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Jango - Um Perfil (1945-1964) PDF

297 Pages·2014·8.68 MB·Portuguese
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Marco Antonio Villa Jango: um perfil (1945-1964) Copyright © 2003 by Marco Antonio Villa Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida – em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc. – nem apropriada ou estocada em sistema de bancos de dados, sem a expressa autorização da editora. Preparação: Ricardo Jensen de Oliveira Revisão: Eugenio Vinci de Moraes, Maria Sylvia Castro de Azevedo Corrêa e Denise Padilha Lotito Índice onomástico: Luciano Marchiori Capa: Roberto Kazuo Yokota Foto de capa: João Goulart toma chimarrão à beira de um rio, © FGV/CPDOC Foto de contracapa: João Goulart, © Arquivo Editora Globo Cadernos de imagens: Companhia da Memória 1ª edição, 2004 / 1ª reimpressão Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Villa, Marco Antonio Jango : um perfil (1945-1964) / Marco Antonio Villa. – São Paulo : Globo, 2004. Bibliografia ISBN 978-85-250-5806-5 1. Brasil – Política e governo – 1945-1964 2. Brasil – Presidentes 3. Democracia – Brasil 4. Ditadura – Brasil 5. Goulart, João, 1919-1976 6. Populismo – Brasil I. Título 04.0192 CDD-923.181 Índice para catálogo sistemático: 1. Brasil : Presidentes : Biografia 923.181 Direitos de edição em língua portuguesa para o Brasil adquiridos por Editora Globo S. A. Av. Jaguaré, 1485 – 05346-902 – São Paulo – SP www.globolivros.com.br Sumário Capa Folha de rosto Créditos Introdução O ungido Vamos jangar João-Bom-Senso O terceiro começo “Só converso com militares” Reforma ou golpe? “A situação é calma” Conclusão Bibliografia Índice onomástico Caderno de imagens Notas Introdução É MUITO DIFÍCIL escrever um livro sobre João Goulart. Afinal, a minha geração ficou com a imagem de um presidente jovem e valente que foi deposto quando quis fazer as reformas de base. Foi para o exílio, morreu na Argentina e teve de ser enterrado no Rio Grande do Sul, às pressas, sem honras oficiais. Paradoxalmente, o conservadorismo da ditadura militar, a repressão política e a censura acabaram por reforçar a figura heróica de Goulart. Contudo, quando nos aproximamos historicamente de Jango, da sua carreira política, especialmente dos 31 meses de governo, a imagem fica borrada. O destemido é substituído pelo fraco; o defensor das reformas, pelo conciliador; o presidente realizador, pelo incapaz de administrar a res publica. O político hábil aparece como um presidente inconseqüente, e o favorito de Getúlio Vargas, como fruto da fortuna e não da virtude, pensando como Nicolau Maquiavel. Reconstruí pormenorizadamente diversos momentos da vida política de Jango. Não temo ser acusado de produzir uma mera história dos acontecimentos. Creio que o terreno do historiador é o fato. Afastei-me deliberadamente de análises preconcebidas e procurei a dimensão narrativa. Em diversos momentos, o leitor observará que foi o acaso — e como a contingência está tão presente na nossa história! — que produziu alguns acontecimentos, e o maior deles foi a ascensão de João Goulart à Presidência da República. Em todo o livro, o personagem central é Jango, ou seja, os acontecimentos políticos giram em torno do personagem, e ele é sempre o centro do texto. Dessa forma, não procurei reescrever a história do populismo, da luta de classes, do progresso econômico ou das contradições sociais, como tantos outros já fizeram. Nada disso. O livro segue as pegadas de João Belchior Marques Goulart, de São Borja, em 1919, até Montevidéu, em abril de 1964: desde a sua sagração como favorito de Vargas, passando pela Assembléia Legislativa gaúcha, pela secretaria estadual no Rio Grande do Sul, pela Câmara dos Deputados — onde raramente esteve —, pela presidência do Partido Trabalhista Brasileiro — durante doze anos —, e duas vezes na Vice-Presidência da República. Até chegar, em setembro de 1961, à Presidência. No primeiro capítulo, fiz um esboço biográfico de Jango, enfatizando o momento em que foi ungido por Vargas como o seu sucessor. Daí para a frente, desenhei os principais momentos da década de 50 e a relação desses acontecimentos com a carreira política de Goulart. O segundo capítulo foi dedicado fundamentalmente à crise da renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961: esse foi o instante em que Jango chegou, de forma inesperada, à Presidência da República. O terceiro capítulo foi reservado ao período parlamentarista — que teve três gabinetes — e em que se destacou a forma como o presidente sabotou o novo sistema de governo, até conseguir, em setembro de 1962, a antecipação do plebiscito, que, constitucionalmente, seria em abril de 1965, para janeiro de 1963. No quarto capítulo, analisei a primeira parte da fase presidencial de João Goulart, de janeiro de 1963 até o fracasso da tentativa de estado de sítio, em outubro do mesmo ano. O quinto capítulo ficou restrito ao último trimestre de 1963, quando Jango deu mais uma nova guinada política: agora à esquerda, principalmente após a demissão de Carvalho Pinto do Ministério da Fazenda. No sexto capítulo, tratei do primeiro trimestre de 1964, indo até o célebre comício do dia 13 de março, o comício das reformas. O último capítulo foi reservado aos acontecimentos entre 15 de março, quando reabriu o Congresso Nacional, até a primeira quinzena de abril, quando Jango se exilou no Uruguai. Em diversos momentos dessa trajetória na Presidência da República, o leitor observará que Jango ameaçou com a possibilidade de dar um golpe de Estado — isso, evidentemente, quando tinha o controle da maior parte das Forças Armadas. O golpe de Estado acabou ocorrendo, só que contra ele e, principalmente, contra a democracia e o desenvolvimento econômico- social do Brasil. Por fim, este livro só se tornou possível graças à ajuda de diversas pessoas. Apesar de sempre corrermos o risco de esquecer algum nome, gostaria de ao menos agradecer aos entrevistados e aos colegas que apresentaram sugestões para o desenvolvimento da pesquisa: Almino Affonso, Carlos Perrone Jobim Júnior, Elio Gaspari, Expedito Machado, Flávio Tavares, Hélio Bicudo, José Leonardo do Nascimento, Marly de Almeida Gomes Vianna, Neiva Moreira, Neusa Aparecida Barbosa, Paulo de Tarso Santos, Paulo Schilling, Roberto Pompeu de Toledo, Rubens Ricupero, Samuel Salinas, Villas-Bôas Corrêa. Como é de praxe, obviamente, registro que a responsabilidade pelo texto é exclusivamente minha. Em tempo: o livro só foi concluído graças à paciência e ao apoio da minha família: Helena, Flávio, Caio, sem esquecer os cachorros e gatos. O UNGIDO JOÃO BELCHIOR MARQUES GOULART, o Jango, apelido que recebeu na infância, nasceu na estância de Yguariaçá, em São Borja, Rio Grande do Sul, a 605 quilômetros de Porto Alegre, no dia 1.º de março de 1919. Sexto filho do casal Vicente Rodrigues Goulart e de Vicentina Marques Goulart, a dona Tinoca, recebeu os nomes dos avós paternos, João e Belchior. Seu nascimento foi muito comemorado: o casal já tinha quatro mulheres, e o único filho — Rivadávia, que foi batizado por Getúlio Vargas, vizinho de estância dos Goulart — havia morrido de meningite antes de completar 5 anos. Vicente Goulart era velho amigo da família Vargas. Na escola, estudou na mesma classe com Getúlio; no campo político, participaram juntos da Revolução [1] de 1923 — quando se opuseram aos federalistas, liderados por Assis Brasil, e Vicente teve de buscar breve exílio na Argentina — e da Revolução de 1930. Tiveram uma empresa em sociedade — a firma Vargas, Goulart, Gomes e Cia. — e participavam ativamente da política municipal. Em 1928, no mesmo ano da eleição de Getúlio Vargas para o governo do Rio Grande do Sul, Jango foi enviado para o Colégio Santana, dos irmãos Maristas, em Uruguaiana, como outros tantos filhos da elite da região, onde permaneceu até os 13 anos. Não se destacou pelos estudos, mas como jogador de futebol: foi considerado um bom médio-volante. Em 1933, foi matriculado no Colégio Anchieta, em Porto Alegre, mas permaneceu pouco tempo no novo estabelecimento de ensino, pois a direção solicitou que seu Vicente retirasse Jango da escola por mau comportamento. Retornou a Uruguaiana, onde concluiu o [2] ginásio. Foi nesse ano que Jango teve uma relação com uma empregada da fazenda do pai, Elfrida Dornelles. A moça ficou grávida aos 16 anos e acabou expulsa de casa pela família Goulart. O filho nasceu no mesmo ano, recebeu o nome de Noé e foi criado por outra família. [3] O incidente não alterou em nada a vida de Jango, que voltou para Porto Alegre, fez o curso preparatório e, em 1935, foi admitido na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Porto Alegre. Como tinha 16 anos, idade que não permitia estar inscrito no curso de Direito, o pai obteve uma certidão adulterada no cartório de São Borja, que alterava o seu nascimento para 1918. Nos quatro anos de permanência em Porto Alegre, Jango não se interessou por política. A formação da Aliança Nacional Libertadora (ANL) — que, em Porto Alegre, tinha um importante núcleo e, entre seus líderes, o escritor Dionélio Machado, autor do célebre Os ratos —, a Intentona Comunista, em novembro de 1935, o avanço do integralismo e o golpe do Estado Novo, em novembro de 1937, não deixaram marcas no jovem estudante. As atenções de Jango estavam concentradas no futebol, em que se distinguiu como jogador do selecionado universitário do Rio Grande do Sul e como reserva de Ávila no Sport Club Internacional; e nas mulheres, como assíduo [4] freqüentador dos prostíbulos da cidade. Em um deles, acabou adquirindo a sífilis, que, afetando-lhe o joelho esquerdo, dificultou sua locomoção — o que sempre atribuiu a um coice de cavalo —, e o impediu de continuar a jogar futebol. Em 1939, retornou a São Borja com o diploma de bacharel em Direito. Fez parte da 37.ª turma (Vargas formou-se em 1907, na mesma faculdade). Nunca [5] exerceu a profissão. O agravamento da doença do seu pai — que morreu em 1943 — acabou levando o jovem advogado a se dedicar à administração das terras da família, que não eram poucas: 14 mil hectares e 30 mil cabeças de gado. Não se [6] conhece nenhuma atividade política de Jango entre 1939 e 1945, que, no plano externo, foram os anos da Segunda Guerra Mundial, da luta contra o nazi-fascismo e, no interno, da ditadura do Estado Novo. Se em Porto Alegre nunca teve ligação com a política regional ou nacional, em São Borja dedicou-se a cuidar dos interesses econômicos da família, como disse anos depois: “Eu não queria saber de política. Não tinha tempo para isso”. Quando, no período das férias, ia ao Rio de Janeiro acompanhando o filho de Getúlio, Manuel Antonio, o Maneco — que, anos depois, foi seu sócio em um empreendimento —, ficava hospedado no Palácio do Catete. [7] Mas com Getúlio Vargas, segundo relatou a Joel Silveira, “só tratava de assuntos lá da fronteira. Conversava sobre gado, trigo, arroz, coisas assim. De política, nada”. [8] Dois acontecimentos mudaram a vida de Jango. Um, na esfera política: a queda de Getúlio em 29 de outubro de 1945; outro, na esfera privada: a morte de

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