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Literatura, ensino e formação em tempos de Teoria (com T maiúsculo) PDF

207 Pages·2020·1.147 MB·Portuguese
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LITERATURA, ENSINO E FORMAÇÃO EM TEMPOS DE TEORIA (COM “T” MAIÚSCULO) Editora Appris Ltda. 1.ª Edição - Copyright© 2020 dos autores Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda. Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organi- zadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010. Catalogação na Fonte Elaborado por: Josefina A. S. Guedes Bibliotecária CRB 9/870 Cechinel, André C387l Literatura, ensino e formação em tempos de teoria (com “T” maiúsculo) / André 2020 Cechinel. - 1. ed. – Curitiba : Appris, 2020. 207 p. ; 23 cm. – (Linguagem e literatura). Inclui bibliografias ISBN 978-85-473-4522-8 1. Literatura – Estudo e ensino. I. Título. II. Série. CDD – 807 Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT Editora e Livraria Appris Ltda. Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês Curitiba/PR – CEP: 80810-002 Tel. (41) 3156 - 4731 www.editoraappris.com.br Printed in Brazil Impresso no Brasil André Cechinel LITERATURA, ENSINO E FORMAÇÃO EM TEMPOS DE TEORIA (COM “T” MAIÚSCULO) FICHA TÉCNICA EDITORIAL Augusto V. de A. Coelho Marli Caetano Sara C. de Andrade Coelho COMITÊ EDITORIAL Andréa Barbosa Gouveia - UFPR Edmeire C. Pereira - UFPR Iraneide da Silva - UFC Jacques de Lima Ferreira - UP Marilda Aparecida Behrens - PUCPR ASSESSORIA EDITORIAL Evelin Kolb REVISÃO Pâmela Isabel Oliveira PRODUÇÃO EDITORIAL Lucas Andrade DIAGRAMAÇÃO Bruno Ferreira Nascimento CAPA Fernando COMUNICAÇÃO Carlos Eduardo Pereira Débora Nazário Karla Pipolo Olegário LIVRARIAS E EVENTOS Estevão Misael GERÊNCIA DE FINANÇAS Selma Maria Fernandes do Valle COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA DIREÇÃO CIENTÍFICA Maria Aparecida Barbosa (USP) Erineu Foerste (UFES) CONSULTORES Alessandra Paola Caramori (UFBA) Leda Cecília Szabo (Univ. Metodista) Alice Maria Ferreira de Araújo (UnB) Letícia Queiroz de Carvalho (IFES) Célia Maria Barbosa da Silva (UnP) Lidia Almeida Barros (UNESP-Rio Preto) Cleo A. Altenhofen (UFRGS) Maria Margarida de Andrade (UMACK) Darcília Marindir Pinto Simões (UERJ) Maria Luisa Ortiz Alvares (UnB) Edenize Ponzo Peres (UFES) Maria do Socorro Silva de Aragão (UFPB) Eliana Meneses de Melo (UBC/UMC) Maria de Fátima Mesquita Batista (UFPB) Gerda Margit Schütz-Foerste (UFES) Maurizio Babini (UNESP-Rio Preto) Guiomar Fanganiello Calçada (USP) Mônica Maria Guimarães Savedra (UFF) Ieda Maria Alves (USP) Nelly Carvalho (UFPE) Ismael Tressmann (Povo Tradicional Rainer Enrique Hamel (Universidad do Pomerano) México) Joachim Born (Universidade de Giessen/ Alemanha) AGRADECIMENTOS Se é verdade que as preocupações em relação à dinâmica de aplicação de pressupostos teóricos aos artefatos literários caminham comigo há bastante tempo, as formulações que tomam corpo neste livro só me foram possíveis a partir da leitura, nos últimos anos, dos ensaios do Prof. Dr. Fabio A. Durão (Unicamp), em particular do livro Teoria (literária) americana: uma introdução crítica, publicado em 2011. A minha dívida para com o volume em questão e demais textos de Durão revela-se nas constantes menções à sua obra ao longo de todos os capítulos que compõem o presente volume. Agradeço ao Prof. Fabio, pois, tanto pela interlocução aqui evidenciada quanto pelas recentes contribuições para os volumes que organizei sobre o tema. Devo agradecer, ainda, a amigos e parceiros intelectuais cuja presença se faz direta ou indiretamente sensível nos ensaios aqui reunidos. Além dos colegas do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Curso de Letras da Unesc, bem como de seus respectivos alunos, gostaria de agradecer ao Prof. Dr. Rafael Rodrigo Mueller, coautor de dois dos capítulos deste livro e interlocutor constante; ao Prof. Dr. Sérgio Luiz Rodrigues Medeiros, para sempre il miglior fabbro; ao Prof. Dr. Fábio Luiz Lopes da Silva, amigo, mestre e máquina conceitual; à Prof.a Imaculada Kangussu, companheira de leituras, textos e viagens; ao Prof. Dr. Eduardo Subirats, eterno defensor da literatura, do ensaio e de um circuit circus para as humanidades; ao Prof. Dr. Victor Luiz da Rosa, leitor criterioso e crítico certeiro; e ao Prof. Dr. Cristiano de Sales, poeta, ensaísta e amigo. Agradeço, ainda, o convívio diário e as conversas sempre produtivas com os amigos Prof. Dr. Ismael Gonçalves Alves, Prof. Dr. Gladir da Silva Cabral e Prof.ª Dr.ª Ângela Cristina Di Palma Back. Sem a presença e o diálogo com todas essas pessoas, o presente volume não teria acontecido. Por fim, agradeço à Michelle Maria Stakonski Cechinel, minha leitora mais rigorosa e gentil, ponto de convergência de todos os meus textos e de todo o resto: “Love is most nearly itself/When here and now cease to matter”. O autor PREFÁCIO Uma adolescente brilhante que ama os livros, mas não consegue dedicar-se tanto quanto queria a eles em meio às obrigações escolares e às pressões decorrentes da relativa pobreza em que sua família se encontra. Um jovem, atormentado por um trauma terrível, que decide deixar tudo para trás, inclusive a carreira promissora como estudioso da literatura. Um sessentão nova-iorquino às voltas com a falência iminente da editora que dirige há quatro décadas. Um autor famoso acossado pelo fantasma de uma paralisia criativa permanente. Uma aluna de doutorado que, à noite, depois do trabalho, tenta terminar sua tese no cenário sombrio da casa abando- nada que ocupa irregularmente. Em Sunset Park, romance de Paul Auster (2012), a literatura está por toda parte, mas em condições invariavelmente precárias, abrindo caminho com dificuldade na rotina das pessoas ou sendo continuamente emparedada pelas incertezas da vida. Essas incertezas, em certa medida, são as de sempre, fruto do simples fato de existirmos e de seus riscos inerentes. “Viver é muito perigoso”, já disse alguém (só não exageremos no recurso autocomplacente a tal citação: esse alguém, não custa lembrar, era um jagunço, enquanto nós...). Mas as incertezas que rondam os personagens de Auster são também as de um tempo e um lugar específicos: o ano de 2008 nos Estados Unidos, quando, como se sabe, a maior economia nacional do planeta conheceu um abalo de pro- porções catastróficas, com consequências dramáticas para o mundo inteiro. Como bem aponta o ensaísta Thomas Frank, os blue collars americanos até hoje não saíram da situação encalacrada em que os grandes especula- dores os meteram. É verdade que, de acordo com as estatísticas oficiais, o país voltou a crescer. Só que a transferência dos lucros para o andar de baixo simplesmente não acontece: “os salários não aumentam; a renda média no país permanece bem abaixo do ponto em que estava em 2007; a parcela representada pelos ganhos dos trabalhadores no produto interno bruto bateu o recorde negativo em 2011 e desde então não se recuperou” (FRANK, 2016, p. 1). Em favor de seu argumento, Frank menciona uma esclarecedora pesquisa de acordo com a qual, em 2014, quase três quartos dos americanos ainda pensavam que os Estados Unidos continuavam em recessão. “Porque, para eles, estava mesmo”, arremata Frank (2016, p. 2). Timothy Snyder, professor de História em Yale, vai ainda mais longe. A seu juízo, a crise de 2008 é um divisor de águas. Sob seus efeitos disruptivos, os americanos finalmente ligaram os pontos (o 11 de setembro, o desastre da segunda guerra no Iraque, a perda ininterrupta de direitos, o ocaso dos sindicatos etc.) e concluíram que o futuro de paz e prosperidade prometido pelas democracias liberais estava cada vez mais irremediavelmente distante deles. Nasceu daí um novo tempo, marcado por descrença e desesperança, à mercê de projetos autoritários. Ou mais que isso: para Snyder, a mais recente recessão é, para muitos americanos, o ano zero de uma outra concepção de tempo, um modo radicalmente novo de as pessoas compreenderem a História, uma maneira de enquadrar a vida em cujos termos o futuro simplesmente desaparece do horizonte, sendo substituído pela ideia de que tudo o que há, no fim das contas, é a repetição infatigável de um único e mesmo ciclo, no qual “nós”, supostos inocentes, seríamos perpetuamente atacados por algum inimigo externo ou interno (os chineses, os comunistas, os negros, os mexicanos, os corruptos etc.) (cf. SNYDER, 2018). Ainda segundo Snyder, o que acontece nos Estados Unidos é, na verdade, só um exemplo, entre muitos outros, de um fenômeno global. Com pequenas diferenças cronológicas e sob a influência de diferentes acontecimentos além da crise de 2008, a humanidade toda está rendendo-se a essa percepção de que estamos presos a um ciclo em que seríamos perpetuamente atacados justamente porque somos puros, e o destino da pureza é ser violada pelos homens maus. Ora, em circunstâncias dominadas por uma narrativa geral tão medíocre e deprimente, como esperar que a literatura seja valorizada? No livro que o leitor agora tem nas mãos, André Cechinel revela imensa clareza de que a literatura existe hoje exatamente como é capturada no romance de Auster: aos pedaços e sempre prestes a desaparecer. O autor, além disso, mostra total consciência de que esse despedaçamento foi produzido por e faz sistema com os circuitos do capital e a sucessão de dramas políticos e tensões socioeconômicas que marcaram o século XX e se prolongam pelo século XXI. Cechinel não cita Snyder, mas converge para a mesma conclusão de que o cortejo de crises nos últimos 100 anos foi matando a ideia de progresso, até nos submeter a uma nova temporalidade, alheia à noção de futuro. Uma temporalidade decerto não apenas esteticamente deplorável, mas, a rigor, incompatível com as lentidões que a opacidade do literário solicita para ser interpretada e assimilada às nossas vidas. Basta pensar no que hoje, nas redes sociais, é chamado de “textão”: algo que, no seu suposto excesso e exigência cognitiva, não encheria, contudo, meia página de Guerra e Paz. Quem pode ler Tolstói quando passa, como no caso do brasileiro médio, quase 10 horas por dia conectado à internet, na maior parte desse período sendo bombardeado por postagens que, como certas drogas, felicitam-nos ou ultrajam de modo miseravelmente solitário e de uma maneira tal que imediatamente demanda um novo choque, uma nova felicitação ou ultraje? Cechinel bem sabe, de resto, que, embora não seja necessariamente eterno e inexpugnável, o conjunto atordoante de condições a que estamos hoje submetidos tem uma força opressiva e acachapante o suficiente para nos impedir de sonhar, mesmo no longo prazo, com um destino para a literatura que não seja o de uma existência parasitária, menor, residual. São esses restos literários que Cechinel recolhe, e é a partir deles que ele tenta pensar – nos termos de uma posição próxima à que Nietzsche chamou de pessimismo de força – o ensino da literatura. Um apóstolo do pessimismo de força. Assim é André Cechinel. Afinal, apesar de estar convencido de que a literatura cedo ou tarde se extinguirá, ele reitera o compromisso de lutar para que ela ao menos possa seguir operando como “lembrança anacrônica de um significado mais verdadeiro da palavra formação”. Para Cechinel, a literatura humaniza não por seus conteúdos específicos, por mensagens que venha a carregar, mas pelo simples fato de que, com sua dificuldade, sua resistência à digestão imediata, lança-nos em outra temporalidade e rasga a bolha do eterno presente em que vivemos. A literatura humaniza porque inventa a possibilidade do futuro, esse outro nome para a humanidade. Em uma época em que mesmo os teóricos da área parecem não mais nutrir um sentimento profundo pela literatura, Cechinel continua a amá-la incondicionalmente. Neste livro – que é, no fundo, a sua profissão de fé –, ele reitera a certeza de que há coisas que só a literatura é capaz de fazer (mesmo que ela quase já não consiga de fato fazê-las; mesmo que, para que ela pudesse fazê-las, precisasse contar com uma abertura e uma disponibilidade dos leitores que se apresentam cada vez menos). Cechinel, nesse sentido, é parecido com Pilar, a adolescente bibliófila de Sunset Park mencionada na frase de abertura desta apresentação. Com os parcos recursos aprendidos nas aulas de Inglês na escola, ela se demora sobre o que lê e está de tal modo atenta a isso que é capaz de perceber algo tão sutil e sublime como a força que uma simples mudança de foco narrativo pode ter: “ela começou a argumentar”, escreve Auster (2012, p. 14) sobre a garota, [...] que o personagem mais importante [de O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald] não era Daisy, nem Tom [Buchanan, o marido dela], nem mesmo Gatsby, mas Nick Carraway [primo de Daisy e narrador do romance]. [...] É porque é ele que conta a história, disse Pilar. Ele é o único personagem que tem os pés no chão, o único personagem capaz de olhar para fora de si mesmo. Todos os outros são pessoas perdidas, rasas, e sem a compaixão e a compreensão de Nick, não seríamos capazes de sentir nada por eles. O livro depende de Nick. Se a história fosse contada por um narrador onisciente, não seria nem a metade do que é. Não por acaso, O Grande Gatsby é uma das obras preferidas de André Cechinel. Com Nick Carraway (e alguns outros), ele certamente aprendeu o ofício tão bem compreendido – e exercido – por Pilar: o de olhar para cada um de nós com compreensão. Este livro – que, ao insistir na literatura, não desiste do futuro, isto é, de nós – é a prova disso. Fábio Lopes da Silva Professor titular da UFSC Florianópolis, 7 de maio de 2019 REFERÊNCIAS AUSTER, Paul. Sunset Park. São Paulo: Cia. das Letras, 2012. FRANK, Thomas. Listen, Liberal: Or What ever happened to the Party of the People? Nova York: Metropolitan Books, 2016. SNYDER, Timothy. The Road to Unfreedom. Nova York: Tim Duggan Books, 2018.

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