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Mao Tsé-Tung - Obras Escolhidas I PDF

298 Pages·1979·1.099 MB·Portuguese
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OBRAS ESCOLHIDAS DE MAO TSETUNG Tomo I EDIÇÕES EM LÍNGUAS ESTRANGEIRAS PEQUIM 1975 Primeira edição 1969 Terceira edição 1975 NOTA DE PUBLICAÇÃO A presente selecção inclui vários artigos importantes do camarada Mao Tsetung, redigidos nos distintos pe- A presente tradução está conforme à nova edição ríodos da revolução chinesa. Há já alguns anos que, das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo em muitos pontos do país, se vinham multiplicando I (Edições do Povo, Pequim, Julho de 1952). as edições das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, mas Nas notas introduziram-se alterações, para atender nenhuma tinha sido revista pelo autor, os artigos não as necessidades de edição em línguas estrangeiras. obedeciam a uma ordenação justa, registaram-se erros de transcrição e certos textos importantes não ficaram incluídos. Na presente edição, os textos estão em ordem cronológica e segundo os períodos históricos que se seguiram à fundação do Partido Comunista da China. Na medida do possível, a selecção recolhe as obras de maior importância não publicadas nas edições anteri- ores, nos vários pontos do país. Todos os textos foram examinados pelo autor, que introduziu certas cor- recções de estilo, em alguns artigos, e acrescentamen- tos e correcções de conteúdo neste ou naquele trecho. Alguns esclarecimentos relativos à presente edição: 1. A selecção não está dc todo completa — a cama- rilha reaccionária do Kuomintang destruiu muitos dos documentos revolucionários, e outros per-de- ram-se ao longo dos muitos anos de guerra, razão por que não é actualmente possível dispor da totali- Impresso na República Popular da China dade dos escritos do camarada Mao Tsetung, sobre tudo inúmeras cartas e telegramas, que representam uma boa parte da sua obra. 2. De acordo com uma proposta do próprid autor, algu- mas das obras divulgadas no passado, por exemplo, In- vestigação no Campo, não foram integradas rsa presente selecção, e, do artigo intitulado Questões Económicas e Financeiras, só foi transcrito o primeiro capítulo, “Bal- PERÍODO DA PRIMEIRA anço Geral do Nosso Trabalho”. 3. Os textos estão acompanhados de notas, umas GUERRA CIVIL REVOLUCIONARIA relativas ao título, insertas a baixo da primeira página de cada artigo, e outras, de carácter político ou técnico, no final de cada artigo. 4. A selecção publica-se em duas edições — uma em tomo único e outra em quatro tomos. Na edição em qua- tro tomos o material está assim disposto: no primeiro tomo, as obras escritas durante a Primeira e a Segunda Guerra Civil Revolucionária; no segundo e terceiro, as escritas no período da Guerra de Resistência contra o Japão, e, no quarto, as relativas à Terceira Guerra Civil Revolucionária. Comissão do Comité Central do Partido Comunista da China para a Edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung 25 de Agosto de 1951 ANÁLISE DAS CLASSES NA SOCIEDADE CHINESA* (Março de 1926) Quem são os nossos inimigos? Quem são os nossos ami- gos? Esse problema é de importância primordial para a revolução. A razão básica por que as anteriores lutas rev- olucionárias na China obtiveram tão fracos resultados está no facto de não se ter sabido fazer a união com os verdadeiros amigos para atacar os verdadeiros inimigos. O partido revolucionário é o guia das massas, não po- dendo portanto a revolução alcançar a vitória se este as conduz por uma via errada. Para não dirigirmos as mas- sas pela falsa via, para estarmos seguros de alcançar de- finitivamente a vitória na revolução, devemos prestar at- enção à unidade com os nossos verdadeiros amigos para ______ * Artigo escrito pelo camarada Mao Tsetung para combater dois ti- pos de desvios que então se registavam no Partido. Os partidários do primeiro tipo, representados por Tchen Tu-siu, interessavarn-se ap- enas pela colaboração com o Kuomintang e esqueciam os campone- ses. Era o oportunismo de direita. Os partidários do segundo tipo, representados por Tcham Cuo-tao, dispensavam toda a sua atenção ao movimento operário e esqueciam igualmente os camponeses. Era atacar os nossos verdadeiros inimigos. Para distinguir os res de terras e à classe dos grandes compradores, verdadeiros amigos dos verdadeiros inimigos, impõe-se os quais estão invariavelmente ao lado do im- proceder a uma análise geral da situação económica das perialismo e constituem a força contra-revolu- distintas classes da sociedade chinesa, bem como da ati- cionária extrema. Os seus representantes políticos tude que estas tomam frente à revolução. são os estadistas1 e a ala direita do Kuomintang. Qual é pois a situação das diferentes classes na so- A média burguesia. Essa classe representa as relações ciedade chinesa? capitalistas de produção nas cidades e nas zonas rurais A classe dos senhores de terras e a burguesia com- da China. Por média burguesia entende-se, sobretudo, pradora. Na China, país economicamente atrasado a burguesia nacional. A sua atitude com respeito à rev- e semi-colonial, a classe dos senhores de terras e a olução chinesa é contraditória: quando sente com dor os burguesia compradora são uns vassalos perfeitos da golpes que lhe vibra o capital estrangeiro, assim como o burguesia internacional; a sua existência e desen- jugo que lhe é imposto pelos caudilhos militares, cia en- volvimento dependem do imperialismo. Tais classes tende a necessidade da revolução e aprova o movimento representam as relações de produção mais atrasa- revolucionário dirigido contra o imperialismo c os tais das e mais reaccionárias, e constituem um obstáculo caudilhos; mas assim que o proletariado do nosso país ao desenvolvimento das forças produtivas na China. se lança duma maneira ousada e vigorosa na revolução, A sua existência é de todo incompatível com os ob- assim que o proletariado internacional começa a prestar jectivos da revolução chinesa. Isso é particularmente à revolução uma ajuda activa a partir do exterior, logo verdadeiro com respeito à classe dos grandes senho- que a média burguesia começa a sentir que a realização _____ do seu sonho mais caro — elevar-se ao nível da grande burguesia — periga, as dúvidas passam a dominá-la o oportunismo de “esquerda”. Os partidários dessas duas correntes relativamente à revolução. A sua plataforma política é oportunistas sentiam bem a insuficiência das forças em luta ao lado a criação dum Estado onde uma classe, a burguesia na- da revolução, mas não sabiam onde ir buscar as forças indispen- cional, deve reinar. Certo indivíduo, que se apresenta sáveis e encontrar um aliado que fosse numeroso. O camarada Mao Tsetung demonstrou então que os mais numerosos e fiéis aliados como um “verdadeiro discí-pulo” de Tai Tsi-tao2, decla- do proletariado chinês eram os camponeses, resolvendo assim o rou no Tchempao3 de Pequim: “Levantem o vosso pun- problema do aliado principal da revolução chinesa. Além disso, o ho esquerdo para abater o imperialismo e o direito para camarada Mao Tsetung esclareceu que a burguesia nacional con- abater o Partido Comunista”. Tais propósitos expressam stituía uma classe hesitante, em cujo seio haveria de produzir-se claramente a posição contraditória da burguesia na- uma cissão logo que se verificasse a expansão da revolução, pas- sando-se a respectiva ala direita para o campo do imperialismo. cional e o receio que a atormenta. Essa classe pronuncia- Os acontecimentos de 1927 forneceram a respectiva confirmação. se contra a interpretação, segundo a teoria da luta de classes, do princípio do bem-estar do povo formulado os pequenos comerciantes. Tanto do ponto de vista do pelo Kuomintang, pronuncia-se contra a realização, por número como do ponto de vista da sua natureza de este, duma aliança com a Rússia e pronVincia-se con- classe, a pequena burguesia merece que se lhe preste tra a admissão de comunistas4 e elementos de esquerda uma séria atenção. Os camponeses--proprietários, como no seio do Kuomintang. Mas a aspiração dessa classe os proprietários de empresas de artesanato, estão em- de criar um Estado onde reine a burguesia nacional é penhados em explorações que se caracterizam pelas di- absolutamente irrealizável, uma vez que a situação in- mensões reduzidas da respectiva produção. Embora os ternacional actual sc caracteriza pelo combate decisivo diferentes sectores da pequena burguesia se encontrem de duas forças gigantescas: a revolução e a contra-rev- todos na situação económica característica da pequena olução. Essas duas forças gigantescas levantaram dois burguesia, eles dividem-se em três grupos. O primeiro grandes estandartes: um, o estandarte da revolução, compõe-se de gente desafogada, noutros termos, pes- a bandeira vermelha, foi levantado pela III Internac- soas que, depois de satisfazerem as necessidades que lhes ional, chamando todas as classes oprimidas do mundo são próprias, dispõem ainda, anualmente, dum certo a unirem-se à sua volta; o outro, o estandarte da con- excedente em dinheiro ou cereais, produto de trabalho tra-revolução, a bandeira branca, foi levantado pela manual ou intelectual. Tais indivíduos aspiram muito Sociedade das Nações, a qual chama todas as forças acen-tuadamente a enriquecer, sendo com o maior zelo contra-revo-lucionárias do mundo a unirem-sc sob essa que se inclinam diante do Marechal Tchao6. Sem sonhar bandeira. Muito em breve, no seio das classes intermédi- com grandes riquezas, aspiram a ascender ao nível da as produzir-se-á inevitavelmente uma cissão: umas irão média burguesia. Em geral, quando pensam nos peque- à esquerda, de encontro à revolução, e outras, à direita, nos ricos com direito a honrarias, babam--se de desejo. de encontro à contra-revolução. Para elas, não haverá Mas são cobardes: têm medo das autoridades, e a rev- qualquer possibilidade de ocuparem uma posição “in- olução inspira-lhes igualmente um certo receio. Muito dependente”. Assim, a concepção da média burguesia próximos, pela situação económica, da média burgue- chinesa, sonhando com uma revolução “independ- sia, são dados a crer na propaganda desta e têm dúvidas ente” cm que assumiria o papel principal, é pura ilusão. quanto à revolução. Esse grupo representa uma minoria A pequena burguesia. Pertencem à pequena burguesia no seio da pequena burguesia, da qual constitui a ala sectores tais como o dos camponeses-proprie-tários5, direita. O segundo grupo compõe-se de pessoas cuja os proprietários de empresas de artesanato, as camadas situação económica permite que satisfaçam, no essen- inferiores dos intelectuais — estudantes, professores de cial, as suas necessidades. Tais indivíduos distinguem-se escolas primárias e secundárias, pequenos funcionári- duma maneira sensível dos do primeiro grupo. Tam- os, pequenos empregados, pequenos advogados — e bém sonham com riquezas, mas o Marechal Tchao não lhas permite de modo algum; aliás, a opressão para ano, engrossando-se-lhes as dívidas e passando a e a exploração a que os submetem o imperialismo, os levar uma existência miserável, “a simples evocação do caudilhos militares, os senhores de terras feucJais e a futuro provoca-lhes calafrios”. Eles sofrem tanto mais grande burguesia compradora, opressão e explora-ção moralmente quanto é certo que ainda conservam uma que recentemente se reforçaram de modo considerável, recordação parti-cularmente viva dos dias melhores, tão obrigaram-nos a compreender que os tempos antigos já diferentes dos actuais. Como são bastante numerosos, se foram. Eles dão-se actualmente conta de que, trabal- a sua importância para o movimento revolucionário hando como antes, correm o risco de não poder con- é grande. É a ala esquerda da pequena burguesia. Em tinuar a assegurar a existência, sendo--Ihes necessário tempo normal, as atitudes desses três grupos da pequena alongar a jornada de trabalho, labutar de manhã à noite burguesia com respeito à revolução são diferentes. Mas e redobrar de esforços nas suas profissões. E ei-los que em tempo de guerra, isto é, nos períodos de expansão começam a expressar-se com injúrias, tratando os es- revolucionária, desde que a aurora da vitória começa a trangeiros de “diabos es-trangeiros”, os caudilhos mili- luzir, vêem-se participar na revolução não só os elemen- tares de “extorsionários” e os déspotas locais e os maus tos de esquerda da pequena burguesia, mas igualmente nobres de “esfolado-res”. Pelo que respeita ao movimen- os elementos que aí ocupavam uma posição de centro; e to anti-imperia-lista e anti-militarista, duvidam do re- mesmo os elementos de direita, levados pelas ondas rev- spectivo sucesso (pensam que o poder dos estrangeiros e olucionárias do proletariado e dos elementos de esquer- dos caudilhos militares é muito grande) e, não ousando da da pequena burguesia, são constrangidos a juntar-se arriscar-se a tomar parte nele, preferem adoptar uma às fileiras da revolução. As experiências do movimento posição neutra. Mas de maneira nenhuma agem con- de 30 de Maio de 19257 e do movimento camponês em tra a revolução. Esse grupo é muito vasto, constituindo diversas regiões, demonstram a justeza de tal afirmação. cerca de metade do conjunto da pequena burguesia. Ao O semi-prolelariado. Aqui, por semi-proletariado terceiro grupo pertencem indivíduos cujas condições entendemos: 1. a esmagadora maioria dos campone- de vida pioram de dia para dia. Na sua maioria, trata- ses semi-proprietários8; 2. os camponeses pobres; 3. se de indivíduos que outrora levavam uma existência os pequenos artesãos; 4. os empregados comerciais9; cómoda, mas a quem se tornou agora difícil conseguir 5. os mercadores ambulantes. A esmagadora maioria o mínimo indispensável para viver, agra-vando-se- dos camponeses semi-proprietários e os camponeses lhes progressivamente a situação. No final de cada ano, pobres formam uma massa rural enorme. Aquilo que quando fazem as suas contas, exclamam aterrados: se designa por problema camponês é, no essencial, o “Como! Ainda défices?”. Como outrora viviam relativa- problema relativo a essas categorias. As explorações mente bem, e agora vêem a situação agravar-se de ano dos camponeses semi-proprietários, dos campone- ses pobres e dos pequenos artesãos são caracteri- que os camponeses semi-proprietários têm um espírito zadas por uma produção ainda mais reduzida do que a mais revolucionário que os camponeses-proprietários, dos camponeses proprietários e a dos proprietários de mas menos revolucionário que os camponeses pobres. empresas de artesanato. Embora a maioria esmagadora Os camponeses pobres são rendeiros e encontram-se dos camponeses semi-proprietários e os cam-poneses submetidos à exploração dos senhores de terras. Segun- pobres constituam o semi-proletariado, essas duas cat- do a situação económica, eles podem dividir-se cm dois egorias, tomadas em conjunto, dividcm-se ainda, segun- grupos. O primeiro dispõe dum material agrícola que, do a situação económica, nas camadas superior, média em termos relativos, é suficiente, assim como de certos e inferior. A existência dos camponeses semi-proprie- meios financeiros. Esses camponeses recebem uma parte tários é mais penosa do que a dos camponeses-propri- da colheita, parte que pode atingir a metade daquilo que etários, pois os cereais que possuem não lhes chegam, produzem com o seu trabalho anual. Eles compensam o geralmente, para mais de seis meses, de tal maneira que, que lhes falta semeando cereais secundários, pescando, para adquirirem meios suplementares de subsistência, criando aves e porcos ou vendendo uma parte da sua vêem-se cons-trangidos a tomar terras em arrendamen- força de trabalho; dessa maneira chegam a assegurar, to, ou a vender parte da sua força dc trabalho ou, enfim, mal ou bem, a subsistência, esperando, no meio da sua a exercer um certo comércio. Nos fins da Primavera e pobreza e penúria, sobrepujar o ano. A vida que levam começos do Verão, quando a colheita do ano cessante é mais penosa que a dos camponeses semi-proprietários começa a esgotar-se e a próxima está ainda em erva, mas, de qualquer modo, mais fácil que a dos campone- eles vêem-se obrigados a obter dinheiro a alto juro e a ses pobres do segundo grupo. Têm um espírito mais rev- comprar cereais a preços elevados. Essa parte da popu- olucionário que os camponeses semi-proprietários, mas lação camponesa tem pois de levar uma existência mais menos que os camponeses pobres do segundo grupo. difícil que a dos camponeses-proprietários, os quais não Pelo que respeita a estes últimos, regista-se uma falta dependem de quem quer que seja, embora os semi-pro- dc material agrícola suficiente, bem como de meios fi- prietários tenham uma vida melhor que os camponeses nanceiros; carecem de adubos e apenas conseguem ma- pobres. Com efeito, estes não dispõem de quaisquer ter- gras colheitas. Uma vez pagas as rendas, já não lhes fica ras, cultivam terras alheias e, pelo seu trabalho, recebem grande coisa. Por isso têm maior necessidade de vender metade, ou até menos, da respectiva colheita. Embora os uma parte da sua própria força de trabalho. Nos anos camponeses semi-proprietários recebam também meta- de fome, nos meses difíceis, para compensar mendigam de ou menos da produção das terras que tomam em ar- empréstimos, junto dos parentes e amigos, dumas quan- rendamento, nada os impede que guardem a totalidade tas medidas de cereal, que lhes permitam manter-se ain- da colheita proveniente da sua própria terra. É por isso da que seja por três ou cinco dias; as suas dívidas engros- sam e convertem-se num fardo insuportável. Constituem indivíduos. Esse número reduzido explica-se pelo a parte mais miserável da população camponesa, e são atraso do nosso país no plano económico. Esses operári- muito sensíveis à propaganda revolucionária. Nós incor- os são empregados essencialmente em cinco sectores poramos os pequenos artesãos no semi--proletariado. — caminhos de ferro, minas, transportes marítimos, Com efeito, se bem que disponham de meios primitivos indústria têxtil e construções navais — encontrando-se de produção e exerçam profissões “livres”, eles também uma parte importante deles sob o jugo de empresas es- se vêem frequentemente constrangidos a vender parte trangeiras. Embora os efectivos do proletariado indus- da sua força de trabalho; a sua situação económica cor- trial moderno sejam reduzidos, é ele quem representa as responde, sensivelmente, à dos camponeses pobres. O novas forças de produção e constitui a classe mais pro- pesado fardo das despesas familiares, a desproporção gressiva da China moderna, tendo-se transformado na entre o salário e o mínimo vital, as privações incessantes, força dirigente do movimento revolucionário. A simples o medo de perder o trabalho, tudo isso os aparenta aos observação da força que se revelou nas greves dos qua- camponeses pobres. Os empregados comerciais são os tro últimos anos, por exemplo, a dos marinheiros10, a trabalhadores assalariados das casas de comércio. Eles dos operários ferroviários”, a dos operários das hulheiras têm de manter a família com o seu magro salário; ora, de Cailuan e das hulheiras de Tsiaotsuo12, a greve de como o preço das mercadorias aumenta de ano para Chamien1;i, e as grandes greves de Xangai e de Hong ano, enquanto que os aumentos de salário não se veri- Kong14 após os acontecimentos de 30 de Maio, mostra, ficam senão uma vez em cada vários anos, esses indi- de maneira convincente, o grande papel que o proletari- víduos lamentam-se perpetuamente da sua sorte todas ado industrial desempenha na revolução chinesa. Isso as vezes que os encontramos. A sua situação não difere é-lhe possível: primeiro, pela sua concentração, nenhum muito da dos camponeses pobres e pequenos artesãos, outro grupo pode rivalizar com ele nesse plano, e, se- sendo por isso muito sensíveis à propaganda revolu- gundo, porque os operários da indústria encontram-se cionária. Os mercadores ambu-lantes, quer transportem numa situação económica extremamente penosa. Estão as mercadorias suspensas duma vara, quer as exponham privados de meios de produção, não dispõem mais do em lojas ambulantes, têm um capital insignificante, não que dos seus próprios braços e não têm qualquer esper- lhes chegando o pouco que ganham para viver. Encon- ança de enriquecer, encontrando-se, ademais, submeti- tram-se sensivelmente na mesma situação que os cam- dos a um tratamento ferocíssimo por parte dos impe- poneses pobres e estão, do mesmo modo, interessados rialistas, dos caudilhos militares e da burguesia. Essa a numa revolução que mude a ordem actual das coisas. razão por que se mostram particularmente capazes para O proletariado. O proletariado industrial mod- a luta. As forças dos cúlis das cidades merecem igual- erno conta, actualmente, cerca de dois milhões de mente que se lhes dispense uma séria atenção. No inte- rior deste grupo, a maioria é constituída por estivadores e outras localidades, organizações que, originariamente, de cais e condutores de carrinhos de mão, contando- eram de ajuda mútua na luta política e económica. A ati- -se igualmente nele os limpadores de latrinas, estra- tude com relação a esse grupo constitui um dos proble- das, etc. Não têm mais do que os próprios abraços. Pela mas difíceis que se apresentam à China. Tais indivíduos situação económica, estão próximos dos operá-rios da são capazes de lutar com a maior coragem, mas são pro- indústria, não lhes cedendo a não ser no grau de con- pensos a acções destrutivas. Conduzidos de maneira cor- centração e na importância do seu papel na produção. recta, podem converter-sc numa força revolucionária. A agricultura capitalista moderna está ainda fraca- De tudo quanto acaba de ser dito ressalta que os nos- mente desenvolvida na China. Sob a designação de sos inimigos são todos os que estão conluiados com o proletariado agrícola compreendem-se os assalariados imperialismo — os caudilhos militares, os burocratas, a agrícolas que trabalham ao ano, ao mês ou ao dia. Es- classe dos compradores, a classe dos grandes senhores ses trabalhadores não dispõem nem de terras nem de de terras e o sector reaccionário dos intelectuais que lhes material agrícola, nem de quaisquer meios financeiros, é anexo. A força dirigente da nossa revolução é o prole- não podendo portanto subsistir a não ser vendendo a tariado industrial. Os nossos mais chegados amigos são sua força de trabalho. Do ponto de vista da duração da a totalidade do semi--proletariado e a pequena burgue- jornada dc trabalho, magreza do ganho, ignomínia de sia. Quanto à média burguesia, sempre vacilante, a sua condições dc existência e insegurança de emprego, estão ala direita pode transformar-se em nossa inimiga e a em situação ainda pior que os demais operários. Essa esquerda, em nossa amiga, devendo no entanto manter- parte da população rural está submetida às mais pesa- nos constantemente em guarda e não permitir que tal das privações e ocupa, no movimento camponês, uma classe venha criar confusão nas nossas fileiras. posição tão importante como a dos camponeses pobres. Existe também um numeroso lumpen-proletariado, composto de camponeses que perderam as suas terras NOTAS e de operários-artesãos sem trabalho. São os elemen- tos mais instáveis da sociedade. Eles mantêm por toda a parte organizações de carácter secreto, como o San- 1 Trata-se do punhado de vis políticos fascistas que funda- ho-huei nas províncias do Fuquien e do Cuan-tum, o ram a Liga da Juventude “Estatal” da China, organização Quelaohuci nas províncias do Hunan, Hupei, Cueidjou que mudou em seguida o nome para Partido da Juventude da China. Recebendo subsídios dos diferentes grupos reac- e Setchuan, o Tataohuei nas províncias do Anghuei, Ho- cionários no poder, assim como dos imperialistas, os “estadistas” nan e Xantum, o Tsailihuei na província do Tchili e nas especializaram-se cm intervenções contra-revolucio-nárias di- três províncias do Nordeste, o Tchim-pam1”’ em Xangai rigidas contra o Partido Comunista da China e a União Soviética.

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