correspondência e as Missões Diplomá generosa hospitalidade. ) ticas identifico a fonte colocando um "C" ou "L" entre Também é grande a minha dívida para com Keith I ' f "' parênteses, conforme o caso, juntamente com a re ) ~ren- Thomas, por sugerir que deveria incluir este livro na sua da da página depois de cada citação. Quando me ref1ro a coleção, e a Henry Hardy, da Oxford University Press, ) I outras obras de Maquiavel, em cada caso deixo claro pela sua incansável paciência, bem como por muita ajuda ) através do contexto qual o texto que estou citando e sim I I e encorajamento. Meus agradecimentos se estendem plesmente acrescento as referências de páginas entre pa l ) também à Cambridge University Press por me permitir .• • rênteses. Os detalhes completos sobre todas as edições utilizar-me de várias passagens contidas nos capítulos ) ppr mim utilizadas podem ser encontrados na lista de sobre a filosofia política do Renascimento do volume I do ) "Obras de Maquiavel citadas no texto", à página 135. meu livro The Foundations ofM odern Political Thought. As referências sobre todas as outras citações no corpo do ) { ) ) ) • ) ) ) 10 QUENTIN SKINNER ) Finalmente, minha maior dívida de gratidão é para com ) John Dunn, Susan James e J. G. A. Pocock, que leram ) meu manuscrito com meticuloso cuidado e o discutiram I comigo a cada etapa, oferecendo-me várias sugestões va ) I ! liosas, além de me ajudarem de muitas outras maneiras. ' t ) t ) ) ) Nota ) (1) No original italiano, Lettere, Legazioni e Commisarie, e ) Ghiribizzi, traduzidos para o inglês respectivamente como Corres ) pondence, Legations e Caprices, de onde derivam as letras entre parênteses que identificam as citações. (N. T.) Intro.dução ) ) ) ) ) Maquiavel morreu há mais de quatrocentos e cin ) qüenta anos, mas seu nome sobrevive como sinônimo de ) astúcia, duplicidade e exercício de má-fé em negócios ) políticos. "O criminoso Maquiavel", como Shakespeare ) o.chamava, nunca deixou de ser um objeto de ódio para moralistas de todas as tendências, tanto revolucionários ) quanto conservadores. Edmund Burke pretendia ver nas ) "odiosas máximas da política maquiavélica" as bases da ) "tirania democrática" da Revolução Francesa. Marx e En gels foram menos veementes ao atacar os princípios ) nã~ do maquiavelismo, embora enfatizassem que os verda ) deiros expoentes da "política maquiavélica" são aqueles ) que tentam "paralisar as energias democrática.s" nos pe • ríodos de mudança revolucionária. O ponto em que am ) ' ' -' • bos os lados concordam é que os males do maquiavelismo ) ) ) I ) I ) ) INTRODUÇÃO ) 12 QUENTIN SKJ NNER 13 ) constituem uma das mais perigosas ameaças à base nlo sua própria visão moral, podemos facilmente ver por que ) ral da vida política. seu nome é ainda tão freqüentemente invocado a cada Tanta notoriedade ganhou o nome de Maquiavel vez que se discutem questões relativas à liderança e ao ) poder político. que a acusação de ser maquiavélico ainda- continua a ser ) uma séria forma de ataque no debate político atual. As ) sim, por exemplo, quando Henry Kissinger expôs sua filosofia numa famosa entrevista publicada no Tlz e Ne w ) Republic, após tê-lo ouvido discutir seu papel como as ) sessor presidencial, seu entrevistador observou que, "ao ) escutá-lo, às vezes a gente se pergunta não o quanto o senhor influenciou o presidente dos Estados Unidos, mas ) o quanto foi influenciado por Maquiavel". Kissinger se ) i I mostrou extremamente preocupado em negar tal su I ) gestão. Era ele um maquiavélico? "Não, absoluta ' ' I mente." Não fora ele de alguma forma influenciado ) por Maquiavel? "Não, de forma alguma." ) O que existe por trás da sinistra reputação adqui ) rida por Maquiavel? Será ela merecida? Que pontos de ) vista sobre a política e a moralidade política defende ele de fato em suas principais obras? Estas são questões que l ) espero responder ao longo deste livro. Pretendo demons ) trar que, para compreender as doutrinas de Maquiavel, ) precisamos começar por recuperar os problemas com os quais evidentemente ele se viu em confronto em O Prín ) cipe, nos Comentários e em suas outras obras sobre filo -) sofia política. Para chegar a esta perspectiva precisan1os, ) por outro lado, reconstruir o contexto no qual aquelas obras foram originalmente compostas- o contexto inte ) lectual da filosofia clássica -e renascentista, bem como o ) contexto político da vida da cidade-estado italiana no iní • ) cio do século XVI. Tendo restituído Maquiavel ao mundo I em que suas idéias foram inicialmente formadas, pode ) I mos então começar a apreciar a extraordinária originali ) dade do seu ataque às concepções morais correntes em ) sua época. E, uma vez compreendidas as implicações da ) ) ) I ) ) ) ) O DIPLOMATA lS ) I semanas, o quase desconhecido nome de Maquiavel foi ) I I apresentado como o de um possível substituto. Ele tinha ) apenas 29 anos e, ao que parece, não possuía nenhuma ) experiência administrativa anterior. Apesar disso sua nomeação foi aprovada sem qualquer dificuldad~ evi ) dente e em 19 de junho ele era devida.mente confirmado ) pelo grande conselho como segundo chanceler da repú ) blica de Florença. ) Na época em que Maquiavel entrou para a Chan celaria, existia um método de recrutamento tradicional ) • para o preenchimento de seus principais cargos. Espe • ) rava-se dos candidatos aos cargos que, além. de darem •• 1. O diplomata provas de habilidade diplomática, demonstrassem pos ) suir um alto grau de competência nas assim chamadas ) "disciplinas humanas". Este conceito de studia humani ) tatis tinha origem em fontes romanas, especialmente Cí ) cero, cujos ideais pedagógicos haviam sido retomados , pelos humanistas italianos do século XIV, vindo a exer ) cer uma poderosa influência nas universidades e na con ) A fonnação humanista dução da vida pública italiana. Os humanistas se distin ) guiam, antes de mais nada, por sua adesão a uma teoria particular sobre o conteúdo adequado de uma educação . ) Nicolau Maquiavel nasceu em Florença a 3 de maio "verdadeiramente humana". Esperavam que seus discí ) de 1469. A primeira notícia que se tem sobre sua parti pulos começassem pelo domínio do latim, passando à ' - cipação ativa nos negócios de sua cidade natal é de 1498, prática da retórica e à imitação dos melhores estilistas ) ano. em que caiu o· regime controlado por Savonarola. clássicos, para completarem seus estudos com uma cui ) dadosa leitura de história antiga e de filosofia moral. Prior dominicano de São Marcos, cujos sermões proféti ) . Também popularizaram a crença já antiga de que esse cos haviam dominado a política florentina nos quatro • ) anos precedentes, Savonarola foi preso por no tipo de formação oferece a melhor preparação para a heresi~ início de abril - logo depois, o conselho dirigente da vida política. Como Cícero repetidamente sustentara, ) cidade começou a demitir seus partidários que ainda essas disciplinas alimentam os valores que mais precisa • ) 1 continuavam a ocupar postos no governo. Um dos que mos adquirir bem servir nosso país: a disposição de p~ra 1 ) perderam o emprego como resultado dessa medida foi subordinar nossos interesses privados ao bem público o Alessandro Braccesi, chefe da segunda chancelaria. De desejo de lutar contra a corrupção e a tirania e ·a ambi- ) ' . início, o cargo foi deixado vago mas, passadas algumas ção de procurar alcançar os fins mais nobres dentre to- ) . ' I. ) ) ) j ) ) 16 QUENTIN SKINNER O DIPLOMATA 17 ) dos, a honra e a glória, para nosso país e para nós cri to em 1483 em forma de um diálogo, entre ele próprio l ) I mesmos. e "tneu an1igo e íntimo" Bernardo Maquiavel. Além dis I I Ã medida que os florentinos se imbuíam cada vez so, a partir do Diário que Bernardo manteve entre 1474 ) I mais dessas crenças, passaram a chamar seüs mais emi e 1487, fica claro que, durante todo o período do cres ) nentes humanistas para preencherem os cargos de maior cimento de seu filho Nicolau, ele se dedicava ao estudo ' i ) prestígio no governo da cidade. Pode-se dizer que tal de muitos dos princip ais textos clássicos em que se ba prática teve início com a nomeação de Coluccio Salutati seava o conceito renascentista de humanidades. E le re ) como chanceler em 1375, e rapidamente ela se converteu gistra que tomou emprestado o texto das Filípicas de Cí ) em regra. Na juventude de Maquiavel, a primeira chan cero em 1477 e, em 1480, sua maior obra de retóric-ª, ) celaria 'foi ocupada por Bartolomeo Scala, que manteve Como Fazer um Orador. Também emprestou por várias ) seu cargo como professor na univer$idade enquanto du vezes o tratado de Cícero Sobre a Obrigação Moral na \ rou sua carreira pública e continuou a escrever sobre te década de 1470, e em 1476 até conseguiu adquirir seu ) mas tipicamente humanistas, constituindo suas obras próprio exemplar da História de Tito Lívio ___;, texto que, ) principais um tratado de moral e uma História dos Flo quarenta anos mais tarde, serviria como ponto de refe ) • rentinos. Ã época em que o próprio Maquiavel esteve na rência a seu filho ao compor os Comentários ,2 sua mais Chancelaria, as mesmas tradições foram mantidas de longa e ambiciosa obra de filos9fia política. ) maneira notável pelo sucessor de Scala, Marcello Adria O diário de Bernardo também.evidencia que, apesar ' ) I ni. Também ele foi transferido de uma cátedra na uni da enorme despesa que isto envolvia- e que anotava an ' I ) .• versidade para a primeira chancelaria e, do mesmo siosamente - , ele cuidava de dar a seu filho uma exce I modo, continuou a publicar trabalhos acadêmicos huma lente formação nos studia humanitatis. A primeira notí .J I I nísticos, inclusive um livro de textos sobre o ensino do cia que temos da educação de Maquiavel é de utn a data ) ' - latim e um tratado vernáculo Sobre a Educação da No- poucc posterior ao seu sétimo aniversário, quando seu ,. . ) breza Florentina. pai registra que "meu filhinho Nicolau começou a fre ·A predominância de tais idéias ajuda a explicar qüentar mestre Matteo" para o primeiro estágio de sua ) como Maquiavel conseguiu ser nomeado numa idade educação formal , o estudo do latim. Aos doze anos Ma ) relativamente jovem para um cargo de considerável res quiavel já havia sido promovido para o segundo estágio l ) ponsabilidade na administração da república. Pois, em e passara aos cuidados de um famoso professor, Paolo da bora não sendo rica nem pertencendo à alta aristocracia, Ronciglione, que ensinou muitos dos mais ilustres huma ) I sua família mantinha um relacionamento íntimo com al nistas da geração de Maquiavel. Este novo passo é ano ) guns dos círculos humanistas mais considerados da ci tado por Bernardo em seu Diário em 15 de novembro ) dade. O pai de Maquiavel, Bernardo, que ganhava a vida de 1481 , quando orgulhosamente anuncia que "Nicolau I como advogado, era um estudioso entusiasta das huma está agora escrevendo suas próprias composições em la ) ' • l nidades. Mantinha vínculos estreitos com vários acadê tim" - seguindo o método humanista tradicional de ) micos importantes, inclusive Bartolomeo Scala, cujo imitar os melhores modelos do estilo clássico. Final ) panfleto Sobre as Leis e os Julgamentos Legais foi es- mente, parece que - se pudermos confiar na palavra de ) I ) ) ) ) ) 19 18 QUENTIN SKINNER ' O DIPLOMATA t • ) Paolo Giovio - Maquiavel foi enviado para completar refa, a de servir os Dez da Guerra, o comitê responsável ) pelas relações estrangeiras e diplomáticas da república. sua educação na Universidade de Florença. Giovio afir ) ma em suas Máximas que Maquiavel "recebeu a melhor Isto significava que, além de realizar seu trabalho de ro ) tina na chancelaria, ele poderia ser chamado para viajar parte de sua educação clássica de Marcello Adriani; e • Adriani, como já vimos, ocupava uma cátedra na univer • ao exterior a serviço dos Dez, a tu ando como secretário de ) I I t• seus embaixadores e ajudando na tarefa de enviar a Flo sidade há vários anos antes de ser nomeado para a pri ) rença informações pormenorizadas sobre os negócios es- meira chancelaria. ) Esta formação humanista parece ser a chave para trangeiros. Sua primeira oportunidade de tomar parte em uma explicar por que Maquiavel subitamente recebeu seu ) missão desse tipo surgiu em julho de 1500, quando ele e cargo no governo, no verão de 1498. Adriani havia assu ) Francesco della Casa foram incumbidos de "seguir com mido seu posto como primeiro chanceler no início do ) toda a pressa possível" para a corte de Luís XII da mesmo ano, e parece plausível supor que se lembrasse França (L 70). A decisão de enviar esta embaixada de dos talentos de Maquiavel nas humanidades e decidisse ) corria das dificuldades que Florença vinha enfrentando recompensá-lo ao preencher na chancelaria as vagas re ) na guerra contra Pisa. Os pisanos haviam-se rebelado em sultantes da mudança do regime. Ê provável, portanto, ) 1496 e nos quatro anos seguintes, conseguiram resistir a que tenha sido graças à proteção .de Adriani - junta todas ~s tentativas de esmagar sua luta pela independên mente, talvez, com a influência dos amigos humanistas ) cia. No entanto, em princípios de 1500, os franceses con de Bernardo . - que Maquiavel se viu lançado em sua • ) cordaram em ajudar os florentinos a retomar a cidade e carreira pública no novo governo anti-Savonarola . • ) enviaram tropoas para sitiá-la. Mas também isto resultou em desastre: os mercenários gascões contratados por Flo ) rença desertaram, os auxiliares suíços amotin~ram-s.e ) por falta de pagamento, e o assalto teve de ser tgnomt- ) niosamente cancelado. As instruções de Maquiavel eram "para confirmar ) que não foi devido a qualquer falha de nossa parte que As missões diplomáticas ) este empreendimento não produziu nenhum re~ultado" ) e, ao mesmo tempo, "transmitir a impressão", se possí vel, de que o comandante francês agira "de modo cor A posição oficial de Maquiavel envolvia-o em dois ) rupto e covarde" (L 72, 74). Contudo, como ele e della tipos de obrigações. Criada em·1437, a segunda chance \ J Casa descobriram em sua primeira audiência com Luís ·Iaria lidava principalmente com a correspondência rela- .. ) XII o rei não estava muito interessado nas desculpas de tiva à administração dos próprios territ6rios de Florença. . . ' l Florença por seus fracassos passados. Ao contra; no, que- Mas, como chefe dessa seção, MaquÍavel também se ) I ria saber que ajuda poderia esperar no futuro. de um go colocava .entre os seis secretários do primeiro chanceler, I ) • • e, nesta condição, foi logo designado para uma outra ta- verno tão visivelmente mal dirigido. Este encontro deu o ) • • ) i ) • ) ) ) ) • 20 QUENTIN SKINNER 21 O DIPLOMATA ) ) tom para o conjunto de suas discussões posteriores com segurança que vossas excelências poderíeis trazer para as Luís XII e seus principais conselheiros, Robertet e o arce possessões mantidas por sua majestade na Itália", des ) bispo de Rouen. O resultado foi que, embora Maquiavel cobriu que "tudo isso era supérfluo", pois os franceses ) permanecesse na corte francesa por quase seis meses, a simplesmente riram dele. A dolorosa verdade, confessa ) visita ensinou-lhe menos sobre a política dos franceses do ele, é que " eles vos chamam de Senhores Nada" (L 126 I que sobre a situação cada vez mais equívoca das cidades ) e n .) . . . . , estado italianas. Maquiavel levou profundamente a seno a pnme1ra ) A primeira lição que aprendeu foi que, para qual dessas lições . Seus escritos políticos da maturidade estão ) quer pessoa versada nos procedimentos das monarquias cheios de advertências sobre a loucura de se entregar à ) modernas, a máquina governan1ental de Florença pare rotelação, o perigo de parecer a necessidade J.rr~~luto, cia absurdamente vacilante e fraca. Em fins de julho, de agir de modo rápido e destemido, tanto na guerra ) . , tornou-se óbvio que a signoria, o conselho dirigente da quanto na política . M as pareceu-lhe claramente lmpossl- ) cidade, precisaria enviar uma outra en1baixada para vel aceitar a outra implicação, de que poderia não haver J renegociar os termos da aliança com a França. Durante um futuro para as cidades-estado italianas. Continuou a • todo o mês de agosto e setembro, Maquiavel ficou espe teorizar sobre sua organização militar e política, par ) rando notícias para saber se os novos embaixadores ha tindo do pressuposto de que elas ainda eram genuina ) viam saído de Florença, e continuou assegurando ao mente capazes de recuperar e manter sua independência, ' I • ) arcebispo de Rouen que os esperava a qualquer mo etnbora o período em que viveu assistisse à sua subordi mento. Em meados de outubro, quando ainda não havia nação final e inexorável às forças imensamente superio l ) I I nenhum sinal de sua chegada, o arcebispo começou a res .da França,. .A lêmanha e Espanha. • • ' ) I ' tratar essas contínuas evasivas com evidente desprezo. A missão na França terminou em dezembro de I ) Como relatou Maquiavel com óbvio pesar, ele " replicou 1500, e ·M aquiavel apressou-se a retornar a Florença o com exatas palav.ras", quando assegurado de que a mais rapidamente possível. Enquanto estava fora, sua ) e~tas missão prometida estava por fim a caminho: " é verdade innã falecera , seu pai já havia falecido pouco antes de ) que isto é o que o senhor diz mas, antes que embai sua partida e, em conseqüência (como reclamava à signo ess~s ) xadores cheguem, estaremos todos mortos" (L 168). De ria), os negócios de sua família se encontravam em um modo ainda mais humilhante, Maquiavel descobriu que estado de absoluta desordem" (L 184). Houve também ) • 9 sentimento da própria importância que nutria sua ci alguma preocupação com relação ao seu emprego, po1s ) dade natal parecia aos franceses ridiculamente despro seu assistente Agostino Vespucci entrara em contato com } porcional à realidade de sua posição militar e de sua ri ele no final de outubro para informá-lo de que, segundo i queza. Os franceses, tinha ele que comunicar à signoria, boatos correntes, "a menos que volte, perderá comple ) "somente dão ' Valor àqueles que são bem armados ou tatnente seu lugar na chancelaria" (C 60). Além disso, ) estão dispostos a pagar", e haviam acabado por acre pouco depois desse episódio, Maquiavel passou a ter ) ditar que "ambas estas qualidades estão faltando em ainda outra razão para não querer se afastar de Flo vosso caso". Embora tentasse fazer um discurso "sobre a , rença : Marietta Corsini, que passou a cortejar, e com ) ) ' ) ) )

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