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Mao: o processo da revolução PDF

60 Pages·2005·32.887 MB·Portuguese
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Mao o PROCESSO DA REVOLUÇÃO Márcio Bilharinho Naves editora brasiliense Copyright © Márcio Bilharinho Naves, 2005 SUMÁRIO Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada ) em sistemas eletrônicos, fotocopiada, reproduzida por meios mecãnicos ou outros quaisquer sem autorização prévia da editora ISBN: 85-11-03084-0 Primeira edição, 2005 Coordenação editorial edeprodução: Célia Rogalski Produção editorial: Thiago Lima Produção gráfica ecapa: Renato Antonio Preparação: Beatriz de Cássia Mendes Revisão: Luiz Ribeiro eBeatriz de Cássia Mendes Editoração: Patrícia Rocha Foto de capa: France Press Capa: Marina S.Lo Schiavo Dados Internacionais de Catalogação naPublicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP,Brasil) Naves, Márcio Bilharinho Mao :o processo da revolução / Márcio Bilharinho Naves. São Paulo: Brasiliense, 2005. -- (Encanto radical ;84) Capítulo 1- O período de form ção Bibliografia. Juventude e revolta , 9 ISBN 85-11-03084-0 1. China - Condições sociais 2. China - História Escola e política ................................. 13 3. China - Política e governo - 4. Comunismo - China 5. Mao, Tse-tung, 1893-1976 I.Título. 11. Série. A fundação do Partido Comunista 18 05-2819 COO-320.53230951 indices para catálogo sistemático: Aliança e ruptura com o Kuomitang 20 1.China: Maoísmo :Ciência política A cooperação com o Kuomitang 20 320.53230951 editora brasiliense s.a. Rua Airi, 22- Tatuapé - CEP 03310-010 - São Paulo - SP O início da guerra civil 23 Fone/Fax: (550xx11) 6198-1488 www.editorabrasiliense.com.br A segunda guerra civil 25 livraria brasiliense s.a. Nos Montes Jinggang 25 Rua Emília Marengo, 216 - Tatuapé - CEP 03336-000 - São Paulo - SP FonelFax: (550xx11) 6675-0188 [email protected] A ofensiva do Kuomitang ea Longa Marcha 27 Filosofia e política 29 Os grupos de trabalho e o triunfo dos maoístas 81 O primado da prática 30 A Guarda Vermelha 86 A materialidade da contradição 33 A revolução de janeiro 89 A resistência contra a invasão japonesa 39 A Comuna de Xangai e os Comitês Revolucionários 90 A terceira guerra civil 42 A revolução em sursis 92 Os militares como deus ex machina 92 Capítulo 2- Construindo o "socialismo"? Estabilizando a revolução: A nova democracia 47 a Grande União e aTríplice União. .................. 94 Reconstrução econômica e reforma agrária 47 Lutando contra a corrente: a "ultra"-esquerda 94 Atacando os contra-revolucionários 53 A revolução interrompida 96 As campanhas dos três antis e dos cinco antis 54 O significado da Pevoluçã ultural 99 O primeiro plano qüinqüenal 56 Os limites da Revoluç ultural e O Grande Salto Adiante 58 do marxismo d Mo 104 Que revolução? 104 O Movimento de Educação Socialista 61 O rompimento com a União Soviética 63 Referências bibliográficas 110 Mao e a "restauração do capitalismo" 64 Cronologia 113 Capítulo 3- A Revolução Cultural Sobre o autor 118 Os momentos iniciais 74 A Circular de 16 de maio 78 CAPíTULO 1 o PERÍODO DE FORMAÇÃO Juventud revolta Mao Tsé-tung' nasc u no dia 26 de dezembro de 1893, em Shaoshan, na provlncl de Hunan, no sul da China, em uma família de camponeses que tinham conseguido ascen- der socialmente de uma situação de pobreza para uma situa- ção materialmente confortável, para o padrão da época e do meio em que viviam. Seu pai possuía cerca de 1,5 hectare de terra, o que lhe permitia produzir anualmente algo em torno de 5toneladas de arroz (com um excedente de aproximada- mente 3toneladas), além de também sededicar ao comércio. 'Na transcrição dos nomes chineses foi adotado osistema pinyin, exceto em alguns poucos casos em que se deu preferência ao sistema Wade- Giles, antigamente mais utilizado. 9 o PERíODO DEFORMAÇÃO MAO A relação de Mao com oseu pai sempre foi difícil em vir- Mao recorda um incidente particularmente expressivo tude da estrutura patriarcal que dava ao chefe da casa po- desse "combate dialético" que ocorria na sua família. Quan- deres autocráticos e autoridade inconteste sobre os outros do ele tinha 13 anos, o pai, na frente de vários convidados, membros da família. Homem duro, que trazia em si as mar- acusou-o de preguiçoso e inútil, ao que ele reagiu abando- cas da origem edas dificuldades da vida, tratava com aspe- nando a casa e ameaçando jogar-se de um açude. Após in- reza erigor os seus filhos, muitas vezes surrando-os, negan- tensas negociações essa "guerra civil" termina com um do-Ihes dinheiro eofertando aeles comida apenas suficiente acordo, no qual Mao aceita inclinar-se em sinal de submis- para as necessidades básicas. Mao nos conta em sua auto- são, como manda atradição, mas apenas uma vez, enquan- biografia que a cada 15 dias seu pai fornecia aos emprega- to seu pai se abstém de castigá-Io, disso resultando para ele dos ovos com arroz, mas aos filhos jamais tal "regalia" foi alição de que "quando defendia os meus direitos rebelando- I, " concedida. Sua mãe, ao contrário, era uma pessoa amável e me abertamente, meu pai cedia, mas quando permanecia generosa, "sempre disposta a repartir o que possuía", capaz humilde e submisso, me xingava e me agredia". de gestos de caridade para com os famintos que vinham até Mao trabalhava no campo de d o 6 anos, tarefa que ela solicitar comida; no entanto, tinha que dar o arroz para os acumulou com os estudos inicl d os 8 anos. A disciplina pobres escondido do marido, que não aprovava tal compor- na escola era duríssima, com freqüentes castigos físicos, o tamento, provocando "numerosas discussões em casa", co- que levou-o, aos dez ano fugir da escola e, com medo de mo lembra Mao. ser castigado, a vag r por alguns dias. Após retornar para Em decorrência disso, Mao descreve asituação em sua casa a situação sofreu uma considerável melhora, tanto da família como sendo caracterizada pela existência de dois parte do pai como do professor, impressionando muito a "partidos": o da autoridade dirigente, o partido do seu pai, Mao o resultado desse seu ato de protesto, uma verdadeira e o partido da oposição, constituído por ele, por sua mãe, "greve vitoriosa". pelo seu irmão e, muitas vezes também, pelo empregado da Mao teve de interromper os estudos, aos 13 anos, por família. Formou-se, assim, uma "frente unida" da oposição, decisão do pai e dedicar-se integralmente ao trabalho na qual, entretanto, havia diferenças sobre as formas de lu- agrícola e à contabilidade dos negócios da família. Embora ta: a mãe não admitia o confronto direto e a rebelião aberta conhecesse os clássicos, tinha preferência pelas novelas po- contra o chefe da família, defendendo uma "política de ata- pulares da antiga China, sobretudo asque narravam as rebe- que indireto". liões de camponeses e as aventuras de heróis bandidos 10 11 o PERíODO DE FORMAÇÃO MAO contra os proprietários de terras e os tribunais. Mesmo fora os jovens chineses eram particularmente sensíveis à questão da escola, continuou a ler literatura e textos políticos, como nacional em virtude da situação peculiar do domínio imperia- Palavras de advertência a uma época de riqueza, de Zheng lista no país. Embora os chineses conservassem um governo Guanying, um libelo a favor da modernização econômica e independente, asgrandes potências estrangeiras dominavam política da China por meio da introdução da tecnologia oci- significativas extensões do território costeiro do país, onde dental e da adoção da monarquia constitucional, mas ao exerciam a administração, a jurisdição e mantinham forças mesmo tempo uma denúncia da dominação estrangeira no armadas. Os inúmeros incidentes armados, guerras punitivas, país. Esse livro, nos diz Mao, estimulou-o a querer prosse- abusos e crimes cometidos pelos ocupantes geraram a re- guir os estudos, o que o levou, em virtude da oposição do volta eatomada de consciência antiimperialista de várias ge- pai, a deixar a casa e, depois de algum tempo, aos 16anos, rações de chineses, eade Mao foi uma delas. a matricular-se na Escola Primária em Xiangxiang. Nesse período, Mao seria muito influenciado por uma Escola e política série de revoltas ocorridas em Changsha, que era a capital de Hunan, eem Shaoshan, fruto da fome edo desprezo eda Na Escola Primária Mao d monstra grande interesse pe- violência dos proprietários de terras e das autoridades con- lacorrente nacionalista ereformista liderada por Kang Youwei tra os camponeses. Não obstante, Mao não aprovava com- e Liang Qichao, que e tlv ram à frente do Movimento de pletamente aexpropriação de alimentos que os camponeses Reforma de 1898edefendiam uma monarquia constitucional. realizavam para saciar afome. Emum episódio que envolveu Pouco tempo depois, Mao se transfere para acapital de um carregamento de trigo de seu pai, de que esses esfo- Hunan, Changsha, onde se matricula na Escola Secundária. meados se apropriaram, Mao diz que não concordou com a Lá,entra em contato com ojornal do movimento nacionalista reação colérica do pai, mas que também achava que os fa- republicano de Sun Yat-sen, e toma conhecimento dos le- mintos 'tinham se equivocado ao empregar esse método". vantes armados conduzidos por Huang Xing, líder,juntamen- Esses episódios acabaram por forjar "definitivamente te com Sun, da organização Tongmenhui (sociedade dos meu espírito de jovem já inclinado à rebeldia". Mao também conjurados). Mao se entusiasma atal ponto com o clima de considera que nessa época ele começa atomar consciência agitação política que, embora ainda seja um pouco confuso política dos problemas de seu país, oque olevou a"começar politicamente, resolve alistar-se no exército revolucionário a trabalhar... para ajudar a salvar" a China. Os intelectuais e republicano nacidade de Wuhan, mas, antes que possa par- 12 13 oPERíODO DE FORMAÇÃO MAO tir, arevolução chega às portas da própria Changsha. Éessa ~I a revolução republicana de 1911, que derrubaria a monar- aa.: w quia naChina, eMao une-se ao exército revolucionário "para oz ~ ajudar navitória da revolução". Nos seis meses em que pas- u, ~ sou mobilizado Mao não teve uma participação efetiva nare- f( volução, mas nesse período adquiriu mais experiência políti- ca, com discussões e leituras, e teve contato, pela primeira vez, com aexpressão "socialismo". Uma vez desmobilizado, e após um curto período de indefinição sobre o que estudar, Mao passa alguns meses em uma escola secundária em Changsha e,aseguir, decide estudar como autodidata. Pas- sa então os dias na Biblioteca Provincial de Hunan seguindo um programa de estudos preparado por ele, seguido com "consciência eregularidade". Estuda geografia e história e lê A riqueza das nações, de Adam Smith, A origem das espé- cies, de Darwin, :1Lógica, de Spencer e O espírito das leis, de Montesquieu, além de obras de John Stuart Mill e de Rousseau. Após essa experiência, Mao resolve tornar-se professor e matricula-se na Escola Normal de Hunan, onde permane- cerá de 1913 até formar-se, em 1918. Foram anos importan- tes na sua formação, pois foi nesse período que suas idéias políticas "começaram atomar forma" e ele participou de al- gumas "ações sociais". Com outros colegas ele forma um círculo de discussões sobre temas políticos e filosóficos e praticam "com ardor" aeducação física, àqual Mao dá gran- de relevo, tendo mesmo publicado em uma revista um artigo Mao Tsé-tung em 1936. 14 15 MAO o PERíODO DEFORMAÇÃO estudantes, tendo participado da fundação da Associação sobre o assunto em 1917 ("Um estudo de cultura física"). li- dos Estudantes Unidos e de outras similares, que organiza- dera afundação de uma sociedade estudantil, aNova Socie- vam o movimento de massas. Ele se dedicou igualmente a dade de Estudos Populares, além de participar de uma As- editar duas revistas, que, no entanto, são rapidamente proi- sociação para o Autogoverno dos Estudantes, organizada bidas, o que o obriga a se limitar a escrever no jornal ~i~rio para combater oconservadorismo da direção da Escola Nor- da cidade. Em um desses artigos, Mao comenta a traqica mal, e de ser o secretário do centro estudantil da escola. história de uma jovem chinesa que prefere o suicídio ao ca- Mao transfere-se para acapital, onde consegue emprego samento forçado, defendendo a igualdade entre os sexos e como bibliotecário-assistente na Universidade de Pequim, ofim desses costumes retrógrados. Nofinal de 1919 Mao or- graças ao empenho de seu antigo professor de moral na Es- ganiza uma greve que alcança a quase totalidade dos estu- cola Normal e futuro sogro, Yang Changji, que lecionava na dantes de Changsha contra o governador e que consegue Universidade e o recomendara ao bibliotecário, Li Dazhao. A obter algum êxito. Mao, porém, se vê obrigado a partir para biblioteca erafreqüentada pelos luminares da cultura chinesa Pequim em virtude do risco que a sua atividade política po- da época, mas astentativas que Mao fez para conversar com eles foram frustradas, porque esses homens "não tinham deria lhe acarretar. Na capital, Mao entra em contato com a literatura marxista, lendo uma tradução parcial do Manifesto tempo para escutar um bibliotecário-assistente que falava o do partido comunista, d Marx e Engels, da Doutrina econô- dialeto do sul". Mao faz cursos na universidade e interessa- mica de Karl Marx, d Kautsky e da Históri? do socialismo, se por literatura anarquista, vindo a integrar em 1919 um de Kirkup, convertendo-se "em teoria, e até certo ponto em Grupo de Estudos Marxistas, fundado por Li Dazhao. ação, em um marxista", evindo aser,apartir de então, "real- Deixando Pequim em 1919, eapós uma curta estada em Xangai, onde fora se despedir de um grupo de amigos que mente um marxista". De Pequim, Mao vai para Xangai, onde encontra Chen partia para a França no bojo de um programa de estudos e Duxiu - futuro dirigente do Partido Comunista -, que defende trabalho, Mao se desloca para Changsha, onde encontra vivamente o marxismo, impressiona~do-o profundamente. uma situação difícil: o governador militar, Zhang Jingyao, Nessa cidade, Mao emprega-se em uma lavanderia até que simpatizante dos japoneses, desencadeia uma forte repres- surge aoportunidade de vir adirigir uma escola primária. Ele são contra as manifestações antinipônicas nacidade, que se se casa em 1920 com Yang Kaihui, que viria aser executada seguem aos acontecimentos de 19de maio em Pequim. Mao em 1930 na onda repressiva que se abaterá sobre os comu- participa intensamente das mobilizações comandadas pelos 17 16 o PERíODO DEFORMAÇÃO MAO nistas. Mao ainda se casará duas vezes, no final de 1930, existentes), entre osquais MaoTsé-tung, assim como dois re- com HeZizhen, que mais tarde se refugiará em Moscou para presentantes do Comintern. Láéeleito secretário-geral Chen tratar da saúde, ecom Jiang Qing, em 1939, aqual exercerá Duxiu. O programa então adotado (assim como o aprovado um importante papel na Revolução Cultural, sendo depois no 2°Congresso, em 1922)recusa acolaboração com abur- presa como integrante do chamado "bando dos quatro" - o guesia nacional e defende a independência política do parti- círculo de dirigentes de esquerda mais próximos de Mao. Ela do ea defesa da ação revolucionária do proletariado. se suicidará na prisão. Mao retorna a Changsha, em abril de 1921, na condição de secretário do Partido Comunista da província de Hunan e A fundação do Partido Comunista passa a realizar um conjunto de atividades tanto de natureza cultural ede educação popular como de natureza diretamen- A Revolução Russa de 1917 e a posterior criação, em te política, seja no interior dos sindicatos, seja na organiza- 1919, da Terceira Internacional (Comintern), impulsionaram o ção de greves e de lutas de massas. processo de organização de um partido comunista naChina. No 3° Congresso do Partid C muni ta, em 1923, o re- Emissários do Comintern, em 1920, entraram em contato presentante da Internacion I on uluvencer as resistências com Li Dazhao e Chen Duxiu, do que resultou o surgimento da maioria, levando oParti ad tar uma política de colabo- de núcleos comunistas em Pequim e Xangai, e depois em ração e de aliança com ti 'f rç do Kuomitang (Partido Na- outras cidades. Em Changsha, Mao tomou várias iniciativas, cion 11ta), d un Yat~ n, abandonando a,perspectiva de criando um núcleo comunista na cidade e organizando so- uma revoluç o prol t rianaChina emfavor de uma revolução ciedades para o estudo do marxismo e para a difusão de li- nacional-burguesa. Na Terceira Internacional predominava vros e jornais de esquerda vindos de Pequim e de Xangai, uma concepção abstrata e dogmática do processo histórico, além de desenvolver intensa atividade de organização políti- segundo aqual, em todos os paísesconsiderados "coloniais" ca dos trabalhadores. ou "semicoloniais", a contradição fundamental era entre a Assim, em julho de 1921, ocorreu em Xangai o 1° Con- classe feudal e a burguesia, de modo que a etapa da revolu- gresso do Partido Comunista da China (PCC),ocongresso de ção deveria ser democrático-burguesa, e não proletária. As fundação, resultado da atividade de seis núcleos em cidades condições não estariam ainda "maduras", devido ao baixo ní- chinesas ede outros noestrangeiro. Compareceram ao Con- vel de desenvolvimento das forças produtivas, para os traba- gresso 13militantes (representando os grupos comunistas já lhadores dirigirem a sua revolução. Para a direção soviética 18 19

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