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Leite, Yonne de Freitas Aspectos da fonologia e morfofonologia Tapirapé PDF

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Preview Leite, Yonne de Freitas Aspectos da fonologia e morfofonologia Tapirapé

• UNIVERSIDADE F,EDERAL DO RIO DE JANEIRO MUSEU NACIONAL MLCM ê2/SB5 FT MEADE GenColl ASPE CTOS DA FONOL OGIA E MORFOFONOLOGIA TAPIRAPÉ Y.onne de FreltatJ í!.elte · Lingüística VIII 1977 f Q - 16 <;7tf)3 Publicação financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científ Tecnológico ( CNPq}, processo n.º 2222.0393/75 - 1977. .- ASPECTOS DA FONOLOGIA E MORFOFONOLOGIA TAPIRAPt Yonne de Freitas Leite* O. INTRODUÇÃO A língua Tapirapé, segundo classificação de Rodrigues (1964) incontestemente aceita, perte~ce i família Tupí-Guaraní . Embora sendo um grupo visitado por viajantes no século XIX e estudado por antropólogos em diferentes épocas a partir de 1935, do ponto de vista ling6Ístico a documentação mais extensa pu blicada até agora é uma lista com 145 vocábulos e alguns cantos com tradução interlinear (Kissenberth, 1916). Além disso deve ser mencionada uma lista de palavras colhida por Propheta(l926) em 1923. Fora disso tem-se apenas palavras esparsas nos traba lhos dos antropólogos que estudaram o grupo, mas que nao foram registradas com a finalidade precípua de documentação ling6Ís tica. 1 O presente trabalho constitui uma tentativa de des crever alguns fatos da fonologia e morfofonologia Tapirapé, de modo a fornecer subsídios a uma caracterização mais precisa dessa língua na família Tupí-Guaraní . Nessa perspectiva serao analisados os fonemas vocálicos e consonantais, a nasalidade das vogais e a alternância das consoantes finais das raízes no minais e verbais quando lhes são acrescentados os sufixos de no minalização ( -ã), negação ( -i) , circunstânciq ( -ãwã) , "ge 2 rúndio" (-ãl"'"V-wo) . Serão tratadas também as mudanças dos mor femas patan "futuro imediato", poko "comprido" , p~ "passado i mediato" e kito "bem, bonito". Biblioteca Digital Curt Nimuendajú http://www.etnolinguistica.org/biblio:leite-1977-aspectos • 1. FONOLOGIA 1.1. - As vogais orais O Tapirapé, juntamente com o A~uriní, singulariza-se nor ter cinco fonemas vocálicos em lugar <lo tradicional siste ma de seis fonemas vocálicas da grande maioria de lÍnquas Tu oí-Guaraní 3. são os seguintes os fonemas vocálicas orais do Taoi rapé com a respectiva exemplificação em pares contrastivos: / i / / e / - ãpi "fruta vermelha11 ape "caminho dele" / i / I i / opi?ã "ovo" oi?ã "fígado" ! i ! / a / - -ãpi 11j ogar" -ao a 11fazer 11 / i / I o / -oik "chocar 11 -pok "furar" / a / / o / -pakã "torcer" -pokã "rir" / a / / e / - - apa "raiz" ape "caminho dele" / a / / i / ma " mão " mi "péll / e / / o / marare "gado" miroro "ferida" ! e ! / 3: / -ket "dormir" -kit "chover" ! i ! / o / yi "machado" yo "espinho" '1.1.1. Realização fonética das vogais orais 0 fonema / a / realiza-se como vocral central, baixa, 2. 1 ~o-arredondada, sonora. O fonema / i / realiza-se na maioria tks vezes como vogal central, alta, não arredondada, sonora, r1odendo realizar-se também como vogal central, T':lPdia, fechada a,] . e / não-arredondada ( O fonema / realiza-se como vogal anterior, média, aberta, não arredondada[(] e o fonema / o / varia em sua realização de [u] a [o]. Aliãs a escolha da norma deste fonema como / o / foi um tanto arbitrária, talvez influenciada pela análise do Asuriní (Harrison, lg71). Em tra balho anterior (Leite, Y., 1977), em que estudamos a história da evolução do sistema vocálico 'T' • - verificamos que o ~apirape, pro to */ o / passou a / a / em Tapirapé e postulamos uma re9ra em que o pro to *! u / passaria a / o /, mudança essa tamhém compartilhada pelo Asuriní. Haveria, assim, uma lacnna no sis tema Tapirapé no lugar da vo~al posterior alta arredondada. U ma outra interpret~ção é possível: que o fonema posterior alto do Tapirapé seja/ u /, com um esoaço de realização fonética mais amplo.4 Torna-se pertinente aqui observar que em várias outras línquas da família Tupí-Guaraní em que há o fonema/ o/, este se realiza como uma vooal posterior, baixa, arredondada [ ] , o que nao ocorre em Tapirapé. Aliás a realização do f o- ) [,)] nem a / o / como seria de se esperar por paralelismo com o [t] fonema/ e/ que tem como sua realização, se pensarmos se quindo uma teoria de "esnaços fonológicos" (cf. ~1oulton, 1961). O fonema / i / realiza- se como uma vogal anterior, alta, fe chada, não-arredondada. 1.1.2. Vooais nasais $ série vocálica oral corresponde uma séri~ de cinco fonemas vocálicas nasais , cujos exemplos de pares contrastivos com a série oral se seguem: ! a / ! ã / hawã "folha11 hãwã "pena" 1 e / / ê / ape "caminho dele" aoe "está torto" 3 • / i / / lT. / ãpi "fruta vermelha" ãpI "mamãe" ..V / ! / / i / ãti. "esposa" ãt~ "duro" / o / / o / - yo "espinho" yo "capim" Exemplos de contraste entre as vogais nasais entre si sao os que se seguem: - / i / I e I ke?e kI?I "partícula usada "partícula usada quando quando mulher se mulher se dirige a ho- dirige a mulher" mem" - r / / I a / ... -yi "envergonhar-se" -ya "rachar" .,. / l. / / I / ãpI "mamãe" top{ "raio" - / I / I o / - yI "nariz 11 yo "capim" - / e / / I I -we?e "temperar com pimenta" y.I? I "coração" - / e / / a / ape "está torto" -ãtã "andar" / e / / õ / ape "está torto" kÕ língua - / i / / a / "' yI?i- "coraçãoº kã?ã "mato 11 4. / I / / õ / tooi "raio" -yirõ 11 fazer as pazes" / ã / / õ / -kã "quebrar pote11 kÕ "língua" 1. 2.3. Realização fonética das vogais nasais As vogais nasais se realizam em geral como a versao mais fechada e mais alta de sua contraparte oral. Assim avo gal / ã / se realiza como [~ J , / e / como [e 1 e/ ô / mrus como L õ] . Em posição final de palavra, em posição tônica, ex- - ceto no caso de/ ã /, o grau de nasalização das voqais e na maioria das vezes bem pequeno, quase inaudível. Porém o.com portamento rnorfofonêrnico com os morfemas kãto, pam, poko e p~­ tan {vide 2.2 .) nos mostra que essas vogais ainda se compor tam como nasais. Em posição átona final de palavra / ã / também tem fraca nasalidade, realizando-se muitas vezes como uma voqal central, baixa, não-arredondada, surda ou corno uma Mera aspi ração da consoante ~recedente; principalmente se esta for uma oclusiva. Antecedendo consoante nasal o contraste vogal oral versus vogal nasal se neutraliza, podendo ocorrer tanto a vo gal oral como a vogal nasal. Essa situação se exemplifica bem como o caso do morfema referencial de primeira e terceira pes soa do singular, ã- e a- resoectivamente (ex: ãpatok'ã "eu lavo", apatoki "ele lava"). Com verbos cuja raiz se inicia por consoante nasal a forma de primeira ou terceira pessoa po derá ser indistintamente a ou a: ãmãrãkã ou amãrãkã "eu/ ele cant-(o/a) . Parece-nos que precedendo consoante nasal é m~is freqfiente a ocorrência de vogal fracamente nasalizada, isto é, uma nasalização meramente fonética e imposta por moti vos de preparação articulatória. ~ verdade que não foi feito 5 um estudo estatístico dessas ocorr~ncias, nem um estudo COM nasógrafo para se determinarem os diferentes graus de nasali zaçao. Encontram-se também alguns casos <le alternância en tre I e a: amaniyo tV aminiyo "algodão", etimã rJ et:i:.mi "parte inferior da pernaº, ãwã ãwI: "gente". r...1 1.3. A interpretação das vogais nasais A interpretação das vooais nasais no nível da fonéti ca sistemãtica como a seqü~ncia de vogal oral sequida de vooal nasal não nos parece possível, por existir o contraste, em po sição tônica final de palavra entre vo~al oral, voqal nasal e vogal sequida de consoante nasal. ExeMplos: ãpé ·"caminho dele" ãka "estou aqui" ape "está torto" ãkã "quebrei o pote" - apen "quebrou" ããkam "estou brigando" Além disso, morfofonêmicamente as vogais nasais têm comportamento distinto das vogais seguidas de consoante nasal. O f enômeno da nasalidade das vogais em Tapirané difere dos casos clássicos de várias línguas da família Tupí Guarani. Em algumas línguas dessa família, como o Awetí nor exemplo, ocorre o retrocesso da nasalização, isto é, as vogais 5 que antecedem uma sílaba tônica nasal se nasalizarn . Em casos como esses basta marcar a vogal tôniça como nasal e a nasali zação das vogais que a entecedem é automática. Harrisone Tay lor (1971) apresentam uma análise para o Kaiw~ na qual estabe lecem uma classe de palavras potencialmente nasalizadas; . uma vogal t6nica nasal por ou nao nasalizar as vogais Precedentes. Nos casos do Kaiwá' e Awetí, a nasalização é interpretada como um fenômeno prosódico, no nível da palavra em Kaiwá e no nível da sílaba em Awétí. Em AwetI só em poucos casos ocorre uma vogal nasal pré-tôniêa sem que a tônica seja nasal. Em Kaiwá as Palavras 6 que sao parcialmente nasais nos parecem ser aquelas em que a sílaba tônica é potencialmente nasal (tupã ,y tüpa N tupã ) . Parece-nos, pois,_ que só nesses casos serão encontrados vogais pré-tônicas nasalizadas, sem que a tônica seja foneticaMPnte nasal. Já em Tapirapé ocorrem com fregftência voqais pré-tô nicas nasais sem que a sílaba tônica seja em qualquer instân cia nasal. Ex: -ãpá "fazer maãp:Ít "tres", tãkówã "febre" . A- lém disso a nasalização nao retrocede. Ex: topI "trovão", sendo tõpI inaceitável , tawã "cara" sendo tãwã inaceitável nopI "bater 11 , sendo nõpI inaceitável Há casos em que a sílaba tônica é nasal e a pré-tôni ca é contrastivament~ oral ou nasal. Ex: ma?eãrã "iniciador" mã?eãwã "janela" Cumpre salientar que a ocorrência de vo0al oré-tôni ca nasal sem que a tônica seja nasal é mais comum con a voqal pré-tónica / ã /. A explicação para o nao retrocesso <la nasalização e~ Tapirapé e seu status fonêmico nesses casos talvez esteja li gada à nasalização do proto */ a / para / ã / em Tapirapé , assim como à mudança do proto */o / nara / a / (cf. Leite , Y. , 1977). Ta~bém não há em Tapirapé as oclusivas prP.-nasali zadas mb, nd e ? ~, cuja ocorrên~ia en lÍnouas como o l<ayoá e o Tupinarnbá estão intimamente relacionadas à nasalização das vogais que as precedem. Essas oclusivaq pré-nasalizadas cor 9 respondeM a m n e respectivamente em Tapirapé . A in teração desses processos hist6ricos pode ter dado origem à não-previsibilidade das voqais nasais pré-tônicas, criancto u:rrt contraste nessa posição e blo~uean0o a reqra oe retrocesso. Fortalecendo essa hipótese, no Asuriní e eM Guajaj&ra, em que não há vogais nasais fonêrnicas, tamhérn nao ocorrem oclusivas pré~nasaliza?as. E parece haver indícios de que ocorreram e:rrt Gu·:-J.jajara vogais nasais e o retrocesso da nasalização fi 7 Em vista desses fatos, a nasalidade das vogais em Tapirapé nao pode ser interpretada como um fenômeno prosódico, quer no nível da sílaba, quer no nível da palavra. Deve ser analisada como um traço distintivo de cada vogal em si . 1.4. As consoantes 1.4.1. Fonemas consonantais, suas realizaç6es e restriç6es de oçorrência são as seguintes as consoantes fonêmicas do Tapira- .. w h pe: P' t , k , k , ?. ,m,n,,-~, r, ,w,y. Dessas só ocorrem em final de palavra p, t, k, rn, n,~ e y. Nesse ambiente muitas vezes as oclusivas e as nasais al ternam com 12' •• Ex. : ãket ,.._) ãke "eu durmo, ãpãk rv ana "eu acordo, etc . Não ocorre a seqüência de vogal nasal - seguida de p ou t em final de palavra. Nesse ambiente e co- mum a alternância entre p ,.v m, t ,._, n. Ex: ãpa t {\) ãpan "eu saio", awowot l"V awowon '1está inchado" . Em posição final de palavra ocorre a seqüência V seguida de k (ãpãk "eu a- cardo") e nesses casos também é possível a alternância k 1""' ~ • Cumpre notar que a morfofonêmica (vide 2.1.}, embora as conso antes alternem, mantém-se distinta para p,t, m, n (com exceção de a seguido de m ou n). Outra restrição de ocorrência e de t seguido de i. O fonema / h / é de baixa freqüência . Ocorre em p:> sição inicial de algumas palavras quando seguido de vogal tô nica. Em outras posições intervocálicas alterna com ~- Ex: aha ,v aa "ele vai", yaNh :i:. ,.,_,,. yaIVi' . "lua 11 he- ra- "nome dele", , hiyã "dente dele" O fonema / r / tem um "flao" nasalizado como alofoner que ocorre entre vogais nasais. V O fonema / y / tem os seguintes alofones : c que ocorre em síladas em posição pré-tônicas, y que ocorre em sílabas pós-tônicas antecedido de vogal oral, n que ocorre em sílaba pós-tônica intervocálica antecedido de vogal nasal e y 8

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