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Mãe Coragem e seus filhos PDF

50 Pages·1991·2.231 MB·Portuguese
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BERTOLT BRECHT TEATRO COMPLETO em 12 volumes 3• Edição EfJ PAZ E TERRA 'T Mãe Coragem e seus Filhos Uma crônica da guerra dos trinta anos Mutter Courage und ilire Kinder Escrita em 1939 Traduçilo: Geir Campos PERSONAGENS (por ordenÍ de entrada em cena) RECRurADOR PluMEnto SÁRGENTO MAl! CoRAGEM KATilUN, A FII.HA MUDA ElllF, O FilHO MAIS VBLHO Qtmunmo, O FilHO MAIS MOÇO CoznmmRo GENERAL CAPml.o Almuu!mo YVETil! POTilER SEGUNDO SARGENTO CAolHO CoRONEL EscltEvENrE .AU'EREs SolDADOS CAMPoNESES VELHA JOVEM CAMPDN!s - Redação: Eisabeth Hauptmann e Rosemarie Hill. 1 PRIMAVERA DE 1624. EM DALARNE, O GENERAL OXENS1]ERNA RECRUTA TROPAS PARA A CAMPANHA DA POLÔNIA. A VIVA N DEIRA ANNA FIERllNG, CONHECIDA PELO APELIDO DE MÃE CORAGEM, FICA SEM UM DE SEUS FilHOS Numa estrada perto da cidade Um Sargento e um Recrutador parados, com frio. REcRurADOR-Como é que se pode reunir uma tropa num lugar como este? Sargento, pode crer: eu até em suicídio já pensei. Até o dia 12, tenho de apresentar ao general quatro pelotões, mas· o pessoal deste lugar é tão arisco que eu não tenho mais uma noite de sono. A muito custo a gente agarra um, faz vista grossa para não ver que tem espinhela caída e varizes, a gente dá um porre no cara, ele assina a guia, a gente paga a cachaça, e aí o cara diz que precisa ir lá fora. A gente desconfia, e corre para a porta: não dá outro bicho, o cara sumiu que nem piolho embaixo da unha. N"ao tem palavra de honra, nem lealdade, nemfé: foi neste lugar, Sargento, que eu perdi a minha confiança na humanida de. SARGENTO-Logo se vê que há muito tempo não há guerra por aqui. De onde vem a moral, pergunto eu? A paz é uma porcaria, só a guerra é que estabelece a ordem. Na paz a humanidade brota que nem espiga. É um desperdício de gente e de gado, assim sem mais nem menos. Cada um come o que quer: um pedaço de queijo no pão, epotcimado queijo uma talhada de toucinho. Quantos homens jovens e quantos cavalos bons existem na cidade, isso ninguém sabe: nunca se fez a conta. Eu já estive em lugares onde não se fazia guerra há uns setenta anos: as pessoas nem sobrenome tinham, nem sabiam quem elas eram. Só onde há guerra é que se põem os registros e as listas em ordem, os sapatos em furdos e o trigo em sacos, as pessoas e as cabeças de gado são bem contadinhas e levadas, pois todo mundo sabe: sem ordem não há guerra! REcRurADOR-Isso é verdade! 176 Bertolt Brecht Mãe Coragem e seus filhos 177 SARGENTo - Como tudo que é bom, a guerra também é difícil, no De panças cheias, vão para o diabo, começo. Mas, depois que começa a florescer, ela resiste a tudo; E até a minha bênção eles têm! e as pessoas começam a tremer, só de pensar na paz, como os É primavera. Acorde, homem de Deus! jogadores, que não querem parar, para não terem de fazer as A neve se derrete. Estão dormindo contas do que perderam. Mas no começo têm medo da guerra: Os mortos. Que se agüente nos sapatos é sempre uma coisa que não conhecem. Aquele que não está morto ainda! REcaurADOR-Olhe, vem vindo aí uma carroça. Duas mulheres e dois SARGENTO-Alto, gentalha! A quem vocês pertencem? marmanjões. Sargento, faça essa velha parar! Se não arranjar desta vez, uma coisa eu garanto: não fico mais aqui, com esse Eilif-Segundo Regimento Finlandês. vento. Ouve-se uma gaita de boca. Puxada por dois rapazes, a}Jrox{ma SARGENTO-Seus documentos! se uma carroça. Nela sentadas Mãe Coragem e Kattrin, suaf ilha muda. Mãe Coragem-Documentos? Mãe Coragem-Bom-dia:, senhor Sargento! Queijinho -Essa é a Mãe Coragem! SARGENTO barrando-lhes a passagem - Bom-dia, gente. Quem são SARGENTO-Mãe Coragem? Eu nunca ouvi falar. Por que esse nome? vocês? Mãe coragem-Me chamam de Coragem, Sargento, porque uma vez, MÃE CoRAGEM-Gente de negócios. Canta- para escapar da falência, eu atravessei o fogo da artilharia de Riga, com cinqüenta pães na carroça; eles já estavam dando Seu Capitão, faça o tambor calar bolor, não havia tempo a perder, e eu não tinha outro jeito. E deixe a soldadesca descansar: Mãe Coragem vem trazendo os sapatos SARGENTO-Nada de gracinhas, ouviu? Onde estão seus papéis? Com que eles podem melhor caminhar. Se com piolhos e com outros bichos, MÃE CoRAGEM apanha numa lata um maço de papéis e desce da Levando cargas e canhões de arrasto, carroça - Tudo o que tenho de papel é isto, Sargento: um Eles têm de marchar para a batalha, missal de Altõtting, inteirinho, para embrulhar pepinos; e uni Pois que marchem calçando bons sapatos! mapa da Morávia, sabe Deus se algum dia :linda vou lá; se não, É primavera. Acorde, homem de Deus! fica para os gatos; e aqui um atestado de que o meu cavalo A neve se derrete. Estão dormindo branco não tem febre aftosa, pena ele ter morrido, com os Os mortos. Que se agüente nos sapatos quinze florins que ele custou, mas não a mim, graças a Deus. Aquele que não está morto ainda! Não é muito papel, hein? Seu Capitão, seus homens vão marchando Para a morte, sem nem uma salsicba: SARGENTO-Está querendo me passar a perna? Faço você engolir o Deixe que Mãe Coragem trate deles atrevimento. Sabe muito bem que precisa ter uma licença. Com vinho para o corpo e para a alma. . Um canhonaço em barriga vazia, MÃE CoRAGEM -Fale direito comigo, e não diga, na frente de meus : Seu Capitão, não pode fazer bem: filhos ainda crianças, que estou querendo passar-lhe a perna: 178 Bertolt Brecht Mãe Coragem e seus filhos 179 isso não é coisa que se diga, e eu não quero nada com o senhor. embaralhe as coisas, senão vamos ficar nisto até o fim da noite. Minha licença, no Segundo Regimento, é a honestidade que eu Ele é de pai suíço, mas o sobrenome é Pejos, que não tem nada trago escrita na cara: se osenhornãosabeler, eu não posso fazer a ver com o pai: o pai tinha outro sobrenome, era mestre-de nada. Que ainda me queiram pôr uma estampilha isso eu não obras de fortificações e o tipo do beberrão. admito. ' Queijtnho, satlsfeUo, Jaz que stm com a cabeça, e até KaUrln, a muda, se dtverte. REcaurADOR - Sargento, eu estou vendo nessa criatura um certo espírito de rebeldia. No acampamento, gostamos de disciplina. SARGENTO-Como é que ele pode se chamar Pejos? MAE CoRAGEM-Eu pensei que gostassem de salsichas. MAE CoRAGEM-Não quero fazer pouco do senhor, mas a imaginação não é o seu forte. É natural que ele se chame Pejos, porque, SARGENTO-Como se chama? quando veio ao mundo, cu andava com um húngaro para quem tanto fazia: sofria dos rins, embota nunca tivesse posto na boca MAE CoRAGEM-Anna Fierling. uma gota de bebida, um sujeito muito honrado. O menino saiu a ele. SARGENTO-O sobrenome de todos é Fierling, então? SARGENTO-Mas não era o pai, era? MAE CoRAGEM-Como assim? Eu sou Fierling, eles não. MAE CoitAGEN - Só sei que saiu a ele. E eu chamo o menino de SARGENTO-Imagino que são todos seus filhos. .. Qucijinho, porque é uma gostosura puxando a carroça. Aponta para a ftlha. Ela é metade alemã, e se chama Kattrin Haupt. MAECoRAGEM-São,eporissotodoshãodeteromesmosobrenome? Apontando_ o .f!lho ~fs_ velho, Eilif - O nome dele, por SARGENTO-Devo dizer que é uma bela família. exemplo, e Eilif NoJócki, porque o pai dele dizia sempre chamar-se Kojócki ouMojócki. O menino lembra-se muito bem do pai, só que é de um outro que ele se lembra: um francês de MAE CoRAGEM -Pois é, já andei por este mundo todo com a minha carroça. barbicha no queixo. Mas do pai ele herdou a inteligência: pai 0 era capaz de tirar as calças de um camponês, sem· que ele percebesse. E assim, cada um de nós tem sobrenome diferente. SARGENTO-Tudo isso tem deseranotado.Escreve. Você é de Bamberg, e está na Baviera: como foi que chegou até aqui? SARGENTO-Um sobrenome para cada um? MAE CoRAGEM-Eu não podia ficar esperando a guerra ter a gentileza MAE CoRAGEM-Ora, Sargento: até parece que nunca viu disso. .. de ir até Bamberg. SARGENTO-Aquele, então, é filho de chinês? Aponta o mais moço. REcaurADOR-Euachoque os dois rapazes deviam se chamar Boi-Jacó essa e Boi-Esaú, atrelados assim a carroça. Não largam a canga MAE CoRAGEM-Errou: é de um suíço! nUÍlca? SARGENTO-Foi depois do francês? Eilif-Mãe, posso fechar o bico desse cara? Eu gostaria. .. MAE CoRAGEM,- Que francês? De francês eu nunca soube. Não MAE CoitAGEN - Mas eu não quero. Fique quieto aí! E agora, meus 180 Bertolt Bn;cht Mãe Coragem e seus fiUtos 181 senhores oficiais, não precisam de uma boa pistola ou de uma é que você tem contra o serviço militar? Não era soldado, o pai fivela nova? Sargento, a sua já está pedindo reforma! dele? E não tombou no cumprimento do dever? Foi você mesma quem disse. SARGENro-Eu ando atrás é de uma outra coisa. Vejo esses moços crescidos como dois cedros, peitos robustos, pernas vigorosas: MÃE CoRAGEM- Ele é apenas uma criança. Vocês querem tirá-lo de gostaria de saber por que é que fogem do serviço militar! mim, para o matadouro: eu conheço vocês. Vão receber cinco florins por ele. MAE CoRAGEM prontamente-Nada feito, Sargento: filho meu não é para o oficio da guerra. REcaurADOR-Primeiro ele vai ganhar um lindo boné e umas botas de cano alto, não é? RECRtrrADOR-Mas porque não? A guerra dá lucro e dá glória. Vender borzeguins baratos é negócio de mulher.AEilif-Dê um passo EwF-Do senhor, não. à frente, e deixe-me apalpar: quero ver se tem musculatura ou se é um frangote... - MÃE CoRAGEM-Isto é o que o pescador diz à minhoca: "Vai com o anzol!". A Qtu!ljinho - Corra e grite que estão roubando seu MÃE CoRAGEM - Í! um frangote. Se alguém olha para ele um pouco irmão!Empunhaumafaca.Agoralevem-no,setâncoragem! mais, ele é capaz de cair. Canalhas, eu acabo com vocês! Vão ver a guerra que querem fazer com ele! Vivemos honestamente, vendendo presunto e roupa branca, e somos gente de paz! RECRurADOR-Í!, mas na queda ele derruba um touro, se estiver no caminho, hein? Tenta levar o rapaz. SARGENT<>-Í!, bastaolharessafaca, parasevercomovocêssão de paz. MÃE CoRAGEM - Quer deixar meu filho em paz? Ele não serve para Devia ter vergonha nessa cara. Jogue fora essa faca, sua bruxa! Até aqui vpcê deu a entender que vive da guerra, e agora quer vocês. viver de quê? Como pode haver guerra sem soldados? RECRurADOR-Ele me faltou com o respeito, chamou minha boca de MÃE CoRAGEM-Mas os soldados não precisam ser meus filhos. bico. Nós dois vamos lá no campo, resolver este caso como homens. SARGENro-Para você, então, a guerra há de roer os ossos e deixar a carne? Você engorda as suas crias com a guerra, e não quer dar EwF-Não se p~pe. Mãe: eu tomo conta dele. nada em troca? Ele precisa saber de onde é que vem a comida. E você, que tem nome de Coragem, está com medo da guerra, MÃE CoRAGEM -Quieto aí! Seu brigão! Já estou vendo tudo: ele tem que é o seu ganha-pão? Seus filhos não têm medo, vê-se logo• .. uma faca na botina, vai matar o senhor. EWF-·Não tenho medo de guerra nenhuma! RECRurADOR-Eu tiro a faca, como se fosse um dente de leite: vamos, menino! SAllGENro - Por que ter medo? Olhem bem para mim: a vida de soldado me fez algum mal? Eu estou nisso há dezessete anos! MÃE CoRAGEM-Seu Sargento, eu dou parte ao Coronel. Ele bota vocês dois no xadrez. O tenente é noivo de minha filha. MÃE CoRAGEM-Ainda está muito longe dos setenta. SARGENro-Nada de violências, camarada! A Mile Coragem-O que SAllGENTO-Eu chego lá? Bertok Brecht Mãe Cotagem e seus filhos ' 183 MAl! CoRAGEM-Naturalmente por baixo da tena. .. REcatrrADOR-Não se deixe impressionar, pois ainda não foi fabricada a bala que há de matar você. SARGENTO-Quer me agourar, dizendo que eu vou morrer? SARGENTO com voz rouca-Você quer me embromar! MAl! CoRAGEM -E se for verdade? Se eu estou vendo no senhor um homem marcado? Se tem o jeito de um defunto em férias, hein? MAl! CoRAGEM-Foi o senhor que embromou a si mesmo, quando foi · ser soldado. Mas agora nós vamos andando: não é todo dia que QuE;pNHo-Ela é vidente: todo mundo diz. Adivinha o futuro. tem guena, e eu tenho de aproveitar. REcRtrrADOR-Então adivinhe de uma vez o futuro do Sargento, que SARGENTO-Cornos diabos, a mim você não embroma. E esse seu filho ele vai gostar. bastardo fica conosco: vai ser soldado nosso! SARGENTO-Não faço fé nessas coisas. EWF-Mãe, eu queria ser. .. MAl! CoRAGEM-Me empreste o seu capacete! O Sargento dá-lhe o MAl! CoRAGEM-Cale o bico, demônio finlandês! elmo. EWF-O Queijinho também queria ser soldado. SARGENTO-:-Isso, para mim, quer dizer menos do que cocô no capim. Em todo caso, vamos rir um pouco. .. MAl! CoRAGEM-Isso, para mim, é novidade. Eu vou ter de tirar a sorte de vocês, detodostrês.Afas~e para trás, parap intarc ruzes MAECoRAm!Mpegaumafolhadepergamlnhoerasgaa-Eilif,Kattrin, em pedaços de papeL Queijinho: isto é o que iria acontecer conosco, se nos metêsse mos na guena. Ao Sargento-Para o senhor, eu vou abrir uma REcRtrrADOaaEIIIf-Falam de nós, por aí, que no acampamento sueco exceção: faço o trabalho de graça. Neste papel eu pinto uma só tem beato; mas é pura calúnia, para nos prejudicar. Lá só se cruz preta: preta é a morte. cantam hinos aos domingos, só uma estrofe e só quem tem boa voz! QuE;pNHo-O outro, ela deixa em branco: está vendo? MAl! CoRAGEM volta com osp apéis dobrados no elmo do Sargento MA!! CoRAGEM-Agora eu dobro os dois, misturo bem: assim como as pessoas se âíisturam, desde que saem do ventre da mãe. Querem ir para longe da mamãe, seus diabos, e meter-se na guena, como cordeiros na bocadolobo. .. Mas eu vou consultar Depois, é só tirar um dos papéis, para ver o que dá. .. os papeizinhos, e vocês já vão ver que o mundo não é nenhum O Sargento hesita. vale de alegrias, com essa história de "vem, meu filho, que precisamos de mais capitães". Sargento, o meu maior medo é o REcRtrrADOR a Elllf-Eu não vou aceitando qualquer um, não: tenho até certa fama de exigente. Mas você tem um jeito qúe me de que meus filhos não voltem daguena. Eles são assustados de agrada. nascença, todos três. Estende o elmo aEUif.Vá, tire a sua sorte! Elllftlra ump apel, desdobra-o; ela arranca-lhe das mllos. Aí SARGENTO tirando do elmo um dos papéis-Que estupidez! 1i pura está: uma cruz! Oh, mãe desventurada, que pariu com tanta dor: tapeação! e o filho vai morrer na flor da idade! Está claro que, se ele for soldado, há de morder o pó. Mas ele é atrevido como o pai: se QuEipNHo-Tirou o da cruz preta: está perdido! não tiver juízo, há de cumprir o destino da carne - carne de 184 Bertolt Brecht 'Mãe Coragem e seus filhos 185 canhão! É isso o que este papelzinho quer dizer. .. Grita, au REcaurAIX>R ao Sargento-Faça qualquer coisa! toritária. - Quer ter juízo? SARGENTo-Não estou me sentindo nada bem. EwF-E por que não? RECRUTAIX>R-Vai ver que se resfriou, tirando o elmo neste vento frio. MAl! CoRAGEM-Ter juízo é ficar com sua mãe; e, quando alguém vier Proponha alguma transação a ela. Alto-Sargento, você pode rir de você, chamar você de galinha, dar gargalhada na cara darumaolhadanaquelafivela!Égenteboaevivedoquevende, dele. é ou não é? Ei, vocês: o Sargento quer comprar a fivela! RECRUTAIX>R-Bem, se você é de cagar nas calças, eu prefiro levar o MAl! CoRAGEM - Custa meio florim, mas vale dois uma fivela destas. seu irmão. Torna a descer da carroça. MAl! CoRAGEM-Eu já lhe disse o que tem a fazer: dê uma gargalhada! SARGENTO - Nem é uma fivela nova. .. E aqui está ventando muito, Vamos: ria! E agora, Queijinho, é a sua vez: com você eu não me preciso examinar com mais vagar. Vai com a fivela para trás preocupo tanto, vocêtemmaislealdade.Queljtnho tirado elmo da carroça. um papel dobrado e o desdobra. Ora, por que olha assim tão espantado para o papel? Em branco, deve estar: não é possível MAl! CoRAGEM-N""ao sinto a menor corrente de ar. que tenha uma cruz pintada. É claro que eu não vou perder você. .. ElaapanhaopapeLOutracruz?N""ao!IDetainbém?!Será SARGENTO-Meio florim, talvez valha: é de prata. por ele ser assim ingênuo? Queijinho meu, você também está perdido, se não for sempre bom para sua mãe, como eu lhe MAl! CoRAGEM Indo ao encontro do Sargento, atrás da carroça -É: ensino desde pequenino, trazendo sempre o troco direitinho são seis onças de prata maciça. quando vai comprar pão. Só assim você pode se salvar. Olhe, Sargento: não é uma cruz preta? RECRUTAIX>R aEilif-E nós vamos ali bebemorar, como bons camara das. O dinheiro do alistamento está comigo. Vamos! SARGENTO - É uma cruz, sim. Só não entendo é eu ter tirado uma, Etlifpermanece Indeciso. também: eu fico sempre na retaguarda. Ao Recrutador-Não deve ser tapeação nenhuma: o azar cai até para os filhos dela! MAl! CoRAGEM-Meio florim, então? Qtn!QINHo-Cai para mim, e assim já fico prevenido. SARGENTO - Não estou entendendo. Procuro estar sempre na reta MAl! CoRAGEM a Kattrtn-Agora, com certeza, fica só você: você já é guarda. Não há lugar mais seguro que o de sargento: na uma cruz, mas tem um bom coração. Estende o elmo para o conquista da glória, a gente manda os soldados na frente ... Isto alto da carroça, mas ela mesma tira o papelzinho. Mas é um veio estragar o meu almoço, sei que não vou conseguir comer desespero! Não pode ser verdade! Talvez eu tenha cometido nada. algum engano, nahorademisturar. Kattrin, de agora em diante, não seja nunca boazinha demais, nunca mais: há uma cruz no MAl! CoRAGEM-O senhor não deve levar a coisa tão a sério assim, a seu caminho! E trate de ficar muito quietinha: o que não é ponto de nem poder mais comer. Continue a ficar na retaguar dificil, para quem nasceu muda. E assim, já ficam todos avisa da. E tome um golinho de pinga, homem! Oferece-lhe bebida. dos: tomem muito cuidado, porque vão precisar. E nós vamos pegar nossa carroça e tocar para a frente. Devolve o elmo ao com Ellifbem seguro pelo braço, arrasta-o para longe RECRUTAIX>R Sargento e sobe na carroça. -Com dez florins na mão, um rapaz corajoso como você, que 186 Bertolt Brecht Mãe Coragem e seus filhos 187 luta pelo Rei, as mulheres vão lhe chover em cima. E quanto a CoZINHEIRo-Sessenta H e/ler por uma penosa horrível dessas? mim, você pode fechar meu bico, se eu tiver dito alguma coisa errada ... Saem os dois. MAE CoRAGEM-Penosa horrível? Um animal tão gordinho? Como é A muda Kattrin salta da carroça e solta uns gritinhos roucos. que um General, guloso como é, não pode dar sessenta míseros Heller por ele? E ai de você, se não tiver nada para servir no MAE CoRAGEM-Já vou, Kattrin, já vou. O senhor Sargento está agora almoço! me pagando. Morde a moeda de meiof lorim. Eu não confio em moeda nenhuma: sou uma gata escaldada, Sargento. Mas esta CoZINHEIRo - Iguais a esse eu arranjo uma dúzia por dez Heller, na peça é das boas. .. E agora vamos embora: onde está Eilif? primeira esquina! QUEUINHo-Foi com o Recrutador. MAE CoRAGEM-O quê? Um pato como este, você arranja na primeira esquina? Com a cidade sitiada, e uma fome de rachar? Uma MAE CoRAGEM fica um momento parada-Ah, que menino ingênuo! ratazana, pode ser que você arranje; e digo "pode ser•, porque A Kattrin - Sei que a culpa não é sua: você não pode falar. já foram todas devoradas. Vi cinco homenzarrões correndo uma tarde inteira atrás de uma ratazana esfomeada. Cinqüenta SARGENTo - Agora, Mãe Coragem, você também pode tomar um Heller por um pato deste tamanho, em estado de sítio, não é golezinho. Assim é a vida. E ser soldado ainda não é o pior. Você nada demais. .. queria viver às custas da guerra, sem se meter nela, nem você nem os seus: mas de que jeito? CoZINHEIRo-Não somos nós que estamos sitiados: os outros é que estão. Veja se mete na sua cabeça que, aqui, os sitiantes somos MAE CoRAGEM-Kattrin, você agora tem de puxar a carroça com seu nós! irmão. Ambos, Queijinho e Kattrin, atrelam-se ao varal da carroça e MAE CoRAGEM-Mas nós também não temos nada que comer, e ainda puxam-na. Mãe Coragem caminha ao lado. A carroça afasta-se. menosqueládentroda cidade: os que estão lá levaram tudo que SARGENTo seguindo-os com o olhar podiam. Ouvi dizer que estão na boa vida. E nós? Andei falando com os camponeses: eles estão a zero! Quem da guerra se quer aproveitar, Alguma coisa em troca tem que dare CoZINHEIRo-Eles estão escondendo o que têm. MAE CoRAGEM triunfante - Não têm coisa nenhuma. Estão arruina 2 dos, isso sim! Andam morrendo à míngua. Eu vi alguns desen NOS ANOS DE 1625 E 1626, MÃE CORAGEM, ACOMPA terrando raízes, de tanta fome; e lambiam os dedos por uma tira NHANDO O EXÉRCITO SUECO, ATRAVESSA A POLÔNIA. EM de couro cozido. f! o que se vê. E eu, que tenho um bom pato, FRENI'EÀFORTALEZADEWA llHOF, TORNA A ENCONTRAR hei de vendê-lo por quarentaHeller? O FllliO EILIF. VENDA OPORTIJNA DE UM PATO E DIAS DE GLÓRIA DO FllliO CORAJOSO Comrnmto-PorquarentaHeller, não: portrintaHeller. Eu disse trinta! Na tenda do general MAE CoRAGEM-Masestenãoéum pato qualquer, não. f! tão prendado: ouvidizerquesócomiaquandotocavammúsica, e tinha até um A um lado, a cozinha. Troardecanhões. O Cozinheiro discute com dobrado predileto. Sabeatéfazercontas, de tão inteligente que Mãe Coragem, que tenta vender-lhe um pato. --------

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