OBRAS ESCOLHIDAS DE MAO TSETUNG Tomo IV EDIÇÕES EM LÍNGUAS ESTRANGEIRAS PEQUIM 1976 Primeira edição 1975 Segunda edição 1976 PERÍODO DA TERCEIRA GUERRA CIVIL REVOLUCIONÁRIA A presente tradução está conforme à edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo IV (Edições do Povo, Pequim, Setembro de 1960). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras. Impresso na República Popular da China A. SITUAÇÃO E A NOSSA POLITICA APÓS A VITÓRIA NA GUERRA DE RESISTÊNCIA CONTRA O JAPÃO* (13 de Agosto de 1945) Os dias que correm são dias de grandes mudanças na situação do Extremo Oriente. A capitulação do impe- rialismo japonês é actualmente coisa certa. O factor decisivo da capitulação japonesa é a entrada da União Soviética na guerra. Um milhão de soldados do Exército Vermelho estão entrando no Nordeste da China; esta força é irresistível. O imperialismo japonês não pode mais continuar o combate1. A dura e rude Guerra de Resistência do povo chinês acaba de coroar-se com a vitória. Como etapa histórica, a Guerra de Resistência contra o Japão terminou. Em tais circunstâncias, quais são actualmente as relações entre as diferentes classes na China e quais _____ * Discurso pronunciado pelo camarada Mao Tsetung numa re- união de quadros em Ien-an. Baseado no método marxista-lenini- sta de análise de classes, o discurso constitui um estudo penetrante da situação política fundamental da China depois da vitória na Guerra de Resistência contra o Japão e formula as tácticas revolu- cionárias do proletariado. Tal como o camarada Mao Tsetung havia indicado no seu as relações entre o Kuomintang e o Partido Comunista? sabem, Tchiang Kai-chek, o representante político dos Como se apresentarão no futuro? Qual é a política do grandes senhores de terras e da grande burguesia na nosso Partido? Tudo isto são questões que interessam China, é um indivíduo extremamente brutal e traiçoeiro. grandemente o povo da totalidade do país e todos os A sua política consistiu em observar de braços cruza- camaradas do nosso Partido. O que se passa com o Kuo- dos, esperar pela vitória, conservar as suas forças e pre- mintang? Olhem para o seu passado, logo poderão falar parar-se para a guerra civil. De facto, a vitória por que sobre o seu presente; olhem para o que foi e o que é, logo esperava chegou, e, agora, o “generalíssimo” prepara-se poderão falar sobre o seu futuro. No passado, este par- para “descer da montanha”3. Nos últimos oito anos, nós tido realizou uma guerra civil contra-revolucionária de trocámos de lugar com Tchiang Kai-chek: antes, nós es- dez anos. Durante a Guerra de Resistência, desencadeou távamos na montanha e ele à beira da água4; durante a três campanhas anticomunistas de grande envergadura2, Guerra de Resistência, nós estávamos por trás das linhas em 1940, 1941 e 1943, esforçando-se sempre por trans- inimigas e ele tinha-se retirado para a montanha. Agora, formar cada uma delas em guerra civil à escala nacional. ele está a descer da montanha, a descer para apo-derar- Foi unicamente devido à justa política do nosso Partido se dos frutos da vitória. e à oposição da totalidade do povo que essas tentativas Nos últimos oito anos, o povo e o exército das nossas falharam. Como todos regiões libertadas, sem qualquer ajuda exterior e apoian- _____ _____ discurso de abertura do VII Congresso do Partido Comunista da resolutamente os frutos da luta do povo e esforçar-se por edificar China, em Abril de 1945, a China, após ter vencido o imperialismo uma China nova, uma China de democracia nova das grandes japonês, encontrava-se ainda ante dois destinos, duas perspectivas massas populares, dirigidas pelo proletariado. A luta decisiva entre de futuro: ou tornar-se uma China nova ou permanecer a velha os dois destinos, entre os dois futuros que se abriam à China, con- China. Os grandes senhores de terras e a grande burguesia, rep- stitui o conteúdo do período histórico compreendido entre o fim resentados por Tchiang Kai--chek, queriam arrancar das mãos da Guerra de Resistência contra o Japão e a fun-dação da República do povo os frutos da vitória alcançada na Guerra de Resistência e Popular da China, isto é, o período histórico da Guerra de Lib- manter a China como país semicolonial e semifeudal, submetido ertação do povo chinês ou Terceira Guerra Civil Revolucionária. à sua ditadura. O Partido Comunista da China, representando os Depois da Guerra de Resistência, Tchiang Kai-chek, ajudado pelo interesses do proletariado e das massas populares, lutava com todas imperialismo norte-americano, violou repetidas vezes os acor- as suas forças pela paz e contra a guerra civil; mas, por outro lado, dos de paz e desencadeou uma guerra civil contra-revolucionária tinha de preparar-se eficazmente contra as maquinações contra- duma amplidão sem precedentes, no intento de liquidar as forças revolucionárias de Tchiang Kai-chek que visavam o desencadea- populares. Graças à justa direcção do Partido Comunista da China, mento da guerra civil à escala nacional, e tinha de adoptar uma bastaram apenas quatro anos de luta para que o povo chinês al- política justa, quer dizer, não alimentar ilusões sobre o imperial- cançasse uma grande vitória à escala nacional — a derrocada de ismo e a reacção, não lhes recear as ameaças, salvaguardar Tchiang Kai-chek e a fundação duma China nova. do-se exclusivamente nos seus próprios esforços, liber- novamente a proteger Tchiang Kai-chek. A guerra está taram vastas extensões do país e resistiram à maior parte agora a acabar numa vitória, o Japão está a capitular, mas das forças de invasão japonesas e à totalidade, pratica- Tchiang Kai-chek de modo nenhum se sente reconheci- mente, das tropas fantoches, e repeliram-nas. Só graças do ao povo; pelo contrário, folheando os velhos registos à nossa resistência decidida e à nossa luta heróica pud- de 1927, ele tenta agir segundo a mesma velha via. Ele eram os duzentos milhões de habitantes da grande re- diz que nunca houve “guerra civil” na China, mas apenas taguarda5 escapar à violência da bota agressora nipónica uma simples “exterminação dos bandidos”. Chame a isso e as regiões habitadas por estes duzentos milhões ser o que quiser chamar, o facto é que ele pretende desen- preservadas da ocupação japonesa. Tchiang Kai-chek cadear uma guerra civil anti-povo, pretende massacrar escondeu-se na montanha Omei, com guardas avança- o povo. das, guardas essas que eram as regiões libertadas, o povo Enquanto não se generalizar a guerra civil por todo o e o exército dessas regiões. Ao defendermos os duzentos país, muita gente do povo e muitos camaradas do nosso milhões de habitantes da grande retaguarda, nós prote- Partido não hão-de ter ideias nítidas sobre o assunto. gemos esse “generalíssimo” e demos--lhe o tempo e o Como a guerra civil ainda não se alastrou em grande espaço necessários para manter-se na expectativa, esper- escala, como ainda não se generalizou nem se faz aber- ando pela vitória de braços cruzados. Tempo: oito anos tamente, e os combates não são numerosos, muita gente e um mês. Espaço: uma região habitada por duzentos pensa que “no fim de contas, talvez não rebente nenhu- milhões de pessoas. Fomos nós quem lhe proporcionou ma guerra civil!”. Mas muitos há que receiam a guerra tais condições. A não ser graças a nós, ser-lhe-ia impos- civil. E o seu receio não deixa de ter fundamento. Houve sível manter--se como observador. E, porventura, es- dez anos de combates, e logo a seguir outros oito anos tará o “generalíssimo” reconhecido? Não, ele não! Este de Guerra de Resistência; se os combates continuam, homem nunca soube o que é estar reconhecido. Como onde irá tudo acabar? É muito natural que surjam tais é que Tchiang Kai-chek se guindou ao poder? Graças à receios. No que diz respeito às maquinações de Tchiang Expedição do Norte, graças à primeira cooperação en- Kai-chek para desencadear a guerra civil, a política do tre o Kuomintang e o Partido Comunista, ao apoio do nosso Partido tem sido clara e consequente: opor-se povo que o não tinha ainda percebido. E, uma vez no resolutamente à guerra civil, condená-la e evitá-la. E, poder, longe de estar grato ao povo, Tchiang Kai-chek nos dias que virão, continuaremos, com o máximo de estendeu-o por terra com um soco e mer-gulhou-o num esforços e de paciência, a guiar o povo na prevenção da banho de sangue de dez anos de guerra civil. É-vos bem guerra civil. Contudo, é preciso estar bem consciente de conhecido esse capítulo da História, camaradas. Des- que o perigo da guerra civil é extrema-mente grave, pois ta vez, na Guerra de Resistência, o povo chinês voltou a política de Tchiang Kai-chek já está traçada. A política de Tchiang Kai-chek é a guer- Central do Partido pôs em evidência o perigo de guerra ra civil. A nossa política, a política do povo, é contra a civil, de maneira a que todo o povo, todos os camaradas guerra civil. Os únicos adversários da guerra civil são o do Partido e o exército dirigido por este estejam pre- Partido Comunista da China e o povo chinês; lamenta- parados. mos que Tchiang Kai-chek e o Kuomintang não estejam Tchiang Kai-chek procura sempre arrebatar ao povo aí incluídos! Portanto, uma das partes não quer bater-se, toda e qualquer fracçãozinha de poder, o mais pequeno mas a outra sim. Se as duas partes não quisessem bater- benefício conquistado. E nós? A nossa política consiste se, não haveria guerra. Mas, como só uma das partes é em responder-lhe taco a taco e em batermo-nos por contra a guerra e não é ainda suficientemente forte para cada polegada de terreno. Agimos tal como ele. Tchiang bloquear a outra, o perigo de guerra civil apresenta-se Kai-chek procura sistematicamente impor a guerra ao extremamente grave. povo, uma espada na mão esquerda e outra na mão di- O nosso Partido já mostrou, na devida altura, que Tchi- reita. Seguindo o seu exemplo, nós empunhamos igual- ang Kai-chek se obstinaria na sua política reaccionária mente as espadas. Nós só descobrimos esse método após de ditadura e de guerra civil. Antes, durante e após o investigação e estudo. Essa investigação e esse estudo VII Congresso do Partido, fizemos todos os esforços são muito importantes. Sempre que vemos um homem necessários para chamar a atenção do povo sobre o peri- empunhando algo, devemos investigar. O que é que ele go da guerra civil, a fim de que todo o povo, os membros segura nas mãos? Espadas. Para que servem as espadas? do nosso Partido e o nosso exército estivessem mental- Para matar. Quem quer ele matar com as suas espadas? O mente preparados com bastante antecedência. Esse é um povo. Uma vez tudo esclarecido, há que investigar ainda ponto muito importante, e há um mundo de diferença mais: o povo chinês também tem mãos, pode pegar em entre estar ou não estar mentalmente preparado. Em espadas, e, se não as tem, pode forjá-las. O povo chinês 1927, o nosso Partido encontrava-se ainda na sua infân- descobriu esta verdade depois de longa investigação e cia e não estava de modo algum preparado mentalmente estudo. Os caudilhos militares, os senhores de terras, os para enfrentar o ataque contra-revolucionário, lançado déspotas locais, os maus nobres e os imperialistas, todos de surpresa por Tchiang Kai-chek. Assim, perderam-se empunham espadas e estão dispostos a matar. O povo em pouco tempo os frutos da vitória conquistados pelo compreendeu isso e, por consequência, age da mesma povo, este teve de suportar longos sofrimentos e a China maneira. Alguns de nós descuram muitas vezes essa radiosa foi mergulhada nas trevas. Desta vez, as coisas investigação e esse estudo. Tchen Tu-siu, por exemplo, são diferentes; o nosso Partido ganhou a rica experiên- não compreendeu que se podia matar com espadas. Al cia de três revoluções e adquiriu um grau de maturidade guns dizem: isso é uma verdade banal; como pode um política muito mais elevado. Já muitas vezes o Comité dirigente do Partido Comunista ignorá-la? É inexplicável. Tchen Tu-siu nunca fez investigações E, como Tchiang Kai-chek neste momento afia as suas nem estudos e por isso não compreendeu o problema, espadas, devemos igualmente afiar as nossas. daí que lhe chamássemos oportunista. Quem não fez Os direitos conquistados pelo povo jamais devem ser investigações nem estudos não tem direito à palavra, abandonados de ânimo leve; pelo contrário, devem ser portanto privámos Tchen Tu-siu desse direito. Nós es- defendidos com luta. Nós não queremos a guerra civil. colhemos uma via diferente da de Tchen Tu-siu e ha- Mas, se Tchiang Kai-chek insiste em impor uma guerra bilitámos o povo, oprimido e massacrado, a empunhar civil ao povo chinês, a única coisa que poderemos fazer espadas. Se de novo alguém tentar matar--nos, agiremos será pegar em armas e combatê--lo em legítima defesa, como ele. Ainda não há muito tempo, o Kuomintang para proteger a vida, os bens, os direitos e o bem-estar enviou seis divisões para um ataque à nossa sub-região do povo das regiões libertadas. Será uma guerra civil que de Quantchum; três delas penetraram aí e ocuparam ele nos terá imposto. E, se não conquistarmos a vitória, uma superfície de vinte por cem lis. Nós actuámos à sua não culparemos o céu nem a terra, mas simplesmente maneira e aniquilámo-las integral, radical e totalmente a nós mesmos. E que ninguém pense que o povo pode nessa superfície de vinte por cem lis6. A nossa política ser facilmente despojado ou defraudado dos direitos que é responder taco a taco e bater-nos por cada palmo de conquistou; isso não é possível. No ano passado, um cor- terra; nunca permitiremos que o Kuomintang se apo- respondente norte-americano perguntou-me: “Quem dere tranquilamente do nosso solo e mate a nossa gente. vos deu o poder de agir?” Eu respondi-lhe: “O povo”. Evidentemente que lutar por cada polegada de terreno Quem mais, realmente, senão o povo? O Kuomintang, não significa adoptar a velha linha “esquerdista” de “não que governa, não nos deu qualquer poder. Ele não nos abandonar uma só polegada de terreno nas bases de reconhece. É com o título de “organização cultural” que apoio”. Desta vez, abandonámos uma superfície de vinte nós participamos no Conselho Político Nacional8, se- por cem lis. Abandonada por volta dos fins de Julho, ela gundo o estipulado no seu regulamento. Mas nós não foi retomada nos princípios de Agosto. Após o Incidente somos uma “organização cultural”, dizemos, temos um do Sul de Anghuei, o oficial de ligação do Kuomintang exército e somos uma “organização militar”. Em i de perguntou-me um dia o que pensávamos fazer. Eu re- Março deste ano, Tchiang Kai-chek declarou que o Par- spondi-lhe: “Você passa todo o seu tempo em Ien-an e tido Comunista só poderia obter estatuto legal no caso ainda não sabe? ‘Se Ho nos ataca, nós atacamos. Se Ho de entregar o seu exército. E a declaração de Tchiang pára, nós paramos’ “7. Nessa altura, Tchiang Kai-chek Kai--chek continua de pé. Ora, nós não abandonámos o não foi mencionado, mas apenas Ho In-tchin. Hoje, nós nosso exército, razão por que não temos estatuto legal e dizemos: “Se Tchiang nos ataca, nós atacamos. Se Tchi- “desafiamos as leis humanas c divinas”. O nosso dever é ang pára, nós paramos”. Agiremos tal como ele. sermos responsáveis perante o povo. Cada uma das nossas palavras, cada um dos nossos actos e de água, não tens, portanto, o direito de colher os pêsse- cada uma das nossas medidas políticas devem con-for- gos. Nós, povo das regiões libertadas, regámos a árvore mar-se aos interesses do povo, e, se se cometem erros, dia a dia, nós temos todo o direito de colher os frutos”. há que corrigi-los — eis o que significa ser responsável Camaradas! A vitória da Guerra de Resistência foi alcan- perante o povo. Camaradas! O povo quer a libertação çada pelo povo à custa de sangue e sacrifícios, ela deve e, por isso, entrega o poder àqueles que são capazes de ser uma vitória do povo e é para o povo que deverão representá-lo e de trabalhar lealmente para ele, quer ir os frutos da Guerra de Resistência. Tchiang Kai-chek dizer, a nós, comunistas. Como representantes do povo, mostrou-se passivo na resistência ao Japão, mas activo temos de representá-lo bem e não agir como Tchen Tu- no anticomunismo. Ele foi a barreira nessa Guerra de siu. Perante os ataques contra-revolucionários lançados Resistência do povo. Agora, essa barreira adianta-se contra o povo, Tchen Tu-siu não adoptou a política de para açambarcar os frutos da vitória, quer que a China, responder taco a taco e bater-se por cada polegada de depois da vitória, regresse à sua velha situação de pré- terreno; como resultado, em 1927, no espaço de alguns guerra e não quer admitir a mínima mudança. Isto gera meses, o povo perdeu todos os direitos que havia con- a luta. E, camaradas, trata-se duma luta muito séria. quistado. Desta vez devemos estar preparados. A nossa Que os frutos da vitória na Guerra de Resistência de- política é absolutamente diferente da de Tchen Tu-siu; vem ir para o povo, é uma coisa; que quem os irá colher ne-nhuma trapaça poderá confundir-nos. Devemos será ou não o povo, é outra coisa. Não pensem que todos manter a cabeça lúcida e ter uma política justa; não de- os frutos da vitória hão-de fatalmente cair nas mãos do vemos cometer erros. povo. Tchiang Kai-chek há-de surripiar uma boa quanti- A quem devem pertencer os frutos da vitória da Guerra dade de grandes pêssegos, como Xangai, Nanquim, de Resistência? A resposta é muito clara. Tome-se, como Handjou e outras grandes cidades. Ele age de conivência exemplo, um pessegueiro. A árvore dá os pêssegos, que com o imperialismo norte-ameri-cano, e nestas regiões representam os frutos da vitória. Quem terá o direito de eles estão na mó de cima, enquanto que o povo revolu- colher os pêssegos? Pergunte--se quem plantou e regou cionário pode apenas ocupar, em geral, os campos. Há a árvore. Escondido na montanha, Tchiang Kai-chek ainda um outro lote de pêssegos que será disputado pe- não carregou um só balde de água, mas estica todo o seu las duas partes. Trata--se das cidades, médias e peque- braço para colher os pêssegos. “Eu, Tchiang Kai-chek, nas, situadas ao longo do sector da linha ferroviária sou o dono destes pêssegos”, diz ele, “sou o proprietário Tatom-Pudjou, a norte da cidade de Tai-iuan; no sector da terra, vocês são os meus servos, eu não autorizo que médio da linha ferroviária Pepim-Sui-iuan; ao longo da colham nem um só pêssego”. Já o rebatemos na impren- linha ferro-viária Pepim-Liaonim; ao longo do sector da são. Dissemos: “Tu nunca carregaste um balde linha ferroviária Pepim-Hancou, a norte da cidade de Tchendjou; ao longo das linhas ferroviárias Tchen-tim- luta, alcançar tão grandes vitórias e esmagar tão grandes Tai-iuan, Paicuei-Tzintchem10, Tedjou-Chequia-tch- campanhas de “cerco e aniquilamento”. Posteriormente uam, Tientsim-Pucou, Tsintao-Tsinan; e ao longo do fomos derrotados, facto cuja responsabilidade devemos sector da linha ferroviária de Lom-hai, a leste da cidade imputar a nós mesmos, por não termos combatido bem, de Tchendjou. Essas cidades médias e pequenas têm de e não a Tchiang Kai-chek. Desta vez, se juntarmos deze- ser disputadas; elas são os pêssegos grandes e peque- nas de grandes e pequenas cidades em uma única região, nos que foram regados com o sangue e o suor do povo e se se formarem três, quatro, cinco ou seis regiões dessa das regiões libertadas. Neste momento é difícil dizer se grandeza, o povo chinês disporá de três, quatro, cinco ou tais zonas cairão nas mãos do povo. Só duas palavras seis bases revolucionárias, maiores que a base de apoio podemos dizer agora: lutar duro. E haverá zonas que central da província de Quiansi, e a situação será bem de certeza cairão nas mãos do povo? Sim, haverá. Serão prometedora para a revolução chinesa. as grandes regiões rurais e as numerosas cidades das Se consideramos a situação no seu conjunto, a etapa da províncias de Hopei, Tchahar e Jehol11, da maior parte Guerra de Resistência contra o Japão está terminada; a do Xansi, do Xantum e do norte do Quiansu, com al- nova situação e a nova tarefa é a luta interna. Tchiang deias ligadas entre si e cerca de uma centena de cidades Kai-chek fala de “construção nacional”. Daqui para di- numa região, setenta a oitenta noutra, quarenta a cin- ante, a luta será determinar que tipo de país se deve edi- quenta numa terceira —no total três, quatro, cinco ou ficar. Construir um país de democracia nova das grandes seis regiões deste género, grandes e pequenas. E que tipo massas populares, sob a direcção do proletariado, ou um de cidades são? Médias e pequenas. Nós estamos seguros país semi-colonial e semifeudal, submetido à ditadura quanto a elas, temos a força necessária para colher estes dos grandes senhores de terras e da grande burguesia? frutos da vitória. Será a primeira vez, na história da rev- Será uma luta bastante complexa. Actualmente, esta luta olução chinesa, que conseguiremos uma tal porção de toma a forma de combate entre Tchiang Kai--chek, que frutos. Historicamente, só depois de termos esmagado procura usurpar os frutos da vitória da Guerra de Re- a terceira campanha inimiga de “cerco e aniquilamento” sistência, e nós, que nos opomos a essa usurpação. No na última metade de 1931, é que conseguimos controlar decurso deste período, o oportunismo consiste em não um conjunto de vinte e uma capitais de distrito12 na lutar duramente e oferecer a Tchiang Kai-chek os frutos base de apoio central do Quiansi, mas entre elas não que devem caber ao povo. havia qualquer cidade média. Com essas vinte e uma Poderá rebentar uma guerra civil aberta e geral? Isto de- pequenas cidades, ligadas entre si, a população atingiu, pende dos factores internos e internacionais. Os factores no máximo, os dois milhões e meio de habitantes. Apoi- internos consistem, antes de tudo, na nossa força e no ando-se nisso, o povo chinês pôde prosseguir tão longa grau da nossa consciência política. Considerando a tendência geral da situação no exterior povo. Mas, no seio do povo, muito particularmente en- e no interior do país e os sentimentos do povo, será pos- tre a população das regiões ocupadas pelos japoneses ou sível, com as nossas próprias lutas, localizar a guerra controladas pelo Kuomintang, ainda há muita gente que civil ou retardar a eclosão duma guerra civil à escala na- continua a depositar confiança em Tchiang Kai-chek e cional? Sim, esta possibilidade existe. mantém ilusões acerca do Kuomintang e dos Estados Se Tchiang Kai-chek tentar desencadear uma guerra civ- Unidos, ilusões que Tchiang Kai-chek se esforça, aliás, il, há-de encontrar numerosas dificuldades. Em primei- por generalizar. O facto de um sector do povo chinês ro lugar, nas regiões libertadas há cem milhões de habit- não estar ainda politicamente consciente, mostra que antes, um milhão de soldados e mais de dois milhões de muito nos falta fazer no nosso trabalho de propaganda milicianos do povo. Segundo, as pessoas politicamente e organização. O despertar político do povo não é fácil. conscientes, que se encontram nas regiões controladas Para desembaraçar o povo das suas ideias erradas, é-nos pelo Kuomintang, são contra a guerra civil, o que consti- necessário um esforço sério e considerável. Devemos tui uma certa forma de en-trave para Tchiang Kai-chek. varrer o que há de atrasado na mente do povo chinês, da Terceiro, no seio do Kuomintang há um sector que não mesma maneira que varremos o chão dos nossos quar- é pela guerra civil. A situação actual difere considerav- tos. Sem ser varrida, a poeira nunca desaparecerá por si elmente da de 1927. O nosso Partido, especialmente, mesma. Devemos fazer um grande trabalho de propa- encontra-se hoje em condições bem diferentes das de ganda e educação entre as massas populares, de modo 1927. Naquela altura, o nosso Partido estava ainda na que compreendam a situação real e a marcha dos acon- sua infância, faltava-lhe lucidez e experiência quanto à tecimentos na China e confiem nas suas próprias forças. luta armada e não conhecia a política de responder taco É a nós que cabe organizar o povo. É a nós que cabe or- a taco. Hoje, o nível de consciência política no nosso ganizar o povo para abater os reaccionários na China. Partido é muito mais elevado. Tudo o que é reaccionário é assim: enquanto não o Além do aspecto da nossa própria consciência políti- golpeamos, não cai. É como quando se varre o chão; em ca, a consciência política da vanguarda do proletari- princípio, onde a vassoura não passa, a poeira não desa- ado, existe ainda a questão da consciência política das parece por si mesma. A sul da região fronteiriça Xensi- massas populares. Quando o povo não está ainda po- Cansu-Ninsia, há um rio chamado Tchietse. A sul do rio liticamente consciente, é muito possível que os frutos encontra-se o distrito de Luotchuan e, a norte, o distrito da revolução passem para outras mãos. Isto aconteceu de Fucien. O norte e o sul do rio são dois mundos distin- já no passado. Mas hoje a consciência política do povo tos. O sul está controlado pelo Kuomintang e, como nós chinês atingiu igualmente um nível muito mais elevado. ainda lá não chegámos, o povo está sem organização e o Nunca foi tão alto o prestígio do nosso Partido entre o lixo acumula-se. Alguns dos nossos camaradas