UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS CRISTIANE MADEIRA MOTTA “KUBANA NJILA DIÁ ANGOLA, TRAVESSIAS DO ATOR-SACRÁRIO POR ENTRE AS DIVINDADES ANGOLANAS” (versão corrigida) Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo para obtenção de título de Mestre em Artes Cênicas. Área de Concentração: Pedagogia do Teatro. Linha de Pesquisa: Formação do Artista Teatral Orientadora: Prof. Dra. Elisabeth Silva Lopes São Paulo, 2013 1 BANCA EXAMINADORA _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ 2 AGRADECIMENTOS Agradecer, agradecer, agradecer à minha Mãe Kayaia, a meu Pai Kafunjê, a meu Pai Hongolo, a meu Pai Tawamin, aos meus Mavambos, à Raio de Luar e Pipoca Prateada, a meu Pai Lembarenganga, a todos os Minkisi, à Mãe Jurema e todos os encantados, a Céu, Terra e Água e ao Pai Nzambi Npungu. Ao meu povo de Angola, eu peço passagem para esta travessia, Kubana Njila dia Angola!!! A todos eu peço o meu Mukuiu, eu peço a minha benção. Chegamos ao momento mais difícil de uma dissertação: os agradecimentos. Isto nós achamos pois, depois de 30 meses, tantas pessoas passaram por nós e tantas coisas... Pequenos tesouros nos foram falados, dados, repartidos, ouvidos, passados, repassados, lembrados, tocados, abraçados, restaurados para nós, por nós, que há o receio de esquecer alguém, mas se sintam todos eternamente agradecidos. Mãe Dango, o meu agradecimento para a senhora é diário e eterno, por ser minha mãe e minha orientadora espiritual. Agradeço a honra de ser sua filha e rezo todo dia para saber ser digna disto. Obrigada, Mãe Dango por toda sua sabedoria compartilhada aqui e pela sua eterna paciência. Que todos os Minkisi a abençoem sempre com paz, saúde, felicidade e prosperidade. Mukuiu, Mãe Dango!!! Agradeço à Elisabeth Silva Lopes por ser um sacrário de informações / formações sempre disposta a ajudar, a esclarecer, a dividir, a trocar, a compartilhar, meu muito obrigada e peço aos meus Deuses que abençoem sua vida e quando necessário, a carreguem no colo para a vida ficar mais leve. Beth, muito obrigada!!! E quando quiser comer mungunzá, é só pedir que faço. Agradeço, agradeço e agradeço a Kamunjin Tanguelê por essa vida de companheirismo, de confiança, parceria, amizade, carinho, respeito e amor. Agradeço por essa nossa relação de alteridade e a disponibilidade em abraçar os meus projetos e ir sempre até o fim comigo. Que Mãe Kayaia e Pai Kafunjê a abençoe em todas as vidas. Mukuiu! Mãe Nininha, minha mãe que me pôs aqui neste mundo terreno, muito obrigada por tudo, por toda a torcida e todo o carinho. Obrigada por ser minha Mãe. Obrigada por sempre ter tido a preocupação em me dar o melhor que a senhora podia. Que os Deuses lhe abençoem e cuidem sempre de seus caminhos. Mãe Dewá, minha mãe-criadeira, minha mama kusasa, a que me ensinou a dançar, a cantar, a rezar para minha Mãe Kayaia, meu Pai Kafunjê e todos os outros Minkisi, muito, muito e muito 3 obrigada por tudo que me ensinou e que ainda ensinará. Obrigada por suas palavras tão sábias aqui compartilhadas, sempre me emociono quando as leio, pois sei que são a essência do que acredito ser o Candomblé. Peço a eterna benção de sua Mãe Kisimbi para mim e peço que minha Mãe Kayaia e Pai Kafunjê lhe cuidem sempre. Mukuiu, Mãe Dewá! Enfim, sou uma pessoa que tem mães na vida... Agradeço aos meus queridos, aos meus amores que acreditaram, aceitaram e me aguentaram nos sete meses de travessia desta pesquisa prática, que estiveram ali e dispuseram os seus finais de semana para buscar, investigar essas divindades e seus “corpos-fictícios”, e que abriram seus sacrários particulares para que os Minkisi pudessem ali se aquietar, ou não, mas que carregaram para o resto de suas vidas, pois afinal o corpo experienciou. Muito obrigada, Marilandi, Thiago, Josiane, Jhow, Micheli, Bruna, Anna Carolina, Renan e Kamunjin. Saibam que serei eternamente grata e sintam-se abençoados por todos os Minkisi, pois assim eu peço. Primeiro agradeço por ela ser minha irmã que eu amo e segundo por todos os socorros, as conversas, as palavras chiques, as dicas, informações, formações que me deu, Kayamikongojaunde, muito obrigada, muito obrigada, Pretinha!!! e agradeço também a todas as gargalhadas que demos juntas...que nossa Mãe Kayaia e Mãe Kayaia dia Mukongo nos abençoem sempre!!! Mukuiu! Muito obrigado àqueles que passaram por esta travessia, mas que a vida exigiu outros rumos, obrigada. Agradeço imensamente a todos os meus irmãos de santo que aqui contaram o que é cada Nkisi, quando contaram como eles próprios agem e são em suas vidas, meu muito obrigada, Mukuiu Madrinha Kafunjê, Pai Kasumbê, Pai Tamigê, Kota Nbomazaletambo, Mam’etu Tambocy, Kaianoximuzuengo, Kota Mulenjiminguandebá, Kota Nisalemekuitesa, Kota Kaya Zimbaguluka, Mikayasulendenji, Kanzelumuka, Tata Kiambujenkuemban, Katemugangeji, Kota Ngankakulusumbe, Katumutugangamin e a Mam'etu Tundaceli. Enfim, obrigada a toda minha família de santo, a minha comunidade, pois se entendo e sei o que é cada Nkisi é também porque convivo com cada um de vocês e assim compreendo um pouco mais o ser humano e este mundo que a gente vive. Obrigada por todas as rezas e torcidas de: “Vai dar tudo certo!” Obrigada, Lekuanditala por todas as fotos e acessórios de vídeo, e a Kanzelumuka por todos os livros emprestados. Mais uma vez obrigada a todos e mukuiu! Agradeço muito e muito a Sônia Azevedo, por fazer parte da minha vida e por todo incentivo dado para este mestrado. Minha querida Sônia Matamba, mui grata mais uma vez!!! E que Mãe Kayaia continue a te cuidar sempre. Obrigada, a minha querida Matamba Medusa Medeia descabelada Patrícia Zuppi, por todas as conversas e risadas compartilhadas, que os nossos ancestrais africanos e indígenas nos olhem e 4 nos cuidem sempre. Obrigada às minhas irmãzinhas de mestrado Vanessa Benites e Lívia Piccolo. Obrigado ao querido Professor Doutor John Cowart Dawsey por suas aulas de Antropologia e por suas preciosas observações no momento da qualificação. Obrigado ao querido Professor Doutor Matteo Bonfitto por lançar novos remapeamentos cognitivos em meus estudos. Agradeço muito ao Edélcio Mostaço pelo compartilhar de seu imenso conhecimento teórico sobre Teatro em suas aulas e que tantos novos horizontes me abriram. Leda Mara Rodrigues, muito obrigada por sua amizade. Obrigada a CAPES. Obrigado ao Fernandes e todos os funcionários do CAC/ECA/USP. Eu não posso deixar de agradecer à minha companheira de todas as horas, a gata mais linda do mundo, Rosca Pina Bausch. Enfim meu muito obrigado a todos!!! 5 RESUMO Trata-se de uma pesquisa que tem como eixo a relação entre o rito e o mito: a corporeidade existente nesta interseção e sua relação com o teatro. A partir da aquisição do conhecimento, do estudo e da prática das danças ritualísticas e da mitologia das divindades (minkisi), enquanto figuras arquetípicas do Candomblé Angolano surge uma corporeidade para ser explorada pelo ator/performer na e para cena. Esta investigação se insere na Antropologia da Performance, valendo-se dos estudos de Schechner e Turner sobre a restauração do comportamento, por meio da transmissão, manipulação e a transformação do rito e do mito em processo artístico e também na Antropologia da Corporeidade com a abordagem de Thomas Csordas sobre o corpo que é o sujeito da cultura e não apenas objeto desta. Da experiência dos corpos-fictícios surgidos das divindades emerge o Ator-Sacrário, como um receptáculo desta cultura. A pesquisa foi realizada na prática com um grupo de atores amadores e profissionais, de modo consciente e sem transe religioso, onde se tem o registro do desenvolvimento de potências eficientes na e para improvisação a partir desta corporeidade adquirida. “PALAVRAS-CHAVE”: rito: mito: Antropologia: performance: corporeidade:Candomblé 6 ABSTRACT This is a research that has as its axis the relationship between the rite and myth: the existent embodiment in this intersection and its relationship with the theater. From the acquisition of knowledge, study and practice of ritualistic dances and mythology of deities (minkisi) as archetypal figures from Candomble of Angola arises embodiment to be exploited by actor / performer in and for scene. This research is inserted into Anthropology of Performance, drawing upon studies by Schechner and Turner on the restoration of behavior through the transmission, manipulation and transformation of the rite and myth in the artistic process and also in the Anthropology of Embodiment with Thomas Csordas’ approach on the body which is the subject of the culture and not only the object of this culture. From the experience of “bodies-fictitious” arisen from deities emerges the Actor-Sacrarium, as a receptacle of this culture. The research was carried out in practice with a group of professional and amateur actors, in a conscious way and without religious trance, in which it was obtained the development record of efficient potencies in and for improvising from this acquired embodiment. "KEYWORDS": rite: myth: Anthropology: performance: embodiment: Candomble 7 SUMÁRIO Introdução 11 Capítulo 1 - A Travessia de mim para o eu-mesma – a prática e o corpus desta experiência 16 1.1- Entre o rito e o mito: a corporeidade existente nesta interseção e sua relação com o teatro 26 1.1.1 – Antropologia da Performance – a restauração do comportamento por Turner e Schechner – transmissão, manipulação e a transformação do rito e do mito em processo artístico 38 Capítulo 2 – Candomblé – em um Terreiro de Angola 50 2.1 – Comunidade Tradicional de Terreiro de Matriz Africana Inzo Musambu Hongolo Menha – Casa do Arco-Íris e sua sacerdotisa Nengua dia Nkisi Edangoromeia- Mãe Dango 64 2.2 – Tradição Oral – Minkisi e seus arquétipos 67 Capítulo 3 – Campos de exploração: os ritos e os mitos dos Minkisi – uma atitude relegere 74 3.1 – Nkisi Mavambo – Dança e Mito do Senhor dos Caminhos 91 3.2 – Nkisi Hongolo – Dança e Mito do Senhor do Eterno Movimento e Grande Adivinho 95 3.3 – Nkisi Kafunjê – Dança e Mito do Senhor da Terra e Grande Curandeiro 100 3.4 - Nkisi Matamba – Dança e Mito da Senhora das Tempestades e Amor-Paixão107 3.5 - Nkisi Kayaia – Dança e Mito da Senhora do Mar e Grande Mãe 113 Capítulo 4 – As divindades entre nós – O processo prático com o grupo de pesquisa. 121 4.1 – As percepções da corporeidade advindas dos campos de exploração 175 Conclusão 199 Referências e Fontes 202 Glossário 208 Anexo I 211 Anexo II 232 Anexo III 243 8 LISTAS DE FIGURAS FIGURAS PÁGINAS CAPÍTULO 1 01- Espetáculo Vertigens – Chrystiane Madeira – 1991 21 02- Espetáculo Vertigens - Chrystiane Madeira – 1991 21 03- Corpo-fictício Mavambo – Kamunjin Tanguelê – Espetáculo Gunzu – 2001 24 04- Nkisi Ndandalunda 36 05- Nkisi Ndandalunda 36 06- Nkisi Ndandalunda 36 07- Nkisi Ndandalunda 36 CAPÍTULO 2 08 – Mãe Dango 52 09 – Mãe Dewá 53 10 – interior do Inzo Musambu Hongolo Menha 67 11 – Mãe Dango 73 CAPÍTULO 3 12 – Nkisi Tawamin 78 13 – Nkisi Hongolo /Angorô 95 14 - Nkisi Kafunjê 100 15 – Nkisi Kafunjê sendo banhado por pipocas 102 16 – Nkisi Matamba 107 17 – Nkisi Kayaia 113 CAPÍTULO 4 18 – os atores-sacrários 122 19 – corpo-fictício Mavambo 180 20 - corpo-fictício Mavambo 181 21 - corpo-fictício Mavambo 182 22 – Nkisi Kafunjê 185 23 - corpo-fictício Kafunjê 186 24 - corpo-fictício Kafunjê 187 25 – Nkisi Kafunjê 187 26 - corpo-fictício Kafunjê 188 27 – corpo-fictício Kafunjê 188 28 – Nkisi Matamba 190 29 - corpo-fictício Matamba 190 30 – Nkisi Matamba 191 31 - corpo-fictício Matamba 191 32 – Nkisi Matamba 192 9 33 - corpo-fictício Matamba 192 34 – Nkisi Matamba 192 35 – Nkisi Kayaia 194 36 - corpo-fictício Kayaia 194 37 - corpo-fictício Kayaia 194 38 – Nkisi Kayaia 194 39 – Nkisi Kayaia 195 40 - corpo-fictício Kayaia 195 41 – Nkisi Kayaia 196 42 - corpo-fictício Kayaia 196 43 - corpo-fictício Kayaia 197 44 – Brincadeira de criança 198 10
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