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Livro A Poesia Árabe Moderna e o Brasil PDF

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Slimane Zéghidour A POESIA ÁRABE MODERNA E O BRASIL centenário de monteiro lobatoCopyright O Slimane Zéghidour Tradução: Daniel Aarão Reis Filho Capa: 123 (antigo 27) Artistas Gráficos Ilustrações: Joji Kussunoki Revisão: José E. Andrade Newton T. L. Sodré editora brasiliense s.a. 01223 — r. general jardim, 160 são paulo — brasil INDICE A poesia árabe moderna e o Brasil .......... 7 O Renascimento ........................................... 34 A nova Andaluzia .......................................... 45 Indicações para leitura 92Este livro vai para Sawsan Awada A poesia Arabe moderna E O BRASIL "Ele (Ismael) será como um jumento selvagem. Sua mão contra todos, a mão de todos contra ele, e ele enfrentará os seus irmãos. ” Génese, XVI, 12 “Eis que afinal veio um Mensageiro, um dos vossos, e ele sente vivamente todas as humilhações que experimentastes. " Corão, IX, 128 Quando se considera o itinerário da poesia árabe contemporânea, somos obrigados a constatar, não sem surpresa, que um de seus momentos mais decisivos desdobra-se na América Latina, mais precisamente no Brasil. A constatação suscita muitas legítimas interrogações. Assim, gostaríamos de precisar, desde agora, que o objetivo deste modesto trabalho não é o de esgotar o assunto, mas simplesmente fazer um balanço dos diferentes elementos já reunidos em torno do mesmo, e sobretudo captar mais de perto a dimensão profunda deste período da poesia árabe contemporânea. Uma poesia só é moderna em relação a uma história, a uma tradição, que a explicam e a legitimam; assim, conviria precisar que a poesia árabe moderna nasceu como tal depois de uma ruptura quase ábsoluta com seu patrimônio que durava havia mais de quatro séculos. Nasceu no momento da história do Mediterrâneo em que o Império Otomano, sob cuja dominação vegetavam os árabes, começava a cair sob os violentos golpes que lhe assestavam as potências europeias. Surgindo neste contexto particular de despertar de uma longa letargia, de esperança numa próxima libertação, e também do começo da penetração ocidental, iria refletir essas realidades, ambiguidades, esperanças e dramas: redescoberta de um patrimônio multimilenar negado, humilhado e falsificado; reconstituição da identidade cultural e confrontação com a influência ocidental. Todos os árabes estão de acordo em situar nesta época (século XVIII) o que chamam de NAHDA (literalmente “Elevação”) ou “Renascimento” cultural e político árabe. Dominação turca feroz no plano local, e penetração ocidental conquistadora no plano externo; entre os dois nasce e se desenvolve o renascimento moderno. Mas desde o início valoriza aspectos fundamentais da cultura árabe sem os quais é impossível compreendê-la. São os seguintes: — a função da literatura na cultura árabe; — o papel preponderante dos árabes cristãos na origem deste renascimento; — a emigração enquanto arquétipo permanente na cultura árabe. Antes de analisar detalhadamente estes diferentes aspectos, conviria observar que é menos útil estudar o “como” do período brasileiro da poesia árabe do que o seu “por quê”. De fato, quando as contradições suscitadas pelo “Renascimento” tomaram-se explosivas, e terminou a paciência dos turcos, a emigração colocou-se como inevitável. Em função disto o período brasileiro foi o ponto de convergência de todas as correntes de ideias e seu ponto de encontro. Foi o lugar em que se concentrou a esperança e de onde brotará a literatura árabe moderna. O caráter do que esteve em jogo no período brasileiro é tão decisivo na cultura árabe que sua natureza e suas. consequências permanecem, até nossos dias, inassimiladas e incompletamente aceitas pelo mundo árabe. O que significa dizer o quanto isso permanece, no plano simbólico, vivamente atual. Dizíamos que a origem da emigração árabe no Brasil reside no fenômeno da NAHDA. De fato, ainda que na sua origem houvessem fatores econômicos, ela foi antes de tudo o resultado de uma implacável repressão colonial, constituindo-se, portanto, como a única saída para homens e mulheres animados por um. projeto de libertação nacional e de renascimento cultural. Por isto também, a imprensa que organizaram, os círculos literários constituídos e as obras literárias que produziram no exílio não se destinavam a alimentar a nostalgia do torrão natal, nem o culto dos ancestrais. O que fizeram era a continuação natural de um processo começado no Oriente e que iria ser a rampa de lançamento, a matriz da poesia árabe moderna. Ê por isso que dizíamos acima que o interesse deste trabalho será o de mostrar o caráter capital do que estava em jogo neste período em relação à história árabe, e não se contentar em descrever os lugares e os homens. Estamos, aliás, conscientes do muito trabalho que se precisa ainda fazer para uma história da imprensa e da literatura árabes no Brasil. Os documentos que possuímos emanam de pessoas (escritores) que a viveram intimamente e que não quiseram morrer sem deixar registrado por escrito o que sabiam a respeito. É o caso de um dos mais importantes dentre eles, Georges Saídah, que num livro monumental intitulado Nossa Literatura e Nossos Escritores nas Américas deixa-nos a biografia, relativa, a bibliografia e extratos das obras de não menos de 94 poetas árabes do Brasil. Ã exceção de alguns trabalhos pontuais, certos artigos em revistas, atualmente inencontráveis, o assunto continua ainda muito pouco conhecido nos próprios países árabes, e igualmente esquecido pelos descendentes dos próprios escritores. Segundo nosso conhecimento nenhum organismo, nem universidades árabes, jamais se interessaram por um projeto de agrupamento destas obras e dos vestígios desta imprensa, no sentido de inventariá-las, classificá-las, estudá-las cientificamente. De fato, um grande número de obras inéditas, algumas de qualidade provavelmente, permanece até hoje guardado em lares brasileiros com as “lembranças dos avós”. Foi com tristeza que, durante nossa viagem (julho-agosto de 1981) a São Paulo, vimos, na livraria Yazigi (Rua 25 de Março, 642, loja 12), milhares (!) de livros, jornais e discos árabes, todos lançados no Brasil, devorados pelos cupins e cobertos de poeira. Esta livraria cheia de obras cujas ideias agitam até hoje o mundo árabe, a poeira constrangedora, sua presença sarcástica e insólita, tudo isso tinha um valor simbólico para nós. Esperamos que este livro, apesar de suas insuficiências, possa introduzir o leitor brasileiro não somente num período silencioso em que seu país foi a “capital” da cultura árabe, mas também, e além disto, no interior desta própria cultura. “Fizemos que descesse, em língua árabe pura, cristalina.” .. Corão A arte poética, dentre todas as demais, sempre foi a que os árabes mais exaltaram com uma paixão irresistível e, até os nossos dias, é ela que os conduz espontaneamente a um estado próximo da magia. O Renascimento literário árabe não é consequência de um renascimento político, o contrário é que se verifica. Suas primeiras manifestações foram, antes de tudo, literárias e linguísticas. Todos os povos veneram a própria poesia, e a relação particular dos árabes com sua língua explicase pela história e pela religião. Os historiadores consideram que as grandes culturas semíticas originam-se do deserto arábico, e que elas estão portanto no começo de tudo: o termo “beduínos” vem de BADW, que significa exatamente “começo”. A única arte que os nômades podem desenvolver é de fato a língua — que se torna assim o que Heidegger disse: “a morada do ser”. A frase do filósofo alemão é tão verdadeira que o verso poético árabe chama-se BAYT (literalmente “casa”) e “palavra” diz-se MOUFRAD (de FARD, ou seja, “indivíduo”). Assim, "verso poético” diz-se BAYTAL AL CHITR e a tenda dos beduínos chama-se BAYTAL CHA’R (“a casa do pêlo”). Constata-se claramente a semelhança, a equivalência e a simbiose entre o indivíduo, o meio ambiente e a língua. São argumentos que se referem ao determinismo do meio ambiente; mas, na verdade, foram razões religiosas que marcaram a língua aramaica e, em consequência, o árabe. No aramaico, língua mãe das línguas semíticas faladas (etíope, fenício, etc.) e litúrgicas (siríaco, hebreu, etc.), á palavra “poesia”, CHITR, designa também o “canto”. Canto e poesia são inseparáveis e têm uma função religiosa. Cantava-se para os deuses, daí o caráter sagrado do CHITR. A Bíblia foi redigida, originariamente, em aramaico (embora a mais velha versão conhecida seja grega...), e o Cristo só se exprimiu nesta língua. O aramaico já tinha uma sacralidade que as traduções grega (Septanta), latina (Vulgata, século I), siríaca e árabe (século VI) é hebraica (século IX) não conseguiram atenuar. Com o surgimento do Islã, que é uma nova e original síntese da herança semítica, o dialeto da Árâbia, este berço do semitismo, no caso o árabe, iria conhecer uma consagração, uma divinização inéditas. Os árabes da antiguidade consideravam tanto a própria língua que o historiador grego Herôdoto, encontrando-os no século V antes de Jesus Cristo na Palestina meridional, escreveu sobre eles: “nenhum povo respeita mais que os árabes a palavra empenhada”. De fato, desde o aparecimento do Islã, o árabe não é mais considerado como uma ferramenta histórica, criada pelos homens para sua mútua comunicação, e suscetível portanto de evolução; ele é antes de tudo um instrumento privilegiado, divino, e que tem os mesmos atributos de Deus: atemporalidade, eternidade, sacralidade. A língua árabe possui, assim, uma existência autônoma e uma soberania sobre a vida dos homens, escapando às influências do tempo. Até nossos dias, tem sido considerada pela maioria dos árabes como a língua de Deus, falada por Adão e pelos Anjos do Paraíso, o que coloca, pode-se pressentir, problemas que serão analisados mais tarde. Depois destas breves considerações o leitor começa a perceber as razões que levaram o Renascimento árabe a começar pelo domínio linguístico e literário, e no momento mesmo em que o poder otomano decidia “turquificar” totalmente o mundo árabe. O Renascimento não podia deixar de ser uma restauração da língua árabe em sua pureza; mas, ao mesmo tempo, para que ela se modefnize, é preciso adaptá-la aos tempos, fazê-la evoluir; numa palavra, dessacralizá-la. Nesse ponto, tocamos um dos problemas centrais levantados pelo Renascimento e até hoje não resolvido: como preservar a autenticidade da língua árabe, que está, para a maioria, em seu caráter sagrado, adaptando-a, ao mesmo tempo, aos imperativos do mundo moderno? Como conciliar uma tradição milenar e uma modernidade vivida como um processo originariamente estrangeiro e hostil? Pouco depois do início do Renascimento, surgem duas correntes de pensamento: a primeira, de tendência islamita, militará pelo retomo integral à tradição e pela preservação de toda e qualquer “impureza” estrangeira; nesta corrente encontramos muçulmanos ortodoxos, mas também cristãos e mesmo judeus; a segunda lutará pela redescoberta da herança árabe, e não somente islâmica, e pela assimilação das produções do Ocidente que tenham um caráter universal. No interior das duas correntes, encontram-se diversas tendências, mas, antes de analisá-las, voltemos aos começos do Renascimento. t4A filosofia de Jesus era a dos filósofos árabes seus contemporâneos. ” Stendhal, Crônicas Italianas Nada é mais difícil para um ocidental do que distinguir “árabe” e “muçulmano”, e sobretudo admitir que não somente existem árabes cristãos (cerca de 16 milhões se se consideram os da “diáspora”), mas que também eles são, de fato, descendentes diretos dos primeiros cristãos, como, por exemplo, os de Nazaré, de Jerusalém, e de Belém... É verdade também que há muitos árabes muçulmanos que não admitem facilmente a possibilidade de um árabe não ser muçulmano. Os árabes cristãos estiveram na origem do Renascimento árabe, e até os nossos dias a percentagem deles em todos os movimentos de vanguarda cultural e política ultrapassa sua proporção na população. Tomando um exemplo concreto: o drama libanês. A proporção de cristãos na esquerda libanesa e palestina é majoritária; o mesmo ocorre na Síria e no Egito. O papel dos cristãos não é produto de geração espontânea, surgida ex nihilo, é antes de tudo a ressurgência de uma dimensão histórica árabe reprimida simultaneamente pelos árabes e pelo Ocidente. Desde a época das Cruzadas desenvolveu-se no Ocidente uma concepção do árabe no mínimo subjetiva, que consistiu em excluí-lo da cultura mediterrânea, do monoteísmo e do próprio gênero humano. Com efeito, embora o Renascimento europeu fosse inconcebível sem a cultura árabe-muçulmana que lhe forneceu as bases (não foi por acaso que o processo começou na França e na Itália, países fronteiriços com a Espanha e a Sicília muçulmanas), e ainda que o Islã esteja carregado de símbolos bíblicos, criou-se do árabe a imagem de um ser lúbrico e preguiçoso, um infiel dotado de cultura totalmente excepcional e extravagante. Um autor notável, Michel Hayek, padre maronita libanês, num livro publicado na França, interroga-se sobre o estranho fato de que o mito de Ismael (pai bíblico dos árabes), que prefigura o Cristo de uma forma impressionante, tenha sido completamente eludido e excluído pela Igreja europeia. O autor propõe, com razão, reescrever totalmente a história árabe, deformada por séculos de colonialismo e ódios recíprocos. Póde-se acreditar nele quando acrescenta que se trata de uma tarefa das mais difíceis. É preciso retomar à Bíblia para captar a dimensão árabe do cristianismo. Com efeito, sabe-se que Abraão tinha duas mulheres, a esposa Sara e sua empregada egípcia, Hagar. Não podendo Abraão ter filhos com sua primeira esposa, volta-se para a empregada que lhe dá seu primeiro filho: Ismael (“o que Deus escuta”). Quando Abraão recebeu a Aliança para a sua descendência, encarnada pela circuncisão, foi Ismael que a recebeu e que foi circuncidado. Isaac só foi nascer nove anos mais tarde. Ê então que Ismael, o mais velho, o circuncidado, é expulso com a mãe para o deserto, abandonado à sede, às areias e ao nomadismo. A Bíblia nos diz que Deus veio em seu socorro, que Ismael tomou-se um caçador, dando origem às tribos beduínas da Arábia. O termo Arábia designa, para os historiadores da antiguidade (Heródoto, Xenofonte, etc.), não a península arábica, mas o sudeste da Palestina, a Síria e a planície libanesa. Quando Moisés à frente dos seus atravessa o Mar Vermelho, encontra uma tribo árabe do Sinai e se casa com a filha do chefe que o inicia no monoteísmo. Freud, em seu Moisés e o Monoteísmo, evoca o papel dos árabes beduínos na Bíblia. Quando a dinastia judia dos Asmoneus Macabeus caiu, foi um árabe convertido ao judaísmo, Herodes, que subiu ao poder. Um árabe à frente de um reino judeu parece surrealista atualmente, mas tratase de um fato histórico. Justino de Naplus (150 anos depois de Jesus Cristo) conta-nos que os três reis magos que assistiram ao nascimento do Cristo “vieram da Arábia”, ou seja, para a época, da região conhecida hoje sob o nome de Cisjordânia. Desde o aparecimento do cristianismo, além das várias populações da Palestina (jebuseus, filisteus, hebreus, cananeus, etc.), beduínos converteram-se à nova religião. Para que se acredite na força do cristianismo na Arábia basta lembrar que São Paulo considerou necessário deslocar-se pessoalmente para lá. Acrescentemos que a mais velha inscrição árabe descoberta até hoje encontra-se numa igreja do deserto de Hauran, entre o Líbano e a Síria. E ainda mais: quando se considera a Bíblia e o Corão, à luz das descobertas arqueológicas contemporâneas, é impossível fugir à conclusão de que as nossas três religiões monoteístas (cada uma considera o seu próprio surgimento como o inicio da história) não inventaram nada, a rigor, e que não passam de sínteses originais, refletindo uma determinada época da história e da herança milenar de uma população da mesma raiz semítica. A epopeia babilónica de Gilgamesh, que precede a Bíblia de dois mil anos, contém toda a cosmogonia retomada pela Bíblia e pelo Corão: a criação do mundo, o dilúvio, etc. O lugarejo de Ebla, que acaba de ser descoberto na Síria, é ainda anterior (3.000 anos antes de J.C.) e contém em seus arquivos as mesmas lendas. O Islã, cujo mensageiro, Maomé, nascera numa região cristianizada e numa cidade onde viviam fortes comunidades de árabes judaizados, não traz novidades radicais, apenas coroa uma herança milenar, globalizando e imprimindo a própria personalidade à herança recebida. Ser árabe hoje não é ser muçulmano, é ser, antes de mais nada, a síntese do conjunto da herança oriental: babilónica, aramaica, fenícia, egípcia, hebraica, cristã e muçulmana. As breves considerações sobre a Bíblia que acabam de ser feitas não devem impedir que frisemos que as pesquisas arqueológicas conduzidas há mais de um século no Oriente Médio ainda não trouxeram nenhuma confirmação concreta dos acontecimentos descritos pelas Escrituras. Com efeito, nem as 18000 tábuas de Ebla, nem os papiros e documentos das chancelarias faraônicas mencionam um qualquer Abraão, ou Ismael, ou Moisés ou David ou Salomão. Trata-se de um ponto fundamental, o silêncio é absoluto sobre os personagens bíblicos, enquanto os vestígios dos mitos estão presentes do Nilo ao Eufrates. Trata-se de uma realidade que nem o judaísmo, nem o cristianismo e muito menos o islamismo (que retoma toda a Bíblia) ainda admitiram, continuando a considerar seus livros religiosos como fotografias dos lugares e dos homens da Antiguidade. Ê como se tentássemos fazer a história da Grécia a partir da Ilíada e da Odisseia. Acrescentemos que a língua árabe sofreu substanciais evoluções em função do cristianismo. Por exemplo, em aramaico, Belém significa BEET (“casa”) e LEHEM (“pão”), “casa do pão”. Em árabe a palavra LEHEM significa atualmente “carne” (de animal ou de pessoa). A evolução semântica exprime o símbolo crístico da transformação do pão em carne. O termo NASSAR significa “cristão” (daí NAZARETH) em árabe, e designa também a “vitória”. A morte-vitória do Cristo é encarnada por uma só palavra. Tal cristianização reflete-se mesmo na política. Por exemplo, o nome da organização palestina FATAH significa “conquista”, “vitória”, mas, invertida em HATAF, quer dizer “morte”. O próprio vocábulo FEDAYIN designa o Cristo, significando literalmente “Redentor”. O fato de que o primeiro FEDAI tenha sido o Cristo sobre a terra de Jerusalém, e que os FEDAYINS atualmente evoluam nos mesmos lugares, engendrou toda uma literatura cristã. Os primeiros estados árabes constituídos foram cristãos (Lakliam, Ghassan, Hira, e, numa medida menor, Palmira e Petra, que praticavam outras religiões. E mais: o irmão de Herodes, rei da Judeia, casou-se com a irmã do rei de Petra). Lakham e Ghassan, que se situavam entre a Palestina, o Líbano e a Síria, eram vassalos (desde então!) dos “grandes” da época: o império persa dos Sassânidas e o Império Bizantino. Estes lutavam por intermédio dos árabes. A dominação romana no Oriente Próximo permitiu aos árabes assimilados subir na hierarquia do Império Romano. Um líbio, Sétimo Severo (164211), que se tornou imperador, desposa uma síria, Julia Doma, filha do sacerdote de Emese (Homs); o filho desta união, Carac-Allah (188-217), sucederá o pai. Por ocasião de sua morte, um outro árabe, Elagabal (ou Heliogabal) (Homs: 204-222), subirá ao trono em Roma, impondo a religião do Deus Sol, cujo templo guarda uma pedra negra (a Meca contém igualmente uma pedra negra). Seu sobrinho, Alexandre Severo (ACCA — São João do Acre — 205 ou 208-235), incentivará ativamente a penetração do cristianismo na Europa, ainda pagã. Finalmente, o último desta linhagem de imperadores romanos de origem árabe, Filipe... o Ãrabe (Jordânia, 204, Verona, 249), em cujo reinado foi celebrado o milenário da cidade de Roma. Santo Eusébio louva seus esforços pela introdução do cristianismo na Europa. O próprio Filipe, que era também cristão, nascera na Síria, no Djebel Druzo. Foi assassinado, sendo considerado por Santo Eusébio como um dos primeiros mártires do Cristo. Durante cerca de três séculos, o cristianismo ioi oriental e, como vimos, bastante arabizado. Só mais tarde, depois da conversão de Constantino I, é que a religião do Cristo ganhou o Ocidente. Assim, a expressão “ocidente-cristão”, que terminou criando um contrapeso irredutível no clichê do mundo “árabe-muçulmano”, é totalmente ridícula e deveria ser superada. O grande historiador Arnold Toynbee afirma que o Islã é uma reação do cristianismo oriental contra o despotismo bizantino e a arrogância sassânida no Oriente Próximo. Trata-se de uma formulação delicada mas que não deixa de apresentar argumentos em seu favor. Com efeito, quando Constantino toma o cristianismo uma religião de Estado, passa a enfrentar, imediatamente, um problema político-cultural, a saber: como continuar dominando e explorando uma região e povos (os do Oriente Médio) e, ao mesmo tempo, assumir como ideologia governamental uma religião que estes mesmos povos transmitiram com grandes dificuldades à Europa? De outro lado, o próprio Constantino acha-se à frente de um poder no qual os imperadores orientais deixaram marcas. A reação a esta situação veio da jovem igreja europeia que decidiu encaminhar o problema a nível religioso. Enquanto os cristãos orientais assumiam ritos monofisitas ou nestorianos, a igreja europeia lutava com os resquícios do paganismo ocidental, em nome do qual foi combatido anteriormente o cristianismo. Ela começou a criticar e, em seguida, a denunciar a igreja árabe como infiel e ilegítima. Aproveitando-se de sua força dominante (a dominação bizantina se estendia, sem interrupções, da Argélia ao Iraque), organizou o primeiro Concilio de Niceia (325). A igreja oriental, cujas sedes eram Alexandria e Antióquia, foi representada por um delegado líbio Arius, que professava a doutrina chamada Arianismo. No final do concílio a igreja oriental foi excomungada, condenada às Gemônias e a sede do cristianismo foi transferida do Oriente para Roma. Aqui reside o primeiro mal-entendido e o divórcio profundo entre o Oriente e o Ocidente, entre árabes e europeus. Insistir no conflito Islã-Ocidente é portanto uma tentativa inconsciente de reprimir este primeiro conflito dramático, e o seu reconhecimento correria o risco de colocar em causa as bases da identidade “ocidental-cristã”. A partir de então, as perseguições bizantinas contra os cristãos do Oriente tornaram-se cada vez mais frequentes e mortais. Maomé, quando jovem, era caravaneiro. Conhecia bem, pela profissão, o Crescente Fértil e, em particular, a Síria. Ê lógico que não lhe escapavam os problemas que marcavam essa região. Testemunhos descrevem-no visitando as igrejas. Conta-se que o bispo da cidade síria de Bosra, observando-o, teria predito que ele seria, um dia, um profeta. Um santo oriental, Santo Efraim, escreveu esta sentença profética: “Um povo, filho de Hagar, empregada de Sara, assumindo o pacto de Abraão, sairá do deserto e será o emissário da calamidade”. Já dissemos que a Meca era uma cidade cosmopolita onde o judaísmo e o cristianismo estavam enraizados, até mesmo entre os parentes do profeta. Quando este anunciou a revelação, não afirmou em nenhum momento e mesmo jamais (isto é fundamental) que sua religião constituía uma ruptura com as predecessoras. Ao contrário, afirmava que o Islã era o coroamento inevitável e necessário das duas religiões, cristã e judia, que ele considerava incompletas e desnaturadas pelas querelas secundárias. O Islã retoma toda a cosmogonia bíblica e reconhece todos os santos do judaísmo e do cristianismo. O lugar de Jesus é relativamente importante no Corão. Mas o ponto essencial é que a concepção corânica do Cristo aproxima-se, ponto por ponto, da da igreja oriental (nestoriana, etc.), o que a coloca automaticamente do lado dos cristãos orientais e contra a igreja europeia. Foram igualmente um fermento para o crescimento do Islã certas razões históricas e econômicas particulares, entre as quais o fato de que a Meca tornara-se o centro de trânsito mais seguro e mais importante das mercadorias asiáticas que por lá passavam em direção ao mercado mediterrâneo; as antigas rotas sírio-libanesa-palestinas haviam-se tornado inseguras em função de desordens incessantes. De fato, tanto o Império Bizantino como o sassânida estavam em vias de desagregação. Os povos do Crescente Fértil revoltavam-se frequentemente, e cada vez mais, e isto se combinava às querelas religiosas que dividiam cada vez mais a igreja oriental. Será que Maomé, no seu íntimo, tendo em vista sua qualidade de caravaneiro curioso e originário de Meca, percebeu que chegara o momento de reagir para libertar o Oriente do jugo estrangeiro? Ele vai a Jerusalém e a tradição diz que, no lugar onde hoje se ergue a grande Mesquita, ascendeu para o encontro com Deus. Quando morre (622), deixando um sistema filosófico e espiritual coerente e completo, o descontentamento das populações locais, atestado pelos historiadores, estava no auge. Quando os primeiros contingentes de beduínos, recém-convertidos do judaísmo e do cristianismo ao Islã, chegam às portas de Damasco, é o arcebispo da cidade, em pessoa, que vem ao seu encontro com as chaves da cidade. A mesma coisa aconteceria em Jerusalém, quando se deu o encontro histórico entre o arcebispo da cidade e o Califa Ornar. É importante lembrar rapidamente, ainda que isto possa incomodar o estereótipo da oposição entre arabismo e cristianismo, que a Síria, a Palestina e o Líbano estavam arabizados antes do Islã. Após o reino do árabe Herodes, rei da Judeia, e o aparecimento do Cristo, Santo Eutímio, o Grande, converteu ao cristianismo uma tribo árabe a leste de Jerusalém, no século VI. O bispo desta tribo assinou as Atas do Concílio de Éfeso (431) enquanto “Pedro, bispo dos árabes”. Também era árabe Santo Elias primeiro (494-516), patriarca de Jerusalém que morreu em 518, exilado em Akaba; era árabe Estevão, que assistiu com São Sabas aos últimos momentos de Elias. O avô de São João de Damasco foi nomeado pelos muçulmanos primeiro-ministro, e seu neto, responsável pelas finanças do império. Foram arquitetos cristãos que construíram em Jerusalém as duas grandes mesquitas, consideradas como as mais sagradas do Islã e que permanecem até hoje lá. Da mesma forma, seus antepassados do reino.de Tiro construíram o Templo de Davi na mesma cidade. Foram também generais cristãos que conquistaram o Egito. É preciso saber que os poucos milhares de beduínos que invadiram o Crescente Fértil não tinham nenhum conhecimento especial, nenhuma ciência. A visão do mar, aliás, aterrorizou-os. As populações locais, recém-convertidas, é que, vendo neles parentes que falavam a mesma língua e professavam relativamente a mesma religião, colocaram a seu serviço a própria cultura e a própria experiência. A chegada dos muçulmanos ilustra o levantamento do mundo semítico contra a dominação romana; é o que se depreende, em todo caso, da obra do historiador medieval Miguel, o Sírio: “O Deus das vinganças... observando a maldade dos romanos que, ali onde dominavam, pilhavam cruelmente nossas igrejas e nossos mosteiros, condenando-nos sem piedade... Não foi pouca coisa para nós libertarmonos da crueldade dos romanos, de suas maldades e de sua cólera, de sua cruel inveja e termos encontrado a paz”. Sob a dinastia dos Omeiadas, dotados de um senso político surpreendentemente moderno, o império organiza-se e se unifica, mas não com facilidade, porque os novos senhores não queriam que toda a população se tornasse muçulmana. De fato, os não muçulmanos deviam pagar uma taxa de proteção para ter liberdade de culto, e o interesse do Estado era o de arrecadar fundos. Houve humilhações, intimidações contra os que desejavam converter-se, mas, afinal, o movimento tomou-se irresistível e o poder teve que se curvar frente ao inevitável. É bom lembrar que os Omeiadas constituem uma família que se opôs, de maneira mortal, ao Islã, subindo ao poder em virtude de um assassinato, o do Califa Ali, genro de Maomé. Poder ilegítimo em si mesmo, mas que foi capaz de garantir bases institucionais, administrativas e políticas para o Islã. Ainda que o Corão proclame: “o árabe só pode ser superior ao não árabe pela piedade”, e embora o primeiro MUEZZIN do Islã tenha sido um negro; embora entre as esposas de Maomé houvesse duas judias e uma cristã, apesar de tudo isto, Moawiya Abu Sofiané, fundador da dinastia Omeiada, privilegiou escandalosamente o elemento árabe, cristão ou muçulmano, em detrimento dos povos conquistados, civilizados e conscientes de sua dignidade, como os persas, por exemplo. O Califa escolhe uma autêntica elite para assessorá-lo, reúne padres para traduzir todas as obras gregas, persas e hindus. O grego será a língua dos primeiros tempos do Islã, na medida em que os bizantinos administraram as diversas regiões utilizando essa língua. Até este momento tudo parece correr bem, o corpo semítico reconstituiu-se na nova religião e está, pela primeira vez, unido. Os historiadores são unânimes neste ponto específico. Daí a afirmação de Toynbee e também o que nós mesmos dizíamos sobre o arabismo como síntese da herança oriental. De fato, todo o Oriente iria trocar seus dialetos semíticos pelo árabe, esculpido em língua científica e imperial, e dotado (trata-se da primeira língua a fazê-lo) de uma gramática. Saindo da esfera semítica é que os árabes, prosseguindo sua expansão, iriam enfrentar as mais sérias resistências. A leste, na Pérsia, enfrentarão um povo com um passado glorioso, e na África do Norte, no interior, encontrarão povos que, ao contrário dos do litoral, não conheceram nem os fenícios, nem o cristianismo. Os persas cederam, mas os berberes das montanhas opuseram terrível resistência aos invasores. Foi um detalhe romântico, consagrado pela história, que resolveu o problema. De fato, a rainha berbera, Kahina, capturou o chefe árabe Khaled e... apaixonou-se loucamente por ele. O amor jogou a favor do Islã. Ao menos foi isso o que a crônica guardou e enfatizou. Em alguns anos o Califa Moawiya tornou-se chefe do maior império jamais conhecido na história, estendendo-se da China à França. A discriminação exercida, conscientemente ou não, por Moawiya contra os persas e os não árabes revelou-se fatal para ele. Uma família árabe mestiçada com os persas, a dos Banu Ãbbas, revoltou-se, organizando um horrível massacre de toda a dinastia. Um único Omeiada sobreviverá, fugindo e conseguindo chegar à Andaluzia, -onde os partidários de seu pai o receberão, entronizando-o como seu Califa, e cortando os laços com Damasco. Foi a primeira cisão do Islã. No interregno, Damasco perdera sua condição de capital em proveito de Bagdá. Tal evolução geográfica é significativa porque aproxima a capital do califado da Pérsia e é um in-. dício do que vai acontecer e que merece ser chamado de o racismo antiárabe dos Abássidas. Sua política consistiu em favorecer, em todos os níveis do Estado, as pessoas de raiz iraniana, o que se traduziu no plano literário pela eclosão de uma literatura chamada CHLTHUBIYA, especializada na ridicularização dos árabes. A língua árabe só permaneceu como língua oficial porque era sagrada e definida como língua do Corão. O Islã, portanto, só se manteve árabe durante um século. A partir dos Abássidas, os árabes perdem o controle de seu destino e serão desde então minoritários. Os árabes cristãos sofreram as consequências desta transformação, milhares foram massacrados por sua cumplicidade com os Omeiadas. Somente na Andaluzia manteve-se um poder árabe. Os intelectuais perseguidos no Oriente iriam emigrar (desde então) para a Andaluzia em busca de Uberdade. Ê o caso, por exemplo, do famoso Ziryab que, entre outras coisas, fabricou o alaúde tal como o conhecemos atualmente. Nem por isso o período Abássida deixou de conhecer um extraordinário florescimento nas ciências e nas artes, destacando-se esclarecidos monarcas, como Harun Al Rachid, que criaram um clima de grande tolerância. Na Andaluzia, Abderrahman, o Omeiada, não repetiu os erros dos pais, ao contrário, criou as condições de convivência entre as diferentes culturas, o que constituiu exemplo de tolerância jamais reproduzido por época alguma. De fato, muçulmanos, judeus e cristãos viviam em pé de igualdade. Mesmo a cultura judia, humilhada e reprimida em outros lugares, conheceu então um momento de glória; à sombra das universidades árabes, o hebreu, embora sendo sempre uma língua litúrgica, adotou a gramática árabe, e o judaísmo teve sua própria KABBALA, adaptada a partir da KABBALA árabe-muçulmana. O filósofo Maimônides redigiu notáveis livros tão humanos num árabe tão impecável que a academia árabe do Cairo considerou-o oficialmente, em 1956 (em plena invasão de Suez por Israel, Inglaterra e França), como “fazendo integralmente parte do patrimônio literário árabe’”. Na Andaluzia vivia também uma certa família, os Spinoza: a Europa ouviria falar de um de seus filhos. O golpe de Estado Abássida afastou para sempre os árabes do Oriente da direção do Islã. Vimos que antes do Islã os árabes estavam divididos entre pró-persas e pró-romanos. O Islã que devolveu a soberania ao Oriente semítico só se manteve árabe e semítico, e se trata de um ponto fundamental, durante um século. Se na época do cristianismo Alexandria e Antióquia perderam sua legitimidade espiritual em proveito de Roma, agora Damasco perde a sua em proveito de Bagdá. Os persas, tendo imposto sua revanche, vão dominar o Islã até o surgimento das dinastias mongois e, finalmente, turcas. Os turcos, originalmente recrutados como mercenários para as guardas pretorianas, foram galgando progressivamente o poder, e chegarão a dominar o mundo árabe durante cinco séculos. Quanto à Andaluzia, onde sobrevivia a alma árabe, e que se constituiu no refúgio dos perseguidos do Oriente, marcou uma revolução ria literatura árabe, mas não demoraria a cair sob os golpes do “Ocidente cristão”. A Andaluzia foi a terra em que a língua árabe e a poesia conheceram uma mutação devida ao fato de que a mistura racial foi acompanhada por uma miscigenação linguística e cultural total. Na península, a língua árabe perdeu a dimensão sagrada e fez “concessões” à vida cotidiana, ao profano. Assim nasceu uma literatura que ama descrever os encantos da natureza, os movimentos das estações do ano, em suma, um paisagismo lírico. Ao mesmo tempo surgiam gêneros musicais particulares chamados MUWACHAH e ZAJAL, dedicados ao delicado amor dos cortesãos, que dariam origem aos CARJAS portugueses e estariam na base das músicas dos trovadores, do “flamengo” e do “fado”. De sagrado e espiritual, o árabe torna-se carnal, sensual e “terraa-terra”, como já o demonstramos longamente, de-pois do espanhol Menendez Pidal e outros, num estudo para a UNESCO. Atacado a leste pelos mongois, em Andaluzia 1 pelos europeus, o império muçulmano se desmembraria progressivamente, esmagado por ditadores obscurantistas e impotentes. Sob pretexto de libertar os lugares santos cristãos (como se não houvesse cristãos árabes) do Oriente, o Ocidente, também às voltas com uma profunda crise, lança as famosas Cruzadas, cujos resultados serão os reinos francos que durarão um século. Recordemos que as Cruza1 das não pouparam, como se poderia acreditar, os cristãos do Oriente; ao contrário, estes foram perseguidos e mesmo massacrados como em Jerusalém. Nas montanhas libanesas, toda uma biblioteca maronita, em árabe e em siríaco, foi queimada. A resistência dos cristãos árabes foi tão forte que Rodriguez, cronista das últimas Cruzadas, escreverá sobre eles: “Eram tão obstinados em sua heresia e em seu ódio à igreja romana que preferiam, conforme eles próprios afirmavam, tornarem-se turcos (muçulmanos) a se submeterem à obediência da Santa Sé”. A igreja romana conseguiu, afinal, fomentar cismas na igreja oriental, integrando em seu próprio seio certas comunidades como, por exemplo, os Maronitas. Quando os muçulmanos são expulsos da Andaluzia, os otomanos já estão no poder da Argélia ao Iraque. Aproveitando-se do desaparecimento do reino andaluz, apresentar-se-ão como herdeiros do Califado original e unificado, e governarão em nome do Islã e contra a Europa cristã. O cristianismo esteve na origem do divórcio Oriente-Ocidente, o surgimento do Islã radicalizou-o, a entrada em cena dos turcos vai tomar a contradição árabe-muçulmanos e ocidental-cristãos o arquétipo da oposição fatal e irremediável: o dia e a noite, a água e o fogo, o irracional e a razão, a democracia e o despotismo. É inútil insistir em que as diferenças profundas entre as duas margens do Mediterrâneo são mais políticas do que antropológicas. Os árabes serão, sob o regime turco, mais discriminados do que nunca; quanto aos cristãos, foram marginalizados, reprimidos e considerados não como autóctones, mas acima de tudo como agentes do Ocidente ou mesmo como uma espécie de “quinta coluna’’. Foram muitas vezes massacrados e

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