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Jesus Histórico Uma Brevíssima Inotrdução PDF

62 Pages·22.658 MB·Portuguese
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I L I Tesus Histórico Uma Brevíssima Introdução André Leonardo Chevitarese Pedro Paulo A. Funarí UNICAMP Biblioteca - IFCH Iíífifi E Rio de Janeiro 2012 JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA INTRODUÇÃO I 1 1 1. INTRODUÇÃO: JESUS, UM HOMEM. Poucos personagens históricos têm tanta repercussão, por tanto tempo, como Jesus de Nazaré. No início do terceiro milénio - ou seja, tendo como ponto de partida esse mesmo Jesus, cujo nascimento marca o início da Era Comum dotada em todo o mundo - cerca de um terço da humanidade, mais de dois bilhões de pessoas, professam a fé crista e se reportam, portanto, ao homem de Nazaré. No Brasil, mais de 150 milhões declaram-se cristãos. Pelo critério do número de seguidores, Jesus ultrapassa, de longe, outros líderes, como Mao é, cujos seguidores são hoje mais de um bilhão e quinhentos-_mill1ões. Jesus, à diferença de Maomé (570-632 d.C.)Ínão deixou nada escrito e, nesse aspecto, está mais próximo do filósofo grego Sócrates (470-399 a.C.) ou de S id aéatazí-Êzauíama (624-544 a.C.), chamado por seus seguidores de Bud2ÍÔ--filósofo iluminista francês e agnóstico Voltaire (1694-1778) afir- mou sobre Jesus algo polémico, mas que continua, em grande parte, válido: "Jesus de Nazaré foi um judeu obscuro, proveniente da raia miúda; ele foi crucificado por blasfémia, no tempo do imperador romano Tibério, sem que se possa saber em qual ano". 7 André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. lfunzxri JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In*rI‹o1)uçÃo I Este livro procura mostrar como Jesus de Nazaré, o homem que viveu há dois mil anos, um personagem histórico, pode ser estudado e conhecido. Não se busca, aqui, abranger o cristianismo, a religião que se originou, de alguma forma, do homem de Nazaré, a não ser na medida * 11. em que a confissão crista intuiu na pesquisa sobre o Jesus *Í. ä COMO CONHECER O JESUS HISTÓRICO? Histórico. Nossa meta é mostrar o que se sabe e quais as-discussÕes,.pn1;..pa.rte dos estudiosos,_ sobre a vida de __._Jesus. Nessa viagem, convidamos o leitor a mergulhar em algumas das mais fascinantes histórias. Muitas delas estão 2.1. As Fontes. conosco até hoje, na forma de parábolas, imagens, rituais e A História se faz com documentos. O passado já não exis- comportamentos coletivos e individuais. Tantas vezes nos te e apenas podemos conjecturar a seu respeito por meio pegamos a falar em "separar o joio do trigo", ou a hesitar a de testemunhos, diretos ou indiretos, materiais ou imate- 'atirar a primeira pedra, ou ainda a *lavar as mãos". Estas e riais. Os estudiosos costumam denominar documentos a outras passagens da narrativa de Jesus estão presentes em tudo o que permite inferir algo: são as fontes de informa- nosso quotidiano e indicam o início de nossa caminhada ção. A própria palavra fonte é uma metáfora, como se algo pela vida do nazareno. fosse comparável à água que brota e que nos dá de beber. No caso da vida de Jesus de Nazaré, há tipos de fontes: os manuscritos do Novo Testamento, as escavações arqueo- lógicas; as descobertas de (lmran (manuscritos do Mar _Norto) e de Nag Hammadi, no Egito; os escritos judaicos; de e os testemunhos fora do ambientejudaico-cristão. Comecemos pelas mais conhecidas - os vinte e sete livros do Novo Testamento -, com destaque para os re- latos da vida de Jesus (os Evangelhos), o livro "histórico" (Ato dos Apóstolos - Ar), as Epístolas ou Cartas e o profe- tico (Apocalipse - Ap). Pode-se dividi-los em quatro cate- gorias, conforme tabelas abaixo. Os Evangelhos. Mateus (Mt) Lucas (Lc) Marcos (Mc) João (Jo) 8 9 André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. lfunzxri JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In*rI‹o1)uçÃo I Este livro procura mostrar como Jesus de Nazaré, o homem que viveu há dois mil anos, um personagem histórico, pode ser estudado e conhecido. Não se busca, aqui, abranger o cristianismo, a religião que se originou, de alguma forma, do homem de Nazaré, a não ser na medida * 11. em que a confissão crista intuiu na pesquisa sobre o Jesus *Í. ä COMO CONHECER O JESUS HISTÓRICO? Histórico. Nossa meta é mostrar o que se sabe e quais as-discussÕes,.pn1;..pa.rte dos estudiosos,_ sobre a vida de __._Jesus. Nessa viagem, convidamos o leitor a mergulhar em algumas das mais fascinantes histórias. Muitas delas estão 2.1. As Fontes. conosco até hoje, na forma de parábolas, imagens, rituais e A História se faz com documentos. O passado já não exis- comportamentos coletivos e individuais. Tantas vezes nos te e apenas podemos conjecturar a seu respeito por meio pegamos a falar em "separar o joio do trigo", ou a hesitar a de testemunhos, diretos ou indiretos, materiais ou imate- 'atirar a primeira pedra, ou ainda a *lavar as mãos". Estas e riais. Os estudiosos costumam denominar documentos a outras passagens da narrativa de Jesus estão presentes em tudo o que permite inferir algo: são as fontes de informa- nosso quotidiano e indicam o início de nossa caminhada ção. A própria palavra fonte é uma metáfora, como se algo pela vida do nazareno. fosse comparável à água que brota e que nos dá de beber. No caso da vida de Jesus de Nazaré, há tipos de fontes: os manuscritos do Novo Testamento, as escavações arqueo- lógicas; as descobertas de (lmran (manuscritos do Mar _Norto) e de Nag Hammadi, no Egito; os escritos judaicos; de e os testemunhos fora do ambientejudaico-cristão. Comecemos pelas mais conhecidas - os vinte e sete livros do Novo Testamento -, com destaque para os re- latos da vida de Jesus (os Evangelhos), o livro "histórico" (Ato dos Apóstolos - Ar), as Epístolas ou Cartas e o profe- tico (Apocalipse - Ap). Pode-se dividi-los em quatro cate- gorias, conforme tabelas abaixo. Os Evangelhos. Mateus (Mt) Lucas (Lc) Marcos (Mc) João (Jo) 8 9 I André Leonardo Chevitarese c Pcdro Paulo A. Funari JESUS HISTÓRICO. UMA BREVíSSIMA 1n'1'Ro1)u‹;Ão Livro "Histórico". Atos dos Apóstolos (At) de Jesus. O primeiro deles e O mais curto, 0 de Marcos, escrito a partir de 70 EC, é considerado o testemunho mais fidedigno. Marcos, Mateus e Lucas são chamados de Epístolas ou Cartas. sinoticos, que em rego__§_ignifica com a mesma visão', pois Paulo aos Romanos Paulo aos Coríntios, Primeira 1 5 sefišrëlatos são paralelos e seguem fontes comuns Carta (1 Cor) O Evangelho de João segue caminhos próprios e foi Paulo aos Coríntios, Segunda Paulo aos Gálatas (Gl) escrito mais tarde, entre 90 e 110. O Ato dos Apóstolos é Carta (2 Cor) um relato "histórico" dos primeiros seguidores de Jesus e Paulo aos Efésios (Eu) Paulo aos Filipenses (Fl) deve ter sido escrito entre 6421852 Paulo aos Colossenses (Cl) Paulo aos Tessalomccnscs, As cartas ou epístolas constituem um género literário Primeira Carta (ITs) próprio, referente à correspondência entre OS primeiros Paulo aos Tessalonicenses, Paulo a Timóteo, Primclra cristãos. As cartas de Paulo são OS mais antigos documen_ Segunda Carta (2 Ts) Carta (1 Tm) tos que sobreviveram. Elas foram escritas, provavelmente, Paulo Timóteo, Segunda Paula a Tito (Tt) entre os anos 40 e 60, sendo anteriores ao Evangelho de Carta (2 Tm) Marcos. A carta mais antiga é a Primeira aos Tessaloni_ Paulo a Filemom (Fm) Carta aos Hebreus (Hb) censes, escrita entre 50 e 51, vinte anos após a morte de Jesus. Não há evidências de que Paulo tenha conhecido Carta de Tiago (Tg) Carta de Pedro, Primeira (1Pd) vEz , pessoalmente Jesus. Por isso, pouco nos fala sobre a vida do nazareno. Carta de Pedro, Segunda (2 Carta de João, Primeira (1 Jo) Por fim, o livro do Apocalipse consiste em uma visão Pd) profética do futuro e tampouco se volta para o Jesus da Carta de João, Segunda (2 Jo) Carta de João, Terceira (3 Jo) Galileia. Portanto, as principais fontes sobre a vida de -Jesus Carta de Judas são OS Evangelhos. '-\ \' ' . l Profético. 2.2. Os Evangelhos. â Apocalipse /-\p) Jesus falava o aramaico, uma língua semita, aparentada ao hebraico, conforme versículo encontrado n › Evangelho I Os Evangelhos são relatos da vida de Jesus e constituem de Marcos - diga-se, uma das poucas passagens que repto_ fonte primária para. no. sso conhecimento do nazareno. O duzem as palavras originais de Jesus em sua língua. Assim: nome ‹‹e vangelho7 7 significa cá boa notil ci(cid:127) an e se refere a\ v(cid:127)i nda de Jesus como salvador da humanidade. Esses livros foram "E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu escritos em grego, em décadas distintas após a crucificação o alvoroço, e os que choravam muito e prateavam. E, cn_ 10 11 I André Leonardo Chevitarese c Pcdro Paulo A. Funari JESUS HISTÓRICO. UMA BREVíSSIMA 1n'1'Ro1)u‹;Ão Livro "Histórico". Atos dos Apóstolos (At) de Jesus. O primeiro deles e O mais curto, 0 de Marcos, escrito a partir de 70 EC, é considerado o testemunho mais fidedigno. Marcos, Mateus e Lucas são chamados de Epístolas ou Cartas. sinoticos, que em rego__§_ignifica com a mesma visão', pois Paulo aos Romanos Paulo aos Coríntios, Primeira 1 5 sefišrëlatos são paralelos e seguem fontes comuns Carta (1 Cor) O Evangelho de João segue caminhos próprios e foi Paulo aos Coríntios, Segunda Paulo aos Gálatas (Gl) escrito mais tarde, entre 90 e 110. O Ato dos Apóstolos é Carta (2 Cor) um relato "histórico" dos primeiros seguidores de Jesus e Paulo aos Efésios (Eu) Paulo aos Filipenses (Fl) deve ter sido escrito entre 6421852 Paulo aos Colossenses (Cl) Paulo aos Tessalomccnscs, As cartas ou epístolas constituem um género literário Primeira Carta (ITs) próprio, referente à correspondência entre OS primeiros Paulo aos Tessalonicenses, Paulo a Timóteo, Primclra cristãos. As cartas de Paulo são OS mais antigos documen_ Segunda Carta (2 Ts) Carta (1 Tm) tos que sobreviveram. Elas foram escritas, provavelmente, Paulo Timóteo, Segunda Paula a Tito (Tt) entre os anos 40 e 60, sendo anteriores ao Evangelho de Carta (2 Tm) Marcos. A carta mais antiga é a Primeira aos Tessaloni_ Paulo a Filemom (Fm) Carta aos Hebreus (Hb) censes, escrita entre 50 e 51, vinte anos após a morte de Jesus. Não há evidências de que Paulo tenha conhecido Carta de Tiago (Tg) Carta de Pedro, Primeira (1Pd) vEz , pessoalmente Jesus. Por isso, pouco nos fala sobre a vida do nazareno. Carta de Pedro, Segunda (2 Carta de João, Primeira (1 Jo) Por fim, o livro do Apocalipse consiste em uma visão Pd) profética do futuro e tampouco se volta para o Jesus da Carta de João, Segunda (2 Jo) Carta de João, Terceira (3 Jo) Galileia. Portanto, as principais fontes sobre a vida de -Jesus Carta de Judas são OS Evangelhos. '-\ \' ' . l Profético. 2.2. Os Evangelhos. â Apocalipse /-\p) Jesus falava o aramaico, uma língua semita, aparentada ao hebraico, conforme versículo encontrado n › Evangelho I Os Evangelhos são relatos da vida de Jesus e constituem de Marcos - diga-se, uma das poucas passagens que repto_ fonte primária para. no. sso conhecimento do nazareno. O duzem as palavras originais de Jesus em sua língua. Assim: nome ‹‹e vangelho7 7 significa cá boa notil ci(cid:127) an e se refere a\ v(cid:127)i nda de Jesus como salvador da humanidade. Esses livros foram "E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu escritos em grego, em décadas distintas após a crucificação o alvoroço, e os que choravam muito e prateavam. E, cn_ 10 11 André Leonardo Chevitarcsc c Pedro Paulo A. Funari JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA 1NTRO1)UÇÃO trando, disse-lhes: por que vos alvoroçais e chorais? A mf:- "E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia nina não está morta, mas dorme. E riram-se dele, porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina, de sábado, seg urdo o seu costume 7 na sinag o g a, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando e OS que com ele estavam, e entrou onde a menina estava deitada. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: YZ:/ita comi abriu o livro, achou o lu ga r em q ue estava escrito: o Es grito - que, traduzido, é: menina, a ti te digo, levanta-te. E logo do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração". a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos, e assombraram-se com grande espanto" (Mc 5:38-42). Muitos estudiosos modernos ponderam que o que se chama de sinagoga, palavra grega, representa, no caso de No sentido literal, Talita significa 'fresca'. Ela ainda era uma aldeia de 300 pessoas, como Nazaré, apenas uma casa uma menina e não, uma mulher adulta. No entanto,já aqui usada para a reunião da comunidade. Aliás, sinagoga em se põe um problema, pois o termo grego usado no trecho hebraico, bit nesse, significa casa de reunião. Não se sabe para traduzir, paidion, significa criança de ambos os gêne- se haveria rolos com a Bíblia hebraica, mas, mesmo que ros. Neste caso, temos a frase original, mas em todos os houvesse, quem saberia ler? A passagem, contudo, sugere outros contamos apenas com o grego, língua que,'ao que se que Jesus tenha citado de cabeça saias 61, um dos profetas sabe, Jesus nunca falou. populares que defendiam os pobres, em versos que mais Como as palavras de Jesus, em aramaico, acabaram se assemelham a nossas canções rimadas populares.Í(I1-eh1 décadas depois sendo registradas nos Evangelhos? escreveu o Evangelho de Lucas, décadas depois, n o con- Antes de tudo, convém lembrar como as pessoas se rela- hecia de primeira mão as comunidades galileias e, assim cionavam com a memória na Antiguidade. A alfabetização como em outras passagens, introduz detalhes, na narrativa, não era expandida e a maioria das pessoas era analfabeta e que remetiam a realidade das cidades gregas na qual se di- mesmo as que dominavam a escrita nela não se lavam para š se lembrar do que liam. Os livros já existiam, mas eram fundia o cristianismo ......- ---¬....., Um segundo aspecto da memória antiga deve ser recor- rolos que eram desenrolados para que pudessem ser lidos. dado para além da capacidade de-decorar frases: seu-r;ar,í_ter Era, portanto, impossível fazer uma consulta a passagens subjetivo religioso. A memórias sempre subjetivae es- de obras como hoje pode ser feito em livros impressos e tamos sempre sujeitos a recordar determinados momentos em documentos digitais. Hoje, e há alguns séculos, estamos da vida, manter._g.ertas frases e situações e a esquecer e su- acostumados a consultar escritos quando queremos nos primir _outras.Esses mesmos mecanismos fizeram com que informar ou mesmo rememorar algo que já lemos. Nada os seguidores do nazareno recordassem episódios e ditos disso ocorria naquela época. As pessoas decoravam, tendo de Jesus, assim como suprimissem outros. Isto garantiria a lido ou ouvido um texto, e podiam reproduzir longas pas- preservação, ainda qu§.â%.d2* ela ex eriência os ter' sagens, para não dizer obras inteiras e imensas. Em Lucas 10 de muitas experiências com o nazareno"*Dentre os me- (4:16-18), diz-se que: canismos de preservação e supressãO,-sobressaiam as cren- 12 18 André Leonardo Chevitarcsc c Pedro Paulo A. Funari JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA 1NTRO1)UÇÃO trando, disse-lhes: por que vos alvoroçais e chorais? A mf:- "E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia nina não está morta, mas dorme. E riram-se dele, porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina, de sábado, seg urdo o seu costume 7 na sinag o g a, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando e OS que com ele estavam, e entrou onde a menina estava deitada. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: YZ:/ita comi abriu o livro, achou o lu ga r em q ue estava escrito: o Es grito - que, traduzido, é: menina, a ti te digo, levanta-te. E logo do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração". a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos, e assombraram-se com grande espanto" (Mc 5:38-42). Muitos estudiosos modernos ponderam que o que se chama de sinagoga, palavra grega, representa, no caso de No sentido literal, Talita significa 'fresca'. Ela ainda era uma aldeia de 300 pessoas, como Nazaré, apenas uma casa uma menina e não, uma mulher adulta. No entanto,já aqui usada para a reunião da comunidade. Aliás, sinagoga em se põe um problema, pois o termo grego usado no trecho hebraico, bit nesse, significa casa de reunião. Não se sabe para traduzir, paidion, significa criança de ambos os gêne- se haveria rolos com a Bíblia hebraica, mas, mesmo que ros. Neste caso, temos a frase original, mas em todos os houvesse, quem saberia ler? A passagem, contudo, sugere outros contamos apenas com o grego, língua que,'ao que se que Jesus tenha citado de cabeça saias 61, um dos profetas sabe, Jesus nunca falou. populares que defendiam os pobres, em versos que mais Como as palavras de Jesus, em aramaico, acabaram se assemelham a nossas canções rimadas populares.Í(I1-eh1 décadas depois sendo registradas nos Evangelhos? escreveu o Evangelho de Lucas, décadas depois, n o con- Antes de tudo, convém lembrar como as pessoas se rela- hecia de primeira mão as comunidades galileias e, assim cionavam com a memória na Antiguidade. A alfabetização como em outras passagens, introduz detalhes, na narrativa, não era expandida e a maioria das pessoas era analfabeta e que remetiam a realidade das cidades gregas na qual se di- mesmo as que dominavam a escrita nela não se lavam para š se lembrar do que liam. Os livros já existiam, mas eram fundia o cristianismo ......- ---¬....., Um segundo aspecto da memória antiga deve ser recor- rolos que eram desenrolados para que pudessem ser lidos. dado para além da capacidade de-decorar frases: seu-r;ar,í_ter Era, portanto, impossível fazer uma consulta a passagens subjetivo religioso. A memórias sempre subjetivae es- de obras como hoje pode ser feito em livros impressos e tamos sempre sujeitos a recordar determinados momentos em documentos digitais. Hoje, e há alguns séculos, estamos da vida, manter._g.ertas frases e situações e a esquecer e su- acostumados a consultar escritos quando queremos nos primir _outras.Esses mesmos mecanismos fizeram com que informar ou mesmo rememorar algo que já lemos. Nada os seguidores do nazareno recordassem episódios e ditos disso ocorria naquela época. As pessoas decoravam, tendo de Jesus, assim como suprimissem outros. Isto garantiria a lido ou ouvido um texto, e podiam reproduzir longas pas- preservação, ainda qu§.â%.d2* ela ex eriência os ter' sagens, para não dizer obras inteiras e imensas. Em Lucas 10 de muitas experiências com o nazareno"*Dentre os me- (4:16-18), diz-se que: canismos de preservação e supressãO,-sobressaiam as cren- 12 18 André Leonardo Chcvitarcsc e Pedro Paulo /\. Funzlri .lnsus HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In'1'RonuçÃo as e convicções dos antigos, que não estavam sujeitas aos natural e ambiental associado à vida humana! As evidên- critérios da ciência moderna, que, claro, não existia naquela cias materiais podem referir-se a indivíduos, mas em sua época. Muitos milagres são mencionados nos Evangelhos imensa maioria remetem à_vida qu0_ti_diar¿al Os restos ar- como a cura da menina que acabamos de reportar. Tais queológicos têm sido muito significativos para o conheci- episódios constituem experiências fortes e, portanto, in- mento da sociedade à época de Jesus. Algumas descobertas esquecíveis. Quem se esquece de um milagre? confirmam o relato do Novo Testamento e dão detalhes Nesse contexto, começa-se a compreender como a vida sobre personagens, circunstâncias e situações mencionadas de Jesus foi escrita décadas depois de sua pregação. De no texto bíblico. As principais são: início, tudo era lembrado e contado em aramaico, apenas oralmente, pelos primeiros seguidores analfabetos de Jes ia_ Gamla e Jodefat: aldeias judaicas à época de Jesus; bontudÕÍ'ñlãlo foram eles que escreveram oS NEvar-gãhos ia. Séforis e Tiberíades, à época de Herodes Antipas; Foram falantes de língua grega que não tinham conhecidos 32. Cesareia Marítima e Jerusalém, à época de Herodes, Jesus pessoalmente, apenas*ÊCristo apóšãlRessurreição. o Grande; Jesus foi um homem crucificado, mas seus seguidores ia_ Massada e ACirram e a resistência judaica à ocupa- acreditavam que ele ressuscitou e subiu aos Céus,...11e.IldQ ção romana; ganhado, após sua morte, um novo nome: Cristo, que em Sa. Vasos e banheiras rituais: os rituais judaicos, grego significa 'ungido por Deus-=_tx:aduçãode Messias, ia. O usuário do sumo sacerdote José Caifás, em hebraico. Nunca, em vida, Jesus foi chamado de Cristo 73. A inscrição do prefeito Pôncio Pilatos; ou Messias, mas, após sua morte, no relato da sua Vida,~ele 88. A casa do apóstolo Pedro, em Cafarnaum, passou a ser chamado por dois nomes: "Princípio-do Evan- 9a. O barco de pesca do Mar da Galileia, gelho de Jesus Cristo, Filho de Deus' (Mc 1:1). Isso signifi- 10a. O esqueleto do crucificado Iehokhanan. ca que toda a memória sobrevida de Jesus foi confirmada pela crença na Ressurreição de Jesus e naSa divindade. As cinco primeiras descobertas arqueolÓgÂÇ.ëLs5í1Q.colc- Não sabemos da existência de escritos em aramaico com tivas e informam-nos sobre OS ambientes frequentados e as Já ditos e relatos da vida de Jesus. O que parece mais seguro é situações da época de Jesus. as cinco últimas iluminam a existência de textos com recordações de Jesus traduzidas -|ia-s pectos david do nazareno. As pesquisas arqueológicas para o grego, em um momento que a nova fé começou a nas aldeias judaicas de Jodefat e Gamla revelam como era expandir-se fora da comunidade judaica da Palestina. a vida na Galileia.Tendo sido destruídas pelos romanos em 67 d.C., mostram o quotidiano simples e isolado d o n - 2.3. As Fontes Arqueológicas. doexterior das comunidades rurais judaicas de duas aldeias A Arqueologia estuda a cultura material, os artefatos que não deviam diferir muito, em termos gerais, da Nazaré feitos ou transformados pelo ser humano e o contexto de Jesus. Não havia muito contato de seus moradores com 14 15 André Leonardo Chcvitarcsc e Pedro Paulo /\. Funzlri .lnsus HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In'1'RonuçÃo as e convicções dos antigos, que não estavam sujeitas aos natural e ambiental associado à vida humana! As evidên- critérios da ciência moderna, que, claro, não existia naquela cias materiais podem referir-se a indivíduos, mas em sua época. Muitos milagres são mencionados nos Evangelhos imensa maioria remetem à_vida qu0_ti_diar¿al Os restos ar- como a cura da menina que acabamos de reportar. Tais queológicos têm sido muito significativos para o conheci- episódios constituem experiências fortes e, portanto, in- mento da sociedade à época de Jesus. Algumas descobertas esquecíveis. Quem se esquece de um milagre? confirmam o relato do Novo Testamento e dão detalhes Nesse contexto, começa-se a compreender como a vida sobre personagens, circunstâncias e situações mencionadas de Jesus foi escrita décadas depois de sua pregação. De no texto bíblico. As principais são: início, tudo era lembrado e contado em aramaico, apenas oralmente, pelos primeiros seguidores analfabetos de Jes ia_ Gamla e Jodefat: aldeias judaicas à época de Jesus; bontudÕÍ'ñlãlo foram eles que escreveram oS NEvar-gãhos ia. Séforis e Tiberíades, à época de Herodes Antipas; Foram falantes de língua grega que não tinham conhecidos 32. Cesareia Marítima e Jerusalém, à época de Herodes, Jesus pessoalmente, apenas*ÊCristo apóšãlRessurreição. o Grande; Jesus foi um homem crucificado, mas seus seguidores ia_ Massada e ACirram e a resistência judaica à ocupa- acreditavam que ele ressuscitou e subiu aos Céus,...11e.IldQ ção romana; ganhado, após sua morte, um novo nome: Cristo, que em Sa. Vasos e banheiras rituais: os rituais judaicos, grego significa 'ungido por Deus-=_tx:aduçãode Messias, ia. O usuário do sumo sacerdote José Caifás, em hebraico. Nunca, em vida, Jesus foi chamado de Cristo 73. A inscrição do prefeito Pôncio Pilatos; ou Messias, mas, após sua morte, no relato da sua Vida,~ele 88. A casa do apóstolo Pedro, em Cafarnaum, passou a ser chamado por dois nomes: "Princípio-do Evan- 9a. O barco de pesca do Mar da Galileia, gelho de Jesus Cristo, Filho de Deus' (Mc 1:1). Isso signifi- 10a. O esqueleto do crucificado Iehokhanan. ca que toda a memória sobrevida de Jesus foi confirmada pela crença na Ressurreição de Jesus e naSa divindade. As cinco primeiras descobertas arqueolÓgÂÇ.ëLs5í1Q.colc- Não sabemos da existência de escritos em aramaico com tivas e informam-nos sobre OS ambientes frequentados e as Já ditos e relatos da vida de Jesus. O que parece mais seguro é situações da época de Jesus. as cinco últimas iluminam a existência de textos com recordações de Jesus traduzidas -|ia-s pectos david do nazareno. As pesquisas arqueológicas para o grego, em um momento que a nova fé começou a nas aldeias judaicas de Jodefat e Gamla revelam como era expandir-se fora da comunidade judaica da Palestina. a vida na Galileia.Tendo sido destruídas pelos romanos em 67 d.C., mostram o quotidiano simples e isolado d o n - 2.3. As Fontes Arqueológicas. doexterior das comunidades rurais judaicas de duas aldeias A Arqueologia estuda a cultura material, os artefatos que não deviam diferir muito, em termos gerais, da Nazaré feitos ou transformados pelo ser humano e o contexto de Jesus. Não havia muito contato de seus moradores com 14 15

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